Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

10 dicas para o 'detox das polêmicas´ na internet

Por xicosa
05/02/14 03:04

amy

A amiga escrita-fina Vivi Whiteman, igualmente jornalista –quem mandou também não estudar!-, criou um termo genial: detox de polêmica.

Viciada, como a maioria de nós todos, em dar boiadas para não sair de um debate virtual, prometeu publicamente realizar tal desintoxicação. Não conseguiu, óbvio, oba.

Li a promessa genial de V.W. e rabisquei, nos meus guardanapos morais, os dez passos para atingir esta condição de verdadeiro monge tibetano em meio ao sururu diário da internet –seja a pauleira das torcidas organizadas dos partidos ou facções, seja o rebuceteio (sic) propriamente dito das fofocas e futricas.

1) Para que perder tempo lendo um colunista/blogueiro, de esquerda ou de direita (volver!), que você já sabe a opinião desde criancinha? Masoquismo, já dizia o lendário Marquês de Sade, só presta no amor e no sexo. Corra, Lola, corra.

2) No tribunal do feicibuqui, caro Tom Zé, recomendo a esses moços, pobres moços: não seja Barbosa nem Lewandowski, muito menos Gilmar Mendes. O barato é o Projeto Pilatos. No máximo uma carinha irônica de emoticons. Se você finge até orgasmo, Lola, por que não fingir também uma posição ideológica ou um alienado e desligado meia nove?

3) A única questão consensual nas redes sociais é meteorológica. Finalmente uma unanimidade sensata, tio Nelson. Jure não postar nada além do que um jocoso “o mamãe o que calor, ô mamãe ô que calor, calor calor na bacurinha!”Já para a piscina regan aqui de casa, corra, Lola, corra.

4) No futebol, limite-se a um “chupa CBF”, a um“Chupa Galvão”. Evite, principalmente, os preconceituosos “chupa bambi” (São Paulo) ou “chupa Barbie” (torcida do Náutico). Chupa, Lola, chupa, que isso tudo não passa de uma grande bobeira.

5) Evite comparar as Helenas do novelista Manoel Carlos. Sem essa literatura comparada toda, Lola. Chega de fazer do twitter, Lola, apenas uma sala de tv com gente desconhecida. Tv é um eletrodoméstico de família, Lola.

6) Mantra de todo aquele que deseja realmente a desintoxicação de polêmicas: “Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos”(música de Zé Geraldo). Essa não é do seu tempo, Lola, ao youtube, Lola.

7) Se madame detesta de cara o samba, pra quê brigar com madame? O esquema ho-ba-la-lá de João Gilberto, mesmo que você goste apenas de rock, Lola, é uma bela saída, funciona.

8) Em vez de brigar sobre a legalização (ou não!) da maconha, fume unzinho e relaxe, Lola, relaxe.

9) Vale também, Lola, a nova versão do velho adágio da ornitologia popular: passarinho que tuita pedra sabe o tamanho do cu que tem. Por ai, Lola, esse negócio de ditado nunca foi a minha praia.

10) Sendo mais direto ainda -que mané metáfora-, vale a velha placa de advertência do busão: fale ao motorista somente o indispensável. Desintoxica, meu amor, desintoxica!

Como na promessa de Santo Agostinho, meu preferido entre as entidades católicas, Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje. É isso que parece que estamos a recitar.

Ou, para ser mais contemporâneo, o “no, no, no” do hino da modernidade suprema, a canção “Rehab” da gênia das gênias Amy Winehouse (linda ali arriba na foto).

E chega de tesinhas, teses e tesões. Agora chegou a vez e a hora da sua contribuição para o nosso impossível detox de polêmicas. Bem que tentei. Alguém se atreve?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Coutinho e as canções das nossas vidas

Por xicosa
03/02/14 17:25

 

 

coutinhocançoes

“Qual é a música que marcou a sua vida?”

Com apenas uma pergunta, o documentarista Eduardo Coutinho (na foto)  fez “As canções”(2011), filme sobre a trilha amorosa da vida de anônimos.

Cada caso, cada cacho, cada namoro, cada enrolamento sério tem a sua música.

A que mais me tocou no filme de Coutinho foi “Último Desejo”, de Noel Rosa. A história do personagem também não é nada fraca:

“Às pessoas que eu detesto/ Diga sempre que eu não presto/ Que meu lar é o botequim/ Que eu arruinei sua vida/ Que eu não mereço a comida/ Que você pagou pra mim.”

