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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Tem mulher que só pega cafa. Não tem jeito

Por xicosa
08/06/12 12:17

 “EU TENHO UMA AMIGA de olhos escuros e pele suave, talvez a mais bonita de todas, que põe a vida amorosa na contramão da sua elegância intrínseca. Só namora os mais lamentáveis malandros.”

Esta é apenas uma delas. A amiga de número 25. Uma das mais perdidas. Nem “A educação sentimental”, de Flaubert, deu jeito. Se é que ela leu. Imagina. Sempre na mão dos cafas. O amor não tem mesmo GPS.

No seu novo livro, o cronista Joaquim Ferreira dos Santos faz um lambe-lambe afetivo de cem amigas. São pequenos perfis de mulheres reais ou fictícias –estas devem ser as mais críveis, acho- que revelam a alma encantadora das moças.

Joaquim é chegado. Daqueles cronistas que amam as mulheres. Afilhado direto de Antônio Maria, Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos.

Joaquim escreveu a biografia de Leila Diniz, Joaquim é carioca, Joaquim é colunista de “O Globo”, e, acreditem, Joaquim tem até uma amiga que foi assediada por um presidente da República e pelo maior jogador de futebol de todos os tempos.

Acho que eu conheço esta poderosa. Deixa quieto. Ela também está no livro. É a amiga 68. Já a amiga 44 mostra como mulher não é um bicho interesseiro: acabou o relacionamento no dia em que o namorado abriu o cofre do apartamento e, macho exibicionista, mostrou 10 milhões de reais estocados em nota de 100. Era um importante empresário do mercado imobiliário.

“Eu tenho uma amiga feliz proprietária de dois gatos e um namorado alérgico”. É a centésima. Seja uma Lola ou uma linda afilhada de Balzac, você vai se reconhecer em uma delas.

Você, amigo porco chauvinista, vai fazer aquele julgamento vulgar de sempre: essa eu pegava, dessa eu corria léguas etc. Eu me casaria com quase todas. Até com as fictícias. Caro Joaquim, me manda emails, telefones, facebooks das minas.

Não me deixes a chupar o frio chicabom da solidão na avenida Paulista.

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Estou em um relacionamento do tipo "fala sério"

Por xicosa
07/06/12 12:07

Dica de filme sobre o assunto do post: encontros & desencontros

Toda linda, ruivinha, botas com a marca da elegância paulistana, interrompe a marcha lenta deste pobre cronista do amor & da sorte.  Boca da estação do metrô Paraíso.

– Por favor, só um minuto, Xico. É urgente -disse. -Se não vou ter que recorrer a Miss Corações Solitários – falou do personagem que uso para acalmar almas aflitas.

Desembucha, Lola, fala que te escuto.

A dúvida cruel da gazela: dou ou não dou presente pro desalmado?.

Aí contou toda sua vida em cinco linhas. Além de ter todo jeitão bagaceiro de quem não curte esse romantismo da data, o suposto “namorado”  nunca assumiu direito o “namoro”-ela fez aspinhas sexy com os dedos.

Encontros & desencontros, minha linda Sophia Coppola, como no filme aí acima que recomendo.

Bem na linha de um status amoroso picareta que poderia ser criado pelo Facebook: “Estou em um relacionamento fala sério”.

Nada mais sintomático da nossa era. Curto. Não curto. Depende da fase.

Aconselhei: esqueça o presente, querida gazela que me consulta nesta manhã gelada de São Paulo.

Se você mal sabe que tipo de história vive, dê uma banana à data dos pombinhos.

Não adianta cair no conto de que é só um regalito, uma lembrança, tentar dizer que não é pela data etc. Você pode ouvir uma grosseria desnecessária. Do jeito que esses lenhadores urbanos andam insensíveis.

Corra, Lola, corra dessa onda.

Se você mal sabe se é namoro ou amizade, esqueça. Deixe estar o romance clandestino.

Repito um diagnóstico que sempre faço aqui no blog: no tempo do amor líquido, para lembrar o título do livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Não se pede mais em namoro.

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Dá um pé na bunda da ansiedade, baby, e curte um bom feriado.

É o conselho do tio para a gazela aflita.

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Crônica do amor doentio - o grau 9 da loucura

Por xicosa
06/06/12 10:33

Dica de livro do dia: a tragédia amorosa na ficção

Vejo este caso da mulher suspeita de ter esquartejado o marido. Para lá de “a vida como ela é”, tio Nelson. Macabro.

