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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Receita para esquecer um amor: vide bula

Por xicosa
25/03/13 00:45

Sugestão de filme que radicaliza sobre o tema: “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”

Em uma visita ao arquivo de cartas recebidas por Miss Corações Solitários, madame responsável pelo consultório sentimental deste blog, descobrimos a pergunta que mais se repete entre os corações aflitos:

Como é que se esquece uma pessoa que se ama?

Óbvio, a pessoa foi embora, o tal do amor acaba -acaba principalmente da parte dele, desalmado!

Como é que se esquece? A primeira coisa que me veio à cabeça foi copiar aqui a receita do miojo, como fez o sábio menino do Enem. Ou quem sabe o hino do Grêmio, composto por Lupicínio Rodrigues, talvez seja o mais dramático e bonito de todos.

A propósito, quem não leu, recomendo, sobre a redação do miojo, artigo de Inácio Araújo, é só clicar aqui, ó!

Repetimos a fatídica pergunta: como é que se esquece alguém que se ama?

Há quem diga que um amor só se cura com outro. No que caímos em outra pergunta: mas como arrumar outro se o anterior não nos deixa nem dormir direito, como se fosse um carnê atrasado com todas as prestações da existência?

Se existe uma grande farsa moderna é a tal da crença que a fila anda. Anda tanto quanto o trânsito de SP em dias de tempestades.

Há quem aposte em uma viagem exótica a um país idem. Escalar o Himalaia, essas coisas.

Já apostei em uma receita simples, que está a cada esquina: quando a vida dói, drinque caubói –sem esquecer o seu ídolo de dor de cotovelo preferido. De Bartô Galeno a Leonard Cohen.

Outro dia, na praia do Pina, vi um homem de corpo enterrado na areia, só a cabeça de fora, usando algo parecido: um tubo de Pitú e um Genival Santos bem alto –“Eu hoje quebro essa mesa/se meu amor não chegar…”

Uns resolvem se enfiar no trabalho, como houvesse alguma dignidade nisso. Há quem se entupa de barbitúricos ou tarja preta de estima.

Nessa grave hora, descrentes jogam suas fichas e dízimos no conforto das religiões. Uns viram fanáticos e juram-se curados. Acontece.

Há quem vá ao pai-de-santo e há quem procure os caminhos do orientalismo.

Na literatura há receitas malucas, como a do livraço “Tia Júlia e o escrevinhador”, de Mário Vargas Llossa, já lembrada neste blog: tome leite de magnésia, pois o amor seria apenas uma questão de prisão de ventre, não aquela batedeira de coração que você estava sentindo.

Nunca me deparei, porém, com nada mais sábio do que a receita de um colega cronista d´além mar, o gajo Miguel Esteves Cardoso, com quem tive o prazer de compartilhar uns copos no “Love Story”, em SP:

“As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar.

Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.

Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas!”

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10 motivos simples para animar a vida besta

Por xicosa
21/03/13 22:15

Razões particularíssimas, evidentemente, afinal de contas, blog que é blog não pode perder assim de vez o seu viés de “meu querido diário”. Vamos nessa.

1) Força no bigode – Paulo Leminski na lista dos mais vendidos. Com um livro de haicais e poemas. Em algumas redes importantes, como a Livraria Cultura, já bate “Cinquenta tons de cinza”. Veja aqui o booktrailer mais sensacional desde a invenção de tal moda.

2) Retrato falado de uma mulher sem pudor – A deusa Nicole Puzzi no palco do bar Biroska, em SP. Fui ver o espetáculo para uma crônica na Ilustrada. Tremi ao beijar, cavalheiro andante, a sua mão. Depois um abraço que rebobinou a antologia de desejos dos tempos da pornochanchada –como era gostoso o nosso cinema!

3) Para um amor no Recife – O final da tarde no bar “25ª DP” em Brasília Teimosa, Hellcife, com os 17 tipos de morenidade catalogados em um estudo que fiz com o Dunca Lindsay. Da jambo-girl à morena fogo-pagou. A sequência, óbvio, é uma esticada no Central, o jardim dos caminhos que se bifurcam na noite sob o vento do Capibaribe.