A minha atual é de 1972: “Um gatto nel blu”. Roberto Carlos no Festival de San Remo. Veja o teipe aqui.

Em uma livre tradução, um gato no azul olha as estrelas e não quer voltar para o lar doce lar de um casal que se separou. Se ela não volta para o miserável a sofrer, o felino idem.

A música preferida de Eduardo Coutinho, o homem marcado para morrer tragicamente, era “Força Estranha”, de Caetano Veloso, mas na voz do Roberto –a ideia inicial do documentário era pegar apenas as canções de RC, mas o diretor temeu as dificuldades de negociar os direitos autorais.

Tudo certo como dois e dois são cinco.

Todo amor carece de uma trilha. Como “Love twins” do Marvin Gaye, por exemplo. Caliente.

[Nota triste: em outra grande tragédia familiar, Marvin foi assassinado pelo pai, em 1984].

Corta.

Quem aqui já amou com  “Love and happiness”, do Al Green?

E no motel vagabundo com as baladas de Sade, a marquesa do mela-cueca e do amolece-corações?

Há quem vá de “Drinking again”, com Aretha Franklin, para esticar o amor ao máximo possível na viagem ao fim da noite.

“Siboney”, um bolero, vida noves fora zero, também nos cai bem. Veja que estouro a canção do filme de outro fera do cinema, o Wong Kar-wai.

Há quem ame derramadamente com Wando, Reginaldo ou Waldick.

Não importa o gênero ou os acordes. Pode ser bossa nova ou rock´n´roll.

Para não se enrolar na hora sagrada da vitrola, tem cabra safado que escolhe a mesma canção para a mulher e para a amante, como vemos no filme de Coutinho. Amores diferentes com a mesma trilha.

“Existe o cheiro, mas nada como a canção”. É o que diz outro personagem real do documentário.

E você, último(a) romântico(a) dos leitores deste blog, qual a sua canção predileta?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Copa: você que ama e protesta

Por xicosa
02/02/14 14:15

futibanoinferno

Amigo torcedor, amigo secador, eu quero a Copa do Mundo sim, como a imensa maioria, eu quero uma Copa sob protesto, a mais barulhenta das Copas, afinal de contas, ao contrário do que pensam a velha esquerda e a nova direita –cada vez mais siamesas nos extremos- futebol nunca foi alienação, muito menos ópio do povo, futebol sempre foi política em estado bruto, a política selvagem dos trópicos, a genial psicanálise das massas.

Você que ama e protesta, José, como na canção de Drummond e do Paulo Diniz, vamos nessa. Quero Copa porque jogaram muito dinheiro fora, agora que venha o circo mínimo, místico, possível. Quero protesto para mostrar que não somos de tudo idiotas, o protesto dos que já nasceram sob a lona ou o plástico preto de beira de estrada, os sem-terra, os sem-teto, os sem-saúde, os removidos, os refugiados, os clandestinos, os sem-BNDES, os sem benesses, os pós-nadas e os sem-tudo.

Quero Copa, com o pachequismo ululante que grassa, com o patriotismo como refúgio do canalha. Quero Copa com o triunfo de Edgar, meu corvo que seca pensamento ufanista, minha estimada ave do agouro que pousa no ombro e na sorte dos Galvões Buenos da vida qual o urubu de Augusto dos Anjos. O maldito corvo que seca até as pombas da paz do Papa Francisco.

Quero a Copa do futebol no inferno, como no genial cordel que ilustra este post. Quero a Copa como nas “Páginas sem glória” do Sérgio Sant´Anna.

Quero a Copa das contradições, da pátria em chuteiras e da pátria dos pés-descalços, a pátria dos boleiros coxinhas e o do país do Caça-Rato, “Rat Catcher”, como traduziu o “The Gardian”citando generosamente este cronista.

Quero protesto antes, durante e depois, meu caro Edson Arantes do Nascimento,  quero a vergonha própria e mais ainda a vergonha alheia. Quero ouvir as besteiras de quem pensa que a eleição será decidida pelos mascarados em campo ou pelos black-blocks propriamente ditos. Quero a bola certeira da coluna do Juca e o modo Fernando Pessoa do Tostão ver o jogo. Quero a cada lance e a cada grito de alerta pensar no doutor Sócrates como um presente do melhor de Deus, o Deus que preza os homens de boa vontade e os ateus.