Como informa aqui o repórter André Caramante, um dos melhores que temos na arte de gastar sola de sapatos e buscar a notícia, a polícia diz ter indícios de que o empresário Marcos Kitano Matsunaga, 42, diretor executivo da Yoki Alimentos, foi morto  porque sua mulher descobriu que ele a traía.

Elize Ramos Kitano Matsunaga, 38, confessou o crime. Está presa.

O caso me fez lembrar da Suzane von Richthofen, a jovem paulistana que ajudou o namorado a matar os pais, em 2002. Uma das teses da sua defesa: Suzane alcançou o grau 9 da maluquice obsessiva por causa do amor doentio.

Sempre que leio sobre um possível crime passional, como este de agora, penso no tal grau 9. Quando, nós hombres, chegamos a ele, indagaram este cronista na época. E se o 9 leva ao assassinato qual seria o grau dez, caros criminalistas?

Sim, nada como o som e a fúria de uma mulher em plena febre amorosa. Nada segura. Nos também, uma vez Coriscos do amor, chegamos esbaforidos à mesma cegueira.

Chegar à casa dos 9 é… ser traído por um amigo. Mas vem cá, meu camarada, você queria que a moça fosse dar para inimigos? Veja o lado bom das coisas.Relaxa, acontece, abafa o caso e pega de volta essa bela cria da tua costela.

Chegar ao grau 9 é… ouvir as piores notícias daqueles lindos lábios, não é meu velho Marçal Aquino? Como por exemplo: a emoção acabou, nosso romance esfriou… Você merece alguém melhor… Estou confusa, bla, bla, bla, conta outra.

Chegar ao grau 9 é… ouvir ali,na lata, que o outro é o rei do tantra, que é o outro domina todos os bambuais do kama-sutra, que o cara é o sexo mais selvagem desta babilônia, a transa mais homérica, o monstro sagrado da alcova.

Homem não suporta ouvir esse tipo de prosa. Ai fere de jeito o tal do orgulho macho, a fúria nos domina… Ah, quanta bobeira, sossega, traz um calmante, um suco de maracujá, um copo de água com açúcar para o cidadão, uma garapa, uma vodka pura, uma salineira de responsa.

Chegar ao grau 9 é… beber todas (quando a vida dói, drinque caubói!), chorar no ombro do garçom todas as mágoas, nadar no seco, ver a lua na sarjeta, e bater à porta dela de madruga.

Bater, bater e não ter resposta, ouvir apenas os gritos e susurros do outro lado. Ai é 9.9 na escala, uma fração de segundo para uma besteira, para um daqueles crimes que só o advogado Troncoso Peres, o Shakespeare dos grandes casos do gênero, nos livraria do inferno.

Calma, garoto, acontece. Vale meu velho mantra: só um chifre humaniza um macho.

Homem que é homem chega ao grau 9 e não comete barbáries. Espero.

A receita é simples para abaixar a febre: só a lama cura. Tome um grande porre, ao som de Leonardo Cohen, Chico, Odair ou Roberto –de acordo com sua preferência-, e risque o nome dela do seu caderno.

Você já chegou perto do grau 9, amigo, amiga?

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Livros fundamentais para ser bom jornalista

Por xicosa
05/06/12 08:22

Bora ler, amigos(as), assim como eu fiz, não vamos cair nesse conto que a nova Clase C é importante por si mesma. Empregada(0) só aparece em novela ou no “Fantástico” com destaque por causa do consumo besta e imediato.

Se você veio de baixo, jamais acredite nesse truque da visibilidade sem leitura ou sem educação.

Só Odair José, ídolo, 40 anos antes, cantou a bola e a empregada. A TV agora, repito, agora só quer beliscar o novo possível consumo. CRÁPULAS correndo atrás do atraso histórico.

A leitura decidiu tudo em minha vida e na vida de todos que vieram das classes populares.

Repito aí uma listinha para quem pretende escrever ou ser um bom jornalista:

A alma encantadora das ruas – de João do Rio (disponível por diversas editoras)– O dândi carioca sabia tudo sobre a arte de flanar pela cidade e tirar dela, ainda em 1908, belas histórias.

Um Bom Par De Sapatos E Um Caderno De Anotaçoes – Como Fazer Uma Reportagem -de  Anton Tchekhov (editora Martins Fontes).Toda a riqueza de observação e detalhes que usava nos seus contos e peças, a favor do jornalismo-literário em uma reportagem de viagem.

