Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

Autoajuda animal: como ser um bom marido

Por xicosa
18/09/12 12:44

Cena banal, banalíssima, mas que diz muito. Café do embarque, Congonhas.

O maridão, de certa forma até carinhoso, entrega a garrafa de água mineral para a mulher dele.

– Essa é com gás, desde quando eu gosto de água assim?

Lesado, aéreo, o cara fica meio sem resposta.

– Você está comigo há sete anos e não sabe ainda das minhas preferências – a mulher humilha o sujeito.

A cena, banal como esta crônica, mostra o desligamento do homem no varejão da rotina. O camarada é capaz de virar herói de guerra, menos de prestar atenção nos usos e costumes da sua fêmea.

Mulher odeia o desatento reincidente. Nem falo de notar que a princesa decepou as madeixas. É exigir demais. Até porque as meninas de hoje mexem muito na juba.

Uma mudança radical, quando a Lola pinta o cabelo de vermelho, por exemplo,  reparamos com uma certa facilidade.

O duro é quando ela exige que notemos uma rápida alteração no tom californiano das pontas, umas tímidas luzes, cruzes!

A fêmea e o mundo capilar é um assunto à parte. Retomemos a inocente garrafa de água com gás e suas circunstâncias.

Acompanhe este outro episódio:

Ela tem alergia a camarão e outros crustáceos. O lesado viaja com ela para São Miguel do Gostoso (RN) e é a primeira coisa que pede para os dois. Achando inclusive que vai fazer bonito, agradá-la.

Não seria nada demais se estivessem ainda se conhecendo. Acontece que eles estavam há mais de dez anos enrabichados sob o mesmo teto. Falha grave, amigo. Digo estavam porque a amiga alérgica decidiu, justamente neste momento, começar a pensar em separação.

O marido, que ainda não se recuperou do pé-na-bunda, ficou traumatizado. Não pode ver camarão pela frente. Adquiriu uma espécie de alergia sentimental incurável.

São casos banalíssimos que representam o descuido no dia-a-dia e no conjunto da obra. Repare que nem estamos falando na desatenção no sexo. Se liga, macho.

O exemplo para ser bom homem e agradar as mulheres, essa arte tão rica e misteriosa, está no reino animal.

Quase uma fábula de Esopo.

Repare nos três segredos da zoofilia fantástica: a atenção de uma coruja, o tesão do galo e a proteção de um cão-de-guarda.

Lembrando sempre destes três bichos e suas funções primordiais, você, meu amigo de fé, meu irmão camarada, seguramente será um novo homem.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Barraco de casal: até que a eleição os separe

Por xicosa
17/09/12 11:44

Um barraco amoroso pode ter dezenas de motivos. O ciúme, você sabe, é sempre o maior causador deste tipo de drama.

Há barraco, porém, que nem carece de razão prática –basta a teia de aranha do tédio tecida pela acachapante rotina.

Durante as campanhas eleitorais o que pega é o barraco ideológico. Como o que testemunhei agorinha no calçadão de Ipanema.

Ele como fiel partidário do candidato à reeleição do Rio, o peemedebista Eduardo Paes. Ela, uma tigresa de unhas negras e engajada até os peitos adesivados, fazia propaganda de Marcelo Freixo, o cara do PSOL.

A discussão esquentou. O casal quase foi aos tapas e safanões. O que era apenas um embate político acabou incorporando temas mais íntimos. Arranca-rabo.

Acontece. Outra dia, tive que separar no braço dois pombinhos, aparentemente apaixonados, no bar Genésio, em SP. Ele, Serra. Ela, Haddad.

Tempo de eleição é assim mesmo. O pau canta. No Recife,  então, a cidade mais ideológica do país, já testemunhei sururus históricos.

Até outro dia, e não somente em Pernambuco, era muito raro, raríssimo, gente da chamada esquerda namorar gente da direita. E vice-versa. Não havia paixão amorosa que desse jeito.

