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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O drama da viagem do Réveillon

Por xicosa
01/11/12 17:20

Mr. Natural já partiu para longa viagem de fim-de-ano

Primeiro de novembro e já começou aquela maldita pergunta.

Você ali no maior barraco de fim-de-feira amorosa com a gazela, numa D.R. -a mitológica discussão de relação- e lá vem uma gaiata, dentes de porcelana à mostra, e manda, na lata:

-E aí, onde os pombinhos vão passar o fim de ano?

Antes que você diga que está em dúvida, o que é normalíssimo, a serelepe, mais falsa do que alegria de celebridade em micareta, conta do pacote que comprou para Buenos Aires, sul da Bahia, Fortaleza ou Porto de Galinhas etc etc.

Você nem sabe se estará mais junto da cria da sua costela até a última folhinha do ano e a vadia, toda patriçosa, toda planejada, a contar as vantagens do seu destino, do pacote, do hotel, da cascata de fogos, do jantar romântico incluído no preço e todas outras coisitas que nos deixam sem paciência –principalmente durante uma crise braba no namoro ou casamento.

Claro que é perversão pura da vagaba. Sabe como ninguém que os pombinhos, como ela cinicamente os trata, já não arrulham na mesma sintonia, já não comem o mesmo Pê-Efe com o apetite de quem janta num DOM, num Fasano.

Dá vontade de ser bem grosso, bruto como o amigo Lunga de Juazeiro, porém, haja porém, você, macho sensível, moderno e civilizado, mantém a calma.

Já não bastam as suas discussões internas sobre o assunto, que sempre rendem quiprocós e arranca-rabos, e ainda vem essa desalmada riscar o fósforo da intriga no paiol dos outros.

Você ali, amigo, ainda concentrado na reta final do campeonato, além de enfrentar a cobrança em casa ainda tem que vacinar-se contra essas peruas-butatans!?

A pressão a essa altura é das maiores, amigo. Até mesmo para os solitários.
Lembro de um ano que resolvi, relaxadamente, ficar em São Paulo, na buena, andava meio zen, nada de enfrentar o caos de aeroportos e rodagens.

A cidade foi esvaziando, o prédio da área da rua Augusta idem, ai o Everaldo, nobre porteiro paraibano fã do Metallica, me olhou com aquela cara de piedade, como quem diz “coitado do tiozinho, deve tá duro, sem grana, não pode ir nem ali na Baixada Santista, na Praia Grande”.

Aquele olhar implacável me fez correr direto para a rodoviária, peguei um ônibus para o Rio e passei a meia-noite em um táxi, entalado no túnel Rebouças, mas ouvindo o foguetório de Copacabana. Que maravilha, que beleza!

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Nada como uma mulher de vestido

Por xicosa
31/10/12 14:17

Adoro essa história do dia mais quente do ano desde 1940 e tantos etc. O caso de ontem. Talvez se repita hoje, quem sabe. A sagração da primavera travestida em veranico.

E Camila estava linda no seu clorofilado vestido. Verde que te quero verde. Um sorriso de parar a guerra entre judeus e árabes.

Gazelas esvoaçantes nas calçadas da rua Rodésia. A Mercearia São Pedro nunca esteve tão florida. Quase um jardim suspenso.

Tainá dentro de um possível Versace versão tropicaliente. Em segundos, Marçal Aquino interrompe sua memória sobre o JT, aqui jaz, jornal para quem o maldito corvo disse “never more”. Stop. Fechamos nossas retinas em Tainá como a águia com uma câmera no bico no livro do Murakami.

Ju linda porque discreta ou discreta porque linda. Dos olhos às vestes. Cris também vestia um preto & branco para derreter de orgulho o seu homem do centro-oeste.

Duda, el ruivo, parecia o Huckleberry Finn descendo o Mississipi. Mira Camila e suspira. Mais um refrescante gin tônica? Por favor. Na árvore, folha alguma se bole, caro Walt reflete.