Você que ama e protesta, José, espero que me entenda, a Copa do Mundo é “cosa mostra”, é máfia, mas também é pureza do menino de Itaquera, do Vietnã ou de Bom Jesus da Lapa. A Copa é sonho e pesadelo, tudo junto e misturado, como na narrativa da existência. O resto é reducionismo barato à direita e à esquerda, me inclua fora dessa, só o anarquismo salva –porque eu me organizando posso desorganizar, meu nego.

É, meu caro Science, vai ter cada música peba na abertura e nos shows oficiais, se liga, todos estão surdos. A rua, porém, continua de graça e sempre promete uma bela vingança. A rua que ama e protesta, a rua fofa –enfeitada de verde-amarelo- é a mesma que pede padrão Fifa. A mão que afaga, como diz o maior poeta punk do mundo, é a mesma que apedreja.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Só o pé-na-bunda salva

Por xicosa
31/01/14 03:53

crumbLuluSó o pé-na-bunda, no amor ou no trabalho, salva.

Só.

Gosto de pé-na-bunda repleto de hífens, amo tal solenidade arrombada.

Só o pé-na-bunda…

Sim.

Bora ver. Só o pé salva. Será?

Só perder é ganho, tá ligado? Sempre que perdi, fui para outro canto.

Como dizia Chico Science: um passo adiante e você não está no mesmo lugar, se liga.

Tem uma coisa que gosto da minha existenciazinha de nada nadinha. Trabalho, escrevo, ganho a vida, mas o sentido é o amor ou a vagabundagem absoluta.

Um passo adiante e você já está… na fuleragem.

Mas repare como também pode ser lindo:

Esse negócio de encontrar uma linda mulher e levar na festa mais bonita do mundo, a do Lesbian Bar, óbvio, no Hellcife, claríssimo. O verão, sinto muito, é uma ideia recifense, não há lugar no planeta que consiga fazer festas iguais a desse pueblo.

Voltemos para o nada, o pé-na-bunda existencial  como tema.

Não. Nao voltemos ainda.

A ideia de perder tempo mesmo, dormir de tarde, mesmo sendo produtivo que só um jumento do fim do mundo. A ideia de que, por mais que você seja o tampa de crush no assunto, você não é de nada, meu camarada, logo mais você será dispensado dessa merda toda e só restarão as pitangas do doutor Smith perdido no espaço: ô vida! Você/ninguém é importante na engrenagem.

Um homem só aprende o sentido depois de muitos pés na bunda. De patrões, de editores, de mulheres. Só um pé na bunda dá o sentido da vida. Juro. Só fui homem depois do pé na bunda e o seu duplo: do patrão e da amada.

Virei gente, cronista importante de merda, moral de sobrevivência, tirei onda, fui buscar a vida noutro canto. Todo homem precisa de um pé na bunda pra ser gente.

Todo homem precisa de um pé na bunda, agora sem hífen,  pra ser  Hemingway.

Todo homem precisa lamber a rapadura moral da coisa alguma, todo homem precisa ser um alienado, todo homem precisa também ser contra a Copa do Mundo de 1934, todo homem carece gritar bem alto o que não consegue ser na alcova, todo homem é uma miséria humaninha de nada, quem disse que eu acredito num homem gritando, seja na rua seja na coluna do jornal direitista que embrulha peixe?

Todo homem é apenas o grito que não consegue ser por ele mesmo. Aí fica fácil reclamar do poder. Hay gobierno, soy contra, a vibe é interessante.

Todo grito é um meio de vida, seja da coluna da esquerda, seja da direita, sabe quanto ganha um blogueiro para instigar teu ódio e teus comentários nas redes socias?

Eis a nova profissão no mundo. O cara que você banca para odiar. Não apenas esta Folha manja disso.

Os caras engordam suas poupanças que mais parecem bundas-padocas de tão gordas, são uns alugados pelos mais imbecis ainda: os comentaristas que tomam partidos… Sem comentários.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O que diz a roupa esquecida na casa do outro

Por xicosa
29/01/14 01:44

Ou Uma inocente calcinha pendurada no chuveiro

clic-1-milo-manara-conrad-gibiteria-bonellihq-1270-MLB4738445514_072013-F

Muita gente se assombra quando o caso, o cacho, o(a) ficante etc deixa peças de roupa ou espalha sinais, conscientes ou inconscientes, de que não está ali apenas de passagem.