4) @JornalismoWando – Dançar dizendo coisas no ouvido da moça. Tem coisa melhor na vida? Com aquele prazer de não ter inventado o amor, mas saber como ele é feito. Tudo bem, fui bem Wando, se bem que o Sinatra também dizia algo parecido. Ora, viver é Wando ou Wander Wildner, o rei do punk-brega.

5) Pulp fiction – Começar a escrever um novo romance. E este velho cronista e jovem romancista, pasme, conseguiu rabiscar seis capítulos aqui no edifício Califórnia. Evoé, saravá, amém, viva!

6) A pátria em chuteiras – Ver que o futebol do Brasil ainda não acabou de vez. O primeiro tempo contra a Itália mostrou isso. É possível. Achei que já havia ido para o buraco.

7) Racional – Dar um rolê com Mano Brown, em SP, falando do Santos F.C. De como o time pode pensar grande. De como o clube deve incentivar a entrada de graça de crianças nos seus jogos. Projeto dele. De como o time tem que jogar mais em SP e tirar aquela vidraçaria toda da Vila Belmiro –atrapalha até o eco da geral a vitrine. Valeu, compay.

8) Amor dos anos 70 – Ver uma moça, safra 1983, discorrendo com novidades sobre “O Último Tango em Paris” (1972) , o filme. Ah, minha nega, contigo me derreto qual manteiga.

9) Camaleão – Poder ouvir um disco novo de David Bowie. Isso é uma graça de estar no mundo.

10) Flanar pelas ruas com uma mão cheirando a alho (de um banquete perfeito) e a outra a sexo. Das pequenas felicidades da existência. Você vai alternando: sexo, alho, sexo, alho…

Agora é a sua vez, o que o mantém firme, apesar dos pesares de sempre?

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Essa gente que degusta e harmoniza um mundo-gourmet

Por xicosa
19/03/13 21:06

Ele não come, ele não bebe, ele degusta.

Ele não combina as coisas, ele harmoniza.

Ele não vai à cozinha, utiliza o espaço gourmet.

E assim mil e uma frescuras. O homem-bouquet ou o homem-hortinha e quase sempre o homem-de-predinho-antigo [vide post anterior deste blog aqui] conjugam todos esses verbos e situações.

Ele não sonda, ele não vê qualé, ele prospecta. Usa o verbo prospectar inclusive no assédio amoroso. Que romântico!

Mas deixa o rapaz prospectar em paz, fiquemos nos usos e abusos dos degustadores e harmonizadores que fizeram do mundo um planeta-gourmet.

Tudo é gourmet. Água, café, suco, ovo de páscoa… Se brincar tem até doritos-gourmet.

Tudo é gourmet e tudo se harmoniza. Hoje mesmo recebi um convite para harmonizar cerveja com chocolates finos. Lembrei do velho Francisco, meu pai, lá no seu rancho na chapada, autêntico macho-jurubeba, e declinei do chamado. Tô fuera. Já ando afrescalhado demais, chega!

A vida é muito curta para a gente ficar só degustando. Se o cara te convidar para degustar, em vez de comer ou beber um vinho, corra, Lola, corra, é roubada na certa. Se só degusta, jamais vai a fundo.

Realmente se abusa desses verbos de moda. Outro dia a Flávia de Gusmão, ótima colunista do “JC” do Recife, relatou um caso que vai além de qualquer exemplo que eu pudesse imaginar. Uma amiga dela foi agraciada com uma degustação de papel higiênico. Isso aí, receberia em casa ofertas para degustar. Oi!

E você ai, caríssimo(a) leitor(a), já harmonizou alguma coisa hoje?

Agora me dê licença, madame, que vou ali degustar a minha rabada-gourmet. Sim, para harmonizar, Catuaba Selvagem ou qualquer outro vinho fino com aroma amadeirado.

E como diria meu amigo Ibrahim Sued, ademã que eu vou em frente.

