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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

Sr., político, mire-se no exemplo de Graciliano

Por xicosa
03/07/13 13:41

Baleia no filme “Vidas Secas”, por Nelson Pereira dos Santos

Tempos gracilianíssimos. O autor de “Angústia”, o mais russo dos livros brasileiros, é homenageado na 11ª Flip que começa hoje. Talvez estrebuche um tanto na cova, talvez emita apenas uns resmungos -era avesso a badalações como o mais guardado matuto.

Tempos de “Vidas Secas”, como na estiagem deste ano que deixou as pegadas do estrago e as caveiras das reses nas  estacas. O mundo coberto de penas a cada bicada dos urubus.

Tempos gracilianíssimos no país. Os políticos com medo das ruas como um menino das Alagoas com medo do papa-figo, personagem de crônicas do velho Graça. Tempos de cus nas mãos, como os abestalhados diante de “Caetés”.

Graciliano Ramos, o político, tem muito o que ensinar nessa hora. Os seus “Relatórios”, a prestação de contas do escritor  enquanto jovem prefeito de Palmeiras dos Índios (AL), entre 1929-30, é aula magna.

Deveria, como disse na eleição passada, ser leitura com direito a ditado e prova oral para a classe política. Se possível com castigo de palmatória, como no seu tempo, para os reprovados. Cada frase do velho Graça vale por toda a Lei da Ficha Limpa.

Repare nesta pérola sobre obras de iluminação pública: “A prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um bluff. Pagamos até a luz que a lua nos dá.”

Comunista, o escritor enviou o seu texto, considerado hoje uma obra-prima da crônica de costumes, ao então governador Álvaro Paes, que ficou impressionado com o valor literário do deveria ser apenas mais um documento da burocracia administrativa.

Sobre o cemitério, escreve: “Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam.”

Os “Relatórios” foram publicados inicialmente em uma coedição da Fundação de Cultura do Recife com a editora Record, nos anos 1980. A edição tem apresentações do advogado e escritor José Paulo Cavalcanti Filho, integrante da Comissão da Verdade, e do jornalista Joel Silveira, o repórter, a víbora do jornalismo brasileiro.

Imagine um atual prefeito, amigo, abrir a boca e reconhecer a ineficiência do ensino municipal. Graciliano, com seu humor árido qual a paisagem sertaneja, não temia a sinceridade.

“Não creio que os alunos aprendam ali grande coisa. Obterão, contudo, a habilidade precisa para ler jornais e almanaques, discutir política e decorar sonetos, passatempos acessíveis a quase todos os roceiros.”

Enxuto nos gastos como a sua escrita, Graciliano relata cortes em despesa. Sobre a estrada que liga Palmeiras dos Índios à sua Quebrangulo natal, foi enfático: “Original produto de engenharia tupi, tem lugares que só podem ser transitados por automóvel Ford e lagartixa”.

Mirem-se no exemplo!

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Quando a mulher diz "estou estranha"

Por xicosa
02/07/13 01:48

E quando uma mulher diz, resumidamente, “eu estou meio estranha”?

Melhor seria se dissesse logo “eu sou estranha”.

Ela disse tão-somente “estou”. E daí?

Você deixa a estranheza dormir, decantar, assentar a poeira? Você deixa a estranheza dormir  com a maquiagem metafísica para acordar borrada de incertezas por todos os poros?

Ou você, no desassossego, quer saber logo o que se passa, o rumo das coisas?

Há quem simplesmente se apavore, meu chapa, ponha uma música mais estranha ainda –Nick Cave ou Patty Smith?- e saia para enfrentar zumbis e fantasmas pelas calçadas escuras dos becos da mente.

O que quer dizer “estou estranha” ou “meio estranha?” Dicionário Freud on the table, please.

Tudo ia correndo bem, até melhor do que você imaginava, e, pasme, acende o sinal amarelo. Estou estranha.

Você ainda estava com o melhor dos cheiros dela na sua barba, com os dedos impregnados…

Você não iria sequer lavar o rosto para levá-la consigo durante todo o dia na flânerie ou na labuta.

Nada melhor do que explorar a cartografia da cidade cheirando os próprios dedos que a levam de volta, pelo felino faro, até ela de novo.

