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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Lugar de mulher ´bonitinha´ é na Playboy

Por Xico Sá
12/05/14 16:28
Bandeirinha Fernanda Colombo, alvo de ofensas,  em foto do UOL/Esporte

Bandeirinha Fernanda Colombo, alvo de ofensas, em foto do UOL/Esporte

Interrogação, como diria o bravo Roberto Avallone!

Errare humanum est. Como canta Jorge Benjor ou como teria dito Santo Agostinho.

Pois é, amigo, errar é humano, mas vai errar sendo mulher, bonita e gostosa em um impedimento de um jogo de futebol!

O mundo vem abaixo. O pior dos castigos.

A macharada pira, não perdoa, quer banir a criatura dos gramados.

Como acontece no momento com a bandeirinha (e gata sim!) Fernanda Colombo. Errou, como qualquer macho feio ou bonito poderia errar, no clássico Atlético 2×1 Cruzeiro.

A galega catarinense foi moralmente linchada. Por ser mulher, por ser bonita, por ser gostosa.

Ao ponto do diretor de futebol da Raposa, Alexandre Mattos, soltar a seguinte sentença condenatória:

“Estão tentando promover ela porque ela é bonitinha e não é por ai. Ela tem que ser boa de serviço, profissional e competente. O erro dela foi muito, muito, muito anormal, coisa de quem está começando uma carreira. Se é bonitinha, que vá posar para a Playboy, não trabalhar com futebol”.

E repare que o Mattos é tido como um cara até moderno no meio arcaico do futebol –um mundo tão assombrado que tem na presidência da CBF um representante ainda dos tempos da Ditadura, José Maria Marin, que deveria estar depondo na Comissão da Verdade e não à frente da seleção brasileira em ano de Copa.

Mas que pisada na bola, seu cartola.

A garota, de 23 anos, tem todo direito de posar para qualquer publicação, ora, o corpo é dela. Nas suas declarações, no entanto, não se mostra deslumbrada com essa possibilidade.

Muito pelo contrário. Faz de tudo para fugir do estigma “eu sei que eu sou bonita e gostosa, eu sei que você, me olha e me quer”, como cantavam as Frenéticas.

“Creio que a beleza é subjetiva. Uma pessoa pode achar a outra bonita, a outra feia. Fico feliz pela lembrança, mas não gostaria de ser lembrada apenas por isso”, disse em entrevista a Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte.

Essa garota é papo firme, seu Erasmo.

Pra cima com a viga, moçada. Não desanimes, Fernanda.

Te mandaram para a “Playboy”, então que esses cartolas, treinadores ou torcedores nervosinhos posem para a “G Magazine”, não achas?

Beijo e boa sorte.

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Dores de rodoviária: mãe e o dia de ir embora

Por Xico Sá
11/05/14 11:55
Obra do artista Derlon no Ceará: projeto Ouro Branco

Obra do artista Derlon no Ceará: projeto Ouro Branco

“E quando eu me vi sozinho /Vi que não entendia nada /Nem de pro que eu ia indo /
Nem dos sonhos que eu sonhava” (Torquato Neto)

Mãe, ainda me lembro quando tu colocaste a rede no fundo da mala, mala de couro, forrada com brim cáqui, e perguntaste, tentando sorrir no prumo da estrada: “Filho, será que na capital tem armador nas paredes?”

Naquela noite eu partiria para o Recife, que conhecia apenas de fotos e do mar de histórias trazidos pelos amigos. Lembro de uma penca de fotografias em especial, que ilustrava uma bolsa de plástico que usava para carregar meus livros e cadernos. Lá estavam as pontes do centro, casario da Aurora ao fundo, lá estava a sede da Sudene, símbolo de grandeza naquele apagar dos anos 1970, lá estava o Colosso do Arruda, o estádio do Santa…

Quando o ônibus gemeu as dores da partida, aquela zoada inesquecível que carregamos para todo o sempre, tu me olhaste firme, e eu segurei as lágrimas tão-somente para dizer que já era um homem, que era chegada a hora de ganhar o mundo, pé na estrada, o mundo estrangeiro que conhecia somente pelo rádio, meu vício desde pequeno, no rádio em que ouvia os Beatles, as resenhas e as transmissões esportivas, além de todo um sortimento de novidades daqui e de fora.

