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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Os joelhos contam a história de uma mulher

Por xicosa
08/03/12 09:41

Amo mulheres por inteiro, até a sola dos pés, talvez por isso mesmo sempre volto para casa com as calças puídas, qual um romeiro, de tanto me abaixar no solo pátrio para beijar a última sujeirinha dos vossos dedos –o que é a ideia de Pátria diante de uma fêmea?.

Nada.

Amo mulheres por inteiro, mas tenho uma crendice, uma superstição de linguagem: mulher é metonímia, parte pelo todo.

Lembra dessa coisa do colégio?

Mulher é metonímia assim como fumo um cubano.

Mulher é metonímia assim como protejo a minha careca com um Panamá, pronto, chega de exemplos e didatismos.

Por mais que a gente ame um lindo diabo desses, sempre vai se concentrar num cantinho dela.

Liçãozinha de anatomia. Parte pelo todo.

Uns gostam de bundas, outros de omoplatas. Eu também aprecio. Nádegas.

Já fiz até o elogio das dores cinzas dos cotovelos, lembra, Maria, aquela ode lupicínica?

Mas gosto mesmo é de joelhos.

Ali a pessoa amada nos conta a vida.

Joelho é a biografia duma moça.

As quedas, as subidas, as vertigens.

No joelho está toda a mulher e sua dobradiça misteriosa que não carece de óleos.

A bicicleta, o skate, a rua, a trepada na pedra no acampamento, a distração, uma quedinha de nada no casamento, o porre, a existência, um descuido no pé de caju ou siriguela, como minhas lindas primas.

Joelhos.

Quando lembro dos meus mundos, só lembro dos joelhos.

É sempre minha primeira curiosidade sobre elas. Que queda foi essa?

Projeto Camus: a queda. Nossa!

Amo demais da conta. Sem esse papo-cabeça de existencialismo. Joelho pelas pequenas cicatrizes mesmo.

Já reparou nos joelhos da sua amada hoje, amigo?

Pode mirar também, assim como não quer nada, os joelhos executivos da sua colega poderosa de firma.

Mulher é joelho, mesmo que nunca nos peça, ajoelhada, para não largá-la.

Joelho é a melhor forma de ouvir a sua mulher agora.

Bicicleta ou queda por um vagabundo vira-lata?

Não importa. Ouça.

Pense na rótula. Ah, sim, foi uma queda no carnaval de Olinda. Foi qualquer coisa, pelo menos se interesse, amigo, quando a mulher narrar a biografia dos seus joelhos.

Ela estará contando só o que importa.

Mulher é joelho, joelhos, os dois aos mesmo tempo.

Eu rezo por elas.

Não tenho religião fixa, mas elas são minhas devoções permanentes.

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Duas ou três coisas que sei sobre as mulheres

Por xicosa
07/03/12 11:37

 

Leila Diniz no filme "Todas as mulheres do mundo"

Alguns leitores mais ácidos –é bom tê-los como fiscais do meu lirismo bregamente derramado- cutucam, provocam:

-Esse cara feio de doer é um populista com as fêmeas, quer arrebatá-las com essa conversinha mole, mimos, delicadezas, agás, nhenhenhéns…

Bem, falar mal à toa de mulher é que não vou. Besta é tu, besta é tu, como diriam os “Novos Baianos”, que as demonizam como envenenadas Evas expulsas do Paraíso.

Mulher é minha causa. Mulher é o meu dogma. Mulher sempre foi meu comunismo.

Maltratá-las é que não vou. Muito menos cair no conto de que elas não existem, como queria titio Lacan. Isso é papo-aranha de intelectual solteirão.

Tampouco é verdade essa historinha de que não sabemos o que querem as mulheres.

Pera lá. Não sabemos tudo, óbvio, não deciframos todos os mistérios, mas conhecemos muitos modos de agradá-las e cumprir parte da demanda.

Elas merecem e este, afinal, é o grande desafio na terra de um homem de boa vontade.

O que querem as mulheres? Entendemos a complexidade da clássica pergunta de Freud, mas a interrogação não veio ao mundo para nos acomodar.

Veio para instigar o cidadão.

As mulheres querem que os homens adivinhem, sintam, farejem os seus desejos como labradores do amor e antecipem essas realizações.

