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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

O direito à sesta -crônica da Barcelona agreste

Por xicosa
03/05/12 02:44

Pedra da fé, símbolo da Barcelona potiguar

Atravesso agora Barcelona como um velho e invisível Avôhai cruza a soleira de botas longas, barbas longas…

Um sol para cada um dos 3.957 viventes. Depois do almoço, a sesta, digo, la siesta, é obrigatória. Ainda existem lugares saudáveis no Brasil que mantêm o melhor dos ibéricos costumes.

Estou na Barcelona potiguar, agreste do Rio Grande do Norte, uma das sete Barcelonas do mundo. Moças lindas que só perdem para Maria, uma ex que ora flana nas ramblas originais.

Moças lindas de zolhinhos semicerrados nas redes sonhando príncipes e modernidades.

A sesta deveria ser obrigatória por lei, constar na tábua constitucional, ser recomendada pelo Ministério da Saúde.

Como é bom tirar uma sesta, abaixar a cortina e dar um risinho safado para o capital que se esborracha lá fora; como é bom, mesmo para um falido, ajeitar os travesseiros e cerrar os olhos para sonhos pequenos.

Por uma sesta à sombra da toda-poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, perto do meu esconderijo babilônico.

Uma sesta com as janelas abertas na rua da Aurora, a rua mais linda do mundo, de onde avista-se Beberibes, Capibaribes, Áfricas, Tongas e Polinésias…

A Barcelona potiguar me lembrou como é bom tirar uma sesta com uma rapariga enroscada aos pés, sono leve de conchinha, colherzinha torta de Uri Geller  e quetais.

Mas os dois precisam estar no espírito da sesta. Uma alma em desassosego acaba com qualquer sesta, sesta-de-favor não vale, sesta, siesta, carece de savoir faire… Um gato ali ronronando pelas nossas costelas, ave felino.

Numa sesta não vale sonhos épicos, apenas sonhos pequenos,daqueles que a gente realiza num piscar de olhos. Sonhos são filmes grátis, que vemos sem o barulho ridículo de pipoca ou de gente.

Os sonhos são feitos pelos cineastas mortos, jeito de ocupar-lhes no inferno ou purgatório. Coisa da aliança espúria de Deus e do Diabo.

Sesta: modo de usar. Quanto dura uma sesta? O ideal é que não se faça o uso do despertador, que não seja um curta-metragem, que seja um filme que se durma nele inteiro, que se beije o olho de quem dormir primeiro.

Oh Deus, guarde essa costela colada à minha e que esse suorzinho seja o superbonder possível, a resina mais grudenta, que nos livre do fim, amém. “Mas o amor acaba, meu filho”, sopra um anjo pousado no ombro de Paulo Mendes Campos.

Atravesso Barcelona, onde Chico Doido de Caicó, o maior poeta erótico, pornográfico ou  fescenino brasileiro -tudo é a mesma coisa, tanto faz mesmo!- sentou praça e é lenda mais viva do que  donzela no viço.

Chico Doido amava uma safada sesta. Ele defendia que Jesus Cristo deveria ter nascido em plagas dos Seridós e Caicós.

E qual seria a utilidade do barbudo da cruz neste mundo aqui distante das judeias, belens & jerusaléns?

Jesus nos serviria só para tanger as moscas e atrair as moças da capital.

Gênio dos gênios, esse Chico que de doido não tinha nada. Vocês precisam pesquisar e conhecer urgentemente.

Aqui me despeço por hoje. Barcelona cochila e eu vou em busca de uma cerveja antes do meu tardio almoço caprino. Sim, pra ficar pensando melhor. Como disse o outro Chico, cientista-mor da sonoridade brasuca.

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Por que o brasileiro ama tanto o chefe?

Por xicosa
02/05/12 11:58

Lá se foi o feriadão e é hora de falar mal do chefe, este esporte nacional de nove entre cada 10 brasileiros.

Por isso fiquei bege, como se dizia na prosódia GLS, com o resultado da pesquisa publicada ontem na Folha.

Na hora de falar sério sobre o assunto, 88% dos empregados esquecem a língua ferina e dizem “eu te amo” aos superiores da firma.