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Liquidação de ex na xepa amorosa

Por xicosa
18/03/13 13:26

O que leva alguém, mesmo ainda muito novo, a rifar o ex ou a ex nos classificados  de  relacionamentos?

Na visão dos jovens proprietários do site recomendeumex.tumblr.com, o negócio é “uma chance de transformar a culpa ou o remorso daquele pé na bunda em felicidade”.

Não seria melhor ir ao confessionário mais próximo, pedir perdão ao papa Chico ou subir à escadaria da Penha de joelhos?

Se é por uma questão de culpa ou generosidade cristã…

O cara despacha a moça e, perversamente, ainda a anuncia, sem avisá-la, no leilão dos desesperados, na xepa da feira amorosa?

Sei que pode ser o inverso. Se bem que isso é mais arte da canalhice, ingênua ou não, dos mancebos.

Como você se sentiria, leitor(a), ao saber que, além de um tremendo pé na bunda, o autor de tal desgraça ainda rifou teu coração em um anúncio público?

|Mesmo que a ex seja do tipo “Atração Fatal” e faça apitar todas as panelas da pressão.

Isso não são modos.

Como você é bonzinho(a), hein? Talvez você seja daquele tipo que atira no despenhadeiro, mas antes dá um terno beijo na testa e sussurra, cínico, “espero que você seja muito feliz”.

Deixa a moça ou o moço viver o  luto amoroso ou o legítimo luto da vingança, vingança, vingança.

Porque um cara ou uma mulher que é capaz de expor um ex a tal vexame, merece toda a praga da canção de Lupícinio Rodrigues, o gênio da dor-de-cotovelo:

Merece rolar como as pedras que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de seu, pra poder descansar.

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O ho-ba-la-lá das coincidências do amor

Por xicosa
15/03/13 04:36

Tudo bem, os opostos se atraem, mas é com o jogo das coincidências que começa um amor.

Estou amando? Ainda é cedo, amor, para saber de tais profundidades.

O que podemos dizer, na largada, em coro grego é o seguinte: não estamos nos conhecendo, estamos nos coincidindo.

Nossa, você também curte a Wislawa Szymborska? Que máximo. A incrível e sóbria senhora polonesa com nome de vodka é uma grande poeta –pega uma coisa bem difícil e torna o sentido mais simples da arte de beber um copo d´água.

Szynborska, Leonardo Cohen, cinema neo-paquistanês… Seja lá que diabo for o assunto, lá estão os pombinhos arrulhando sobre as preferências comuns.

Pornochanchada dos anos 70, as crônicas de Paulo Mendes Campos, a banda Cabaré Voltaire, dias chuvosos em vez de dias ensolarados, Murakami, comida com muito alho etc etc.

No início era o verbo das coincidências…

Ah, não, não acredito que você também estava no show do Bowie no Parque Antarctica?!

Até aquilo que você, metido(a), não confessa, por vergonha de parecer brega ou cafona, como se derramar com aquela do Leandro & Leonardo: “Sabe, quanto tempo não te vejo!…/Cada vez você distante,/Mas eu gosto de você,/Por quê?”

Sam Peckinpah, nossa, aquele uso da câmera lenta na hora dos mais brutais assassinatos… Não tem fim a lista do gosto acasalado.

Óbvio que quem abriu os trabalhos das mil e uma coincidências foi a cantora Nina Simone (aí acima na foto), na primeira noite que ficaram juntos. Na dúvida, as moças bacanas amam mandar uma Nina Simone na vitrola quando recebem um bofe. É sem erro.

Só para não dizer que é tudo combinadinho, vez por outra uma discordância inofensiva: tipo assim… Ele é mais Chico, ela é todinha Caetano; ele Rolling Stones, ela Beatles, e assim pequenas oposições. Nada grave.

Eles tocam de ouvido, “é o amor o ho-ba-la-lá, ho-ba-la-lá, essa canção”.

Eles têm dúvida de se amam ou odeiam João Gilberto. Um fica esperando a opinião do outro, para poder bater o martelo dos pregos coincidentes, nos intervalos dos “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim”.