“Estou estranha”. Tecla pause.

Pode ser apenas um semáforo amarelo, óbvio, não atravesse o sinal. Ainda não é hora.

Pode ser a incomunicabilidade de uma manhã cinzenta, a angústia fresca do varejão Ceasa da existência, pode ser apenas um “bonjour tristesse”, como no livro, música e filme homônimos, pode ser apenas “um bom dia, TPM”.

Pode ser também o legítimo medo diante da possibilidade amorosa. Vai que dá certo! Dar certo também pode não ser lá grandes coisas. O calo de um baile do passado ainda dói no calcanhar da moça.

Como é rico esse momento da estranheza. Parece a onda de manifestações naquele momento em que o mundo se bole sem causas específicas.

É o decifra-me ou te devoro da esfinge entre as quatro paredes.

Triste de quem, diante dos mistérios dessa hora, sai cuspindo preguiçosamente o mantra de mosca de boteco: “coisa de mulher, ô bicho estranho”.

Se fosse fácil não seria tão extraordinário, amigo.

A graça da moça é o indecifrável que nos põe de plantão permanente.

Pode ser tudo. Pode ser culpa de um inconsciente forrado com as folhas avulsas dos livros de Clarice.

Pode ser também quase o fim. Tudo pode acontecer.

Relaxa, amigo. Digo, relaxa nada, tente entender a cria da sua costela. Nada mais instigante para um homem do que esse exercício, esse jogo de adivinhações, esse jogo de amarelinha onde não há céu, apenas estranhos no paraíso.

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Os 11 maiores rebeldes do futebol

Por xicosa
30/06/13 16:08

Em sintonia com as ruas e com a final da Copa das Confederações, recomendo um ótimo programa para esquentar  a domingueira de Brasil x Espanha: “Rebeldes do Futebol”, série francesa que começa hoje, 17h, na Tv Cultura.

No primeiro episódio, Ele, doutor Sócrates, ativista da campanha das Diretas Já e um dos líderes da “Democracia Corintiana”, único caso no mundo dos esportes em que o roupeiro e o massagista mandavam tanto quanto o técnico e o presidente.

A série é dirigida pelos franceses Gilles Rof e Gilles Perez, com o ex-jogador Eric Cantona, outro grande contestador, na condução da narrativa.

No embalo, escalo um timaço da rebeldia. O principal critério foi o ativismo político. Além da contestação levamos em conta também as posições corajosas na vida, a rebeldia no comportamento geral. Agradeço a colaboração do parceiro Marcelo Mendez, um cara que bate um bolão na crônica esportiva.

Perto desse esquadrão, muita gente que se acha hoje bad-boy não passa de uma pobre noviça. Repare na força do time:

Afonsinho – Ídolo do Botafogo nos anos 1970, foi o primeiro jogador no Brasil a quebrar a prática escravagista e conseguir o passe livre. O prezado amigo Afonsinho é personagem da música “Meio-de-campo”, de Gilberto Gil. Substituiu o doutor Sócrates na coluna de futebol da revista “Carta Capital”.

Doutor Sócrates – Filósofo e jogador de futebol. Comandou a “Democracia Corintiana” com a turma de Casagrande e Vladimir. Gênio.

Tostão – O craque do Cruzeiro e da Seleção Brasileira de 1970. Não deixa barato até hoje, sempre contundente nas suas opiniões. É o melhor cronista de futebol em atividade. Dialética do esclarecimento a cada linha.

Reinaldo – Depois do craque da Raposa, o ídolo do Galo. Um contestador em plantão permanente. Sem temer represálias, combateu a Ditadura e o racismo no Brasil.

Paulo César Caju – Cracaço do Botafogo, Flamengo e Fluminense, sempre com o discurso afiado para combater o racismo e a picaretagem dos cartolas do futebol. Na França, brilhou dentro de campo com oo Olympique de Marselha e fora de campo com as melhores francesas da noite.

George Best – Histórico atacante do Manchester United dos anos 60, Best era grande apreciador da noite e dos uisques. Sua frase celebre: “Gastei meu dinheiro com mulheres e bebidas. O resto desperdicei.”