Tratei do assunto em crônica para a versão impressa do jornal. Continuo encanado com o assunto e queria dividir o meu susto com o bravo e resistente leitorado deste blog de costumes, comportamento e real-politik.

Você também ama a sua chefia?

Pergunto mais:

O amor na firma é lindo, mas amar o próprio chefe, no grau revelado pela pesquisa, não seria se declarar ao carrasco com a corda no pescoço?

Tudo bem, sempre tive desejo pelas minhas superioras mais poderosas. Só a elas, nunca às chefias masculinas, obedeci com todos os sins e améns. Pura perversão. Talvez vontade de inverter o mando no campo amoroso.

O fundamental Karl Marx (1818 — 1883) talvez explique em algum compêndio sobre luta de classes –lembre-se que uma das suas empregadas domésticas, a jovem Helen, o amava e com o barbudo teve um filho.

O que explicaria tanto amor pelos superiores? Mais um traço da cordialidade? Submissão atávica? Canalhice trabalhística: diz que ama, por alguma pilantragem, mas no fundo detesta? Talvez um pouco disso tudo.

Uma canalhice que o amado chefe retribui na hora de demitir os seus fãs. “Você é ótimo, excelente profissional, um exemplo, mas, infelizmente, vai para a rua da amargura”, diria o perverso, olhando para a fotinha do teu crachá, imagem de quando ainda era um funcionário jovem e saudável.

Nada mais revelador do estrago que nos faz o emprego do que o 2×2 dos crachás. O trabalho danifica o homem, como diz o mantra de boteco.

Eita, me lembrei agora de uma bela fábula de Esopo. Um cordeirinho reclamando da revolta de um porco (vide ilustração aí acima) capturado pela chefia do pastoreio.

Enfim, chega de me repetir aqui nesta croniqueta reciclada. Só queria saber de vocês o que explicaria esse amor todo pelo(a) fofo(a) do(a) chefinho(a).

Quem explica?

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O regresso da pessoa amada

Por xicosa
30/04/12 17:54

E não é que deu certo!

Algum leitor mais antigo deste cronista inviável deve lembrar do apelo do Amaro, um homem com o coração partido –havia sido trocado por um canalha.

A mulher voltou para ele, depois de quatro meses. Só agora, porém, ao encontrá-lo ontem no box do Pelado, no mercado de Casa Amarela, no Recife, Amaro  contou o desfecho.

O simpático proprietário do estabelecimento fazia as honras com o seu impagável repertório. Cantávamos justamente este vinil aí acima, do genial piauiense Roberto Muller

Está feliz o homem. Queria que você visse. E qual foi o diabo do meu conselho? Reproduzo, a pedido do próprio. “É serviço utilidade pública”, diz.

Eis o que havia escrito para o nosso amigo:`

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma filosofia de consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou o cronista.

Com Amaro, chamemos assim o nosso ensaio de Bentinho, não foi diferente.

Quis o destino parafusar-lhe objetos pontiagudos à testa.

Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador de sua própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Vou-me embora pra Tegucigalpa?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, envaidece-se o próprio.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

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Quase esqueci o dia da Sogra. Imperdoável

Por xicosa
28/04/12 18:19

Sorte teve Adão, que não teve sogra nem caminhão.

Desculpe ai, mas justo este blog que tem obrigação moral com as efemérides e toda uma cultura de almanaque ia esquecendo o dia mais sagrado. O Dela. A Sogra. É hoje.

Se não fosse a Helen, linda leitora, adeus, não iria prestar a homenagem de sempre às mães das minhas meninas.

Folclorizada no último, espécie de bumba-meu-boi dos casamentos, a sogra sempre foi motivo de chacota e demonização nos lares doces lares.

Óbvio que há um certo e maligno inseticida do exagero pulverizado sobre a mãe das nossas mulheres, mas, convenhamos, as referidas senhoras estão longe de obter o alvará de soltura e de inocência neste debate.