Engato com o russo Andrei, recém-chegado aos trópicos, um papo em portunhol selvagem. Assunto: las chicas e seus belos vestidos. O russo entende tudo. Está feliz no Brasil. Bienvenido. Tengo que apresentar esse russo às minhas amigas mais belas.

Ricardinho esquece o gol de Barcos e mira a Luíza, amiga da Camila. Uma giganta crumbiana também passa no seu balonê sem culpa.

V de vestido. V de veranico. V da vingança das belas pernas.Tubinhos, pretinhos básicos, com e sem alça, os brejeiros de chita.

E o tomara-que-caia, amigo, você já testemunhou a queda de pelo menos uma alça dessas na vida? É lenda. Por mais que a gente seque, nunca vi uma peça do gênero despencar na minha frente. Minto. Lembro de uma festa: Júlia.

Nada nos cai tão bem ao desejo quanto um vestido.

Todo homem ama passear com uma mulher com a mais linda dessas peças. Mesmo os mais machões, que fingem ignorar a vestimenta da fêmea -reservando-se apenas a dar chiliques quando as vestes são muito curtas, amém, perdoai-vos eles não sabem o que deveras desejam.

Seja um Valentino, seja um baratinho de chita. Homem que é homem, seja de Paris ou do sertão dos Cariris, como o meu avô João Patriolino, vai à maison, às Casas Pernambucanas ou à feira, e traz uma bela peça ou um corte de tecido estampado de presente para a amada.

Até mesmo o Fabiano, que mal tinha um cobre no bolso, personagem do livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, mestre-mor da existência, voltava da cidade com um corte de pano para a sua mulherzinha magra, só o couro e o osso, recostela mais bíblica.

V de verão e V de vestido para deixar mais faceiras as gazelas, para dar mais graça às cheinhas, para realinhar a beleza nobre das afilhadas de Balzac.

A peça nos põe, homens de todas as gerações e gostos, mais românticos. O mais tosco dos canalhas sucumbe como um romeiro de joelhos diante de Nossa Senhora Aparecida.

Ora, você nem carece ser a mais bela por completo, isso é utopia e ditadura de modas & modinhas, você carece ter apenas uma linda parte pelo todo, como aquela figura de linguagem, a tal da metonímia que aprendemos no colégio.

Mulher é parte pelo todo. Uma linda omoplata, um pescoço, ombrinhos, pés, calcanhares mais lindos, batatas de pernas invejáveis, belos braços…

Aí ficará ainda mais linda de vestido, ao contrário das calças e outras tantas armaduras medievais que escondem o que nos enlouquece, o melhor dos nossos mundos.

Esconder, achando que pode ser vantajoso depois, é besteira. O charme é mostrar-se, ter a coragem, mesmo com o que você supõe ser uns quilinhos a mais. Bobagem.

Na balança das nossas retinas, isso pode ter importância de menos, quase nada, alguns gramas de preconceito e veadagem na cabeça de homens que já não valiam mais a pena.

O bom mesmo é cantar como o Rei Roberto, “vista a roupa, meu bem, e vamos nos casar”, minha pequena.

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Dez livros para rir até morrer

Por xicosa
29/10/12 12:38

Voltamos a curtir efemérides. E essa do dia do Livro é especialíssima.
Já publiquei listas com livros para ajudar aos jovens jornalista o possível caminho de um bom texto. Leia aqui.

Publiquei também um rol de livros para fazer de “50 tons de cinza” um volume para freiras e pastoras. Você encontra aqui.

Assim como listei livros de aventura, haja Robert L. Stevenson e outros tesouros da juventude, para fazer dos nossos filhotes futuros leitores.Você clica aqui.
Hoje, nesta data nobre, é hora de lembrar dos 10 livros mais divertidos. Os mais divertidos que lembro agora, afinal de contas existem outros 422, no mínimo.