Como o tabu de namorar um(a) malufista em São Paulo até os anos 1990. Um tabu que se repetia em vários Estados com adeptos de outros políticos da mesma linha.

Uma amiga de São Luiz me diz aqui e agora que jamais beijaria na boca de um sarneyzista. Nem que fosse o último dos príncipes da Ribamarlândia.

É, amigo, ideologia quero uma pra viver.

Você já teve esse tipo de problema, Lola? Ou não está nem ai para estas barreiras? Vale a pena colocar o relacionamento em risco por causa de política?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Quando ele demora mais a se vestir do que ela

Por xicosa
15/09/12 19:47

 

Teria sido este o primeiro metrossexual da história?

Começo de novo com o meu mantra bíblico preferido: e da costela de David Beckham, Deus fez o metrossexual.

Há controvérsias.

H. L. Mencken, n´”O Livro dos Insultos”, nos leva a pensar em Rodolfo Valentino (1895 –1926), o galã italiano que aparece aí acima na foto, como o pioneiro.

Outrora, não muito outrora assim, escrevi sobre a primeira amiga que testemunhei em veemente protesto contra o metrossexualismo do bofe dela.

Minha amiga V. blafesmava aos céus, em animada cerveja no Genésio, em SP, sobre um defeito específico do novo namorado.

Repare bem: o cara passava tanto tempo se emperiquitando na frente do espelho que o casal não conseguia chegar na hora marcada nos compromissos , shows, teatros, cinemas…

De lá para cá, a mesmíssima V. já separou, juntou de novo, separou… Assim se passaram mais de dez anos e o metrossexualismo veio para ficar.

Reencontro a danada, agora nos 37 anos, mais linda e gostosa do que nunca.

Concluímos: o que parecia ser apenas uma reclamação isolada ouvida por este cronista de costumes, no início do novo século, virou rotina, epidemia mesmo.

Que vexame!

Põe roupa, tira roupa, prova de novo, troca o casaco, muda a meia, testa uns dez pares de tênis e sapatos.

Uma esquizofrenia fashion do demo. “Eis o esquema desses carinhas de hoje, não tem mais jeito, relaxei, nem ligo mais para estes detalhes”, diz a maluca.

Sem se falar nos cremes -é um lambuzamento maluco. Com o cabelo, o maior exercício de vaidade desta raça, ponha ai, por baixo, uns 45 minutos, o tempo de um jogo de futebol.

V. não está mais nem aí: “Ah, continuo aproveitando para ver o meu Corinthians enquanto o filho da mãe escolhe as peças do vestuário”.

O pior, diz ela, é quando estes supracitados rapazes não a deixam ver o jogo em paz. Aparecem na sala de um em um minuto pedindo para ela servir de tira-teima:

-Este cachecol ou este? Você acha que está muito over? – indagam os meninos.

Pior é quando começa a lamúria: “Estou sem roupa”! Mesmo com os armários e araras abarrotados de grifes e acessórios.

Ela relembra: e quando você acha que o cara, enfim, já está “montado”, pronto para a vida, e o miserável confere o visual no espelho do elevador e resolve voltar para trocar a camisa? Só matando, ela suspira.

O que fazer, leitora, quando se deparar com um destes exemplares afrescalhados da vida?

Você acha que metrossexualismo é só consumo ou trouxe também uma certa sensibilidade ao novo homem?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Para você que se livrou de um homem-roubada

Por xicosa
13/09/12 17:00

Te juega, Lola, nas asas do desejo

Ou de uma mulher-abismo.

Ou ainda: a dor é P&B e a liberdade é 3D.

Para você, minha pequena, que acaba de se livrar de uma dor amorosa que a acompanhava pelas ruas como um vira-lata sadomasoquista.

Para você que acabou de deixar essa dor no cemitério dos amores esquecidos ou no crematório dos encostos e homens-roubada.