O problema é sério e universalíssimo. Não há a velha divisão antropológica -entre civilização e barbárie- em matéria de sogra. A mãe da cria das nossas costelas age da mesma forma em qualquer parte do planeta.

Seja na Suécia, no Crato ou no reino dos esquimós e avatoscos.

Viram só a iniciativa da Igreja Católica na Itália? Começou a tentar reeducá-las, em nome da manutenção dos casamentos e da paz nos lares doces lares. Incluíu no pacote de moral cristã também os sogros. Eles perturbam menos, porém também carecem de uns bons pitos e cascudos.

O curso para as queridas sogras começou na cidade de Udine, no norte italiano. A tendência é que o Vaticano o estenda pelo mundo inteiro. O projeto, com ajuda de altos e gabaritados psicólogos, se chama “Famílias em diálogo, como ser pais eficientes com filhos que vivem a experiência de casal”.

Em alguns rincões daquele lindo país macarrônico, os sogros são responsáveis por até 50% do desmantelo conjugal dos pombinhos. Os outros 50% devem ficar por conta do tédio propriamente dito e inevitável dos casais, claro, a falta de sexo, a infidelidade, o futebol retranqueiro etc etc.

Nunca cheguei a ter uma dona Olímpia como sogra, mas, amigo, não tenho grandes queixas de nenhuma delas, sempre me alimentaram com bons caldos e sopas e até riram generosamente das minhas pilhérias sem graça nos almoços dominicais. No mínimo, havia um bom tratamento a um poeta maluco que amava suas filhas –com algum risco que isso pudesse implicar, claro.

Dona Olímpia, amigo(a) leitor(a) da Espresso, foi a melhor sogra do mundo, a perfeita, aquela que descobriu a forma de fazer filha e genro felizes. Felizes na medida em que isso é possível em um casório, formalidade que na maioria das vezes destrói os ensaios de grandes amores.

A distinta senhora, reza a lenda lítero-boêmia, existiu de fato, é a personagem maravilhosa do “Livro de uma Sogra”( editora Casa da Palavra, RJ) do escriba Aluísio de Azevedo, aquele mesmo autor de “O Mulato” e “O Cortiço”, tão obrigatórios nas escolas e nos vestibulares.

Com a sua sogra exemplar, no entanto, o maranhense é divertidíssimo.

Livraço. Olímpia, ainda no remoto 1895, sabe tanto das coisas que sempre trata de separar, com pequenas viagens e obrigações nada chatas, a sua filha e o consorte. Tudo para que nunca caiam na rotina acachapante.

Quando noivos, reparem que gênia, ajuda a criar histórias que o deixem no suspense amoroso, apenas com boas pontinhas de ciúmes.

Olímpia, que já havia passado por um casamento desastroso, fastio danado, cuida até em reduzir a solenidade da lua de mel, orientando os recém-casados a se embriagarem sem a obrigação do grande coito na noite inaugural.

A consumação do amor,segundo ela, não poderia ser algo burocrático e abrupto, viria num crescendo de beijos e ternuras até uma explosão naturalíssima. Gênia. Um belo exemplo!

“Sorte teve Adão, que não teve sogra nem caminhão’?

Não concordo não. Pela primeira vez na vida desaprovo uma filosofia de parachoque -escolástica taõ importante na vida quanto a cátedra, seja UFPE, a melhor do Brasil,  seja a USP.

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A capanga de um homem de qualidade

Por xicosa
28/04/12 12:38

Voltemos a discorrer, no perigo da hora, sobre o crepúsculo do macho-jurubeba. Urge.

Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.

Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.

Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.

Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico.

Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.

Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.

Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.

Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.

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O malandro que pôs a mulher no seguro

Por xicosa
26/04/12 14:53

E lá se foi o Dicró, 66,o cara que nos ensinou que o negócio é rimar.

Só o free-style do samba de malandragem salva. Fez herdeiros no rap, como Max B.O., entre outros craques da rima rara e riquíssima.

A melhor do Dicró, no modesto impressionismo deste blog, é: “Botei minha nega no seguro”. Ouça aqui.

Dicró inventou o seguro anti-chifre –repare na letra da música e na desgraça do post anterior.