Lembro que naquele dia, mãe, ouvimos juntos o horóscopo de Omar Cardoso, na rádio Educadora do Crato (ou teria sido na Progresso de Juazeiro?). Que falava dos novos rumos do signo de Libra. Você disse: “Tá vendo, meu filho, você será muito feliz bem longe”.

A voz de Omar Cardoso e o seu mantra ecoava no juízo: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor!”

Foi o dia mais curto de toda a existência. O almoço chegou correndo, a merenda da tarde passou voando… e quando dei fé estava diante da placa Crato/Recife, Viação Princesa do Agreste.

Todo choro que segurei na tua frente, mãe, foi derramado em todas as léguas seguintes. Mal chegou em Barbalha eu já estava com os dois lenços de pano –outro cuidado seu com o rebento- molhados. Em Missão Velha, uma moça bonita, uma estudante que voltava de férias, me confortou: “É para o seu bem, foi assim também comigo”.

Quando chegou em Salgueiro, além dos lenços e da camisa nova -xadrezinho da marca Guararapes-, o livro Angústia, de Graciliano Ramos, um dos motivos da minha vontade de conhecer a vida, também já estava encharcado.

E assim foi a viagem toda. Com direito a soluços, que acordaram a velhinha que ia ao meu lado, quando o ônibus chegou ao amanhecer no Recife.

Arrastei a mala pelo bairro de São José e procurei a pensão mais econômica.

Sim, mãe, tem armador de rede, escrevi na primeira carta. Naquele tempo não se usava, em famílias sem muito dinheiro, o telefone. Era tudo na base do “espero que esta te encontre com saúde”, como a gente escrevia na formalidade das missivas.

É mãe, neste teu dia, que está quase chegando a hora, quero lembrar que a coisa que mais me comoveu foi tua coragem, que eu até achava, cá entre nós, que fosse dureza além da conta d´alma. Até falei, um dia no divã, sobre o assunto, como se eu quisesse que naquela despedida o sertão virasse o teu mar de pranto.

Eis que recentemente me contaste como foi duro, que tudo não passava de um jeito para não fazer que eu desistisse de ganhar a rodagem. Aí me lembrei de uma sabedoria que citava nas cartas e bilhetes, quando eu esmorecia um pouco na sobrevivência da cidade grande: “Saudade não bota panela no fogo”. E ainda reforçava: “Saudade não cozinha feijão, coragem, filho, coragem”.

Em nome das mães de todos os meninos e meninas que partiram, dona Maria do Socorro, quero te deixar beijos e flores.

Sim, mãe, agora já sabes que somos de uma família de homens chorões, são 18h40 de um sábado, e eu choro um pouco, como fazia no fundo daquela rede colorida que puseste no fundo da mala, chorava tanto nos sótãos das pensões do Recife  que os chinelos amanheciam boiando no quarto, como se quisessem tomar o caminho de volta para casa.

*Crônica escrita em 2005. Republicada a pedidos da família.

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Como fugir da histeria da Copa

Por Xico Sá
07/05/14 20:21

 

Centro de SP, Copa de 1974. Foto Arquivo Folha

Centro de SP, Copa de 1974. Foto Arquivo Folha

Foi somente a convocação dos 23 nomes da Seleção Brasileira e a histeria copeira já veio para ficar. Invadiu programas de variedades na televisão, atrasou o almoço na firma e fez o porteiro esquecer, ao relento, a moradora mais gostosa do prédio, logo a sósia da Isadora Ribeiro –isso foi fato aqui em Copacabana.