Bem-aventurados os que descobrem que elas estão a fim de uma viagem à montanha e levam-nas à montanha; bem-aventurados os que sabem que elas não agüentam mais aquele velho boteco sujo e levam-nas a um restaurante decente, dentro das posses, claro.

Bem-aventurados os que sabem que elas gostam de novidades e detestam quando os garçons nos dizem “o de sempre, amigo?” Essa confortável rotina é coisa de macho!

As nossas mulheres querem que tenhamos olhos só para elas. No que, aliás, foram contempladas biblicamente pelo décimo mandamento das tábuas da lei entregues por Deus a Moisés: não cobiçarás a mulher do próximo.

As mulheres querem que alternemos momentos de homens sensíveis e momentos de selvagens lenhadores.

Pena é que costumamos inverter as coisas. Na gana da obediência e do agrado, somos lenhadores quando nos queriam sensíveis e vice-versa. Comédia de erros. Onde queres Leblon sou Pernambuco… Onde queres romance, rock’n’roll…

As mulheres querem que reparemos no novo corte de cabelo, mesmo que a alteração tenha sido mínima, tipo só uma aparada nas pontas.

O radar capilar tem que acender a luzinha, sem falha, na hora, se liga! Se for luzes, entonces, cruzes!!!

As mulheres querem… massagem. Muita massagem. Primeiro nas costas, depois nos pés e sempre no ego.

As mulheres querem… molhinhos agridoces. Como elas se lambuzam lindamente!

As mulheres querem… flores e presentes. Não caia, jovem mancebo, nesse conto de que mulher gosta é de dinheiro. Se assim o fosse, amigo, os lascados de tudo não teriam nenhuma, nunca, jamé.

Repare que até debaixo do viaduto está lá a brava fêmea na companhia do desalmado. Ela e o cachorrinho magro, só o couro, o osso e a fidelidade. O que vale é a devoção, amigo.

Mesmo que você seja mais liso que os mussuns do brejo,pobre de marre-marré, pode muito bem presentear uma bijuteria com a dramaturgia de uma jóia da Tiffany´s.

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Quando a mulher fala em retorno de Saturno

Por xicosa
06/03/12 12:59

Ih, amigo, ela me soprou aqui no ouvido: é o retorno de Saturno… Então repito uma verdade crônica:

Quando a tua mulher ou namorada, meu caro , começa a falar em retorno de Saturno, na simbologia do tarô, nos recados do feng shui etc, te liga, campeão: é pé na bunda à vista.

Como já alertei aqui neste blog, por trás de todo mapa astral ou de uma nova visita à cartomante há sempre um bom par de chifre à nossa espera.

Ai só nos resta chupar o frio chicabom da solidão, como me ensinou o  tio Nelson.

Só nos resta mascar o jiló do desprezo. Só nos cabe sentar à margem do rio Piedra e chorar, segundo a recomendação do mago Paulo Coelho, este  incansável místico..

Sim, amigo, a mulher é esotérica desde a véspera da tragédia. Nós batemos na porta da cigana mais vagabunda apenas depois que Inês é morta.

Aqui me pego, agora mesmo, reparem no ridículo, lendo o destino e a sorte na borra de café, o velho método das Arábias.

Mais perdido do que um escoteiro nerd e lesado no Pico da Neblina, um homem é capaz de tudo. No mato sem cachorro ou GPS, o macho moderno, este cara carente de banco de praça, faz sinal de SOS até para náufragos piores do que ele. Ô vidinha-Titanic!.

Opa, calma, calma, que vejo algo nos desenhos involuntários do fundo da xícara. Tento enxergar na borra do café o meu destino, a minha sorte e as escaramuças da pessoa amada, aquela maldita que nos parafusa na testa uma fantasia de viking.

Sério, amigo, somos esotéricos depois que a casa cai.

Perai, epa, calma de novo que vejo algo bem definido no diabo da xícara. Parece uma fruta. Pera, uva, maçã? Limpo as lentes de quase dez graus de miopia e astigmatismo e finalmente decifro: uma cebola!

Retrato do meu choro e do abandono? Seria o mais óbvio e imediatista. Na dúvida, recorro ao “Guia da leitura no sedimento do café –arte milenar árabe de interpretar sua vida”, um livro da Batia Shorek e Sara Zehavi, que acabo de adquirir em um sebo carioca.