“Me diga qual é o marido que não se preocupa com sua
mullher/ Vagabundo é bicho mal você sabe como é/ Ricardão aí é mato por isso me preveni/ Minha nega não me engana mas se vacilar… o seguro taí”.

Um suburbano coração carioca é sempre mais prevenido. Porque o chifre, amigo, assim como a velha da foice, não perdoa, ceifa a alegria de um homem, por mais que a gente saiba que se trata de inevitável sina.

Sempre ouvimos falar em modelos que põem a bunda no seguro, como a gaúcha Melanie Fronckowiack, lembra dela, amigo tarado de plantão? É a fraca! Veja que romântica aqui.

Aquela que ganhou em Paris, no ano passado, o prêmio do melhor derrière da terra.

Ai se eu pudesse e meu dinheiro desse, amigo Dicró, pagaria na buena esta apólice! Falar nisso, com que você rimaria o sobrenome dela, meu caro tenor do morro?

Esquece,camarada, o motivo destas breves linhas era tão-somente deixar um abraço de despedida. Vai lá, o Moreira da Silva e o Bezerra idem te esperam.

E não me vem repetir aquele mantra do velório carioca, coisa de um certo filósofo do Meiér: “O ruim não é morrer. O pior é não poder espantar as moscas”.

Fica com Deus, malaco!

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Feliz dia dos cornos para todos nós

Por xicosa
25/04/12 15:55

São Marcos,o santo que deu origem à data

Hoje é dia dos Cornos. Por mais que este blog/almanaque folclorize e tenha uma queda por datas exóticas, a celebração é séria, com farta tradição católica desde a idade Média.

O festejo dos maridos traídos sempre foi comemorado no dia de São Marcos. Oficialmente desde meados do século XVIII. Principalmente em plagas portuguesas e espanholas.

Aí começou essa liga simbólica entre o chifre e a traição.

A todo 25 de abril, em procissão, os fiéis levavam ao altar do santo do dia uma coroa com um corno de animal na ponta. Em missa, os vigários coroavam os homens casados. Que bênção!

O costume católico, óbvio, virou logo uma fuleragem profana e hoje é quase um subgênero dentro da nossa música romântica. Meu amigo Reginaldo Rossi que o diga.

Chifre também é cultura.

Em homenagem a todos nós, que um dia fomos ou serenos cornos, vos digo: só um chifre humaniza um macho, repito aqui o velho mantra deste cronista vagabundo.

Vale também a filosofia de parachoque: um homem sem chifres é um animal desprotegido.

Só um chifre humaniza a macheza.

Um chifre daqueles bem parafusados pelo destino na fronte do artista. Nem que seja apenas como arma de vingança, como diz a canção do gênio potiguar Carlos Alexandre.

Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com “Stephanie Says”, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça.

Outra boa canção para o dia que celebramos: Tom Waits com “This One’s From The Heart”, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola, trilha sonora permanente deste blog.

A seguir, a fita cassete o “Fino do Corno” ou “As canções que você tocou para mim”. Ei-las:

-“Les Amours Perdues”, do cafa Serge Gainsbourg, na vitrola, pode ser?

– “Por que me arrasto aos teus pés”,de Roberto e Eramos, sofre miserável!

– “No toca fita do meu carro”, do Bartô Galeno, arrocha!

– “Atrás da porta”, do xará Francisco, “só pra mostrar que ainda sou tua”.

– “Negue”, do Adelino Moreira, mas com o drama que só a Maria Bethânia sabe injetar na parada. “Que eu mostro a boca molhada,ainda marcada…”

– Lupicínio entra com umas dez no cassete.  haja dor-de-cotovelo. Mas fiquemos com “Nervos de aço”.

E chega. Como diz aquele programa da Igreja Universal: pare de sofrer. Hoje é dia de comemorar.

Qual a sua música de corno preferida?

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Um caso de amor sob encomenda

Por xicosa
24/04/12 15:37

Tio Nelson escrevendo conselhos sentimentais

Nos anos 80, no Recife, inaugurei um serviço de cartas e poemas de amor sob encomenda que apelidei de “Miss Corações Solitários”, como no livraço do Nathanael West.