Valendo todo tipo de riso, o riso escancarado, o riso eternecido, o riso nervoso e o riso absolutamente melancólico:

1) Fup – Jim Dodge (Ed. Nova Fronteira) – Um velho sábio e beberrão, 99 anos, um neto cuja mamadeira era sempre batizada e uma pata gorda na lama. Para surpreender qualquer maluco. É proibido morrer sem ler essa maravilha californiana.

2) Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis (editoras variadas) – Fica a frase do livro que mais gosto: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”.

3) De Moscovo a Petuchki – a lucidez de um alcoólico genial- Venedikt Erofeev (Cotovia, Lisboa) – Saiba como se aproximar de uma mulher bêbada e aprenda fazer o drinque mais barra pesada do planeta: o tripa de cadela.

4) Poemas de Ascenso Ferreira (Nordestal Editora) – Inclui os volumes “Catimbó” (Recife, 1927), “Cana Caiana” (1939) e “Xenhenhém”(1951). Nenhum poeta brasileiro conseguiu ser tão lindamente cabra-safado.

5) Macho não ganha flor – Dalton Trevisan (Record)- Fornicário de um eterno tragicômico.

6) 90 livros clássicos para apressadinhos – Henrik Lange (Record) – O cara
tira onda com outros tantos livros mais hilários do mundo, como o do Cervantes: “Dom Quixote, na época em que ainda não tinha TV, lia pra cacete e ficou com umas ideias malucas…”

7) A assombrosa viagem de Pompônio Flato – Eduardo Mendonza (Planeta)- O picaresco espanhol mandando ver. Coitado de Pompônio. Foi em busca de águas místicas e encontrou um mar de águas gaseficantes.

8) O Fantasma de Canterville – Oscar Wilde. Tem edições variadas no Brasil. Recomendo a mais recente da Casa da Palavra, com tradução de Bráulio Tavares. Eu não parei de rir desde que li pela primeira vez, ainda nos anos 80.

9) Uma confraria de tolos – John Kennedy Toole (BestBolso) – Li uma dica do caro André Barcinski, tempão atrás, mas fui adiando a leitura. Até que o encontro, dia desses, em edição de bolso, na rodoviária do Tietê. Um dos livros mais engraçados de todas as eras. Ria de chorar a caminho de uma moça em Brodowski.

10) Pornopopéia – Reinaldo Moraes (Objetiva) – Não poderia deixar de fora esse clássico contemporâneo que está em nove de cada dez cabeceiras das moças mais lindas da cidade. Zeca, os embutidos de frango e muita sacanagem. É de bolar de rir. Não há o que inventar sobre esse livraço.

Ih,foi fechar a lista e ver a revolta russa aqui na estante de Gogol, talvez o escritor mais engraçado de todas as galáxias. Pecado não entrar. Outros pecados: As fábulas de Millôr, Nelson Rodrigues, Hunther Thompson, todo o Veríssimo etc.

Façam justiça aí nos comentários, por favor, camaradas:

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Amar é... Lost

Por xicosa
27/10/12 12:43

Uma mulher muito bonita me falou ontem à noite –não acredito em coisas ditas de dia- sobre Lost e sobre outras coisas supostamente difíceis de decifrar.

No que sonhei, na beira do mar de Natal, com algo mais ou menos assim, repare:
Amar é… Lost: começa cheio de perguntas e acaba quase sem respostas.

Porque é ridículo que ainda tenha alguém sobre a face da terra que pense no amor como resultado, como algo saudável, como uma casinha longe do abismo.

Amar é flertar com o despenhadeiro, é sempre uma habitação na encosta de um morro.

Amar não é casa própria, consórcio, planejamento, carro ou bicicleta. O amor não precisa de quintal ou garagem. O amor não se guarda. Se for amor o ladrão não leva.

Se quer resultado, joga no bicho ou na Megasena. Que monte um negócio de lucros, um curtume, uma bodega sortida, uma padaria na rua da Aurora.

Que entre para a política, que faça lobby, que venda apólices, gado, que adquira uma franquia da Casa do Pão de Queijo.

