Na vida só vale o pesinho sobre o outro
13/04/14 06:06
Na vida vale o pesinho, o pesinho de nada, apesar dos pesares, como neste mundo lindamente perdido, arenoso e areento -sempre aparece alguém para botar areia no meio de uma boa história.
Inclusive o pesinho do pezinho.
Vale o leve sobrepeso. Nem que seja apenas aquele braço esquecido na intimidade da praia, como o casal genial ai da foto, coisa de cinema.
Melhor: vale o contrapesinho da existência. É o que equilibra o universo.
Aquele amor sobre teu ombro ou teu peito -sem foto selfie, por favor- apenas sentindo o cheiro do sexo nos ares.
O pesinho da hora do cigarro pós-coito, mesmo do imaginário e silencioso king-size dos amantes. Porque todo homem, mesmo o mais ferrenho e radical dos não-fumantes, traga esse momento como se fosse um francês de filme da Nouvelle Vague.
O peso do amor exasperado ou do amor que se reergue, lentamente, para outra fodinha nova. Ao natural ou com química a serviço da vida.
O pesinho do filho que adormece, no meio da feira de barulhos e diminutivos, sobre o colo ou peito materno.
Como comentou a amiga Joana Gatis, dia desses, direto da praia do Janga, sobre o pesinho de Raul adormecendo.
Em uma conversa com o camarada Gilvan Barreto, o homem d´O Livro do Sol, ele, do nada, relatou o justo instante em que uma das suas crias arriava o pesinho sobre as suas forças paternas no bairro da Urca.
Apesar dos pesares, só o pesinho sobre o peito, da mulher amada, do menino ou da menina, vale uma vida.
Vale quanto pesa o amor à vera.
Sem essa de relativo ou de teoria da relatividade. Talvez tenha algo da Lei de Newton, a maçã caramelizada do amor que despenca nos parques de diversões para surpresa da moça.
Independentemente da insustentável leveza do ser, vinga o contrapeso, sempre, amar é sentir uma perna sobre a outra como quem sente uma palavra perdida -ambas sem querer nada, a perna que sobra sobre a tua e vice-versa.
O pesinho é o que conta na balança dos amores possíveis.
O resto é o isopor do desamor e do fingimento mesmo que os amantes pesem quanto eles imaginam.
|Por que no amor, mesmo no descuido máximo, sempre sobra um pesinho na rua ou em casa. Amar é carregar essa apuradíssima balança existencial capaz de medir o quanto os homens são capazes de pesar uns sobre os outros até o resto da vida.
O resto são aqueles “21 gramas” do filme homônimo do mexicano Alejandro González Iñárritu.É quanto se especula que pese a alma quando deixa o esqueleto -desse outro mundo, porém, não entendo patavinas.
Fico com o pesinho dela sobre meu peito esquerdo, ali grudada nas minhas sístoles e diástoles da petite mort, a pequena morte do gozo, como dizem os franceses.
E que a terra, caro amigo Brás Cubas, nos seja leve.