Tem até uma conta supersticiosa –ah, essa gente mística!- de que seis peças configuram um relacionamento, que está ficando sério.

Fala sério. Paranoia delirante. O medo do goleiro diante do pênalti.

Há quem entre em pânico. Mesmo.

Bobagem, amigo(a).

É lindo quando ela marca território, gata sauvage ou gata mais recatada e metafísica.

E quando ela deixa aquela primeira calcinha pendurada ainda na torneira do chuveiro?. Nossa madrecita!

Passo mal.

Nada mais lindo e importante do que a calcinha dela, a mulher que talvez esteja chegando na sua vida, hasteada no varal ou ainda molhadinha no box do toalete.

Ela vai embora e você volta lá, no banheiro, e percebe que a calcinha ainda está pingando desejo e especulações sobre o futuro. Há música naqueles pingos. Estalactite do amor, meu caro amigo Otto.

A calcinha também vista como se fosse a bandeira de um astronauta fincada sobre a lua. Um pequeno passo da nega, uma bela mudança na sua vida.

Depois ela deixa um biquíni e fala da parte prática.Você mora perto da praia, eu tenho tesão é no mar, essas coisas das canções românticas.

Deixa quieto.

Ela deixa o biquíni e, repare na perversão gostosa, liga para pedir um favor inestimável. Que você lave o biquíni dela com sabonete(?) para o sal não estragar a preciosa peça. Você lava e aquilo dá um tesão sem limite. A moça sabe das coisas. É do tipo da moça que merece casa, comida, roupa lavada, bilhete único e viagens para lugares exóticos.

Nada mais bonito do que a moça que parte e deixa uma calcinha pingando no banheiro. Pingos de amor, como canta o meu amigo Paulo Diniz.

&&&

Nada como um post atrás do outro e um blogueiro cara de pau no meio.

Havia prometido uma lista de livros calientes para derreter a camada de Ozônio. Livros eróticos ou pornográficos. Tanto faz, afinal de contas a pornografia é o erotismo dos outros.

Remexendo no baú da reciclagem vi que já havia publicado tal lista. Com apenas dez obras. Muito pouco, quase nada. Confira aqui.

Óbvio que faltaram coisas dignas e óbvias, como Satyricon, uns três Marquês de Sade –santa Justine!. Óbvio que esqueci, entre os autores nacionais, “Um Copo de Cólera”, do Raduan Nassar, cujo filme, adaptado pelo diretor Aluízio Abranches, também entra, fácil fácil,  em qualquer parada de sucessos do gênero.

Sem se falar nos inúmeros gênios das HQs, como o Manara que ilustra esta página.

Os leitores também deixaram nos comentários do post anterior uma fartura de belos escritos que podem mudar a vida sexual mais ordinária. Vale passar a vista pelas dicas. E fiquem à vontade para acrescentar mais e mais contribuições.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Amar é... ler juntos e misturados

Por xicosa
24/01/14 21:39

c93-livropocket-pornopopeia-reinaldo-moraes_MLB-F-3686431639_012013

Cabecismo à parte, só a cabecinha: um dos melhores momentos de um casal –seja namoro, casório, rolo ou rolinho primavera- é o ato de ler juntos. Cada um com seu livro. Aquele silêncio bonito e umas espiadas com tesão por cima da capa mole ou capa dura, dependendo do tamanho da erudição do cabra.

Ali jogados, na rede ou na cama. Ali lesadamente apaixonados ou na madureza de um velho e bom romance. Ali entregues um ao outro e aos nobres ou vagabundos autores escolhidos.

Se a nega tiver lendo “Pornopopéia”, amigo, te prepara. Lindeza-mor da existência perdida. Melhor e mais divertido romance brasileiro desde de “Memórias de um Sargento de Milícias”, as moças deliram com o volume  do gênio Reinaldo Moraes –prefiro a versão pocket.

Terás ao lado, companheiro, uma mulher sorridente e tarada. O livro, epopeia cosmo-paulistana, conta a saga de Zeca, ex-cineasta marginal que ganha a vida fazendo comerciais de produtos fuleiros como embutidos de frango etc. Figuraça da putaria e da trapaça.