Opa, reparem só no significado da tal cebola: “Indica que a pessoa amada esconde algo do seu cônjugue e o assunto escondido é importante e pode machucá-lo”.

Neste caso nem escondia mais, já havia ido embora, estava da caixa-prego para a frente, mas reparem como funciona a leitura da borra!

Como homem, apenas li atrasado o fundo da xícara. Uma fêmea mística teria sabido tudo de véspera.

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Estupidamente proibido

Por xicosa
05/03/12 10:02

Repare o que o futuro nos reserva, amigos: será proibido até tomar uma cerveja na calçada em pleno verão.

Estupidamente proibido degustar uma gelada.

Aí sim, messiê, podemos chamar de Tristes Trópicos.

No Bananão, como assobia o Ivan Lessa lá de Londres, continua valendo aquela máxima: o que é bom para os EUA –ou até para Cingapura- é bom para o Brasil.

E quem começou a brincadeira de péssimo gosto desta vez nem foi o Kassab, espécie de Jânio sem graça e sem álcool, o homem que proibiu até a galinha à cabidela em São Paulo.

A novidade veio da brisa praieira. Pasme.

A vereadora Marília Arraes (PSB) apresentou projeto no Recife proibindo a venda e consumo de bebida alcóolica em ambientes públicos. Isso ainda no ano passado.

Agora é a vez de SP, vanguarda absoluta do atraso em matéria de proibições. O autor da proposta paulista é Campos Machado (PTB), velha raposa da Assembleia Legislativa –para ficar em um bicho mais comum e inocente naquela Casa.

Do jeito que o mundo encaretou, não tenho dúvidas que, mesmo no Recife, a outrora invicta cidade do Hellcife, tudo será proibido.

É fácil governar e aparecer com projetos como estes. Mais fácil, aproveitando o tema, que empurrar bêbado ladeira abaixo.

Quem não faz, proíbe, Kassab que o diga.

O Estado não tem competência para segurar a guerra das torcidas? Opa, a saída é proibir o cidadão de tomar a sua sagrada cerveja de domingo nos estádios.

A regra tem sido essa e a gente paga pela corja violenta.

Cachorrada!, como vociferava, todas as manhãs, o velho Graça.

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Em um relacionamento "fala sério"

Por xicosa
03/03/12 21:25

Não custa nada fazer o alerta de novo.

Você amigo, você fofolete, acaba o casamento, o romance, a novela, o caso, o rolo, mas continuam acompanhando a vida do(a) ex no Orkut, no Facebook, no twitter, nas redes sociais mais intimistas.

Um desastre.

À guisa de alerta, a canção das antigas: “Risque meu nome do seu caderno/ Pois não suporto o inferno/Do nosso amor fracassado”.

Risque o meu nome do seu  Facebook…

Podendo evitar, meu caro, minha princesa, evitem. Salte fora, meu rapaz, corra, Lola, corra.

Aproveitem que os laços foram cortados no plano real e passem a régua também nas espumas da virtualidade.

O mais é sofrimento à toa, reacender a fogueira do ciúme, masoquismo, perversão, sacanagem. Um risco que não vale mesmo a pena.

Qualquer recado ou post, mesmo os mais inocentes ou sem propósito, viram um inferno na terra. Para completar, tem sempre alguém mais sacana ainda e entra no jogo, dando linha na pipa da maldade.

Prefira não, amigo, caia fora mesmo, Lola.

Não adianta nem tentar dizer que não liga, que é apenas virtual, que leva na buena, que acabou tudo bem e que é civilizadíssimo. Melhor evitar aperreios no juízo.

Você já prestou atenção, meu jovem, na fartura de tragédias amorosas que tiveram como espoleta da discórdia um simples comentário na Internet, uma foto sensual no Orkut, uma alteração no status do relacionamento?

E tem outra: precisa ser muito tranqüilo para não ficar fuçando a vida do(a) entidade chamada ex. Quem resiste ai levante o dedo.

Melhor evitar o brinquedo assassino chamado ciúme, esse satanás de chifre.

Sim, tem que ser forte para cair fora, para bloqueá-lo(a), para dar um tempo inclusive na amizade forçada –não há civilização no fim do amor, a barbárie e a selvageria sempre prevalecem.

Não basta o sofrimento mais do que real da ressaca amorosa? Basta.