Eric Cantona – Um Bicho! Cantona é pop! Jogou no Manchester United no final dos anos 90, artilheiraço, fazedor de gols que entraram pra história, sem esquecer de invadir a arquibancada pra bater na torcida do Cristal Palace em 1998!

Carlos Caszely – O artilheiro do Colo-Colo é um dos símbolos da resistência do governo Salvador Allende durante o golpe militar, em 1973, que levou Pinochet ao poder no Chile.

Didier Drogba  – O homem que parou a guerra civil na Costa do Marfim. Precisa dizer mais? Gênio também dentro de campo.

Diego Armando Maradona – Uma vida inteira de rebeldia e genialidade futebolística. Mito na Argentina, ganhou até uma igreja que louva seu “santo” nome.

Almir Pernambuquinho – Jogador do Sport, Vasco, America, Flamengo, Boca Juniors e Santos, entre outros. Protagonizou a maior briga da história do Maracanã num Flamengo x Bangu em 1966. Morreu assassinado, em 1973, ao defender de agressões os dançarinos do grupo Dzi Croquetes, na Galeria Alaska, em Copacabana.

É aquela velha história, fazer lista é sempre cometer alguma injustiça. Quem você acha, amigo, que deveria constar desse time?

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Melhores calçadas para bebês, velhos e bêbados

Por xicosa
28/06/13 14:45

Ai de mim, Copacabana. Por Adriana Degreas

Sou a favor de impostos sobre grandes fortunas, sou a favor de radicais reformas nas propriedades urbanas e rurais, mas aqui trago uma causa bem mais simples:

Melhores calçadas para os passeios dos carrinhos dos bebês, melhores calçadas para os velhos, melhores calçadas para os passos trôpegos dos bêbados, melhores calçadas para o salto alto das moças que voltam da formatura ou do casamento, melhores calçadas para as sandalinhas rasteiras que pisam nos astros distraídas.

(Sim, os bêbados, estes involuntários Carlitos que têm a inocência das crianças e a debilidade dos velhinhos).

Às Valentinas paulistanas e suas botas invernosas, calçadas mais dignas. Àquela moça do sul que arrisca um scarpin, o direito de pisar decentemente sobre nossos humildes desejos.

Para os que flanam no Catete nos domingos que cheiram a galeto e melancolia, para os que seguem as belas bundas -Giseles ou Raimundas-, meu caro Lourenço Mutarelli.

Pisos decentes para a vovó de azulados cabelos que blasfema na frente da Adega Pérola, em Copacabana, depois de merecidos mexilhões e vinhos rosés.

Para a Lolita desatenta que não mira horizonte nem beco, nem solo nem céu, para a Lola que apenas dedilha, qual moderno crochê, mensagens e aplicativos.

No Recife, pelo mafuá do malungo, não sobrou solo pátrio que preste nem na Rua das Calçadas.

Pisos perfeitos para a disparada dos garçons na madruga –o medo diante do último ônibus que queima o ponto da Vila Madalena.

Sob marquises, calçadas como salas de estar para os feios, sujos e malvados, mas sobretudo calçadas impecáveis para os extremos, as duas pontas do rali da existência, os bebês e os velhos.

Deixo no rodapé um comentário do amigo Wagner Willian, de SP: “Cadeirantes então, nem se fala. Um dia fui levar um amigo meu para passear (dar a volta no quarteirão) e porra, PORRA!, não conseguimos virar a esquina…”

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Doze músicas brasileiras de protesto

Por xicosa
26/06/13 23:13

E o gênio que Irará deu ao mundo acaba de lançar uma música de protesto no compasso das manifestações das ruas. “Povo Novo” é o nome dela.

Tom Zé, com a colaboração da rede e de amigos, diz na sua trilha:

“Olha menino, que a direita/ Já se azeita,/ Querendo entrar na receita, mas/ De gororoba, nunca mais/ Já me deu azia, me deu gastura/ Essa politicaradura/ Dura, / Que rapadura!”

Você pode ouvir a música no site oficial do cantor e compositor.