Para você, neste exato momento em que se livra da praga, o cirúrgico instante em que você diz “baby você já era”, como na versão da Clarah Averbuck para “Out of Time”, dos Rolling Stones, clássico dos concertos de Wander Wildner.

Está ai um momento lindamente difícil, primeiro plano, fechado, só você e a câmera do homem que filma tudo lá de cima, agora em 3D, para que todos acreditem e não vejam como truque ou chantagem…

Está ai o justo instante em que diz, aqui, câmera 1, a grua de Deus: acabou chorare,  tá tudo lindo, chega de palhaçada!

O momento da iluminação, meu santo Jack Kereouac, o beijo no vento, o sorriso, o fim da maldição de todas as músicas tristes que pareciam sempre biográficas, como as de Leonard Cohen, do Chico ou do Waldick.

Já reparou, amigo(a) que, quando doentes de amor, toda e qualquer canção é a história cagada e cuspida das nossas vidas?!

Entramos no carro ou em um táxi de madrugada, velho e bom amigo Serginho Barbosa, e lá está a trilha sonora da existência.

Agora você simplesmente ergue as mãos para os céus e diz: estou livre, carajo!

Penei, sofri, vivi o luto amoroso, mas essa(e) peste não me merece. Você ergue as mãos para os céus e agradece.

Você foi grande, não esnobou com o(a) primeiro(a) que apareceu pela frente, respeitou o luto sob trilha de Morrissey, viveu noites de insônia e solenes estiagens no reino da Carençolândia.

Você quase toma barbitúricos, você quase toma racumin como os suicidas antigos, mas você foi forte, enfim, você foi intenso(a) e segurou a onda em todas as medidas e trenas do possível.

Óbvio que às vezes você se enganou, achava que estava livre e teve ruidosas recaídas, todos nós dançamos esse tango sem manteiga, achamos que estamos libertos e lambemos, de novo, os pés de novo da mulher-abismo ou do homem-roubada,  afinal de contas o amor é mesmo uma pedra de crack da existência.

Agora não, você se sente livre mesmo, até recita um verso de  Walt Whitman: “De hoje em diante não digo mais boa sorte, boa sorte sou eu!” E segue. Lindeza.

Pronto. Você se sente livre mesmo(a), se arruma bem linda, bota flor no cabelo, você, homem velho, luta boxe sozinho no banheiro, você pede um uísque duplo, bota um Rolling Stones na radiola de ficha, sai bonito da sinuca, mata a bola preta de tabela, você está preparado(a) para uma nova vida, caiu a pena como um passarinho, caiu o pelo como um(a) gato(a), mudou de sina e com todo respeito ao clichê mais vagabundo, a fila anda.

Você fez todas as rezas, orou para Jesus, foi no terreiro e no centro espírita, baixou os tarôs e tomou carma-cola, pediu para a menina anônima que viu a virgem na mata e rendeu-se ao neo-orientalismo, você fez de tudo um pouco, santa.

É, amigo(a), se o pé-na-bunda é em preto e branco como naqueles bons, mudos e tristes filmes do expressionismo alemão, a salvação é em 3D, mais que léguas submarinas, é uma montanha russa, um carrossel de parque de diversão, uma roda gigante ou uma simples caminhada pelas ruas com um sorriso enigmático e um bom ventinho na cara.

Adeus, roubada!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Nunca o homem sofreu tanto por amor

Por xicosa
12/09/12 13:18

É, amigo, uma boa trilha sonora ajuda nessa hora

Os ombros dos garçons estão molhados. Nunca os homens sofreram tanto por amor nos tristes trópicos.

Os balcões das tavernas estão marcados pelos cotovelos e suas dores, meu caro Lupicínio.

“Você sabe o que ter um amor, meu senhor/ter loucuras por uma mulher…”

Podemos dizer, com toda hipérbole cabível, que há, no mínimo, uma endemia da dor amorosa masculina.