Curto a barulheira, sou cronista esportivo da “Folha” e participo do “Redação Sportv”, programa que discute como a imprensa enxerga o jogo e a cultura do futebol.  É prazer e também trabalho.

Até ai tudo bem, mas o oba-oba espetacularizado de hoje, a mais de um mês ainda do evento, me fez lembrar dos amigos que não gostam de futebol.

Aqueles que sofrem verdadeiro bullying, desde a escola, por não se envolverem com a modalidade esportiva.

Estão ferrados.

Valéria e o marido Hugo vão fugir para a Califórnia. Têm grana, planejaram a fuga e até tentaram evitar que o filho colecionasse as figurinhas –batalha perdida, obviamente, se um álbum seduz um adulto, imagina uma criança.

De qualquer forma, o casal vai cair fora. E os amigos mais lisos que bunda de índio, que não têm grana para viagens de fuga, como escapar?

Até os seus bares prediletos estarão tomados pelas hordas de fanáticos.

E quem não pode, de forma alguma, deixar de bater o ponto?

Se pelo menos o camarada estiver disposto a ir aos protestos, vá lá, não precisa ver jogo algum, hasteia a bandeira #naovaitercopa e volta de alma lavada para casa. E em paz. Tomara.

Se pelo menos o sujeito, como o meu estimado corvo Edgar, adora secar o escrete canarinho, ainda se diverte com a perversão do agouro.

Caso contrário…. Vida dura a de quem não curte futebol nesse momento. Como escapar da festa cheia de miniblusas canarinhas, shortinhos, bolão dos amigos, caipirinha e acepipes planejadíssimos?

Realmente uma desgraça para quem odeia a tal da “Pátria em chuteiras” do conceito de Nelson Rodrigues.

Que fazer, caro Vladimir?

Fugir do futebol em tempos normais é moleza, embora uma noite ou outra os gritos de “chupa gambá”, “chupa bambi’, “chupa porco” atrapalhem o sono, o filme-cabeça ou o seriado cult da temporada.

A fuga dessa maratona vai ser uma gincana que requer força física, alguma grana e muita criatividade. Até lá na tribo dos Zo´é, povo quase isolado nas selvas do Pará, corre o risco de ter Copa –o fotógrafo Rogério Assis, autor de um belo livro sobre estes índios que o diga.

Só se for para mosteiros budistas, amigo. Em conventos católicos, não recomendo. Como constatei em reportagens em 2010, até a mais religiosa das carmelitas descalças sai do retiro espiritual para ver a seleção de Neymar e companhia.

Realmente preocupado com quem vive o pânico da Copa, apelo: caríssimo leitor, qual sua ideia de rota de fuga? Colabore com este serviço de utilidade pública.

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No balão com mr. Barnes, reflito sobre o fim do amor

Por Xico Sá
06/05/14 13:07

NPG x133034; Pat Kavanagh; Julian Patrick Barnes by Angela Gorgas

Com a história de Pat e Julian Barnes, aí no retrato, falemos um pouco sobre a finitude das coisas e de nós mesmos.

As dores de amores são parecidas entre si, a diferença é que a nossa é sempre mais dolorosa.

Perder doi no osso, como quem tem uma bala alojada e enfrenta a primeira noite de inverno.

Você interrompe uma longa conversa com alguém. Se conflituosa, não importa. Você quer contar algo que só teria graça se dito para ele(a).

“Você junta duas pessoas que nunca foram juntadas antes. Às vezes é como aquela primeira tentativa de atar um balão de hidrogênio a um balão de fogo: você prefere cair e pegar fogo ou pegar fogo e cair?”, confessa o viúvo Julian Barnes.

As dores de amores são parecidas entre si, todas levam ao luto; a viuvez, porém, é a mais inconsolável. Nem a mais autoindulgente das criaturas consegue guarida durante um longo tempo.

