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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Amor, sexo & comida: qual o prato certo

Por xicosa
21/02/14 12:07

maria e brando“Oi Xico, tudo bem?

Te escrevo com uma dúvida que me veio à cabeça: existe algum prato, receita, que seja infalível para conquistar? Com açúcar e com afeto, como cantou o Chico.  Ou com manteiga, na malemolência do Marlon Brando”.

A ilustrada leitora se refere, óbvio, ao filme “O último tango em Paris” (na foto), com a cena clássica em que o velho Brando  besunta a jovem Maria Schneider para o sexo anal.

“Sabe, essas coisas gastronômicas/amorosas que afligem o ser humano na hora de ir para a cozinha preparar algo para alguém nessas ocasiões?”

Ô, se sei, aqui em casa se chama entrega em domicílio ou delivery, digamos assim. Mas compreendo deveras a questão, querida leitora L.

“Digo isso porque eu e meus amigos caímos em um debate recente sobre qual a melhor receita para – em termos contemporâneos – pegar alguém. Eles acham que um risoto de alho poró seria uma opção equilibrada, com poucas chances de errar.

Pode até ser, mas insisto que insisto que, quando a moça quer mesmo, não importa se é um miojo feito no micro-ondas ou a receita mais refinada que existe. O que importa é a intenção.”

Não existe mesmo receita ideal, L. Nunca vi alguém deixar de pegar alguém, para usar o termo da sua carta, por ter errado no ponto da comida. Se houver o fumegante desejo no ar, já era, pode ser uma dobradinha ou a mais refinada e picareta iguaria.

Óbvio que, na pegada metrossexual e/ou moderninha, o alho poró é mesmo um grande fetiche. Prefiro o alho de verdade, muito mais forte e excitante, mas não seria por causa do inocente vegetal Allium porrum, que deixaríamos de satisfazer a dama.

Prefiro algo mais forte, como um cabrito ou cordeiro, por exemplo. Cada um, cada dois, e vamos simbora.

Reconheço, no entanto, que ostras e frutos do mar são sempre grandes pedidas. Um homem de boa vontade aprecia e sabe que na ostra, desde Casanova, está o grande segredo de uma bela noite.

A gastronomia, porém, estimada leitora, tem sido o truque máximo utilizado pelos ditos “homens sensíveis” para abater as suas presas.

Não confunda, todavia, a afetação do homem-hortinha, aquele que se orgulha de usar temperos cultivados no próprio quintal, com delicadeza ou futuro na relação. Pode ser apenas mais um truque moderno. Corra Lola, corra.

Essa solenidade toda em torno da comida, com direito a altar no “espaço gourmet”, sei não, prefiro nem esticar os meus comentários.

Aliás, quando você toca em miojo, me ocorreu um lampejo mais do que óbvio e ululante: taí o grande prato. O tempo de preparo é equivalente à duração dos novos relacionamentos.

Mais sobre amor, sexo & comida, você pode ler aqui, caríssima leitora, nesta outra crônica sobre receitas para mulheres tristes.

Boa sorte, amiga, com ou sem olho poró.

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Só os fortes têm o privilégio da recaída

Por xicosa
20/02/14 01:45

beijapé

Carolina, nos teus zolhim tristes guardas tanta dor…

Carol, minha amiga, leitora desde quando eu ainda tinha cabelo, implora: me fale se tem alguma estrátégia contra os males da recaída.

Digo eu: desista.

Só os(as) fortes têm o privigélio da recaída. O resto é auto-ajuda.

Você já passou por isso?, ela pergunta. Risadas ecoam sobre Copacabana.

Digo: viver é um Lázaro ao contrário: cai e rola na grama ou na lama. Raramente acontece o milagre bíblico do “levanta-te e anda”.

A recaída é necessária. Humaníssima. Cair de novo, pegando ao pé da letra, talvez seja o sentido da existência. Menos para quem acha que viver é um sucesso ou uma falsa felicidade permanente. Essa gente que mente que o cu não sente, como diz minha mãezinha querida, mantras da minha terra.

Viver é o mito de sifu, digo, Sísifo, fino e fofo Albert.

A leitora implora. Publica alguma coisa. Nem que seja uma crônica antiga –ela manja que sou o rei da reciclagem, da ecologia do texto, perdendo nisso no Brasil apenas para o meu Deus-mor Nelson Rodrigues.

No que busco no baú de ossos e ofícios, meus caros amigos Pedro Nava e Marcelino Freire, alguma tese sobre o asunto.

Encontro, claro, já escrevi sobre tudo desde que deixei de ser um sério repórter de política e resolvi investigar o que mais interessa: a humaníssima capacidade da gente se lascar no amor ffeito maxixe em cruz.

Agora falando sério: a recaída. Poxa, você acha que está inteiro(a) de novo, que já viveu o luto, que está pronto para outra(o).