Mas se queres amar, te juega, simplesmente, sem pensar no ponto futuro.

Amar é o lindo negócio da inutilidade. Como o tal do fazer poético. Não serve para nada. É um oco de um tronco de ipê e um pássaro cantando dentro.

Fazer um filho ainda não é o amor. Casar tampouco. A propaganda de Becel sem gorduras trans muito menos.

Só existe amor no entorpecimento. Amor é se drogar juntos, sem necessariamente carecer de traficantes ou aviõezinhos.

Mas amar parece LSD ou cogumelo, sem ser exatamente o que estou falando.

Amar, caro Sam Sheppard, é cruzar o paraíso.

É ser vaqueiro e laçar a jukebox, a radiola de ficha, para impressionar a amada-problema. Como no filme das cenas acima.

Amar não é com licença. Amar não é bons modos.

Se você ainda não perdeu o sentido nessa aventura, sinto muito, precisa viajar léguas para chegar perto do que estou falando. Amar é um sítio ao qual não se chega com informações ou GPS.

Talvez amar seja um vinho alentejano. Como o Rapariga da Quinta que bebi ontem com belas crias de costelas potiguares.

Replay, ao sonho: Amar é… Lost: começa cheio de perguntas e acaba quase sem respostas.

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O cara que nunca sumiu das nossas vidas

Por xicosa
26/10/12 14:16

Hoje eu não estou interessado em nenhuma teoria. Nem em coisas do oriente, romances astrais…

Quero apenas parabenizar o genial aniversariante do dia. Da maneira mais simples, quase num rondó de Bandeira, quase com uma redondilha, abaixo o migué da prosa jornalística.

O nome dele é tão comprido quanto a grandeza da sua música: Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior, bigode que me faz sempre lembrar de outro ídolo, o cubano Bienvenido Granda de tantos boleros dominicais na casa paterna.

Não sei por onde andas, meu caro, tomara que ainda no Uruguai, essa nova ilha da utopia de Latino América. Pouco importa adonde andas, compay, só espero que estejas vivendo da melhor maneira possível a divina comédia humana.

A minha alucinação, amigo, bem sabes, é suportar o dia-a-dia, meu delírio é a experiência com coisas reais…

Que me desculpes por traduzir, com o filtro azulado do piegas, as tuas belas letras, é que aniversário, sabe como é, deixa a gente meio eternecido.

Lembrei até do meu primeiro porre, no balneário do Caldas, no vale do Cariri, Barbalha, ouvindo a ti e ao pessoal do Ceará ainda todo junto.

Éramos a molecada da rua Santa Luzia, Juazeiro, quase todo o time do Santa Cruz local celebrando um triunfo, o amigo Adailton que o diga.

Um deles, vejo aqui na polaroide amarelada, até já partiu desta, Deus te guarde Sullivan, meu velho e bom vizinho, o único que era mais Rolling Stones do que Beatles.

Há tempo, muito tempo, que eu estou longe de casa e nessas ilhas cheias de distância, o meu blusão de couro se estragou…

Parabéns, meu caro Belchior, menino de Sobral que escreveu, inclusive com o seu mítico e suposto sumiço, a biografia de todos os rapazes que partiram das pequenas cidades do Brasil.

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Cão de guarda da mulher amada

Por xicosa
25/10/12 19:52

A vigília cinematográfica de Godard

Fico maluco quando encontro bons livros na cabeceira de uma alcova. Despertam paixões e paudurescências indecifráveis e sem fim, amém.

Dei sorte de encontrar outra noite uma leitora de Alberto Moravia, o mais genial dos comunistas líricos da Itália, autor de “Os indiferentes”, que rendeu o filmaço “O Desprezo”, de Jean-Luc Godard.

Foi amor à primeira mirada.

No que lembrei de uma crônica do amor louco que rabisquei, século seculorum, para uma mulher que amaria de verdade:

“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho Moravia, que jamais saiu da cabeceira dela.

Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme, entregue, para além dos pesadelos diários.

Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra no livro da Danuza, um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.

Experimente você também, sensível leitora, ver o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem.

Amar é… vê-lo(a) dormindo.

Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo. Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório.

Psiuuuuu!

Ela dorme.

Mãozinha no ar, como se apanhasse pássaros, que coisa mais linda. Uns 23 minutos assim, mirei no rádio-relógio. A mão desce ao colchão, quase dormente, formigamentos. Coça o nariz. Põe a mãozinha direita entre as coxas.

Agora vira de lado, como os antigos LPs quando gastavam as seis músicas do A. E me abraça como nunca fosse partir, corpos viciados, almas em busca de um acerto.

Dorme, meu anjo.

Ela obedece.

Vigio o sono dela como um soldado zapatista. Como um cão zela o sangue do dono. Como se fosse um homem-exército e pronto.

Amar, no início era o verbo intransitivo da alemã professora de amor de Mario de Andrade. O idílio tem sobrevida, não como gênero, mas como vício, vício de amar. Amar de muito.

A mão desce agora sobre o meu peito, como se medisse meus batimentos. A mão direita volta para a arte de apanhar pássaros, que beleza, que diabos!

O ideal é que você, amiga leitora, durma do lado esquerdo da cama, o do coração, sempre. Mãozinha no ar catando pássaros. Até se acalmar de vez. Calmaria danada de horas, sem coreografias ou narrativas.

Sonha, sonha, sonha, minha menina.

Como é lindo a vigília ao sono dela.

Coça o nariz. Sussurra umas onomatopeiazinhas lindas de sonhos de besouros. Ela arruma os cabelos como algas, entorpeço num mergulho.

Observar o sono do(a) amado(a) é a melhor maneira de mapear a sua beleza.

É a melhor maneira de conhecer o homem ou a mulher com quem dormimos.

E como são lindas aquelas marquinhas deixadas pelos lençóis no corpo dela. Um mapa de delírios! Melhor é lê-las como quem adivinha os sonhos e o futuro no fundo da xícara árabe ou nas cartas.

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Você conhece o homem-Santa-Ifigênia?

Por xicosa
24/10/12 18:49

Abrimos mais uma vez nosso interminável catálogo de machos para registrar nos anais da crônica de costumes um novo tipo: o homem-Santa-Ifigênia.

Trata-se daquela criatura com baixa resistência para as novidades tecnológicas. Não aguenta uma novidade. Mesmo que esteja sem grana, mais liso como bunda de índio.

Ele não é obrigatoriamente um nerd. Não há mais estereótipo definido para a tal figura e suas gerinçonças moderníssimas.

É mais tentado pela serpente do que Eva e a maldita maçã que tirou todos os homens do Paraíso. O homem-Santa-Ifigênia vive na fila do mais novo badulaque. Se for da Apple, então, se coça todinho e dorme na fila.

O rótulo se refere à famosa rua do centro de SP, onde o freguês encontra todas as novidades e bugigangas tecnológicas do planeta. Uma das riquezas da província de Piratininga.

O homem deste tipo é o mais universal possível. Até os europeus portam a mesma doença nos dias que correm. O mais civilizado suíço, dinamarquês ou sueco. Todos habitam a Santa Ifigênia mental.

A mulher-Santa-Ifigênia também existe, óbvio. É que, no macho, tudo parece mais infantil e caricato. Tudo se torna brinquedinho.

A febre é bem maior hoje. O fenômeno, porém, existe desde que abriram as fronteiras e sepultamos aqueles computas gigantes da IBM.

Ainda no madrugador ano de 2002, na primeira edição do meu livro “Modos de Macho & Modinhas de Fêmea”, já tratávamos desta febre babilônica.

Na ocasião, a Levi Strauss havia lançado uma calça jeans para o viciado em aparelhos. Uma calça de sete bolsos para conduzir celular, palmtops, planilhas a laser etc etc.