Este cronista callejeiro vai na mesma pisada e relembra uma dúzia de hinos de contestação. É só clicar no título da canção para ouví-la:

“Carcará” – João do Vale. Talvez a mais forte de todos os tempos. Pega, mata e come! Veja aqui o vídeo.

2) “Cálice” – De Chico Buarque & Gilberto Gil, com Chico Buarque & Milton Nascimento. Recentemente o rapper Criolo fez uma versão que atualiza a letra para o drama social das periferias.

3) “Pra não dizer que não felei das flores” – Geraldo Vandré.

4) “É proibido proibir” – Caetano Veloso. Feita no período da Ditadura, cairia muito bem em tempos de “padrão Fifa”.

5) “Aquele abraço” – Gilberto Gil. Chacrinha continua balançando a pança…

6) “Vozes da Seca” – Luiz Gonzaga. Uma esmola para um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.

7) “O pequeno burguês” – Martinho da Vila. Vestibular, passei no vestibular…

8) “Todos os olhos” – Tom Zé. Esse poderia emplacar o LP inteiro.

9) “Deixe esse vergonha de lado” –Odair José. Um hino da luta de classes em louvor das empregadas domésticas.

10) “A cidade” – Chico Science & Nação Zumbi. “O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas/Que cresceram com a força de pedreiros suicidas. Perfeita para o debate sobre a especulação imobiliária que ataca o Recife.

11) “Diario de um detento” – Racionais MC´s. O grupo firmou a nova música de protesto nos anos 90. Histórico.

12) “Pânico em SP”, -Inocentes. O punk-rock paulista poderia emplacar também umas dez do Cólera. “Passeata” seria uma delas.

Quem faz lista sempre peca e ajoelha no milho da omissão.De cara já senti falta de um Edu Lobo, de um Oliveira de Panelas, de um Emicida, de um Mundo Livre S/A, de um Belchior, de um Fagner, vixe, está faltando muita coisa nesta bodega de muita conversa e pouco sortimento.

Do que você sentiu falta, caros leitores? Ajude a inteirar a seleção aí nos comentários.

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Dia de Miss Corações Solitários no blog

Por xicosa
25/06/13 18:15

Este é o livro da semana de Miss Corações Solitários, a conselheira que ampara as almas aflitas nos lares doces lares e os vandalizados do amor em geral.

Com ou sem protestos, a madame está de plantão a serviço dos leitores, afinal de contas o desespero amoroso não pode esperar por pactos e reformas .

Vamos urgentemente às cartinhas, aqui devidamente resumidas:

Querida Miss C.S., o fingimento do orgasmo também pode ser uma prova de amor? (Sonsa do Agreste, PE)

Resposta: Estimada consulente, é preferível a dramaturgia do gozo àquela velha dor de cabeça que te abate justamente na hora em que ele te procura. Há um quê de distanciamento brechtiano no orgasmo fingido. O prazer fingido engrandece o homem, além de ser mais verossímil do aquele espetáculo verdadeiro e exagerado, cheio de caras, bocas e nove-horas. Sim, é prova de amor e caridade cristã. Prossiga. Cariño, M.C.S.

Gloriosa Miss C.S., o cachorro que arrumei é um “borracho”, um papudinho autêntico, um pau d´água, bebe sempre demais e não funciona quando mais careço. Não há lei seca que segure o monstro. (Desprezada de Aldeia Campista, Rio de Janeiro).

Resposta: Paciência, santa criatura. Trata-se do famoso tipo homem-tupperware, aquele que você guarda para comer no dia seguinte. Não insista na mesma noite. Abafa o bofe e aproveita. Sorte, M.C.S.

Poderosa Miss C.S., fui vergonhosamente traído por minha mulher, tipo flagrante delito, o que fazer? (Devoto da Gaia Ciência, Juazeiro, Bahia ).

Resposta: Amigo inconformado, deixo aqui, como filosofia de consolação, a sabedoria de um pára-choque que acaba de me abalroar: “Um homem sem chifre é um anima desprotegido”.  Sem mais, M.C.S.

Escreva você também para nossa conselheira amorosa. Cartas resumidas terão prioridade, mesmo que seu drama seja mais longo que “E o vento levou…” ou “O Conde de Monte Cristo”.