Você junta duas pessoas e às vezes funciona, algo novo é criado, o mundo se transforma. No que segue a voz do viúvo Barnes:

“Então, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, por um motivo ou outro, uma delas é levada embora. E o que é levado embora é maior do que a soma do que havia. Isso pode não ser matematicamente possível; mas é emocionalmente possível”.

Mr. Barnes, inglês nascido em 1946, um dos melhores escritores do mundo no momento, foi casado 30 anos com a sul-africana Pat Kavanagh, agente literária.

altosvoos

Pat foi levada embora. Entre o diagnóstico do câncer no cérebro e a morte, apenas 57 dias no calendário.

Na tormenta, ocorre uma filosofia de consolação ao o sr. Barnes: é o trabalho do Universo. Dane-se a força natural do universo, ele rebate.

O que importa é que ele não pode apontar algo de curioso na rua para que ela veja enquanto os dois voltam para casa em uma noite qualquer.

Não, a escrita do livro tampouco expurga essa dor. Não se trata de buscar conforto inútil ou clichê picareta de autoajuda.

Barnes pensou várias vezes em suicídio. Mas como manter Pat viva dentro dele? Viver é a única fórmula de continuar, mesmo de maneira cruel, com Pat.

Ao leitor salta-páginas um alerta: você, sabendo do que se trata o livro -como foi dito em qualquer resenha-, pode achar meio lengalengas aquelas histórias sobre balonismo e fotografia. Está louco? Não caia nessa. Cada detalhe ali, cada imagem, cada frase de desprezo da Sara Bernhardt, são fundamentais no fim do novelo.

O próprio Sr. Barnes decifra: toda história de amor é uma história de sofrimento em potencial. Então por que nós constantemente desejamos amar? “Porque o amor é lugar onde verdade e magia se encontram. Verdade como na fotografia; magia, como no balonismo”.

Sempre alguém se espatifa no chão.

“Altos voos e quedas livres” (ed.Rocco, tradução Léa Viveiros de Castro) tem apenas 127 páginas. Mas talvez não haja, no romance contemporâneo, livro mais potente. Para você, que andava meio preguiçoso(a) com a leitura, retomar o gosto

Altos voos de linguagem e inevitáveis quedas livres amorosas.

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O país do futebol virou país de matadores

Por Xico Sá
05/05/14 00:26

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Procura-se, como no velho Oeste, recompensa de R$ 5 mil, o assassino do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, morto na noite de sexta-feira, vítima de um vaso sanitário atirado nas arquibancadas do estádio do Arruda, Hellcife, Pernambuco.

Era apenas um jogo de futebol entre Santa Cruz x Paraná, pela Segundona do Brasileirão, em noite de tempestade. Logo o Santa, Santinha, o time da “poeira” (termo muito utilizado pelo ex-governador Miguel Arraes para distinguir o proletariado), o time de uma das torcidas mais passionais e fiéis do Brasil.

Gente que sabe festejar a vida mais do que ninguém, mesmo boiando no mar de garrafas pet e estatísticas desfavoráveis no país de Caça-Rato. Gente que sabe “tomar banho de canal quando a maré encher”, como na trilha da Nação Zumbi.

Infelizmente os monstros existem em qualquer universo, qualquer torcida, qualquer canto. Que desgraça.

O assombro se repete com outra morte no universo do futebol. Ainda mais na beirada de uma Copa no Brasil. Ligamos os amplificadores contra as torcidas organizadas. Não estamos errados nessa grita ou em qualquer outra microfonia histérica do gênero.

Os caras não sossegam suas mentes diabólicas. Sejam do Santa, do Sport, do Nautico, do Flamengo, do São Paulo, do Corinthians…, tenham lá que cores sob ou sobre o lado esquerdo do peito.

O inferno (coral ou de quaisquer outras cores), como diria o filósofo francês Jean-Paul Sartre, são sempre os outros.