Balas de Estalo – reunião crônicas políticas e de costumes de Machado de Assis –publicado por várias editoras.

Dez dias que abalaram o mundo – John Reed (ed.Conrad)–De uma forma eletrizante, punk-rock mesmo, o autor narra os acontecimentos da revolução russa de 1917.

Paris é uma festa – E. Hemingway (ed.Bertrand Brasil) –As pereguinaçoes boêmias de um dos maiores narradores americanos e a sua convivência com grandes artistas franceses. Para aprender a escrever e observar o mundinho artístico.

Na pior em Paris e Londres – George Orwell (Companhia das Letras, coleção Jornalismo Literário) –A experiência de miserável do autor de “1984”.Aula de escrita e humanismo pelos subterrâneos das cidades.

O Segredo de Joe Gould,de Joseph Mitchell (Cia das Letras). Aula genial de como fazer um perfil de um puta personagem praticamente anônimo de NY, um desses vagabundos que vemos por e mal sabemos da sua genialidade.

Malagueta, perus e bacanaço (ed.Cosac & Nayfi-João Antônio- O universo marginal dos salões de sinuca, rodas de sambas e madrugadas nos bares. Narrativa coloquial e maldita.

Dicas úteis para uma vida fútil -um manual para a maldita raça humana – Mark Twain (ed.Relume Dumará). Um grande almanaque com dicas de etiqueta, moda, comportamento, costumes. Tudo da forma mais mordaz possível. Pra rir e aprender.

O perigo da hora – o século XX nas páginas do The Nation (ed.Scritta). Textos de gênios do jornalismo e da literatura como Kurt Vonnnegut, H.L. Mencken, Gore Vidal, John dos Passos entre outros bambas.

O livro dos insultos – H.L.Menken (Cia das Letras) –Influência importante para muita gente no Brasil, como Ruy Castro e Paulo Francis, por exemplo, com Menken você aprende a ser crítico, ácido e ter uma pena maldita.

Medo e delírio em Las Vegas– (ed.Conrad) A lista não poderia faltar pelo menos uma obra-prima do rei do jornalismo gonzo, a forma mais maluca e ousada de contar histórias. Foi adaptado para o cinema em 1998, pelo diretor Terry Gilliam.

Sim, não esqueçam, tudo do Nelson Rodrigues, óbvio ululante.

Mais  sugestões, por favor, vamos enriquecer essa estante. Ja vi aqui que faltou Capote, ja vi aqui que faltou Lima Barreto… Só vocês salvam, amigos!

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Massacre humilhante do Dia dos Namorados (I)

Por xicosa
04/06/12 03:33

Do livro "Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo", de Adão Iturrusgarai e Mirian Goldenberg

“Começou o massacre, a humilhação, a ditadura do casalzinho”, vociferou uma loiraça gigante, como aquelas mulheres desenhadas pelo Robert Crumb. “Ê maldito dia dos Namorados”, completou a amiga, morena, mais compacta, mignonzinha, gênero sapeca, tremi, quase deixei cair o prato quente na fila.

Mulheres que comem com gosto, elas se lambuzavam, devorando com as mãos um marreco no restaurante do Parque Malwee, em Jaraguá do Sul (SC), onde esteve para a Feira do Livro este gutenberguiano caixeiro viajante que vos escreve.

Não se trata de etiqueta selvagem de macho-jurubeba, amiga. É o modo recomendável, aqui ou no mais fresco bistrô parisiense, de se comer um prato com aves.

E como é lindo uma mulher que come com gosto. As catarinas do interior são incríveis neste momento sagrado. Este assunto, porém, mais do que gasto aqui por este repetitivo cronista, fica para depois. Volto a ele, sempre.

O que interessa agora é o massacre da data dos pombinhos. Um saco mesmo, galega. Querem humilhar aqueles que atualmente chupam o frio chicabom da solidão. Querem desafiar também aqueles que preferem, lindamente, estar sozinhos.

É, galega do vale, a solidão não vende celulares, ipads, roupas de grifes, joias, cuecas, gravatas, calcinhas, promoções em motéis  e outros badulaques.

Taí uma grande vantagem da solidão. A solidão é cinematográfica, mas não é revendedora. Até as porções e embalagens de supermercados ainda são 95% dirigidos ao casalzinho ou à família.