Ho-ba-la-lá, o coração…

Prato predileto? Para não arriscar assim de cara tergiversam e falam do roubo nos preços dos restaurantes do Rio e de São Paulo.

Ele diz: tem um livro ótimo pra gente escapar disso. Ela sapeca, sorrisão de garota esperta: O “Guia da Culinária Ogra”, do André Barcinski?

Eles gargalham, eles se amassam, eles correm o doce risco de um atentado ao pudor. A coincidência, para o moço, é o genérico do Viagra.

Eles nem carecem dizer ainda estamos namorando, estamos em um relacionamento “fala sério”, estamos no status “rolinho primavera” mesmo à beira do outono etc. Basta dizer “estamos nos coincidindo”.

Cada coincidência, no começo de história, é um pequeno gozo. Mesmo que seja uma coincidência fingida como um eventual futuro orgasmo.

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Receita para um amor maldigerido

Por xicosa
13/03/13 01:19

Relendo aqui “Tia Júlia e o Escrevinhador”, romance que mais gosto do peruano Vargas Llosa, me deparo com uma receita purgativa para o sofrimento por causa de homem ou de mulher:

“Para dores de amor, nada melhor do que leite de magnésia (…). Na maior parte das vezes, os chamados males de amor, etcétera, são distúrbios digestivos, feijões duros que não digerem, peixe estragado, entupimento. Um bom purgante fulmina a loucura do amor.”

O enfezamento, ainda especulam os personagens ao redor de Tia Júlia, muitas vezes se transforma na melancolia ou na infinita tristeza de ter perdido alguém ou de não conseguir a correspondência amorosa.

No meu escatológico e ao mesmo tempo romântico “Big Jato” –pense num best-seller fuleiro!-, a dor existencialista da mãe do narrador é, de certa forma, atribuída à prisão de ventre. Desculpe a autopromoção e a cara de pau (não comprem!), mas gostei da coincidência.

Se faz sentido prático e científico, não faço a menor ideia, mas pelo menos o humor –daí a origem da palavra enfezado- como muda. Ô!

Quantas vezes não corri à farmácia, em horas inconvenientes, em busca de milagrosos tamarines, cascolaxs e magnésias para a amada.

Você aí que limpinho, do tipo que sai desesperado correndo para tomar banho depois do sexo, pode achar sujeira esse papo.

Você aí cheio de clichês sobre os efeitos da TPM etc…

O amor não é para amadores, amigo, o resto é folclore de boteco.

O amor está nos detalhes. Como Deus ou o triunfo de um time em um Fla x Flu e qualquer outro grande clássico.

Na obra “Os remédios do Amor – Os cosméticos para o rosto da mulher”, o poeta Ovídio, ainda no ano 43 a.C., também aposta em receitas que mais parecem simpatias populares. Recomenda o uso de ervas, chás do mato etc.

Quando se trata de dores de amor, você aí amigo de Aldeia Campista -subúrbio carioca-, que me consultou ontem sobre o assunto na Cobal do Humaitá, qualquer receita serve.

Todo amor é um tanto quanto superstição. Vale quase tudo para curá-lo. De psicanálise a despacho na encruzilhada.

Entre o leite de magnésia da Tia Júlia e os chás do raizeiro Ovídio, sempre preferi uma bula particularíssima que, de novo, recomendo:

Se a vida dói, drinque caubói.

Com Roberto, Chico Buarque, Waldick ou Leonardo Cohen na vitrola, óbvio. Chifre, meu velho, pode até não ser cultura, mas também depende de receita & estilo.

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A culpa de quem deu o fora amoroso

Por xicosa
11/03/13 16:41

Segunda é dia de forçar Miss Corações Solitários, aqui estirada no quarto qual uma Rê Bordosa, ao trabalho e ao enfrentamento dos dias. Essa minha cigana anda folgada e as consultas sentimentais se acumulam debaixo do tapete.