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Amor de passeata

Por xicosa
24/06/13 13:13

A onda de manifestações também deixa seus amores, seus quase amores, suas paqueras à espera de uma certa primavera, suas promessas de felicidade dispersadas à base da balas de borracha.

Amor de passeata pode durar apenas um beijo, amor de troco, amor tipo 20 centavos, amor de passeata é amor volúvel que pode durar apenas uma palavra de ordem, abaixo alguma coisa e pronto.

Amor de manifestante é amor de causa… Depois daquela noite cada um vai cuidar de salvar a própria pele em outra barricada.

Amor de passeata é o amor que conjuga o verbo ocupar no sentido mais amplo: eu te ocupo, tu me ocupas e nós ocupamos juntos o espaço sideral dos nossos sonhos, meu amor de  Barbarella.

Amor de passeata é do tipo toda forma de amar vale a pena, tipo assim o melhor cartaz contra o Feliciano: “meu cu é laico”.

A falta de uma causa bem definida também pode ser um bom motivo amoroso. A história como pano de fundo, mesmo em um triângulo que ocupa mais a banheira do que as ruas, a causa com bouquet de vinho francês, por que não? Viva Paris 68 no retrovisor dos passos da rapaziada de hoje.  Afinal de contas o amor por si já é uma puta bandeira e acaba empurrando para as ruas naturalmente -estou falando, evidentemente, do  filme que ilustra esse post, “Os Sonhadores”, do gênio Bernardo Bertolucci.

Amor de passeata também pode lembrar, caro Marechal, aquele maluco do “bloco do eu sozinho”, cá do Rio de Janeiro, cada um com o seu motivo de protesto em busca de um cordão de isolamento.

Amor de passeata é indecifrável como foi inicialmente a onda dos manifestos. Amor de passeata é rachado, porque meu partido é um coração partido, como disse o poeta do Baixo.

Pode ser anarco-punk o amor no meio do tumulto, faça você mesmo, não espere o movimento tomar corpo.

Duro é proteger a amada, a amante, no meio daquela nuvem de efeito moral e covardia fardada.

A passeata também é uma boa hora para dar um sacode naquele amor acomodado, aquele amor oficial que repete as práticas demodês, aquele amor ressentido, resquícios autoritários, aquele amor que gostava de política ainda no Collorgate.

Manifeste-se, Lola, contra esses tempos de homem frouxo, o homem de Ossanha, aquele do samba do Vinícius e do Baden, o cara do diz que vai-não-vou, eterno chove-não-molha.

Duro é amar de verdade, pois o amor, assim como o mar dos protestos, não tem uma pauta definida. Decifra-me ou me apavoro, ameixas, ame-as ou deixe-as, já avisou o cartaz do samurai-polaco.

Em compensação, quando vinga, o amor de passeata é por muito tempo… E o fim, um dia, quem sabe, será com as lágrimas sinceras do luto, vai lembrar que vocês se conheceram chorando gás lacrimogêneo.

P.S. Depois de longa pane técnica, os comentários do blog foram reativados. Oba!

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O patriotismo como refúgio dos canalhas

Por xicosa
21/06/13 15:19

Que ressaca cívica, senhoras e senhores.

O tipo da ressaca que não se cura com água de coco e muito menos suco de tomate.

Não adianta brigar com esse tipo de ressaca. É mais forte e destemida que a ressaca moral, como deu a pista o Paulo Mendes Campos.

É um sacode.

Mesmo assim, stop, paramos nós ou parou a passeata? Aí já estamos com Drummond, mas ainda em Minas Gerais.

Não parou nada. Assim como ninguém para o trem, o busão, o Penha/Lapa da história.

Há, porém, uma pergunta, igualmente drummondiana, na voz popularíssima de Paulo Diniz. Escute aqui.

E agora José, para onde?

Pergunto também ao pó das ruas, pergunto à poeira de Casa Amarela –agora saltamos para a voz rouca de Miguel Arraes, Recife, Pernambuco.

Deixo aqui apenas dois dedos de prosa, como quem rumina um capinzinho metafísico no canto da boca.