As torcidas são umas pragas, mas amplificar a violência delas, só delas, para o mundo é reduzir o foco a uma camerazinha vagabunda de visão estreita.

Acontece é que é bem pior a parada: o Brasil se tornou um país de matadores. Mais de 50 mil mortes por ano. Do conflito do campo –o único país do mundo que teima em não fazer uma  reforma agrária decente- à mais banal das mortes na sinuca da esquina.

Pergunte a qualquer candidato à Presidência a quem interessa mexer com o assunto. Nenhum, óbvio. Reforma urbana pior ainda. Da liberação geral dos gabaritos de construção de torres nas cidades é que vem boa parte da grana de campanha.

País de matadores. No trânsito nem se fala.

A polícia, avimaria!, se for preto, pobre e favelado… É pé na porta e tiro na cara, que me desculpe o free-jazz da obviedade.

O negócio é matar. Pei-pei-pei, o pipoco da bala varando o corpo do cidadão.

Mata-se sem razão alguma.

Não que exista razão possível que justifique uma morte –seja o crime por causa do latifúndio, vingança, tráfico, amor ou ganância de varejo.

Chegamos lá. No auge da banalidade do mal, como falava Hannah Arendt sobre a Europa das guerras -sim, os europeus, senhora Fifa, são originalmente bons nessa selvageria.

Viramos um país de matadores.

Matamos até no futebol, veja bem. Isso é o que espanta – e olhe que é no futebol onde ainda menos se mata no Brasil.

Assombra gerações como a minha porque era o nosso lugar especial da brincadeira, nosso território livre, quase à prova de assassinato, o lugar mais protegido –e não só simbolicamente-, aquela coisa de chegar e sair juntos do estádio com os “adversários”.

A grande diferença era só quem iria pagar o engradado de cerveja por causa do resultado da peleja. E todo mundo voltava para casa com a camisa do seu time sem furos de bala.

Está na hora do Brasil quebrar o pau no debate, na eleição, na Copa do Mundo, mas respeitar pelo menos uma lei: o quinto mandamento. Não matarás, porra!, acredite você ou não em Deus.

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Ao lado de um grande homem, Adriane Galisteu

Por Xico Sá
01/05/14 17:48

Playboy-Adriana-Galisteu

Nessa overdose de lembrança do Senna, pelos 20 anos da mui precoce morte, rendo uma breve homenagem a Adriane Galisteu, que esteve com ele por 405 dias, como diz no título do livro que publicou –com o auxílio da pena estilosíssima de Nirlando Beirão- sobre o romance.

Gosto de fazer um exercício em grupo, terapia ocupacional de botequim: dizer o nome de uma mulher, famosa ou não, e ver que imagem ela sugere de bate-pronto, o que nos vem à cabeça na faísca testosterônica do momento.

No caso da musa em questão, vale, não apenas para este mal-diagramado cronista, a mitologia de Playboy. Galisteu em cerimônia grega de autodepilação, com um aparelhinho qualquer de barbear, como no mais lindo dos improvisos caseiros pré-cera negra espanhola.

Ideia do fotógrafo J. R. Duran.  Só pudera.

Olhai por nós, viejo e genial Duran, que recorremos a vós.

Pela lente do amor…  Vemos com os olhos do Duran, qual um Bertrand, do filme “O homem que amava as mulheres”.

Galisteu, um dos maiores cachês desde a primeira edição da Playboy brasileira (1975),  resistiu no primeiro dia à proposta do fotógrafo. Suspense. Leia aqui o Ricardo Setti, editor da revista responsável pelo acerto colossal, contando os bastidores da peleja.

O certo é que a raspadinha foi um sucesso. Fotos tesudas e classudas ao mesmo tempo. Nesse caso, viva o prestobarba.

Galisteu juntava-se naquele momento, belas contradições brasileiras, à atriz Claudia Ohana, em matéria de ecologia pubiana. A primeira pelo excesso, em 1985, tempo em que pelo ainda tinha acento e tudo.