A leitora N., da vila Tolstói, São Paulo, Capital, diz que antes levar um pé na bunda, o maior dos foras da paróquia, do que ser obrigada a mandar o homem mascar o jiló do abandono.

“Não tem jeito, o safado aprontou tudo que um homem é capaz, mas agora anda pelo bairro com aquele olho de cachorro morto, enchendo a cara, dizendo que a vida acabou etc”, conta N.

Além do desleixo, depois de cinco anos de relacionamento, o cara foi visto com outra. Há testemunhas, fotinhas tiradas por uma amiga e todas provas possíveis. Pior: trata-se de um reincidente.

N. tem 29 anos; o rapaz faz 37 em abril. Ela enfermeira; ele bancário.

N. reforça o drama real:

“Sinto culpa, me sinto culpada, tenho medo que ele faça alguma besteira, mas ao mesmo tempo sei que não rola mais, não posso continuar com esse namoro que não vale a pena. Ele tem sido descuidado em tudo e ainda apronta essa agora de me trair descaradamente!”.

Miss Corações Solitários chuta o balde do conselho amoroso:

Se a excessiva culpa cristã fizesse bem a alguém, querida N., a Igreja Católica não estaria metida nessa crise e nessa lama toda.

Não sejas tola. Muito menos caia nessa conversinha de você era a vida para ele. Sim, isso pode render algum orgulho, inflar teu ego etc, mas, em última instância, ninguém é o ar que o outro respira -principalmente para a gente que vive o poluído ar de SP.

O canalha fica exibindo esse espetáculo de sofrimento para despertar exatamente a tua piedade. Cair nesse drama será a continuação da mesma desgraça amorosa.

Homem curte sofrer em público e ameaçar com algo trágico como uma forma de chantagem.

Tem mais: não podes ser demonizada por nada que aconteça ao desalmado. Por não ser boazinha? Tens vocação para Madre Teresa de Calcutá dos bofes oprimidos?

Esse papo de que prefere levar a dar um pé-na-bunda também não cola. Praticaste a justiça mínima, te livraste de uma praga, de um namoro com direito ao usucapião –cinco anos- apenas da parte ruim dos relacionamentos.

Nada que uma boa vassourada com os bigodes de Nietzsche não limpe a tua culpa. É a melhor faxina moral. Sempre.

Boa sorte aí na resistência, descriminalize já seu pé na bunda, que te livres da maldita piedade e logo logo subirá a fumaça branca de um sucessor bem melhor na tua vida. Com o afeto que se encerra, Miss Corações Solitários

P.S. Te recomendo, leitora, o pequeno grande romance que ilustra esta crônica. Em 24 horas, uma mulher dá uma virada espetacular. Aparentemente sem culpa alguma.

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Minhas 12 rebeldes com causa

Por xicosa
08/03/13 20:10

Nos primórdios deste blog, por ocasião da “Marcha das Vadias” em SP, elegi algumas mulheres extraordinárias por causa das suas rebeldias, aquelas que portam -ontem e hoje- o luxo da coragem, talvez o maior dos luxos.

É o tipo da escolha que você faz mesmo sob o risco das injustiças de quem ama as tais listas. É do juego. Hoje é dia de manter algumas e ampliar o time das baderneiras em todos os sentidos.

– Marietta Baderna – Tão linda e disposta que o eu sobrenome deu origem à palavra baderna e virou sinônimo de agitação e vadiagem. Era uma bailarina de origem italiana que reinou no Rio por volta de 1850.

– Bárbara de Alencar – Primeira presa política do Brasil. A revolucionária do Crato se engajou, com os filhos, que estudavam no Recife, na Revolução pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador.

-Patrícia Galvão, Pagu – Já aos 15 anos, nos anos 20, a jornalista e escritora paulista mostrou ao que veio. Escrevia textos comuno-anarquistas e andava na contramão das modinhas de fêmea.

– Dadá – A entrada de mulheres no bando de Lampião já foi uma quebradeira geral nos tabus. A macharada temia que o grupo ficasse fraco e vulnerável. Muito pelo contrário. Sérgia, vulgo Dadá, mulher de Corisco, foi a única que pegou em armas e revelou-se mais corajosa que a maioria dos homens.