Mas que nada.

Você pega um táxi.

Toca uma música qualquer.

Qualquer uma.

Um Roberto Carlos ou um Leonardo Cohen. Um Chico Buarque ou um amado Bartô Galeno, que é a mesmíssima coisa –“no toca-fita do meu carro, uma canção me fez lembrar você…”.

Qualquer música, pianista José, qualé a nota, diz aí, velho Pablo, canta para nosotros.

E esta música, mesmo sendo a mais bela ou a mais vagabunda, trata-se, inevitavelmente da sua biografia completa naquela hora.

Toda canção, na hora de algum sofrimento verdadeiro, conta a sua história de vida. Uma canção triste na madruga é sempre uma biografia não-autorizada.

No rádio do seu carro ou no radinho fanhoso do porteiro, no bar do Zé, quando eu tanto amava minha falsa magra do Catete,  ou na madruga do Galeto Sat´s em Copacabana.

São os perigos da recaída na madruga.

Você vai ligar pra ela.

Gastar a última ficha.

Você vai ligar pra ele.

A última narrativa possível.

Puerra, você berra, borracho(a), em portunhol selvagem.  Puerra, estava tudo tão, aparentemente, bem resolvido(a).

Nem chega a ser surto. É algo assim mal-passado na chapa quente do juízo: “Ah, mas ele(a) vai ter que ouvir agora!”

Você tem algo mal-digerido nas oiças e no coração perdido. Comassim?

Ele/ela acha que é tão simples partir pro outro lado da força.

Né não.

É pesado.

Eu não te mereço um caralho.

Você é muito boa para mim uma porra, de novo e de novo a mesma ladainha, quem manda ligar nessa apagar das luzes!

Enfim, tudo, aparentemente, havia chegado ao fim, com uma certa civilidade falsa e babaca, e você, a caminho de casa, nessa madruga, pensa “que merda”, como pude, como pude aceitar tudo isso, não, ele(a) vai ouvir agora tudo que merece.

Lupicínio nele!

A lindeza de reconhecer que amor (paixão, vamos lá!) não come da ração cachorra da civilidade.

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A vida como ela é: um abraço no pangaré

Por xicosa
19/02/14 00:24

crimecastigoooQue nos apiedemos dos homens como Raskôlnikov que abraçou o cavalo maltratado por jovens escrotos e zoados da Russia antiga  no “Crime & Castigo” -ai acima uma cena do romance na ilustração de Mihail Chemiakin.

A parada do cavalo é coisa fundamental, embora sonho,  no romance do sr. Dostoievski. Na minha idiota opinião de russo do Crato, como lembra Kika Yeltsin, menina de Vertentes (PE), viciada em subir e descer a Serra das Russas, ali na divisa de Pombos, Gravatá e Chã Grande.

Pense no cavalo, esqueça o homem.

É tempo de relembrar o gesto. Não por ser “do bem”, condição que já virou até nome de suco no Brasil, mas por saber que esta é a imagem fundamental se precisarmos mudar a falta de respeito que impera.

Lembrei disso depois que escrevi o post sobre o “Raskôlnikov brasileiro”, mas principalmente depois que recebi o email de Vadim Nikitin, amigo russo tradutor de Dostoievski –não amigo urso como cantava Morengueira! Ele gostou d´eu ter posto o russo na parada e pronto.

Vadim ator, Vadim escritor, Vadim vizinho lá em SP, na quase esquina impossível do beco dona Tereza com a rua Augusta. Vadim gostou d´eu ter metido Raskôlnikov no meio dessa confusão toda.

Dai fui reler pela milésima vez o tal do “Crime & Castigo”. Se você tiver que ler apenas um livro na vida, leia este. Se tiver que ler um segundo, leia qualquer um do John Fante. Um terceiro? “Fup”, novelinha da pata marlinda e do meninão fazedor de cerca. O resto é literatura.

Raskôlnikov abraça o cavalo como nenhum de nós abraçamos um homem. Piedade, senhor, piedade.

Nós reinventamos o pelourinho, nada mais, como na inesquecível cena do negro rapaz no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, ano da graça de 2014, agorinha.

Todos nós precisamos abraçar um pangaré maltratado para reaprender o básico da existência.

Todos nós, dos direitos humanos ou desumanos, precisamos aplicar na sociedade em geral  a Lei de Proteção aos Animais que o velho Sobral Pinto invocou para defender Luís Carlos Prestes, preso em  condições precárias durante o regime ditatorial de  Getúlio Vargas.

Falar nisso, veja o filme “O Homem que não tinha preço” (2013). Tome gosto, veja o trailer. É bonito. Precisamos abraçar um pangaré que seja.