Desconfio que o mais correto, pelas estatísticas do meu Databotequim, é que já alcançamos, na madrugada desta quarta-feira, uma epidemia da romântica doença.

As mulheres estão conquistando o monopólio do pé-na-bunda, como este cronista havia pressentido.

De 2008 para cá, os sismógrafos conjugais do IBGE indicavam esta tendência: 71,7% das separações não consensuais têm iniciativa das mulheres.

Não consensual é aquela situação em que um pombinho quer cair fora e o outro senta na margem do rio Piedra e chora.

É, amigo, somente na noite de ontem, confortei uma meia dúzia de camaradas entregues a esta sina. Aqui me junto à brigada  reconfortante dos garçons profissionais nesta fatídica hora.

A longo e médio prazo, um terapeuta ou um psicanalista cumprem muito bem os seus papéis. Na urgência urgentíssima, apenas um garçom é capaz de entender a nossa miséria terrena.

Um amigo-amigo também amacia as dores do mundo. Acontece que nem sempre temos a humildade de abrir o jogo para os bons companheiros -principalmente quando somos traídos. Prevalece o orgulho macho.

A um garçom, sim. Não falo dos amadores, do dublê de garçom que está ali apenas ganhando um troco provisório. Não falo da linda garçonete-cabeça que milita no Oficina do Zé Celso, no Antunes ou em outro respeitável núcleo da dramaturgia paulistana.

Só o garçom sabe o velho mantra, aqui sempre repetido: quando a vida dói, drinque caubói. Uma boa trilha sonora de dor-de-corno, como fez o rapaz do filme “Alta Fidelidade” (na foto acima), também salva.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Os 10 melhores petiscos do Brasil

Por xicosa
11/09/12 04:48

Nada como um post atrás do outro e um porre no meio.

Com esta ilustração do Jaguar, o mais resistente dos boêmios brasileiros de todos os tempos, começamos esta brava terça. Afinal de contas, a terça-feira é o mais sem graça dos dias, coitada, só serve para a inércia de curar ressacas existencialistas de segunda.

A ilustração saiu no livraço “Manual de sobrevivência nos butequins mais vagabundos” (Editora Senac Rio), do Moacyr Luz. Eu recomendo pra gente que é do ramo e para os curiosos amadores, além das belas antropólogas da área. .

Pobre terça-feira. Se o sábado é uma ilusão, como disse um pedreiro para Nelson Rodrigues, a terça é o nada destilado. (Tio Nelson chamou o cara para fazer um serviço no sábado, donde ouviu do honestíssimo e sincero trabalhador carioca a linda pérola que virou uma das suas grandes frases).

Agora chega de ilusões perdidas, vamos para as dez maiores invenções do homem em matéria de petisco, acepipes ou tira-gosto:

1) Moela. Anda um pouco sumida dos cardápios e tabuletas dos botequins e pés-sujos, mas continua insuperável. Como diria o ex-boleiro Jardel (Ferrim, Grêmio, Porto…), clássico é clássico e vice-versa.

2) Os caldinhos. O mais tradicional é o de feijão, mas se você der a sorte de estar no Recife, onde tem vários bares especializados no “ela & ela”-como é chamada a dupla caldinho + cachaça/caninha- a fartura é grande. Exemplos: peixe, fava, sururu, chambaril, camarão etc.

3) Bolinho de feijoada. Invenção carioca recente –em termos históricos- que pegou. Com justiça. É simplesmente uma feijoada-pocket, o resumo da obra, uma maravilha do minimalismo feijuca.

4) Pastéis. Não é à toa a folclórica pedida dos paulistas, que fazem os melhores do universo. Um chopes e dois pastel. Virou rock do grupo Velhas Virgens e tudo: “1 chopes e 2 pastel/ Pasquale, Adoniran, Caetano e Noel”.