Que massacre. Celulares, planos para falar cem anos com a pessoa amada!

Como se elas não fossem embora, galega do marreco!

E, repare, ainda tem miserável que cobra o presente de volta –se tiver algum valor- quando o romance acaba.

Melhor não passar por esse vexame, como lembrava também a loiraça lindamente revoltada.

Macaco, jornal, tobogã, dia dos Namorados, como dizia dizia Raul Seixas, no clássico “Ouro de Tolo”, eu acho tudo isso um saco.

Como falou a amiga olindense Catarina de Jah, autora de “Mulher tira-gosto”, entre outras páginas rebeldes do nosso cancioneiro, “eu chuto pombinhos nessa data fofinha e querida!”

Não que o amor não seja lindo. Nada disso. “Te amo porra”, bem sabes. Aqui já imito o Peréio. Não é disso que estamos tratando.

É obvio que vivemos grandes momentos envenenados por Cupido e suas maçãs encarameladas do Parque de Exposição de Animais do Crato ou do Cordeiro (Recife).

Tratamos aqui de uma outra história. De não se deixar adoecer pela data. A solidão não vende celulares, a solidão está à prova dos truques publicitários, a solidão é revolucionária, a solidão é chique no último, classe!

Não se deixe intimidar, amiga, pelos coraçõezinhos de vento que agora tomam conta do horário nobre.

Lembre-se das falsas promessas, dos chifres, das decepções, dos amores fdp´s, das falhas de caráter, daquele campeonato atrás do outro, da sogra infernal, das ilusões perdidas…

Solitários e solitárias, som na caixa Mombojó: esse é o reino da alegria, tudo pode acontecer, não temam.

E se não acontecer nem tão breve, dane-se de qualquer jeito a nobre data, bote Rolling Stones bem alto, a  auto-ajuda rock´n´roll que funciona, peça um uísque duplo e mate com força todas as bolas do pano verde da existência.

Viver é uma sinuca. Sempre.

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Prostituição está quase extinta na rua Augusta

Por xicosa
02/06/12 01:47

 Hoje é o Dia Internacional da Prostituta e não há motivo para muita festa na Augusta. O negócio está decadente, quase em extinção, no nosso Red Light District.

Em um rolê “antropológico” na área, este flâneur da crônica de costumes constatou o fim do mundo que o calendário dos Maias previa para o Natal: apenas oito casas do ramo em funcionamento em plena quinta-feira.

A lista da resistência gaulesa da sacanagem, no sentido centro/Paulista: Big Ben, Say, Night House, Blue Night Show, Balneário, Casarão, Las Jegas e Emanoelle.

O pior: da boca do túnel que dá no Minhocão até a avenida Paulista, as meninas que faziam trotoir nas calçadas cabiam nos dedos de uma mão adolescente e peluda. Apenas cinco, às 23h, horário nobre na área.

Desde os anos 1970, a rua é símbolo da atividade em SP. Chegou a ter 80 puteiros, entre boates e saunas. Era a febre da selva desta Babilônia.

Antes mesmo de mudar o perfil do Baixo Augusta, com a chegada de boates modernas e botecos mais arrumados, o comércio da sacanagem já revelava explícita decadência.

As meninas que fogem da exploração das casas do sexo e preferem trabalhar nas calçadas têm migrado cada vez mais para os arredores: ruas Matias Aires, Bela Cintra, Fernando de Albuquerque.

Pelo menos dez grandes prédios residenciais ou comerciais são erguidos atualmente na região do Baixo Augusta. Estes empreendimentos acabaram engolindo o que restava das boates.

Quando a rua começou a mudar de público –com a saída dos putanheiros profissas e a chegada de uma legião mais jovem, como os Emos, por exemplo- lembro de uma profecia de uma puta amiga, ou uma amiga puta, a senhorita Y.:

“Os tiozinhos ficaram com medo de encontrar, por exemplo, uma filha sua na balada. Passaram a ter cerimônia de fazer o tradicional rolê de carro para escolher uma garota”.

Mas calma, amigo chegado, há também uma mudança de perfil das profissionais. O mundo hoje está mais para a puta blogueira, a puta circunstancial de webcam, mais para Bruna Surfistinha do que para a puta por vocação.

Seja de que gênero for, parabéns para você nesta data querida!

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O chifre: modo de usar

Por xicosa
01/06/12 19:20

Como assim corno de si mesmo?