Só abraçando um simbólico pangaré largado da guerra do Paraguai recuperaremos minimamente a historia e adotaremos o portunhol selvagem, caro poeta Douglas Diegues, guru da tríplice fronteira, como o sublingual do nuestro inconsciente.

Que Raskôlnikov, para o bem e para o mal, continue sendo nosso guia nessa estrada perdida.

Você já se apiedou do seu pangaré hoje, amigo(a)

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Saiba quando um homem quer uma mulher

Por xicosa
18/02/14 01:34

sonhos-de-um-sedutor-1

Saiba quando um homem está a fim de uma mulher e/ou O impressionante Homem-Monet

Quando um homem está a fim de uma mulher ele esquece as convicçõezinhas que lhe são mais caras. Pelo menos por um tempo. É justo.

Ele muda, se transforma, vira uma espécie de Monga do amor e do sexo. Jogo de espelhos.

Ele te leva em um restaurante japonês mesmo odiando um restaurante em que a comida vem crua e o guardanapo pegando fogo –atribuem esta definição da culinária oriental ao Veríssimo, pode ser, duvido, digo, não lembro, o genial LFV é a maior vítima da autoria troncha na Internet.

Quando um homem quer mesmo ele perde até o jogo do seu time, embora fique ligado no rádio do porteiro e indo ao banheiro para checar o resultado. Mas já é um puto ganho e tanto.

Quando um homem está na fissura, mesmo sendo um macho-jurubeba, ele começa a ajeitar seu mocó de homem solteiro. Ele compra pelo menos duas tacinhas fuleiras para o casal beber junto. Logo ele, um tosco que até então apenas reutilizava copos de requeijão Poços de Caldas e de geleia de mocotó Colombo.

Quando um homem quer agradar para ficar junto, ele vira um Uri Geller ao contrário, aquele mágico do “Fantástico’ das antigas. O cara dá um jeito nos seus talheres tortos e ajambrados.

Quando te quer mesmo, amiga, ele faz até uma faxina, porcamente, tudo para debaixo da cama ou da geladeira. Haja bom-ar no conjugadinho de Copacabana, haja Pinho Sol no banheiro da kitinete do Largo de Santa Cecília (SP), haja desinfetante naquele apezinho do edifício redondo, o Módulo, na Conda da Boa Vista, Recife.

A operação Pinho Sol é um clássico do homem quando ama ou está apaixonado, no mínimo, pela formosa dama.Diz muito.

Quando um homem acha que ama, mesmo sendo o mais sedentário do planeta, este homem vira o rei do pentatlo, nega.

Ele troca a picanha suculenta pela dieta de um spa no meio do mato no interior de São Paulo. Dieta de 600 calorias, limpeza de pele, detox completo, mesmo com uma cachacinha Dedo de Prosa escondida na moita. Maldita clandestinidade alcóolica.

Quando um homem acha ou está a fim, mesmo sendo um macho-jurubeba empedernido, ele cheira a rolha, sente o bouquet e vira um amante de um bom vinho imediatamente. É capaz de discorrer horas sobre o aroma amadeirado, vixe, taninos suaves, corra, Lola, corra, este é o pior tipo, como tenho dito desde priscas eras.

Quando um homem está a fim, seja para amar ou apenas uma transa, ele se transforma em um legítimo picareta. Vai ao Google diante de qualquer assunto que te pareça importante ou afetivo e é capaz de discorrer sobre o tema com a cara de pau de um especialista. Ele saca tudo de David Bowie, por exemplo, quando tu falas na exposição sobre o artista no MIS de São Paulo.

Mas quando o homem está querendo mesmo, não apenas te levar na cama, vai te parecer, muitas vezes, um leso, abestalhado, simplesmente por querer à vera e não conseguir ser tão esperto, não usar a picaretagem do marketing sexual e/ou amoroso.

Quando um homem está a fim, seja para que modalidade de relacionamento, ele nunca tem reunião fora de hora, mesmo que pertença aos partidos herdeiros da velha esquerda –“pra fazer revolução tem que ter reunião”, era o mantra.

Quando o caboclo está na tua não vira o pescoço na rua, te protege no lado de dentro da calçada, presta atenção no vestido novo, te aquece no ar condicionado criminoso e siberioso dos cinemas do Rio. Sim, também compra o ingresso com antecedência e pensa num lugar nada óbvio para te levar depois.

Quando um homem está a fim… ele impressiona. Pode ser fissura sexual, pode ser ilusão de ótica, pode ser começo de amor para valer etc. Quando um macho está a fim vira um verdadeiro homem-Monet, o impressionista-mor.

 

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O jornalismo e as ilusões perdidas

Por xicosa
14/02/14 11:41

assassino

Ou um punhado de livros fundamentais sobre mídia, poder & ética.