A inspiração, porém, era támbém a Mirna, alterego de Nelson Rodrigues que respondia a leitoras desesperadas nos jornais cariocas.

Mais lascado financeiramente do que maxixe em cruz, apliquei o marketing do miserê e da necessidade. A estratégia foi sucesso. A pensão da rua das Ninfas viveu dias de glória.

Depois de um anúncio nos classificados do “Diário de Pernambuco”, eu não dava mais conta dos pedidos e passei a terceirizar sonetos e acrósticos, tarefa fácil na terra de Manuel Bandeira, onde existem quatro poetas por cada metro quadrado.

Com o meu balcão de lirismo, ajudei a começar romances, reatar namoros, dar esperanças, iludir “boyzinhas”, parabenizar amadas, encorajar amantes, suspirar viúvos, incendiar mancebos e reacender o fogo de lindas afilhadas de Balzac.

A felicidade não se compra, como já nos avisou o cinema, mas que amealhei algumas patacas, amealhei. Recife virou uma festa, melhor do que a Paris de Hemingway.

O motivo dessa crônica, no entanto, não é o de ficar apenas mascando o chiclete Ploc da nostalgia. Nada disso. O motivo é de arrepiar. E se chama Marina Cavalcante.

Pernambucana de Olinda, hoje habitante do bairro de São Matheus, na zona leste de SP, tinha 20 anos quando me encomendou um poema para o namorado. Agora, com “mais de 40”, viu este mal-assombro que vos escreve em um programa de tevê.

Ao me localizar, contou a sua história:  “Ele, Roberto, achava que eu o traía, por isso encomendei o poema sobre a minha fidelidade, pra fazer ele se arrepender e chorar (risos), lembra?” ela pergunta.

Claro que não recordo. Eram tantos casos, menina, como testemunhou o poeta e amigo Jaci Bezerra, com quem dividia a mesma mesa de trabalho nas Edições Pirata, na rua da Hora, bairro do Espinheiro.

E aí, conta logo, Marina: “Depois do poema, ele, Roberto, acreditou em mim, vivemos um lindo amor por cinco anos, o amor da minha vida, por isso a minha felicidade de achar o sr. na televisão, pra agradecer, tanto tempo depois”.

Homem que é homem chora bonito, chora mais alto. Não me contive com o episódio. Marina casou com outro aqui em São Paulo. Agora está separada, mas diz que não esquece o cara que motivou aquele velho poema.

Deu até vontade de retomar as encomendas, as costuras sentimentais para fora. Bom saber que a poesia comove até um macho-jurubeba à moda antiga, do tipo que ainda manda flores, caso do amor de Marina.

Por estas e por outras é que escrevo. Não importa o gênero, o meio, o fim.

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Angústia de goleiro ou Carta aberta a Júlio César

Por xicosa
23/04/12 15:03

Cena de "O medo do goleiro diante do pênalti", by Wim Wenders

“Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol…”

É, amigo Júlio César, sempre que vejo a imagem do arqueiro indo buscar a pelota no fundo das redes, lembro dessa letra do sumido Belchior.

Contigo ontem, naquele Corinthians 2×3 Ponte Preta, não foi diferente.

Embora o meu corvo Edgar, a ave mais agourenta do futebol mundial, estivesse secando o teu time, senti muito pela tua angústia, tua cara de quem não acreditava no ocorrido.

Ainda no chão, miraste a bola no barbante do Pacaembu, incrédulo. Acontece, amigo, com os maiores goalkeepers.

Por causa desse verso do bigodudo cantante, tenho uma mania de ficar prestando atenção mais no goleiro do que no artilheiro -este desalmado que fuzila, sem dó nem piedade, a cidadela inimiga.

Repare no desamparo do goleiro quando a bola cruza a cal e vai mansinha se enxugar na toalha que ele botou lá dentro da meta.

De Júlio Cesar, da Seleção Brasileira, a Jagunço, defensor do Íbis, a dor é a angústia é a mesma.

Até o Lessa, um goleiro, uma garantia, acusava o golpe debaixo das traves do Bahia.