A foto de Galisteu é um clássico erótico da nossa educação sentimental. Não podemos, porém, esquecer de lembrar a grandeza da galega. Vai muito além disso. É uma excelente apresentadora mal-aproveitada pela tv brasileira. Não tem apenas carisma, tem o afeto que se encerra a cada gesto e a câmera gosta e se delicia a cada close, a cada lance… Aprecio deveras.

Nas curvas do teu corpo, capotei meu coração, como estava escrito no para-choque do caminhão do meu velho. Capotagem platônica, evidentemente; homérica fosse, quem dera!

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A volta da fêmea-Nostradamus

Por Xico Sá
30/04/14 00:10

One-MaleNostra

Da costela do homem frouxo, nasceu a fêmea-Nostradamus. A desconfiada de véspera. Óbvio que ela é resultado de muitas promessas masculinas não-cumpridas. Ela cansou de mascar o jiló do desprezo.

Algumas delas, porém, exageram no modo apocalíptico de ver uma história. Como R., personagem desta crônica baseada em um caso real:

Sei, está bom demais para ser verdade. Sei, fazia tempo que alguém não se devotava tanto. Sim, posso imaginar o que esteja pensando: “Esse cara vai me levar às alturas e me deixar sozinha no despenhadeiro”.

“Não, não vou cair mais nessa, sei o tamanho de tombos do gênero,” você prossegue nas suas reflexões, nervosa, nervosíssima, daqui a uma hora se encontrarão mais uma vez.

Ele a convidou para jantar fora. Quanto tempo alguém não a tratava com tanta distinção.

Você se sente valorizada, mas está com medo, pode ser apenas mais um truque do homem-bouquet, o cara que arrota conhecimento de vinhos finos. Que que eu faço, Diós mio?, você está perturbada diante do dom Juan.

“Ele só quer sexo”, você pensa, como se até o sexo fosse uma coisa ruim. “Vai ficar comigo e na manhã seguinte esse telefone emudecerá de vez, nem SMS…”

Você projeta o futuro no pior cenário possível. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros homens.

Você consulta a amiga, a amiga mais cética, porque você está querendo ouvir algo desencorajador.

A amiga recomenda muito pé atrás. A amiga já levou muitos tombos e, de alguma forma, isso é humano, demasiadamente humano, sente uma certa ponta de inveja da sua história.

Falta meia hora para o novo encontro. Você confere o cabelo e acha péssimo. Você está desesperada como uma daqueles mulheres dos filmes de Pedro Almodóvar. “Por que esse cara vem logo para o meu lado”?”, você beira a paranoia delirante.

O carro dele pára na frente da sua casa. Há tempos você não ouvia aquela buzina que parece tocar uma música romântica do Barry White. A buzina chama para a vida lá fora.

“Não pode ser verdade”, você insiste na desconfiança enquanto pisa na calçada da rua. “O que eu fiz por merecer?”

Entradas, drinques, o jantar está ótimo, a conversa incrível. “Só pode ser truque”, você aciona de novo todos os botões do luminoso painel da desconfiança feminina. “Não fico com ele hoje de jeito nenhum, nem me venha com essa conversinha mole”.

Com licença, vai ao banheiro. Não resiste e resolve consultar de novo a amiga, pelo celular. Está em pânico. A amiga recomenda mais pé atrás ainda. Você acha o cabelo péssimo.

Você volta com aquela cara de cautela e dúvidas e é recebida com um sorriso de quem já sentia a sua falta.

“Demorei muito”, você diz. Sim, você demorou muito, só de telefonema foram dez minutos. Mas ele, todo afável: “Imagina, demorou quase nada”.

Petit gateau, café e a conta.

No carro, você nota, como aprendeu com aquele livro “O corpo fala”, que o carinho dele é cada vez físico e o desejo é cada vez mais quente. Mas você se esquiva, afinal de contas você não pode ser vítima desse “truqueiro” que só “pensa naquilo”.