Depois de um panfleto irado, #sanguenozói, com seus errinhos gramaticais sujos de indignação, vem a mansidão professoral (rs), a bonança. Nada como um post atrás do outro e a marcha da história no meio.

Curto sim um panfleto, como na crônica de costumes do Padre Carapuceiro, um dos meus ídolos no ramo, beneditino hóstia-loka que reinou no Recife da primeira metade do século XVIII.

E só mais uma coisinha de nada sobre o assunto: fico pensando, que louco, só no Rio, no Brasil, a acusação fica por conta do advogado de defesa. É o que tem rolado nesse caso da morte do cinegrafista Santiago.

Pausa, respiração de yoga, e vamos ao que interessa.

Nessa peleja diária de conversas, tretas e polêmicas sobre mídia e manipulação, um bom livro nos ajuda muito a pensar melhor. Aqui na confusão e correria, tentei lembrar de um punhado de autores interessantes para o perigo desta hora. Com a ajuda de vocês podemos ampliar a lista:

“O Jornalista e o Assassino”, Janet Malcolm, Companhia das Letras – Esse é daqueles obrigatórios. Mesmo. Livraço, aço, aço. Talvez nenhum outro discuta tão sabiamente ética e liberdade de imprensa. A trama parte da história de um médico, condenado por matar a mulher e duas fihas. Depois de virar tema e personagem de um livro, ele processa o autor-jornalista. Corra e leia, Lola, é urgente. Para Malcolm, o trabalho do jornalista é, moralmente, indefensável.

“As ilusões perdidas” , Honoré de Balzac (várias editoras) – Poesia e jornalismo são demais para um homem só. Não rola. Coitado do jovem poeta Lucien Chardon ao conhecer as sujeiras das redações de Paris  do século XIX. Calma, não melhorou nada, hahaha, tudo ficção. E da melhor e mais instigante, recomendo.

“Os Jornalistas”, de Balzac também (Ediouro). Agora o francês chuta a calandra e a gráfica inteira, na crônica, na real da guerra. Dai vem a famosa frase “”Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la.”

“A Regra do Jogo”, Cláudio Abramo (Companhia das Letras).  Não dá para viver em uma redação ou querer um dia entrar em algum jornal sem ter lido ou sabido a importância deste homem. Neste livro, alicerçado em depoimentos de Abramo (morto em 1987), você vai babar de contentamento por conhecer a ética, trajetória e talento deste gigante afilhado de Gutenberg.

“Minha razão de viver: memórias de um repórter”, de Samuel Wainer (Record), livro organizado por Augusto Nunes, a partir de depoimentos gravados pelo mito do jornal “Última Hora” em entrevistas a Sérgio de Souza e Marta Góes. Este sim modernizou a imprensa brasileira. Quer ser ou é repórter e fazer da concorrência tábua de pirulitos, amigo(a)? Aprenda com um dos maiores de todos os tempos. Aqui você tem também uma baita aula sobre poder & imprensa.

“Operação Banqueiro”, Rubens Valente (Geração Editorial). Como diria Geneton Moraes Neto, outro patrimônio da reportagem brasileira, “nitroglicerina pura”. Valente, trabalhei com ele e vi de perto, é o cão farejador chupando manga. Ele conta como o banqueiro Daniel Dantas escapou do xilindró com a bênção do STF e, óbvio, sob a cegueira da imprensa. Puta livro.

Agora na linha Xico picadinho, outras dicas rápidas sem resenha:

“ “Chatô – O Rei do Brasil“, Fernando Moraes (Companhia das Letras). Pense num paraíba poderoso, minha gente!

“Mídias, Máfias & Rock´n´roll, Claudio Tognolli (Editora do Bispo). Só um psiu: aqui o Daniel Dantas também está na jogada.

“Viagem ao Planeta dos Boatos”, Homero Fonseca (Cepe). Pânico no Recife diante do tsunami anunciado de Tapacurá nos 80.

“Minhas histórias dos outros“, Zuenir Ventura(Planeta). Delicadeza.

“O Anjo Pornográfico“,  Ruy Castro (Companhia das Letras). Não dá para falar de imprensa sem a visão do maior gênio brasileiro, o tio Nelson.

“Rum: Diário de um jornalista bêbado”, Hunther Thompson (L&PM). Só estando em uma ressaca monumental, e depois dos 40 a ressaca é uma dengue existencialista, para esquecer um gonzo na lista. Não foi dessa vez, inimiguinhos cordiais.

Agora é a sua vez, colabore com a lista. Fiz outra mais antiga, em momento mais relax, com livros essenciais para formar um bom jornalista. Você confere aqui. Boa noite, boa sorte.