É possível?

Como aprendi, entre outras tantas lições, com o meu conterrâneo Miguel Arraes: “Meu filho, tudo é possível no mundo dos possíveis”.  Era uma coletiva no Palácio do Campo das Princesas. Jovem repórter, havia feito uma pergunta imbecil qualquer.

É possível ser corno de si mesmo? Sim. Está ai o Marques de Sade, um dos padrinhos sentimentais deste blog, que não nos deixa mentir.

Cuidado. É mais possível do que o amigo e a amiga imaginam.

Digamos que você vá a uma baile de máscaras. E lá esteja, sem que o saiba, seu marido ou a sua mulher. Você transa sem saber que é ele(a).

Eis a pista. Mais eu não conto para não estragar de tudo a leitura deste conto genial. Havia sido lançado pela Hedra, agora volta em uma edição para lá de econômica, apenas cinco mangos, na coleção de banca da L&PM.

Coleçãozinha excelente da editora de Porto Alegre. São livros de até 64 páginas, contos ou pequenos ensaios. Ideais para ler no metrô, em uma ponte aérea, no consultório.

Bela iniciativa no país dos livros caros e dos homens baratos.

“O corno de si mesmo” é da série de textos que o nobre Marquês escreveu quando estava preso na Bastilha, por volta de 1787, na França.

De si mesmo ou de outrem, amigo, algum dia faltamente seremos. Por isso o valor dessa literatura para refletir e coçar a testa. Eu recomendo.

Não há nada demais nisso. Seja você manso, complacente, quase um voyeur do chifre, como muitos personagens de Sade. Seja você um corno bravo, destemido, do tipo que sai a fazer besteiras. Inúteis besteiras. Chifre posto, nada mais nessa vida o subtrai.

Sim, caro Marçal Aquino, o amor e outros objetos pontiagudos. Acontece nas melhores famílias da Inglaterra ou do Crato.

Só um chifre, aliás, humaniza um macho. Só um chifre tira a nossa arrogância falocrática.

E já que falamos de filosofia de pára-choque, fica aqui um clássico: chifre é para homem, boi usa de enxerido.

Relaxa.

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O dia em que Jesus matou Nietzsche na Rio-Bahia

Por xicosa
31/05/12 15:28

 “Aquilo que não me mata, só me fortalece”. Assina que é teu, amado mestre Friedrich Nietzsche, aquele do vassourístico bigode.

“O que não mata, engorda”. Essa é frase de qualquer vagabundo anônimo e popular mesmo.

Aí é que você vê que a filosofia de pára-choque de caminhão sempre foi nietzscheana ou tradutora do alemão para a estrada.

Reflito aqui à beira do caminho. Em uma lan-house de Solidão, Pernambuco. Havia iniciado essa reflexão com o amigo Paulo Mota, da cidade cearense de Sucesso. Vamos em frente.

Havia tomado um susto, há uns oito anos, sobre a escassez dessa filosofia nos caminhões. Foi em uma viagem Juazeiro do Norte/SP, na boleia de uma possante carreta, em reportagem sobre caminhoneiros para a revista “V”. Taí o fotógrafo Tiago Santana para me ajudar mentir, se for preciso.

Agora é para valer: a filosofia de pára-choque morreu na buraqueira da estrada. Nietzsche deve estar molhando seu bigodón em lágrimas de Viena.

Acabou chorare…

Jesus te matou, velho Nietzsche, na BR-101. Rio/Bahia, em uma vicinal qualquer no canavial de Sertãozinho.

Jesus, aqui resguardado todo respeito e devoção cristã, acabou com as clássicas frases, sempre sábias e  decifradoras da vida. Jesus invadiu todos os pára-choques, lameiras e painéis de caminhões.

Quando não tem Jesus, vai o escudo de time, mas o amor clubístico também não é mais o mesmo. Um Flamengo aqui, um  Corinthians acolá, um Santos, um São Paulo, Atlético mineiro, Bahia, Sport, Santa Cruz, Vitória, Ceará…

“Pra corno e torcedor de time, todo castigo é pouco”, buzina o nosso condutor mais uma vez, agora seu Caetano, de Barbalha (CE), um guia e tanto.

Os mais românticos ainda pintam lá um coração com o nome dela, a amada, como na canção do Roberto. O mais lindo que avistamos foi um “Eu te amo, Izildinha, desalmada”.