E não era a primeira ou a segunda vez que vocês se encontravam. O flerte e a devoção dele já fizera aniversário de mês.

Moral da história: desconfiada e projetando já um eventual abandono ou pé-na-bunda, você, apocalíptica como uma afilhada de Nostradamus, não pagou para ver, você não arriscou, você não se permitiu, deixou de viver, como se na vida pudéssemos ter a certeza prévia das coisas, mesmo em se tratando da obviedade do mundo dos homens.

P.S. A culpa seguramente não foi do cabelo, que ele achou ótimo, mesmo sendo um autêntico representante da raça masculina, que prefere ver o todo, o conjunto da obra.

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O macho e a falta de jeito para acabar a relação

Por Xico Sá
24/04/14 17:44

altafidel03

Seja um casamento seja um rolinho primavera. Homem não tem a manha.

Por que o homem não sabe acabar direito uma história? Fora Esopo, que ainda nos deixa uma moralzinha de presente, nenhum macho sabe concluir uma narrativa -digo nenhum mais deve ter uns dois ou três lá na minha terra. Só no Crato!

A modinha agora é terminar por mensagem de texto. Indolor. Modinha de macho, óbvio. O medo do goleiro diante do choro. Mal sabem que as lágrimas das raparigas são coquetéis sem alcool, como diz o amigo ultramarinho Miguel Esteves Cardoso no seu livro “O Amor é Fodido” (ed. Assírio & Alvim).

A modinha é até acabar pelo Instagram, como me alerta aqui esse colosso de moça chamado Nick Lanis. Repare na falta de vergonha desse menino, leia isso.

Juntei aqui umas 30 mensagens de leitoras sugerindo o tema. No que me manifesto, com fragmentos de textos que já escrevi sobre o assunto e algum frescor de reciclagem. Urge.

Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim,  o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o escandaloso ponto poroso da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente, jornal da morte, SANGUE, SANGUE, SANGUE, como cantava o Roberto Silva na música regravada lindamente pela Nação Zumbi.

Sem reticênciasm, faz favor, seu cronista.

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, as mulheres sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no continental sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem aqui nem Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever na neve o “the end” sem pelo menos uma discussão que amplie o aquecimento do planeta.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais sentava praça.

O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim, amém.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro mancebo que aparece pela frente.

Faça como o cara aí do filme “Alta Fidelidade” (foto), sofra dignamente, mas também não precisa exagerar. Isso passa.

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Viva a mulher que come sem culpa

Por Xico Sá
21/04/14 23:14

comilanca

Sem essa de culpa pela comilança, meninas. Páscoa é páscoa.

Como diz meu amigo Marco Ferreri, coma, moça, coma!

Ferreri fez um filmaço chamado, na versão brasileira, de “A Comilança”(foto). É um monstro. Vejam também dele, urgentemente, “Crônica de um amor louco”, baseado na obra do velho Bukowski.

Este mal-diagramado  que vos fala, por exemplo, comeu duas páscoas inteiras: uma católica, a de sempre; outra de um novo amor judaico, a cosmopolita camponesa polonesa das Perdizes.

Haja bacalhau, vinho, guefilte fish (Que bolinho divino!), vinho, e nada que aquele restinho de caldo com bolinhas de matzá (ai meu Complexo de Portnoy), vinho de novo, não cure o sujeito no dia seguinte.

Sustança para um cristão novo do Cariri com Oliveira e Carneiro entre os tantos sobrenomes possíveis.

Seja ateu, agnóstico, evangélico, do candomblé ou de qualquer ramo religioso, amigo(a), largue dessa culpa pela comilança. Vale a celebração bonita. Nem carece de data.

Como é bonito uma mulher que come direito. Quem vive só de folha é camaleão, minha nega, e cameleão do mato mesmo, porque até o David Bowie manda ver nas panquecas.