Assim eram anunciadas as tais calças: “Os dois bolsos da frente são fundos para aproveitar o vão livre das pernas e vêm revestidos de um tecido especial que faz o objeto deslizar e não deixa à mostra um grande volume”.

Opa! As calças evitavam o chamado efeito Coca-Cola no bolso do homem-Santa- Ifigênia.

Hoje a tal peça precisaria ter pelo menos uns 30 bolsos para este verdadeiro homem-gambiarra que não desconecta nem para fazer amorzinho gostoso.

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Pela volta do chorinho no uísque

Por xicosa
23/10/12 17:28

Vinícius de Moraes e o seu cachorro engarrafado

Aproveito esta questão da dosimetria, em debate no STF, para fazer uma queixa muita séria contra as boas casas do ramo: estão acabando com a instituição brasileira do chorinho nas doses de uísque.

No eixo Rio/SP o caso anda mais grave. O desrespeito, porém, é nacional. Os garçons alegam ordem dos proprietários dos estabelecimentos, que, por um punhado a mais de dólares, põem abaixo a tradição dos bares.

Mesmo quando tentam chorar, as lágrimas douradas são mínimas e crocodilescas. Não esqueça, amigo, que o uísque, como dizia Vinícius de Moraes, é o cachorro engarrafado -o melhor amigo do homem.

Justiça seja feita, porém. O Beirute, um dos mais antigos e corretos botequins de Brasília, segue chorando como uma dadivosa e respeitável viúva, informa o amigo João Valadares, repórter do “Correio Braziliense”.

No Recife, a invicta cidade com o maior consumo per capita da bebida no país, os bares já foram mais generosos. Hoje andam muquiranas. O Bar 28, uisqueria com mais de 70 anos na zona portuária, tenta, a todo custo, manter a escrita das antigas.

É neste bar que se come o melhor acompanhamento para a água escocesa do Brasil: o tostex, um sanduichizinho quente de pão francês com queijo do reino.

Sim, amigo, denúncia urgente: a dosimetria nacional está penalizando os bons bebedores de uísque. Nada mais do que a infame e econômica medidazinha inventada pelos gringos. Nem uma gota a mais.

Pela volta do generoso chorinho. Protestamos. Afinal de contas, como disse o camarada Grouxo Marx, “todo mundo precisa crer em algo, eu creio que vou tomar mais um uísque”.

Lavre também o seu protesto e deixe aí nos comentários um bom serviço de utilidade pública: cite nomes de bares que não economizam suas preciosas lágrimas destiladas.

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Pedagogia musical para homem frouxo

Por xicosa
22/10/12 09:31

Relendo as cartas recebidas na última semana, nosso dever moral da segunda-feira, este cronista chinfrim e sua inseparável cigana Miss Corações Solitários aferimos o quanto voltou a ser predominante, em especial, um tema: o bípede masculino que evapora.

Não estamos falando do homem-de-Ossanha, o cara vacilante, como o da música de Vinícius & Baden Powell, que diz “vou” e não vai. Nem tampouco tratamos de outro grande personagem da música brasileira, o homem acomodado da canção do Dorival Caymmi.

Basta uma chuvinha de nada que o sujeito manda o recado para a moça:
“Diga a Maricotinha
Que eu mandei dizer
Que eu não tô
Não tô!
Não vou!
Não tô!
Não vou!”

Pense num bicho sem vontade de ir! Um homem com medo de derreter em qualquer garoa, praticamente um macho-sonrisal. Está cheio deles por ai, como atestam as cartas recebidas por este blog.

Mas esse tipo de homem, pela situação descrita por nossas fiéis leitoras, ainda é uma dádiva. Pelo menos manda dizer que não vai.

O mais grave e motivo da maioria das queixas é o que simplesmente evapora, se desmancha no ar ou escorre pelo ralo dos amores líquidos. Não é que desapareça depois de uma transa ou de uma noite ficante. Estamos falando do chá-de-sumiço depois de vários encontros.