Ninguém segura essa onda. Claro que só uma minoria maluca chega à violência, ao inconcebível.

A maioria, mesmo silenciosa, sofre horrores, se acaba, o velho pote até aqui de mágoa, como diria o xará Buarque, faça não, caia fora, faz bem para manter a sanidade.

Risque o meu nome do seu Facebook, não me siga no twitter,  eu não sou novela.

Mude o status amoroso, faça troça do brinquedo: estou em um relacionamento “fala sério”…

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Vista a roupa, meu bem, e vamos nos casar

Por xicosa
02/03/12 17:39

 

ilustração Benício

Aqui no blog todo dia é dia da Mulher.

Atendendo a pedidos, delas, óbvio, retomo a cantada literária da devoção sem fim.

Você acorda e está diante do maior espetáculo da terra: a mulher no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna levemente amparada sobre a poltrona, os cabides em forma das mesmas interrogações e dúvidas –com que roupa?- e aos poucos, peça a peça, me vejo diante do espetáculo da vida.

Em muitas ocasiões, finjo que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir na cena. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, meu filme preferido, cinema na cama antes de pedir o café pra nós dois.

Porque uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais que seja fina, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos do sexo selvagem.

Seja um Yves Saint Laurent, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lindo e lento strip-tease ao contrário.

E o momento da maquiagem? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de “você já é bonita com o que Deus lhe deu!” Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincando de colorir o desejo.

Agora ela anda na casa, à procura do acessório perdido… Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.

Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs –final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.

E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: não tenho roupa. Pode ser uma madame de alta classe ou uma jovem atriz que ainda trabalha de garçonete.

O importante é que você se veste e aquele filme, cinemascope, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.

Vista a roupa, meu bem, e vamos nos casar.

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Lucio Dalla: um macho-jurubeba à bolonhesa

Por xicosa
01/03/12 13:59

E lá se foi mais um macho-jurubeba. Neste caso na sua versão bolonhesa: o cantor e compostitor italiano Lucio Dalla, 68.

Morreu do coração, óbvio, como morrem os sentimentais.

O universo chabadabadá, como alertou o amigo Cassiano Elek Machado, está mais pobre.

Garçom, um campari. Brindemos este monstro do romantismo.

A música que deixo aqui na agulha embalou muitas noites e promessas de amor nos salões.

Promessas sinceras nem sempre realizadas. Promessas muito altas, quase tocando os céus no bar do Terraço Itália, São Paulo.

Sem mais, adeus, amigo.

E fica aqui uma citação do cronista Pitigrilli, seu conterrâneo, que você adorava:

O amor é um beijo, dois beijos, três beijos, quatro beijos, cinco beijos; quatro beijos, três beijos, dois beijos, um beijo… e fim.

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O poder de pagar a conta do jantar romântico

Por xicosa
01/03/12 01:13

Tiozinho do acordeon depois que o casal desta crônica se retira.Trés-romantic

Era um jantar romântico, daqueles de sedução e conquista, ali no “La Tartine”, bistrô do bairro da Consolação, SP.

Tudo lindo. Tiozinho do acordeon mandando uma chanson. A moça fina, moderna e elegante como uma legítima paulistana, discorria sobre cinema.

O rapaz, uns 35 anos, gênero executivo, mais mudo do que o francês do filme “O Artista”.

Só notei que tinha voz quando veio a conta. O cara queria pagar tudo e ficou bravo porque a moça já havia ordenado a um dos garçons gêmeos que faturasse no seu cartão de crédito.

Phyna! E fez tudo na buena, sem exibicionismo.

No que lembrei, na mesa ao lado, de um velho conselho do guru P.J.O’Rourke, no livro “Etiqueta Moderna –finas maneiras para gente grossa”, tradução do jornalista Aran, editora. Conrad:

“Quando você vai ao encontro de um homem é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele.

Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas.”

Por favor, amiga, é o que nos resta de autoestima. Pelo menos nos primeiros encontros.

Depois, tudo bem, verás que a minha insolvência civil está decretada, que fiques à vontade para torrar esse farto cartão de crédito.

No começo, não, dai-nos, santas, esse último prazer do orgulho macho. Imploramos.

Na prática, este cronista envelhecido em barris de bálsamo, já testemunhou de tudo nessa matéria.