– Luz Del Fuego– A garota da foto aí acima. Linda como todas as mulheres da terra de Roberto Carlos e Sergio Sampaio, a artista Dora Vivacqua honrou o pseudônimo. Ergueu a bandeira do naturismo –todo mundo nu!, bradava em todos os lugares- e zelou pela causa das vadias até a morte, em 1967.

– Leila Diniz – Bagunçar o coreto era com ela. O Rio dos 60 e 70 que nos diga. Toda mulher é assim meio Leila Diniz, como canta a Rita Lee? –outra que já sacudiu os costumes.

Clarice Lispector – Carece falar dessa ucraniana? Melhor a gente abrir os seus livros mais uma vez e pronto. As suas entrevistas também são aulas. Jovens, aos Youtube já e me digam.

– Rê Bordosa – A imortal personagem de Angeli que saiu das páginas da “Chiclete com Banana”, na SP dos anos 1980, para entrar na história das libertárias da porraloquice.

-Margarida Maria Alves – No comando do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, no interior da Paraíba, enfrentou o que muito “cabra macho” não tinha coragem. Brutalmente assassinada pelos coronéis do campo em 1983, aos 50 anos.

Dercy Gonçalves – Pelo conjunto de uma obra de escrachos. Um poema sujo de saias. Fluminense da cidade de Santa Maria Madalena, morreu no Rio, em 2008, com 103 anos.

Aracy de Almeida – Palmas para a “Dama do Encantado” (1914-1988) que ela merece. Araca! A que dos míseros mangos do júri do programa Sílvio Santos, a cantora de Noel Rosa e de todo o Rio de Janeiro.

Hilda Hilst – Outra moça do interior nada comportada. Nasceu em Jaú (SP), em 1930, e morreu em Campinas, em 2004. Gênia da escrita. Na ficção, na poesia, na crônica e no teatro. Todo homem tem que pagar pau para ela, como se diz no City Bar campineiro.

E você, amigo(a), quem acrescentaria a esta breve lista sujeita a pecados historicamente imperdoáveis? Citei apenas grandes personagens que já partiram desta, mas vale também as vivas, vivíssimas.

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Homem que é homem ajoelha e pede perdão

Por xicosa
07/03/13 17:31

Homem que é homem ajoelha e pede perdão às mulheres.

Assim me ajoelhei, na noite de ontem, com um bando de marmanjos, no sagrado solo do bar do Zé Batidão, Jardim Guarujá, ZS paulistana.

O perdão particular, o perdão coletivo e histórico.

Foi bonita a festa, pá, meu caro Sérgio Vaz, fiquei contente.

Quando você se ajoelha por uma grande causa –e a mulher é a minha devoção única- o atrito do joelho no milho moral da existência é muito maior do que você imagina.

Arrepio de novo agora enquanto cato milho nesta minha velha Olivetti Lettera 22.

Descer sobre o milho de atos, pecados, violências e omissões. Nem o maior milharal de trabalho escravo das beiradas do Mississipi seria suficiente para aplacar a nossa ficha corrida, tremenda capivara.

O gesto, porém, é bonito. Quando você encosta a velha dobradiça no cimento, o coração pipoca além do simbólico, muito além da sístole e diástole.

Depois de um sarau da Cooperifa, 12 anos de poesia e combate, o poeta Sérgio Vaz anuncia o “Ajoelhaço”, evento que acontece sempre na semana da Mulher.

Silêncio!

Vaz puxa em coro em feitio de oração.

O grave da voz do faroeste balança o teto.

De joelhos, na frente das meninas, pedimos perdão pelo conjunto da obra, pelos maus tratos, pelos maus jeitos, pela quebradeira, pela arrogância, pela macheza, pelo ouvido desatento, por não notar que o casamento está uma farsa, enfim, pela coleção das merdas completas.