Nada como uma mulher lendo “Pornopopéia”ao teu lado. Usufrui dessa experiência agora.Quando reparava, lá estava a danada com a mãozinha (esmalte vermelho de nome “segurando o amor” ou algo parecido) entre as coxas suadas em Copacabana.

Emoção desde a largada, mas foi à página 302 –versão de bolso de palhaço, como diz o próprio Reinaldón, por causa do tamanho da obra- que a mulher mais linda da cidade pulou no meu pobre membro.

Perai, para ganhar um tempinho, fui reler a bendita página –li o livro três vezes. Justamente aquele momento em que o Zeca come a amiga da mulher dele. Perva, erva, cerva e outras cositas más. Safada!

Viremos a página. Este foi apenas o instante mágico, como diz o meu inconsciente hippie que larguei nas ladeiras de Olinda.

As epifanias, como dizem os ligeiramente afetados, foram muitas. Gracias, Reinaldón, por mais essa.

No embalo, amanhã deixo aqui dez dicas de livros quentes para ler a dois no verão dos trópicos.

Parabéns, SP, 460, “Pornopopéia” é o livro que traduz a sístole e diástole dos teus babilônicos corações.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Em busca da delicadeza perdida

Por xicosa
24/01/14 02:25

delegada

No dia em que as polícias de São Paulo -fardadas ou camufladas- cometeram essa merda de atacar os noias do crack na porrada, na covardia, na safadeza e na contramão do entendimento dum programa da prefeitura, uma outra historia policial comoveu esse cronista de olhos sempre marejados:

Operado no fim do ano passado para mudança de sexo, o delegado Thiago de Castro Teixeira, de 32 anos (linda na foto), irá assumir a função de plantonista na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Goiânia no mês que vem já com nova identidade: Laura de Castro Teixeira.

Assim li no telegrama da agência de notícias do bravo “Correio Braziliense”.

Casado e pai de dois filhos, o delegado decidiu fazer a cirurgia em 2012, quando comunicou sua decisâo à família e à cúpula da Polícia Civil de Goiás.

“É uma posição de foro íntimo, mas apoiamos e até vamos lotá-la na área que foi solicitada, que é a Delegacia da Mulher”, disse ao Correio o delegado-geral adjunto Daniel Felipe Diniz Adorni.

Que maravilha!

Justamente nesse dia tão triste para a polícia, civil ou fardada, brasileira.

Como é reconfortante a leitura de uma notícia dessas.

Chega de barbárie de graça, porra.

Bater em noia indefeso, zumbi de tudo, caceta!

É ir contra toda uma política de humanidade, seus fascistas. Talvez se tivessem mandado apenas os cachorros policiais à Cracolândia eles tivessem agido com mais respeito e dignidade, seu Alckmin.

É como já dizia o genial cantor e compositor Itamar Assumpção, zona Leste, SP, este representa: quanto mais conheço o homem mais fico amigo do meu cão.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Sophie Charlotte e o poder da mulher-onça

Por xicosa
23/01/14 01:21

sophiecharlotte

Li na banca, quem lê tanta notícia: ela ama a palavra devir (1  Vir a ser; passar a ser; tornar-se sm.  2  Fil.  O mesmo que devenir. [F.: Do lat. devenire.]

Mulher que trabalha com “devir” é covardia, me apaixono na hora.

Demorou, devir, demorô, já é, como se diz na prosódia carioca muito além do dicionário e da dona Norma Culta.

Essa potência mulherística nascida em Hamburgo, no ano da queda do muro de Berlin (1989), é sangue bom das belas misturas do mundo justamente no momento de um certo rompimento das barreiras & fronteiras.

Repare que história: é filha de um pai brasileiríssimo do Grão_Pará com uma mãe alemã, isso é que uma aliança sanguínea sauvage, quase intergaláctica, daria um Fitzcarraldo (o filme) naturalíssimo, sem forçar a barra.

Seu José Mário da Silva, cabeleireiro, dona Renate Elisabeth Charlotte Wolf, bióloga. Pense no romance com carimbos nos passaportes!