5) Tripa de porco frita. Denúncia: sofre um criminoso desaparecimento dos cardápios nestes tempos. Nunca fizeram nada igual para se tomar com cerveja na história da humanidade.

6) Torresmo. De preferência em Belo Horizonte, depois de uma vitória do Galo, provável campeão brasileiro deste ano.

7) Siri mole ao alho e óleo. Homem do sertão, não tenho, na fisiologia do gosto, o paladar chegado ao menu litorâneo. Esta pedida, porém, me ganhou logo na chegada adolescente ao primeiro boteco de Brasília Teimosa, no Recife. A caranguejada cearense também me pega. E para completar o capítulo: a lambreta (marisco) soteropolitana, excelente na hora de “comer água”, como os baianos denominam o ato de encher a caveira.

8) Umbu-cajá. Estarão, a essa altura, os amigos indagando: o que faz uma frutinha no meio dessa cozinha de sustança. Depois do torresmo, eis o melhor tira-gosto para a cachaça. Juro.

9) Bolinho de pirarucu. Toca para Belém do Grão-Pará. Só digo o seguinte: bate fácil  o de bacalhau, meu gajo. Nem se compara. Iguaria finíssima. Cesse tudo que a musa antiga canta. Estou dentro.

10) Marrecos de Jaraguá do Sul(SC). O meu amigo Lourenço Mutarelli não me deixa mentir. Nada como os marrecos da “capital do conto brasileiro”. Todo mundo é contista na cidade catarinense de Carlos Henrique Schroeder, um craque no gênero. Ainda no Sul, não esqueçamos do gauchíssimo espinhaço de ovelha.

E você, amigo, o que manda aí de sugestão à guisa de guisadinhos que nos deixam com água na boca? Qual o seu petisco predileto?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Solteiro, sedentário e humilhado no Rio de Janeiro

Por xicosa
10/09/12 03:02

Antônio Maria & Vinícius no exercício predileto

Nada mais humilhante para um boêmio sedentário ou semi-sedentário do que acordar no Rio de Janeiro.

É abrir a janela, com aquela amada ressaquinha tão familiar e íntima, e quase ter um infarto de tanto ver os cariocas se bulirem.

O abdominal, assim como a vírgula, não nasceu para humilhar ninguém, amigo, mas confesso que me faz um mal tremendo ver essa gente sarada mostrando seu valor.

Ô brava gente que não para quieta.

Parece que a cidade toda está chacoalhando o esqueleto.

Que saúde. Que hora esse povo dormiu?, minha linda e enxuta sexagenária que passa aqui abaixo da janela a mil por hora!

A esta altura somente este cronista, o ator Otávio Augusto e o Jorge Kajuru, que sempre me dão a honra de um pileque na Cobal do Humaitá, estamos parados, paradíssimos, contemplando a academia de ginástica a céu aberto.

Uns pedalam, outros puxam ferro, minha gostosa Tereza, bote gostosa nisso, já se encontra no Arpoador a essa altura, até o Cristo faz exercícios para o endurecer o eternamente exposto “músculo do tchauzinho”.

Uma beleza.

Será que o Zeca Pagodinho também tá nessa?

O Chico Buarque vai passar daqui a pouco. Mas não exageremos. Só lá pelas 11, 11 e tanto. O poeta cuida das melopeias e do corpinho.

O aterro do Flamengo está repleto de gente saudável, Botafogo idem, em volta da Lagoa nem se fala, em Ipanena gatinhas jogam futevôlei, no  Leblon até os rosados bebês fazem alongamento para o encanto das belas mamães saídas da costela do novelista Manoel Carlos.

Deixa quieto.

A situação me faz lembrar aquela diálogo de Vinícius de Moraes e o genial Antônio Maria –“ninguém me ama, ninguém me quer…”- na saída de uma boate de Copacabana, lá pelas seis da manhã, óbvio.

Saem do inferninho e testemunham um grupo de homens, homens maduros, fazendo ginástica na praia. “Lamentável”, dizem, em uníssono.