É bonito, amigos. Num tem apenas mané simbólico na parada. Se você se arrepia –e isso vale para tudo-, não tem conversa, não tem tese nem antítese, nem agá antropológico. O arrepio é à prova de rótulos e jornalistices apressadas.

O “Ajoelhaço” é uma experiência que deveria fazer parte do currículo da escola dos machos. A velha rótula lanhada -pelo rolimã, as quedas de bicicletas, os carrinhos do futebol e outras malasartes apenas físicas- sentirá o baque da dor que deveras carrega na carcaça.

Foi bonita a festa, pá, viejo Vaz. Zé Batidão, vá desculpando aí qualquer coisa. E quem quiser ver a macharada no milho dos mil perdões, às 19h30, do próximo domingo, mostro como foi em crônica para o “Tv Folha na Cultura”.

O mais interessante, creio yo, foi perguntar às belas, na lata, se sentiram firmeza no perdão masculino. Foi bonito.

E você, mulher, já perdoou muito nessa vida ou ainda tem um pote até aqui de mágoas?

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Complexo de Édipo com a mãe alheia

Por xicosa
06/03/13 18:12

Publico uma velharia ai do meu embornal de crônicas, atendendo o pedido de uma mulher a quem me devoto. Pediu de um jeito, ontem na Mercearia São Pedro (SP), que jamais poderia deixar de atendê-la. É pra você, R.

As mulheres com filhos são especiais, especialíssimas, como sempre sublinho nestes papiros mudernus.

Porque tem homem que morre de medo do que se costuma chamar por ai vulgarmente de “pacote completo”, quando a deusa vem com os seus meninos à tiracolo, canguruzinha marlinda.

Se bem que conheço também amigas que temem mais do que nós hombres. Diante do menor barulho dos diabinhos fazem cara de Herodes.

Eu faço é cara de marido.

E tenho inveja porque não são meus. E tenho inveja porque não pude influenciá-los, ainda, nem na escolha do time.

Tudo bem, já saquei muito da cachola aquela lengalenga tipo Brás Cubas: não quero deixar na terra o legado da minha miséria etc etc.

Balela. Bora fazer menino, minha musa, e confundir de vez criador e criatura.

As mulheres com filhos são o que há de mais tentador nesse lero-lero vida noves fora zero.

Se uma mulher tem o sexto sentido, uma mulher com filho quintuplica o dom de ver e sentir as coisas.

Que venha com menino, cachorro, gato e papagaio -digo menino, ao meu modo nordestino, para designar menino ou menina.

Que venha e pronto.

Agora rio aqui sozinho lembrando da noite em que fui pela primeira vez para a casa de uma ex-ex-ex.

Saía desesperado do quarto em busca de um copo d´água.

O amigo que bebe um pouquinho sabe o que é um homem cego, que não achou os óculos na cabeceira, saindo por uma arquitetura desconhecida, na madruga, em busca de um refrigério para a alma.

Depois de alguns tropicões, seguindo uma fresta de luz, ainda sem fazer ideia onde estava a geladeira, eis que um endiabrado menino, senhoras e senhores, portando uma daquelas armas iluminadas que me levou direto para um conto de ficção científica.

Aquela tocha de fogo aumentou ainda mais a minha sede e desespero. Não se nega um copo d´água a um ressacado, apelei ao nobre rapazinho. Um dia você saberá do que estou falando, reforcei o drama.

Sorriso sádico, o menino, armado com a sua miserável espada de He-Man, não cedeu ao meu apelo. Quem manda mexer com a sua linda Jocasta. Pelos poderes de Grayskull!

O ciúme e a sede de aventura o faziam me espetar e dar pulinhos, às cegas, ridículos pulinhos de cócegas.

Quando fui tomar o mísero copo d´água, o dia já havia dado as caras.

Depois do duelo, nos tornamos grandes amigos. Mesmo eu sendo louco pela sua mamãe ate hoje.

É, agora só me resta lembrar de um hai-kai que escrevi nos muros da UFPE, no Recife, anos 1980: “Que coisa feia/Complexo de Édipo/Pela mãe alheia”.

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