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Carta ao Raskólnikov brasileiro

Por xicosa
13/02/14 05:42

dostoievski-fiodor-crime-e-castigo

Meu caro menino Caio Silva de Souza, antes de qualquer choro, mais que digno,  um abraço forte, por tudo, e aqui me compadeço, sinceramente, por saber que tua  tristeza, de certa forma, é também a minha angústia ao melhor modo Graciliano Ramos, para quem não sabe o maior escritor russo de todos os tempos, só ele te entenderia nessa maldita hora.

Só quem vem de lá saca essa coisa dos nordestinos como os melhores escritores  russos do planeta: Clarice Lispector, por exemplo, aos dois meses era uma recifense completa. Só nasceu na Ucrania. Deixa quieto.

Que merda, caro Caio, mais triste que teu olho exposto, sob os urubus televisivos da montanha dos sete abutres, foi a versão sobre suas pausas e silêncios. Ninguém respeita.

Quem pode dizer o que pensa um olho sem estar no branco ou no vermelho dele?

Tô puto pelo Santiago, um cara que conheci em meus 30 anos de jornalismo.

Ele se foi, o cara que sabia filmar o mundo, mas quem morreu de fato foste tu diante de todas as câmeras, meu velho Raskólnikov.

Grande Raskólnikov, acompanhei as tuas horas antes da chegada da Polícia lá no hotel da Bahia… Torcia, sinceramente, pela tua fuga para o Ceará, chega de mentira nessa hora. O pior estava feito.

Torcia por saber o proveito que tirariam e mais ainda por conhecer a polícia… Qual um apanhador no campo de centeio achavas que irias ser morto.

Acho que corres muito esse risco agora no presídio. Sinto te falar dessas coisas…

Óbvio que serias o troféu de toda uma gente, a grande redescoberta para salvar o Cabral, argh!, etc, foste produto desse povo.

Que tal cobrar por direto de imagem na campanha eleitoral, meu jovem?

Òbvio que matar é o mesmo que morrer em matéria de culpa e seguir vivo. És o novo Raskólnikov, o personagem de Crime & Castigo do gênio Dostoievski, menino.

Os heróis e os fodidos se igualam no Brasil ou na Rússia, isonomia da narrativa, nessa hora: Caio e Santiago são os mesmos para as minhas sinceras lágrimas. Choro pelos dois.

Choro, me apiedo, não culpo.

Um não queria matar, outro, menos ainda, ser morto.

Como o jovem da pensão e a velha do romance russo acima citado.

Imprudências juvenis à parte, todo dia nego mete o cano na nuca de zilhoes e está lá o corpo estendido no chão, que bosta.

Que merda.

A dor da gente não sai no jornal. Só sai quando interessa ideologicamente. Posso estar exagerando… Sempre amo o contraditório.

Caio, falo do rapaz acusado de acender o rojão, ainda bem que você tem uma mulher que te ama, que bela namorada, sempre perto, isso é que é mulher, porra. Imagina você sozinho de tudo nessa hora!

O amor é sempre inimputável. E o inferno talvez seja mais cruel para quem ficou vivo.

Quem ama defende apesar de tudo. Todo homem, até você ai, metido a civilizadíssimo.

Que merda, né, te diria, em uma missa de corpo presente, menino Caio, sem julgamento, até pediria a tua última cerveja, todo homem, seja quem for, merece, beberíamos e lamentaríamos juntos, chorando, certamente, a morte do velho Santiago.

Só um louco ou a ideia corrente da mídia conclui  que saíste de casa para matar uma pessoa naquele dia.

Não importa a razão que saíste de casa naquele fatídico evento. Importa é que deu merda e por isso a doideira dessa história.

Todo dia nego mata zilhões de não-jornalistas na perifa. Longe de mim cobrar que também, velho e amado Santiago, isso seja notícia de pelo menos 2 minutos no “Jornal Nacional”.

Jamais veremos isso na tela. Pelo que te conheci, Santiago, tu farias belas imagens sobre qualquer assunto, embora tenha te visto muito reclamando que nego não editava a vida como ela é etc.

Receberia as piores notícias, amada Patrícia Poeta, dos teus lindos lábios.

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Você deixa de transar por gramática ou ideologia?

Por xicosa
12/02/14 03:09

AngeliIdeologia

Nem fudeno.

Desculpa pelo meu selvagem e ignorante gerúndio nordestino sem “d” logo no primeiro parágrafo.

Desculpaí, mas esse papo só me lembra o Angeli, que, a propósito, matou a pau na charge arriba. Resumo do buraco psíquico que vivemos.

Aliás, desconsidere o “nem fudeno”.

Nem é minha resposta pra valer. Desça o cursor, tenho mais dúvida do que Mano Menezes na escalação do Corinthians sob risco de rebaixamento no Paulista.

Você deixa de transar por gramática ou ideologia?

