A Copa no país do MacunaEmo
15/05/12 14:03A fila do café com pão de queijo não anda e lá se ouve o coro: quero ver é na Copa.
A coxinha não tem galinha? Quero ver é na Copa.
O bolinho de bacalhau é só farinha? Quero ver é na Copa.
SP faz duas décadas que travou geral e o taxista brada: quero ver é na Copa.
O jovem MacunaEmo -preguiçoso como Macunaíma e chorão como um roqueiro emo- não se manifesta? Quero ver é na Copa.
O garçom não vem: quero ver é na Copa.
O rapaz do Nordeste não chega para resolver a bronca da toalha de praia: quero ver é na Copa.
Faltou rúcula pra madame fresca? Quero ver é na Copa.
A sopa esfriou? Quero ver é na Copa.
Vamos todos para um puxadinho em Cumbica: quero ver é durante a Copa.
O avião não decola, a bagunça prossegue, o executivo afrouxa a gravata, Congonhas vem abaixo: quero ver durante a Copa.
O ingresso do show não rola, o adolescente histérico pega a sua guitarra heavy metal e repete o solo: quero ver durante a Copa.
O trem rumo à zona leste não cabe mais nem pensamento, o corintiano pensa no Itaquerão, e manda o eco na plataforma da Sé: quero ver é na Copa.
A moça chora de TPM na estação Barra Funda: quero ver é na Copa.
O amor em SP, caro Criolo, é como o metrô na avenida Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação. Quero ver é na Copa.
O churrasquinho de gato da Augusta sobe de preço, escuto a queixa ao longe: quero ver é na Copa.
No mesmo distrito, a profissional do sexo majora, merecidamente, o seu cachê: quero ver é na Copa.
Não há mesa de sinuca vaga no boteco do Pescador: quero ver é na Copa.
No dia mundial sem carro São Paulo bate recordes de congestionamento: quero ver é na Copa.
Quero ver é na Copa. Assim é o coro em todo o país. Inventamos um belo jeito de adiar tudo de novo e esticar até o mundial a nossa elástica paciência.
O taxista carioca apavora: quero ver é na Copa.
Direitos do cidadão garantidos pela Carta Magna: quero ver é na Copa.
Escolas públicas caindo pelas tabelas: quero ver é na Copa.
Assessor de Kassab ganha uma centena de imóveis na jogatina da especulação: quero ver é na Copa.
E assim prolongamos até 2014, de Manaus às dunas de Natal, o efeito da velha anestesia histórica.
Para que resolver agora se nos demos mais esse belo prazo. Quero ver é na Copa.
Que ressaca! Quero ver é agora!