Machão que se sente ofendido quando a dama propõe a dividir, por exemplo.

Feminista dando escândalo porque o cara quis fazer bonito e pagou a conta sem que ele sequer fosse consultada.

Assim como vi também amigas queixosas de homens mãos-de-vaca, muquiranas, que propuseram o racha.

Caro guru P.J.O’Rourke, a sua proposta é bem decente e reflete a nossa inutilidade como machos contemporâneos. Não há, porém, um código de etiqueta fechado para o assunto.

Na dúvida, podem pedir também o veredito do ladrão, essa criatura tão invasiva hoje em dia nos românticos arrastões dos restaurantes paulistanos.

Junto com nossos generosos leitores, porém, devemos chegar ao bom senso para tal prática. Quem, e em que circunstância, paga a conta?

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O berro selvagem do "chupa" no futebol

Por xicosa
29/02/12 11:12

Hoje é dia de “chupa”. Assim como toda quarta e todo domingo.

É o grande grito, movido a testosterona, que ecoa nos edifícios e botequins durante o futebol.

Uma leitora, que sugeriu o tema desta crônica, me pergunta se não vejo um certo  homossexualismo enrustido, ou inconsciente, nesta linguagem berrada pelos machos.

Ela não suporta a “selvageria” e sempre tenta ir ao cinema para evitar a guerra do “chupa” no seu prédio no bairro da Pompeia.

É de uma deselegância sem fim, violenta mesmo, e já testemunhei pancadaria entre vizinhos aqui da rua Fernando de Albuquerque, travessa entre a Augusta e Consolação.

“Chupa, são-paulino”, berrou o vizinho corintiano do terceiro andar para o tricolor da janela abaixo.

Sururu na área. Deu polícia e tudo.

Ah, nós  homens, esses eternos bobos selvagens, sussurram as moças a essa altura.

Como já escrevi na minha crônica esportiva na Folha, não faço ideia da data de criação e muito menos de onde surgiu o retumbante “chupa”. Faz ideia, meu amigo?

O escritor João Silverio Trevisan, no entanto, autor do genial “Seis balas num buraco só” (ed.Record) decifraria com facilidade o suposto grito macho.

O berro pode ser usado de várias formas.

Tem o genérico “chupa, são-paulino”, “chupa, gambá”, “chupa, porco” etc, quando o alvo é o clube, a entidade.

Tem o “chupa, Luxemburgo”, “chupa, Leão”, “chupa, Muriçoca”, quando o alvo é um técnico que desperta a fúria inimiga.

E tem o chupa fulanizado, dirigido nominalmente ao vizinho, ao amigo, ao garçom, ao dono do estabelecimento, no caso dos botecos.

Outro dia, ainda na Vila Pompéia, em uma casa dividida entre palmeirenses e corintianos ouvi um impensável “chupa, pai!” enfeitado com todas as exclamações possíveis. Coisa de tragédia grega.

O que acho inconcebível, pela falta de delicadeza, é o “chupa, fulaninha”, o berro medieval para uma amiga ou para a namorada fã de outro time.

Ah, esses moços, pobres moços que tratam as gazelas como se fossem os manos da esquina.

Sim, o macho está perdido e a fêmea se acha a bala que matou Kennedy, mas sem essa, amigo, sem revanche nessa hora, vamos dar bons tratos à bola, pegar no colo, deitar no solo pátrio e fazê-las musas, divas, as admiráveis e eternas crias das nossas costelas.

E o chupa é nacionalíssimo, com a sua variante forrozeira “chupa que é de uva”, como ouvi outro dia em Vitória da Conquista.

Quem chupa e quem não chupa este ano no futebol brasileiro? Tem “chupa” ai na sua cidade também?

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O amor acaba ou Paulo Mendes Campos

Por xicosa
28/02/12 14:24

Vivo fosse, o cronista mineiro faria hoje 90 anos.

Nada melhor do que homenageá-lo com a republicação de um dos seus melhores textos, um dos mais citados e sampleados por este blogueiro vagabundo que vos posta.

Ei, moça, repare que assombro:

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;

na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão;

como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão;

às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas;

quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina;

no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero;

nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba;

no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba;

uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros;

e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo;

na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo;

às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno;

em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Do livro “Boa Companhia –crônica”, org. Humberto Werneck, ed. Companhia das Letras.

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