Não foi à toa que o Albert Camus, o escritor existencialista , o francês autor de “A peste”, entre outros, também escolheu a sina de ficar no gol durante a militância esportiva.

É uma desgraça. Debaixo daqueles malditos três paus todo camisa 1 é um infeliz Barbosa na Copa de 1950.

Não há quem passe imune, não há quem escape e saia ileso do linchamento público, como no caso do menino corintiano.

Antigamente era mais triste ainda. Todos os goleiros se vestiam de preto, como viúvas de véspera predestinadas à tragédia.

“Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol/ Quando você entrou em mim como um Sol no quintal/Aí um analista amigo meu…”

Não há salvação para dor de amor ou para goleiro. Sim, reza a lenda, entre outras velharias repetidas, que a desgraça é tamanha ao ponto de não nascer grama onde o camisa 1 pisa.

Bom mesmo, amigo, além de não levar gols ou bola nas costas da sua amada, é, como diz o mesmo velho compositor cearense, na mesmíssima  divina comédia humana, ficar colado à pele dela noite e dia.

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10 sóbrios motivos para ver `Diário de um jornalista bêbado´

Por xicosa
22/04/12 03:22

Aprecio a lenda gringa Hunther S.Thompson (1937-2005) até a tampa da última garrafa de rum do Caribe.

É o cara do chamado jornalismo gonzo, gênero sem moderação, feito à custa de uma consciência adulterada –por álcool inclusive- e muito faro para a grande narrativa em primeira pessoa.

Em suma: tudo que o caretérrimo periodismo da taba tupi,que perdeu o tino de contar história, carece nesse momento para atrair o leitor.

Talvez por causa desse gosto exagerado pela lenda Thompson, tenho agora um olhar sóbrio, chato e ranzinza sobre o filme “The rum diary”, em cartaz  nos cinemas como “Diário de um jornalista bêbado”.

O filme do diretor Bruce Robinson é certinho demais para a gonzolândia mental de H.S.T. Veja trailer aqui. É paisagem caribenha e chistes de quem tomou apenas três doses. Ninguém beija o chão nem os pés das mulheres.

Mesmo considerando que se trata de uma ficção do velho repórter, cujo alterego é um jovem freelancer nômade batizado como Paul Kemp, a película vacila em não se parecer com o seu grande personagem real.

Mas meus jovens leitores, por favor, esqueçam tudo que escrevi, como diria um sóbrio ex-presidente que fumava mas não tragava, e vejam o filme.

Deixo-lhes aí, amigos, boas razões otimistas que valem o ingresso, noves fora o meu desânimo de abstêmio forçado até a essa hora:

1) Depois do filme, você vai querer ler o livro. É sensacional. Tem uma edição de banca, da L&PM, com tradução que faria Thompson pagar todas para o Daniel Pellizari, o cara responsável pelo feito.

2) Johnny Depp,na pele do homem-gonzo, está aquela coisa competente que fazem vocês, meninas, soltarem gritinhos.

3) Gostosa e linda mesmo, porém, é a galeguinha Amber Heard, mulher de um jornalista chato, mas doida pelo bonitón da fita.

4) A melhor das razões: você pode sair do cinema, jovem calouro, e desistir de ser jornalista. Já pensou que vantagem?

5) A pior: você pode sair louco para encher a cara e contar histórias malucas. Aí não terá mais cura.

6) Saiba, no entanto, que Hunther S.Thompson era um bêbado, mas nem todo bêbado é Hunther S.Thompson.

7) Seja qual for a escolha, o amigo vai virar um leitor da obra gonza. Bela vantagem.

8) Se você já estiver no ramo e for aventureiro, corre o risco de ser demitido de tanto encher o saco do chefe para emplacar uma matéria na linha do gonzo, o que é praticamente impossível.

9) Você pode ver depois todos os filmes e livros da vida do cara e querer imitá-lo radicalmente. Cuidado. Thompson, viciado em armas de fogo, suicidou-se com um tiro no coco.

10) Os idiotas da objetividade sempre vencem e têm melhores salários. É outra grande lição. Você desiste?

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