Charlotte, meu tesouro, Meine Liebe, Schatz, mein Schatz, mein lieber Schatz –nem lembro mais o que diabo é isso, mas sei é dourado e carinhoso, aceite a minha devoção bilíngue de tabajarístico tradutor on line, meu tesouro.

Charlotte, capaz de ser princesa e onça mais amazônica, como no épico“Serra Pelada”, filme de Heitor Dhalia sobre o maior garimpo sob o céu da humanidade, agora em série na tv Globo. Já vi na telona, coisa de cinema tal moça.

Minha pepita, meu incansável ouro de mil bateias, minha terra aberta por intermináveis minas, por ti cavouco e escavouco a mais improvável rocha da terra do nunca.

Escalaria essa moça para perturbar o juízo não somente do eldorado brasileiro, seria capaz de convencer John Huston, o diretor do filme “O Tesouro da Sierra Madre”, a fazê-la subir a montanha prometida ao lado de Humphrey Bogart, Walter Huston e Tim Holt. Iria colocar à prova a macheza daqueles destemidos em busca do ouro.

Princesa de novela e puta Tereza no cinema. E como dança falsamente tímida em uma pista de festa na cidade do Rio de Janeiro. Cronista voyeur, confesso: nada mais lindo que os ilíacos da alemã, alemoa, carioca interplenetária dos trópicos no ziriguidum e no telecoteco.

Viver é raparigagem, viver é garimpagem, seja na friagem de Hamburgo, onde nasceu a Lola, seja em Marabá da febre da selva e do ouro.

Sophie Charlotte, com dois tês, pronuncie comigo. Sophie… E nada mais será dito ou perguntado esta noche.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O que se diz e o que se ouve no amor

Por xicosa
20/01/14 02:13

CONTOS_DE_TCHECOV_1365357183P

Fiquei pensando sobre uma destas mil e uma noites de amor. Fiquei pensando principalmente nas belas inutilidades do varejo do amor. Como aquela sua pergunta ou fala que não é ouvida nunca. Zzzz.

Viver é eclipse, amar é elipse; o dito pela metade, questão de cera do ouvido amoroso, quanta coisa é dita quando o outro nem aí para a coisa toda. Né?

Você pergunta ou afirma e ela(e) acabou de dormir, poxa, aquela interrogação ou sentença já eram. O sonoro lixo amoroso que vai ficar na posta restante do fonético cemitério.

Um gol. Já era. Uma declaração de amor morreu aos pés do jogador. Assim é o mundo. Quantas coisas ditas; quantas coisas ouvidas?

E aquele(a) criatura que disse “eu te amo” só naquela hora, sem saber que o outro dormia deveras? Ou no mínimo cochilava?!

Tá bom, agora ficou parecendo aquele conto de Tchécov: os pombinhos descendo num trenó, gelo, vento medonho, e cada um, quem sabe, diz “eu te amo”para o outro –vai saber se disseram mesmo ou terá sido a vontade deles de ouvir tal verdade?

A quem interessar possa, o conto se chama “Uma Estória Alegre”. Recomendo.

Tchécov, baby, o gênio das pequenas coisas ditas e mais ainda das não-ditas, as vontadezinhas escondidas, assim na Russia como em Vertentes, Pernambuco, o mundo é o mesmo, desculpa pela obviedade babaca.

O dito e o não-ouvido. Tem cara covarde que diz tão baixinho que nem a calada da noite escuta. Um dia ele vai dizer mais alto, talvez seja tarde, talvez nem seja, duvido, a palavra guardada é o contrário do vinho ou da aguardente envelhecida, talvez não valha mais nada.

Quantos amores não viram amores de fato por essa covardia das cordas vocais? Ou terá sido outro barulho, como o vento do inverno russo ou o barulho do homem que vende a milagrosa banha do peixe-boi da Amazônia?

Os barulhos da cidade que encobrem os “eu te amo” de verdade.

Deixa quieto. Estava a tratar de coisa mais besta. Sem drama.

Tratava, ora, de quando você já está com ela e a ama. E ensaia um discurso amoroso. E vai dizendo. E se acha. Pois ela já estava dormindo. É lindo. Você ri. E pronto. E não é que ela ri de você mesmo dormindo, como quem mira uma constelação, como quem diz, seu besta, quem diz que, mesmo dormindo, não estou te ouvindo.