O medo do macho diante do pênalti afetivo, como se a moça já pensasse em casamento. Não é o caso.

O cara simplesmente some. Um desertor até mesmo das redes sociais.
“Tempos de homens frouxos”, repete aqui minha cigana. “Hoje nada fica, nem o amor daquela rima antiga”.

Não custa nada, porém, um naco sensatez. Que tal dizer que não quer mais encontrar, transar, passear etc?

E para ficar na pedagogia das boas canções, Miss Corações canta a saideira para tentar reduzir a covardia masculina:

“Vai meu coração ouve a razão/ Usa só sinceridade”.

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Revisitando o lar de um macho-jurubeba

Por xicosa
20/10/12 00:52

Fazia séculos que não voltava a um lar-doce-lar de verdade. Um teto de um macho-jurubeba.

Eis que no Recife, na volta para a Várzea, me reencontro com o meu verdadeiro passado.

Uma casa de homem, por supuesto, essa maravilha de cenário, no que lembrei da minha narrativa mais antiga sobre o assunto.

Porque, noves fora o “homem de predinho antigo”, aquela criatura que adora um pé-direito alto, um sofá de época e uma luz indireta, o macho solteiro é um desastre no capítulo decoração.

Tem lá o seu sofá velho, a sua tv, uma cama barulhenta, três ou quatro panelas _sem cabo_ encarvoadas pelo tempo, e copos de requeijão, muitos copos de requeijão, alguns deles ainda com um pedaço do papel do rótulo.
Se brincar, o cara coleciona também os velhos copos de geléia de mocotó, um
primor de utensílio “vintage”.

E quando a fofa, toda fina e fresca, nova namorada, chega lá no “muquifo” com a sua garrafa de champanhe?! Procura, procura as taças, para fazer uma graça com o marmanjo, e nada. O jeito é beber Veuve Cliquot em copo de extrato de tomate.

Quem mandou apaixonar-se por um macho-jurubeba autêntico, que vem a ser justamente o avesso do metrossexual, aquele mancebo da moda que se lambuza de creminhos da Lancôme e decora o loft, sim, ele mora num loft, de acordo com as tendências da revista “Wallpaper”.

Pior é quando ela tenta mudar tudo. E põe aquele seu quadro caríssimo e de grife numa sala que não tem nem mesmo um sofá que preste?!
Um desastre.

A fofa, toda classe média metida a besta, não desiste nunca. Ai presenteia o bofe -sim, ela está doida e perdidinha pelo vagabundo- com uma batedeira prateada ultramoderna com 600 funções, que nunca será usada.

Ai fica aquela batedeira high-tech fazendo companhia aos três pratos chinfrins e aos garfos tortos _como se o Uri Geller, aquele parapsicólogo que aparecia no Fantástico das antigas, tivesse jantado por lá ou feito faxina na área.

Ela começa a revirar geral, um deus-nos-acuda, numa casa onde ninguém havia mudado sequer uma planta de lugar. O reino vegetal, aliás, é outro ponto fraco do macho solteiro. Jarros, flores? Nem de plástico.

Na casa do homem solteiro típico, a utilidade triunfa sobre a estética. O cúmulo do utilitarismo. Sofá da tia-avó vira cama, como diz a minha amiga D., co-autora dessa crônica. A cama vira sofá, a rede vira sofá e cobertor, o cobertor vira cortina preso à persiana…

A falta de cortina é outra marca registrada do desmantelo do cavaleiro solitário. Quando muito, papel filme.

Abajur? De jeito maneira. Tosco no último, ele não tem cultura de luz indireta, nem nunca terá, esqueça.

Outro traço de personalidade do macho solteiro: tudo que chega até a cozinha vira tupperware -aquelas embalagens plásticas de lasanha comprada pronta, caixinha de entrega de comida chinesa ou japonesa, potes de sorvete… Uma festa!

Sim, na geladeira só latinhas de cerveja, uma garrafa de água vazia e uma triste e chorosa cebola partida ao meio.

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