— Vamos fazer um pacto, sugeriu Maria, em tom grave.
— Juramos neste momento que jamais participaremos de uma calhordice como a desses sujeitos. Jamais faremos qualquer esforço físico desnecessário. Topa?

Firmam o pacto e gritam, às gargalhadas, para os tiozinhos:

— Seus calhordas! Seus calhordas!

É o que li no ótimo “Um Homem chamado Maria” (Ed.Objetiva), de Joaquim Ferreira dos Santos .

Em tempos mais corretos e saudáveis, confesso, covardemente, não tenho coragem de repetir esse grito de independência.

Sofro calado a humilhação dessa gente toda que se bole, se mexe. Dou toda força, amigos cariocas, até sinto uma certa inveja por não conseguir tal gana apolínea. Parece que não nasci mesmo para morrer com tanta saúde.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O amor que morreu na saída do feriadão

Por xicosa
08/09/12 03:53

 

Trilha sonora recomendada para a leitura deste conto-crônico

Nem precisamos ir ao mar para ver o nosso amor morrer na praia neste feriadão.

Nosso amor morreu na doutor Arnaldo, depois da sala de velórios, na frente das bancas de flores, rosas vermelhas que sustentam amores falidos, girassóis, gerânios, belos arranjos que fazem milagres e  livram os maridos culpados no engarrafamento.

Nosso amor morreu na correria para fugir de SP, babilônicos corações de fumaça a 10 km por hora, como os tílburis que conduziam os Bentinhos e Capitus no século XIX do outro lado da via Dutra.

Nosso amor tinha pressa, largou o automóvel e saiu caminhando, melancólico, entre motoboys e miragens, crepúsculo cubatanesco a escorrer do nariz, nosso amor era um boi na frente dos carros.

Nosso amor era um atropelo e a gente mal tinha tempo para fazer-lhe um dengo, um cafuné, uma cócega, um bilu-bilu, nosso amor era um tomagushi, um bichinho virtual criado e nascido como uma planta nesta cidade de 11 milhões de habitantes.

Aí nosso amor, puto da vida, bebeu, cheirou cola, acendeu o cachimbo na Cracolândia, perdeu os óculos, as lentes de contato, fez besteira na rua Augusta e quando alcançou o Tietê já nadava na correnteza em cima de um sofá velho cujo estofado denunciava lágrimas e esperas.

Nosso amor não conseguiu dormir direito de ontem para hoje,  zumbizou geral o malaco, perdeu-se como Esperanza, a linda boliviana de Cochabamba, Penélope que tece o interminável manto e nada espera nas fabriquetas de costuras do Bom Retiro.

Nosso amor não tinha norte, bússola ou GPS.

O amor em SP, repito, é como o metrô da Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação. Sinto muito.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A traição amorosa e o plágio da cantada

Por xicosa
05/09/12 22:44

O caso de uma mulher teimosa e reincidente.

A amiga M. conta que, mais uma vez, caiu na tentação de fazer uma rápida espionagem no telefone do mancebo.

De novo, M.? Não tens jeito.

Quem manda! Quem procura, acha, como grita o adágio popular mais óbvio. Ela aproveitou o banho do mala para ver, pelo menos, as últimas mensagens de texto.

Maldita caixa de entrada. Claro que encontrou merda, com licença da palavra.

Encurralado, o condenado, o miserável já havia dito que ficara com outra donzela. Nada demais, só uns beijos, disse o réu confesso diante das provas incontestáveis.

(Provas, diga-se, em tempos de julgamentos no STF, obtidas de forma ilegal na espionagem amorosa).

O infeliz das costas ocas, o lazarento, o febre-do-rato, o cabra safado -aqui reproduzo fielmente o rosário de adjetivos usado por minha amiga traída- aproveitou um desses carnavais fora de época para a famosa prática do pulo à cerca, o mais olímpico e familiar dos esportes brasileiros.