A rua soltou a voz, a polícia de SP soltou o lacrimogêneo e o fermento. De alguma forma, como disse a Cora Rónai n´O Globo, obrigado Alckmin.

O resto vocês já sabem.

Estávamos todos muito silenciosos. Agora, creio, os velhos políticos ouviram o recado até do Ipiranga.

Legítimo que as nossas vidas tenham padrão-Fifa. Eu também quero. E rápido.

Lutar contra a corrupção, oba, facílimo, pelo que sabemos até o Ali Babá levantava essa bandeira. Quero ver é na prática.

Essa masturbação sociológica toda, como dizia o Sérgio Motta, uma das minhas melhores fontes jornalísticas ao lado do PC Farias, para adentrar o gramado com outro assunto.

Este sim me preocupa:

O patriotismo é o último refúgio do canalha, disse um certo Dr. Johnson, pensador inglês. A sentença também é atribuía ao gênio Nelson Rodrigues.

Mas o melhor da frase é o uso que o Millôr Fernandes, filósofo do Meier, fez da mesma:

“O patriotismo é o último refúgio do canalha. No Brasil, é o primeiro”.

A face mais estranha da onda de protestos tem sido o patriotismo/nacionalismo dos últimos dias, esse gesto de pendor inicialmente tão bacana e historicamente tão fascista.

Nunca vi tanto patriota, dentro e fora das tais arenas.

O amor à pátria acima do bem e do mal? Tô fuera. Neste sentido me sinto um verdadeiro cavalo paraguaio.

Se fosse só o amor à pátria em chuteiras, aqui já voltando ao velho tio Nelson, vá lá… Se bem que misturar futebol e pátria -como faz o próprio governo federal ao se apropriar do conceito rodriguiano- também não é grande coisa.

Tenho um certo medo daquelas criaturas exageradamente patriotas. Por trás dessa bandeira, costuma rolar o vale tudo,  a intolerância, o incontrolável sururu na área.

Sou tão filho teu quanto qualquer um outro, querida pátria envelhecida em barris de bálsamo, mas fujo de uma luta burra facim facim, pela porta dos fundos. Afinal de contas, o que nós queremos, Mário Alberto?, como perguntou hoje o botafoguense Arthur Dapieve.

Não sou ordem nem sou progresso, sou da turma do amorzinho gostoso. Na rua ou entre as quatro paredes.

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Surfando na realidade da pororoca social

Por xicosa
19/06/13 14:22

Surf amazônico como mera coincidência.Imagem do blog da Stanley

“Uma cerveja, antes do almoço, é muito bom, pra ficar pensando melhor” (Chico Science & Nação Zumbi).

Agora que a onda de protestos se espraia nos grotões e arrabaldes, lembrei de uma imagem do último general-presidente, o mais cínico e sincero dos milicos da Ditadura.

Sim, ele mesmo, vossa excelência  João Baptista de Oliveira Figueiredo, que Deus ou Diabo o tenha, amém.

O filósofo-milico  temia a pororoca social, que seria, a exemplo do encontro das águas do Amazonas com o mar,  um estrondo  contra “tudo isso que está aí”.

Teria chegado a hora da pororocracia?

Pode ser. Socrático, porém, me resguardo ainda ao nobre direito do só sei que nada sei.

Duplamente socrático, eu diria: sou fã do sábio grego e do pensador da Democracia Corinthiana.

Imagina o doutor na Copa das Confederações!

Imagina o doutor falando sobre as tais arenas. Estas ilhas de modernidade cercada por uma realidade de várzea por todos os lados.

Paraense criado em Ribeirão Preto e ídolo da massa em SP, Sócrates sabia como ninguém a força da pororoca.

Sigamos, nunca devagar, mas de forma pedagógica. Em tupi-guarani, pororoca é o mesmo que causar um estrondo. Causar é o verbo da hora.

A pororoca das ruas é pedagógica.

Da Sé, da Candelária ao meu Cariri, onde ocorreu a pior história de falta de educação de autoridade no Brasil há séculos: o prefeito de Juazeiro do Norte, Sr. Raimundão, conseguiu a proeza de reduzir o salário dos professores.