Acrescentaríamos mais outras questões: estéticas (ele só curte axé e isso é apenas um exemplo sem graça), ela nunca viu um filme francês nem o melhor cinema do mundo, o pernambucano, é óbvio.

Tudo começou assim:

A amiga baiana internacional Joana Rizério, escriba de mancheia,  me reaparece hoje com uma dúvida cruel –como se houvesse dúvida cruel para aquela danada que pergunta já sabendo a resposta. Ou quase. Ou não, como o velho compositor baiano já me dizia.

Indagava, sábia e sabida, se daria uma chance a um cara que não faz bom uso da ortografia, da tal da dona norma culta. O cara que não consegue escrever, como manda a gramática, as mais elementares palavras. Nem era questão de concordância etc. Ela deu exemplos. Aqui não repito para preservar o moço.

É broxante? Ou brochante?, Joana pergunta. Para começo de história, os dicionaristas admitem as duas grafias da paumolecência. Tanto faz, meu caro Reinaldo Moraes.

Que broxante que nada, respondo na lata, sem metáforas gilbertogilbertianas.

Você prefere um pau mole que sabe tudo da Escola de Frankfurt ou um pau Mobral e cafuçu que te pega todinha e te faz de rainha, como numa rodriguiana letra de forró fuleiro?

Alguém há de questionar e juro que não recorrerei à teoria de luta de classes: os pobres também brocham. Seguramente. É difícil (hahaha) mas broxam. Pobre gosta da coisa, todo mundo sabe disso.

Voltemos à gramática, amado Bechara.

Jojô, toda lindinha e despachada, admoesta, com muita delicadeza: Gosto de quem fala bonito. Isso é implicância burguesa porque o brasileiro nao lê. Só grava essas merdas de cê cedilha e SS quem lê e pronto.

No amor e no sexo ninguém é analfabeto, tiro uma onda quase hai-kai. Ela concorda.

Como aprendi com o meu grande amigo Marcelo Coppola, gênio que bebeu na fonte de Walt Whitman e de outros caminhantes lindamente perdidos, o que vale é a graça. Seja o que for e venha de onde vier, meu rapaz.

Coppola, aliás, primo do homem do cinema,  é o melhor redator  que conheço –zero erro segundo a dona norma.

Saindo do escorrego da gramática –esse blog é prova que a gente sempre cai nos deslizes primários desse atoleiro tipo massapê-, ampliamos a indagação da menina baiana:

Você ficaria –não estamos falando em casamento!- com quem defende a tese do “bandido bom é bandido morto” e aplaude o neopelourinho escroto que anda rolando por ai?

E com black bloc, influenciado(a) ou não pelo noticiário pesado de agora? Sim, eles são jovens demais, talvez seja uma barreira natural, um homem na casa dos 20  não sabe sequer dizer bom dia para uma mulher.

Envelheçam, em todos os sentidos, diria o tio Nelson mais uma vez. Juízo, meninos.

O que você faria, haja perguntas, se soubesse que o pai riquinho do seu namorado, cacho, caso, amante ou rolinho-primavera, usa trabalho escravo na fazenda? Aquela linda fazenda que você frequenta nos feriadões?

Antigamente era tudo bem fácil. Vivi um tempo em SP, por exemplo, que a grande proibição era ficar com malufistas. Como o mundo deu voltas!

Anfam, se você estiver com tesão mesmo, a fim pra cacete, considera barreiras ortográficas, políticas, ideológicas, de classe?

E se o cara for articulista tido como direitista de uma grande mídia?

Como indagaria o amigo Marcelo Rubens Paiva: e ai, comeu?

E ai, mídia comédia? – só o trocadilho, para este cronista chinfrim que acredita em Lacan,  salva na hora de tensões e falsas tensões particulares ou nacionais.

E se o rapaz for ou tiver sido da mídia ninja neste momento em que você vibra, amiga, com a sede sanguinolenta da lei antiterror, Lola?

Só me resta recorrer à sabedoria dos leitores. Não lavo minhas mãos, apenas me entrego ao grande narrador de amor e suspense J. M. Simmel, que escreveu, entre outros livros, o genial “Só o vento sabe a resposta”.

Ventai-vos uns aos outros, perdidaços corações e mentes.

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Os 10 mandamentos do bar são 11, por enquanto

Por xicosa
11/02/14 08:23

pileques

Como hoje estou totalmente desprovido daquela velha opinião formada sobre tudo -mantra do Raul que é a cara de muitos blogueiros de plantão-, volto a um assunto no qual tenho mais milhagem. E nem por isso mais sabedoria.

Como os leitores mais antigos sabem, tentamos aqui, rebordosa após rebordosa, sempre incrementar os nossos mandamentos da boemia, uma obra aberta que conta, a cada post escrito e reescrito, com a colaboração de vocês, amadores, profissionais ou simplesmente estagiários.