Um homem picareta e uma folia de micareta, definitavamente, não rimam com fidelidade e amor.

A amiga M., porém, já sabia com quem lidava. Idiota quem acha que é tarefa fácil engambelar uma fêmea. Não que o moço fosse de tudo um canalha legítimo, era apenas um homem, ainda um amador nessa arte do cafa.

O que incomodou mesmo a colega foi a falta de criatividade do desalmado. O fdp havia escrito para a nova presa a mesmíssima coisa que rabiscara mal e porcamente na mensagem com destino à doce M. no começo do namoro.

Tudo bem, não era nada genial, mas uma frase comovida, dizendo quão bela fora a primeira noite dos dois juntos.

Ela ficaria revoltada de qualquer  modo. Afinal de contas tem ego e amor próprio. Mas o que doeu mais, no fígado mesmo, foi esta repetição. Dividir as mesmas palavras com a “vagabunda”.

Claro que o ciúme não é apenas do plágio descarado, da cópia automática, mas isso prova como os homens, além de frouxos para encarar os romances, andam sem a menor criatividade.

Gente que gasta a maior lábia para os negócios e os projetos de trabalho e é incapaz de variar em duas linhas de uma mensagem amorosa.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

10 lições básicas do manual do boêmio

Por xicosa
04/09/12 21:28

O garçom Ailton, Vila Madalena, SP, uma das fontes deste blog

1) É de bom-tom sempre guardar o nome dos garçons, afinal de contas é no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.

Sim, amigo, fica tranquilo, só o chifre humaniza o macho metido a besta.

2) Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, do petisco, ah, aquela calabresa, aquele torresmo, aquela moela (a melhor iguaria de boteco do mundo), aquela azeitona me fez mal à beça… Jamais a culpa será da bebida. Seja um uiscão batizado e paraguaio, seja a mais destilada das águas escocesas.

3) Boemia é como futebol, é ritmo de jogo, seqüência; se você a larga por uns dias, ela te pega na volta, mesmo que peças,suplicante, a tua nova inscrição.

4) A divisão do tempo da prosa do homem, na mesa de um bar, deve obedecer ao seguinte critério: 50% sobre mulheres, 40% sobre futebol e 10% sobre as ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas.

5) Direito máximo do consumidor boêmio: desde que o freguês não se incomode com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida do portão de ferro. No país da impunidade, a lei existe para ser desobedecida, sempre haverá tolerância para mais uma saideira.

6) É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.

7) Meu bar/meu mar… É permitido nadar no seco e beijar os pés das mulheres.

8) Lembra-te, amigo mais velho: a ressaca, depois dos 40, não é apenas uma ressaca. É uma paralisante dengue existencialista.

9) Procures sentar sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível na calçada, pois todos os dias, alguma mulher irada sai de casa, revoltada com o consorte, e diz assim: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”.

Se bem colocado na área, este primeiro serás tu, bravo boêmio.

10)  Mesmo que bebas demais da conta, de modo a ficar sem condições técnicas para o acasalamento, nada de desistência. Ainda podes virar, com alguma dose de sorte, um homem-tupperware –aquele que a mulher leva para casa para comer no dia seguinte. Buena sorte!

Agora ajude o blogueiro a ampliar o seu manual. As melhores dicas serão publicadas no próximo sábado, com os devidos créditos dos boêmios(as) profissas.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailxicosa@uol.com.br
  • FacebookFacebook
  • Twitter@xicosa

Buscar

Busca

Blogs da Folha

  • Recent posts Xico Sá
  1. 1

    O partido dos corações partidos

  2. 2

    A arte da cantada permanente

  3. 3

    O tal do amor aberto dá certo?

  4. 4

    E Abelardo da Hora recriou a mulher

  5. 5

    Como eleição mexe com amor e sexo

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 20/03/2011 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).