Ontem, a pororoca começou a fazer água até o seu pescoço: foi cercado por cerca de 10 mil manifestantes –proporcionalmente mais do que toda a multidão que foi às ruas na noite da Paulicéia Bombardeada.

O protesto em Juazeiro já vinha rolando. A pororoca, porém, causou o estrondo. O bom da pororoca é isso: ela junta os velhos e os novos protestos em um só tsunami.

Pedagogia do oprimido, lição de coisas: mire-se no exemplo dos sem-teto e dos sem-terra. Protestam o ano inteiro, todos os anos.

Estão também na pororoca. Em alguns momentos  ao mesmo lado dos latifundiários coxinhas, urbanos ou rurais, que odeiam seus atos de rotina. A pororoca cuidará das contradições de classe ao caminhar da história. Veremos.

A pororoca é sábia, mistura águas e depois separa interesses de classe.

A pororoca é feito doido, tem passe livre.

A pororoca só poderia ser narrada pelo maior poeta da natureza de todas as eras, meu amigo Walt Whitman.

Águas passadas são a história e movem as novas realidades alagadiças.

Da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana. É Science de novo na vitrola.

Aviso importante, desta vez mais educado: por falha do sistema -e isto não é uma metáfora!-, o blog continua com os comentários desativados. A equipe da Folha.com avisa que está trabalhando para corrigir o defeito.

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A vigília radical do sono da amada

Por xicosa
18/06/13 17:24

Gravura do gênio pernambucano Darel Valença, claro

Ah, esse gás lacrimogêneo deixa a gente comovido como o diabo, velho Carlos.

Sim, amigo, vide o post gonzo-barroco de ontem.

É tempo de homens partidos, meu bom mineiro-carioca. E, para variar, estou ainda mais romântico, senão vejamos um homem estrebuchando de lirismo crônico:

“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho escritor Alberto Moravia,  sempre aqui na cabeceira.

Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme,entregue, para além dos pesadelos diários.

Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra na vida e no livro da Danuza , um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.

Experimente você também, sensíiiiiiiivel leitora, vê o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem.

Amar é… vê-lo dormindo como um Garfield lesado e alasanhado.

Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo.

Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório.

Psiuuuuu!

Ela dorme.

Mãozinha no ar, como se apanhasse pássaros, que coisa mais linda. Uns 23 minutos assim, mirei no rádio-relógio. A mão desce ao colchão, quase dormente, formigamentos. Coça o nariz. Põe a mãozinha direita entre as coxas.

Agora vira de lado, como os antigos LPs quando gastavam as seis músicas do lado A. E me abraça como nunca fosse partir, corpos viciados, almas em busca de um acerto.

Dorme, meu anjo.

Ela obedece.

Vigio o sono dela como um soldado zapatista na selva escura.

Como um cão zela o sangue do dono.

Como se fosse um homem-exército e pronto.

Amar, no início era o verbo intransitivo da alemã professora de amor de Mario de Andrade. O idílio tem sobrevida, não como gênero, mas como vício, vício de amar. Amar de muito.

A mão desce agora sobre o meu peito, como se medisse meus batimentos.

A mão direita volta para a arte de apanhar pássaros, que beleza, que diabos!

O ideal é que você, amiga leitora e sensivi, durma do lado esquerdo da cama, o do coração, sempre.

Mãozinha no ar catando pássaros. Até se acalmar de vez.

Calmaria danada de horas, sem coreografias ou narrativas. Sonha, sonha, sonha, minha menina.

Como é lindo a vigília ao sono dela.

Coça o nariz. Sussurra umas onomatopeiazinhas lindas de sonhos de besouros.

Ela arruma os cabelos como algas, entorpeço num mergulho.

Observar o sono do(a) amado(a) é a melhor maneira de mapear a sua beleza.

É a melhor maneira de conhecer o homem ou a mulher com quem dormimos.

E como são lindas aquelas marquinhas deixadas pelos lençóis no corpo dela. Um mapa de delírios! Melhor é lê-las como quem adivinha os sonhos e o futuro no fundo da xícara árabe ou nas cartas.

P.S – Por problemas técnicos, este post ficou desativado para comentários.

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