Sim, com o sol das grandes ressacas por testemunha, como diria o velho e profissionalíssimo Hemingway, é normal pensar em casamento, ser um bom homem etc. No livro “Pileques” (acima), outro mestre já refletia sobre essa metafísica do chá de boldo.

É o que temos para esta terça de ressaca cívica no país rojão diário:

I) Amigo(a), boemia é como futebol, é ritmo de jogo, sequência; se tu largas por uns dias, ela te pega na volta, mesmo que peças, suplicante, a tua nova inscrição.

II) É de bom-tom sempre guardar definitivamente o nome dos garçons, afinal de contas é no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.

III) Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, ah, aquela calabresa, aquele torresmo, aquela azeitona me fez mal à beça… Jamais a culpa será da sagrada bebedeira em si.

IV) A divisão do tempo da prosa, na mesa de um bar, deve obedecer ao seguinte critério: 50% sobre mulheres, 40% sobre futebol e 10% sobre as ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas. E que venham as próximas.

V) Direito máximo do consumidor boêmio: desde que o freguês não se incomode com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida do portão de ferro.

VI) É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.

VII) Meu bar/meu mar… É permitido nadar no seco.

VIII) Andem sempre com o endereço e os seus nomes completos pendurados na correntinha do pescoço.

IX) No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser desobedecida. Seu garçom faça o favor!

X) Procures sentar, amigo, sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível na calçada, pois todos os dias, alguma mulher irada sai de casa, revoltada com o consorte, e diz assim: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”. Se bem colocado, este primeiro serás tu, bravo boêmio.

XI) Não temas a condição de macho-tupperware , aquele sujeito que a freguesa do mesmo bar leva para casa com a esperança de devorá-lo mais tarde –depois que o miserável estiver minimamente em condições técnicas para o abate.

Sem drama, é isso mesmo. Nas tábuas sagradas da boemia, os dez mandamentos já começam com 11 regras, no mínimo. Ajude você também a construir o nosso grande código. Deixe sua colaboração aí nos comentários.

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Não dê ouvidos à ´voz de domingo´

Por xicosa
09/02/14 13:27

never4

É como dar ouvidos à maldade alheia, creia, como no alerta da canção de Roberto & Erasmo.

Não caia no agá deste dia encarnado na alma e no calendário.

Repito aqui, pela nonagésima vez, é o domingo que pega, nega.

É no domingo, na falta dele(a) para o almoço de sempre, que os bichos escrotos da cabeça assanham o juízo.

É neste dia que ouvimos a “voz do domingo”-explico aí ladeira abaixo desta crônica.

A enganosa voz do domingo prenhe de falsas promessas amorosas. Perigo. Você está carente e cai no conto.

Domingo não é feriado no reino da Carençolândia, todo cuidado é pouco.

O domingo do golzinho fanhoso no radinho de pilha do porteiro -Melancolia 5×0 Você no placar eletrônico do espírito.

O domingo em que o solitário operário de mais um espigão do Recife põe só os olhos esbugalhados de ex-homem-caranguejo para fora do tapume da construção em Boa Viagem.

É o domingo que pega. Por isso lembrei agora, em um rolê amoroso no circuito Pompeia/Perdizes, de Ilia, uma das mulheres que mais amei no cinema.

Musa absoluta do Mediterrâneo, Ilia era uma grega que recusava as tragédias escritas na sua terra, preferia sempre um outro final para tais histórias.

Daí contava o mais triste das desgraças caseiras, como Édipo-Rei, por exemplo, sempre com epílogo de felicidade. Ninguém matava ninguém, muito menos filho e pai, a mãe só entrava no meio e, no “the end”,  todos espocavam champanhe no litoral.

Conheci Ilia em “Nunca aos domingos”, filme de 1960, dirigido por um bravo Jules Dassin, homem perseguido nos EUA por causa das suas ideias generosamente comunistas.

Ilia é uma bela e caridosa prostituta. Quando gosta mesmo de um cara, não cobra nada. Em um bar na beira do cais, brinca de transformar o trágico em leveza. Os marinheiros e demais convivas riem abestalhados com tamanha graça da gostosa.

Ela ama a vida, desde que nunca ouça o que chama “a voz de domingo”, a conversa fiada do homem apaixonado (ou carente, vide foto na cumeeira deste post) que lhe pede em casamento. Ela quer apenas se divertir. E pronto.

Mas eis que chega Homero, um norte-americano abestalhadíssimo que vai para a Grécia estudar as razões da derrocada do macho helênico. A pretensão é entender porque um povo tão sábio, cujos guias foram Sócrates e Aristóteles, entre outros bambas, está entregue à farra, à esbórnia e à banalidade.