Olha o pirão, esmorecida, como alertava meu poeta-mor Ascenso Ferreira, de Palmares, óbvio, Pernambuco.

Cadê o chambaril nessa mesa, moça, como o que comi dia desses feito especialmente pela chefe Ana Luiza Trajano.

Tudo bem, era para a gravação do programa “Fominha” (GNT), que faz o belo favor de juntar a comida típica das sedes da Copa e os costumes futebolísticos.  Mas quem disse que não me fartei para valer –me chamou não tem essa de encenação, como até cenário de isopor, como fazia Didi Mocó.

Não foi o caso. O programa é para valer. E essa Ana Luiza, Nossa Senhora de Babette, que mulher com o sentimento do mundo: além de fazer, também come bonito e gostoso -danada!

Haja sustança naquele tutano do osso-buco. Lambuzamento bonito da existência. Em sonho, lambi aquelas duas jabuticabinhas dos zolhim dela como celestial sobremesa, essa Ana Luiza…

Comida de paudurescência, como bem definiu meu amigo Lírio Ferreira, El Lirio Boy, o mais kubrickiano dos cineastas fora Kubrick do nordwest desse mundo.

Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança.

Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.

Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.

Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!

Vixeeeeee! Que beleza a que a coisa toda se resume: comer, beber, viver.

E quando a Velha da Foice chegar, nunca seremos nós mesmos que a recebemos, já somos outros, como bem me avisou o grande Epicuro.

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Farra com 'Gabo' na Macondo dos botecos

Por Xico Sá
17/04/14 22:02

gabo

Deixa eu me amostrar um pouco. Repare que momento especial. Nunca estive tão bem na foto. Com o Gabo* no bar Jabuti, ali no Hipódromo, Recife, nas cercanias das Repúblicas Independentes do Arruda.

Jabuti, senhores, é uma espécie de Macondo dos botecos. Lá o realismo é sempre mágico.

E dá-lhe Bela celebração da existência, em uma festa do Inox, bloco dos coroas e das belas amigas afilhadas de Balzac.

Grande dia, meu caro Gabo.

O motivo deste post-homenagem, porém, não é apenas o amostramento e orgulho.

Venho por meio desta dizer que meu Gabriel García Márquez preferido é o de “Crônica de uma morte anunciada”.

Isso não quer dizer que a leitura de “Cem anos de solidão “ não tenha sido um dos meus melhores assombros e comoções com a literatura.

Li o Crônica em um momento muito rico de descobertas, matuto do Cariri desbravando a capital pernambucana –eu vi o mundo e ele começava no Recife, meu caro Cícero Dias.

Foi uma leitura em um grupo de estudos. Como é bacana essa coisa de grupo de estudos. Saudade desses coletivos.

Lembro que Fred Zero Quatro, já com o seu Mundo Livre S/A , ficou tão chapado com o livro que fez uma letra na hora. Virou um clássico underground dos anos 80. Pelo menos na nossa turma, não é, caríssimo Renato L.?

Em um refrão furioso e com acento punk, Zero Quatro  anunciava a morte sangrenta, a facadas, do jovem Santiago Nasar, crime cometido pelos irmãos de Angela Vicario. Santiago havia “desonrado” a moça.

Alguém teria gravado essa relíquia?

E não pense que estou estragando sua futura leitura, meu jovem. Desde as primeiras linhas a gente fica sabendo a desgraça que irá acontecer. Eis o charme da narrativa.

Recomendo deveras. Para quem gosta de ler e ainda mais para quem escreve ou pretende ser escritor. É uma grande lição.

E você, amigo(a), qual seu Gabo de estimação?

*O Gabo da foto, em foto de Poly Camarotti, é apenas um  sósia, mais jovem, do escritor colombiano. Renomado boêmio da zona norte do Recife, Ruy Cabeleireiro é uma figuraça e ainda não leu seu  irmão gêmeo.

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