Tratava de quando você diz uma coisa supostamente inteligente e ele(a) está vendo o jogo do Santos ou no Google para entender outras desimportâncias. O não-ouvido do amor, portanto o não-dito do amor, não faz diferença alguma. Talvez só nos lembre que não adiante tentar impressionar em alguns momentos.

Minto. Tratava sobretudo de um detalhe: seu esforço discursivo foi para o vazio da vida, mas ela, de alguma forma, se mexeu na cama. Aquilo que você começa a dizer quando ela ainda está acordada, mas, pelo cansaço de um dia de amor, ela dorme no meio da frase. No meio de uma declaração ou de um bobo comentário sobre…

Dizia do nunca ouvido pelo outro. Seja acordado ou dormindo. Viver é eclipse, amar é elipse –não importa o que você diga, o que importa é o que o outro compreenda no sonambulismo chamado amar de verdade.

Amar é… tomar como verdade o inverossímil e brincar de caubói juntos enquanto dançamos “Romance in Durango” de Bob Dylan sobre o mesmo taco de Copacabana.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Os 10 mandamentos do homem feio

Por xicosa
18/01/14 15:59

self-potraitDemorei! Meus leitores atentos -ô sorte!- cobraram.

Como em todo começo de ano, desde o princípio da Internet no país, publico e republico este manifesto encorajador, minha oração aos moços, pobres moços. Quase sempre acrescento, corto, como de costume na minha reescrita permanente dos mesmos textos.

Sem mais metalinguices, vamos à tábua dos dez mandamentos. Coisas que um homem feio deve saber para tirar mais proveito da vida, essa ingrata:

I) Que a beleza é passageira e a feiúra é para sempre, como repetia o mal-diagramado Sérge Gainsbourg – o tio francês que pegava a Brigitte Bardot e a Jane Birkin, entre outras deusas. Sim, aquele mesmo francês cabra-safado autor do maior hino de motel de todos os tempos, “Je t´aime moi non plus”, claro.

II) Que as mulheres, ao contrário da maioria dos homens, são demasiadamente generosas. E não me venha com aquela conversinha miolo-de-pote de que as crias das nossas costelas são interesseiras. Corta essa, meu rapaz. Se assim procedessem, os feios, sujos e lascados de pontes e viadutos não teriam as suas bondosas fêmeas nas ruas. Elas estão lá, bravas criaturas, perdendo em fidelidade apenas para os destemidos vira-latas.

III) Que o feio, o malassombro propriamente dito, saiba também e repita um velho mantra deste cronista de costumes: homem que é homem não sabe sequer a diferença entre estria e celulite.

IV) Que mulher linda até gay deseja e encara, quero ver é pegar indiscriminadamente toda e qualquer assombração e visagem que aparecer pela frente.

V) Que homem que é homem não trabalha com senso estético. Ponto. Que não sabe e nunca procurou saber sequer que existe tal aparato “avaliatório’’do glorioso sexo oposto.

VI) Que as ditas “feias” decoram o Kama Sutra logo no jardim da infância.

VII)  Que para cada mulher mal-diagramada que pegamos, Deus nos manda duas divas logo depois de feita a caridade.

VIII)  Que mulher é metonímia, parte pelo todo, até na mais assombrosa das criaturas existe uma covinha, uma saboneteira, uma omoplata, um cotovelo, um detalhe que encanta deveras.

IX) Que me desculpem as muito lindas, mas sem imperfeição não há tesão. Um quê de feiúra é fundamental, empresta à fêmea uma humildade franciscana quase sempre traduzida em benfeitorias de primeira qualidade na alcova.

X) Saiba, por derradeiro, irmão mal-diagramado, que a vida é boxe: um bonitão tenta ganhar uma mulher sempre por nocaute, a nossa luta é sempre por pontos, minando lentamente a resistência das donzelas.

Boa sorte, amigo esteticamente prejudicado, nesse grande ringue da humanidade!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailxicosa@uol.com.br
  • FacebookFacebook
  • Twitter@xicosa

Buscar

Busca

Blogs da Folha

  • Recent posts Xico Sá
  1. 1

    O partido dos corações partidos

  2. 2

    A arte da cantada permanente

  3. 3

    O tal do amor aberto dá certo?

  4. 4

    E Abelardo da Hora recriou a mulher

  5. 5

    Como eleição mexe com amor e sexo

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 20/03/2011 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).