Ele tenta, de todas as maneiras, tirar Ilia daquela vida. Só o conhecimento salva, abestalhado iluminista gringo. A loira (a atriz Melina Mercouri) até que cai um pouco no conto do mala, mas logo se recupera. Apenas um pequeno drama.

Mas o lindo é que continua convicta na sua forma de narrar qualquer história que um dia tenha sido trágica. O final, para a galega, terá sempre que ser feliz, solar (como diz aquele personagem do filme “Tatuagem” e litorâneo. E tudo acaba na beira-mar, diz a gênia, no seu mantra permanente.

Que a sabedoria da nossa puta filósofa reine neste domingo.

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Vestida para matar: o poder de um vestido

Por xicosa
06/02/14 02:29

yves

Ou ainda “Vista a roupa meu bem e vamos nos casar”, na voz propositadamente nasalada de Roberto.

Agora falando sério. A ruiva do Leme quase me atropela. De vestido e bicicleta. Abestalhei-me, é verdade, não aguento uma mulher que pedala de vestidinho colorido. Um perigo do verão do Rio de Janeiro. Pense na manchete do jornal “Meia-hora”: Babou pela ruiva e caiu nos braços da Velha-da-foice.

Ainda morro disso.

Tubinhos, pretinhos básicos, com e sem alça, os brejeiros de chita.

E o tomara-que-caia, amigo, você já testemunhou a queda de pelo menos uma alça dessas na vida? É lenda. Por mais que seque, só vi uma peça  do gênero despencar na minha frente, em uma festa em São Paulo. Inesquecível.

Assim como lembro da melhor cena de novela de todos os tempos: Sônia Braga, de vestido, óbvio, trepada no telhado, gata mestiça no cio arranhando minhas goteiras d´alma, ave!, na originalíssima “Gabriela”.

Pelo uso permanente dos vestidos!  Excelentes para uma safadeza gostosa, viver é bolinação e beijo na boca, em uma viagem de ônibus.

No cinema, para ver um daqueles filmes que não exigem muita atenção, idem ibidem.

As meninas de Olinda são as mais sabidas do mundo no uso destas vestes. É de nascença. Como dançam lindamente nos shows de Catarina Deejah, a mais completa selvageria da música dos trópicos!

Aos vestidos, princesas. Pule dentro de um agora, Lola, não escapula.

Contra a praticidade burocrática das Evas modernas e suas calças, suas saias austeras e seus tailleurs, essas peças apolíneas que batem a carteira de Vênus, roubam a alma de Eros.

De tão neoliberais, os tailleurs são capazes de sair sozinhos para o trabalho….

Nada nos cai tão bem ao desejo quanto um vestido.

Todo homem ama passear com uma mulher com a mais linda dessas peças. Mesmo os mais machões, que fingem ignorar a vestimenta da fêmea -reservando-se apenas a dar chiliques quando as vestes são muitas curtas.

Seja um  vestido Yves Saint Laurent (foto), um cara tão importante para as artes no geral quanto um  Proust  ou um Monet, seja  um baratinho e brejeiro de chita.

Homem que é homem, seja de Paris, Nova York ou do sertão dos Cariris, como o meu avô João Patriolino, vai à maison, às Casas Pernambucanas ou à feira do seu município e traz uma bela peça ou um tecido de presente para a amada.

Até mesmo o Fabiano, que mal tinha um cobre no bolso, personagem do livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, voltava da cidade com um corte de pano estampado para a sua mulherzinha magra, só o couro e o osso.

V de verão e V de vestido para deixar mais faceiras as gazelas, para dar mais graça às cheinhas, para realinhar a beleza nobre das afilhadas de Balzac…

A peça nos põe, homens de todas as gerações e gostos, mais românticos. O mais tosco dos canalhas sucumbe como um romeiro de joelhos diante da santa.

Ora, você nem carece ser a mais bela por completo,  você carece ter apenas uma linda parte pelo todo, como aquela figura de linguagem, a tal da metonímia que aprendemos no colégio.

Mulher é parte pelo todo. Uma linda omoplata, um pescoço, ombrinhos, pés, calcanhares mais lindos, um joelho à Nara Leão, batatas de pernas invejáveis, belos braços, “Uns braços”, como me alertou a amiga Aína sobre o conto genial de Machado de Assis -um jovem mancebo enlouquece apenas pelos braços descobertos de uma dama.

Aí ficará ainda mais linda de vestido, ao contrário das calças e outras tantas armaduras medievais que escondem o que nos enlouquece, o melhor dos nossos mundos.

Esconder, achando que pode ser vantajoso depois, é besteira. O charme é mostrar-se, ter a coragem, mesmo com o que você supõe ser uns quilinhos a mais.

Na balança das nossas retinas e trenas, isso pode ter importância de menos, quase nada, alguns gramas de preconceito e viadagem na cabeça de homens que  não valiam a pena mesmo.

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