No que Caetano, sábio de rodagem, não se contém: “Ser caminhoneiro tudo bem, ninguém escolhe o destino; mas ser caminhoneiro e corno também já é demais da conta!”

 Manda a pérola e aperta a trilha sonora, DJ de boleia, na marcha lenta: Benito de Paula. “Ah, como eu amei…”

A louvação a Jesus substituiu a sabedoria popular sobre rodas. As novidades, no entanto, não impedem que alguma graça resista. O atualíssimo “Jesus Salva”, por exemplo, já ganhou uma continuidade filosófica, em pequenos adesivos coloridos: “Jesus salva!… passa para Moisés, que chuta e é goool!!!”

Uma pausa para o churras de carneiro. Cerveja nevada, claro. Distrito de Paraguaçu, Rafael Jambeiro, Rio/Bahia. O cabarezinho Flor da Noite tá uma beleza. Só deusas. Tento resistir, mas lembro do sábio pedido de Santo Agostinho, o álibi perfeito para o perigo da hora: “Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje”.

Ô vidinha mais ou menos para eu gostar tanto dela Quase como se fosse, elegância à parte,  aquele italiano da “Dolce Vita”!

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Entre virgens e ´bulidas´- crônicas de viagem

Por xicosa
30/05/12 16:37

Suyane Moreira: a vingança da mestiçagem no Cariri

Na vida de repórter tem a história que você está apurando, aquela mais convencional que acaba nas páginas de jornais e revistas, e o mar de história que você atravessa na estrada.

Estávamos em Guaribas, nas enconstas da Serra das Confusões, Piauí, quando o nosso motorista Edmundo solta, inadvertidamente, uma frase sobre as condições precárias do lugar. Para quê.

– É, meu filho, aqui pode ser atrasado, mas garanto que um cabacinho você só encontra por essas terras. Pode andar essa região toda, onde tem progresso e coisa moderna não tem mais uma virgem, nem pra remédio – saltou de lá seu Antonio Rocha, 78, haja janeiros e sabedorias nas costas.

Tomou mais uma aguardente. E completou a tese:

– Daqui para São Raimundo Nonato –onde essa francesa ai inventou que acharam o primeiro macho das Américas- até chegar em Teresina, é tudo mulher bulida.

A francesa, no caso, é a renomadíssima arqueóloga Niéde Guidon, responsável pela descoberta de de que o primeiro homem do continente foi piauiense da Serra da Capivara.

Outra cachaça, com aquela clássica cuspidela no pé do balcão, e o velho Rocha foi para cima do nosso taxi-driver, Edmundo era a cara de Robert de Niro:

-Vosmicê prefere progresso, coisa avançada, ou a honra de casar com uma fêmea virgem de tudo?

O homem foi ficando brabo. Ajeitava a peixeira na cintura a cada frase. Por via das dúvidas o motorista inventou um agá qualquer e foi para a pensão onde estávamos hospedados.

-Pode andar que você não encontra mais uma virgem nas redondezas. A novela esculhambou com tudo, mas aqui em Guaribas ainda tem ordem. O cabra não pode bulir com moça assim na cara dura não. Até pra amolegar os peitinhos demora coisa de três meses para lá.

E seu Rocha, oculões verdes fundo-de-garrafa, mira, da frente da mercearia, as moças que passam com latas d´água na cabeça:

-Aquela ali, repare, é bulida. Mas foi bulida fora, pras bandas de São Raimundo Nonato, cidade grande, safadeza sem regulamento. Deve ter sido o tal do primeiro homem das Américas – solta a gargalhada envelhecida em tonéis de alambique.

Prossegue pondo sentido no mundo:

– Aquela ali, não, moça toda, direitinha,boto essa mão velha calejada no fogo! – diz. –Um pai brabo, come o figo do cabra que encostar naquelas carnes.

Realmente a morena apontada pelo velho Rocha me deixou nervoso.Talvez a mais bonita que já vi na vida. Faria de Camila Pitanga medalha de prata no concurso local de Rainha do Milho.

A morena passa faceira. A cara da atriz Suyane Moreira, minha Iracema predileta. A água do balde salpica seu rosto levemente. Não é só o clichê da brejeirice não. É beleza suprema, a vingança da mestiçagem.

-É tudo rapariga, quenga – sentencia um senhor mais adiantado na cachaça, infelizmente não gravei o nome. –Virgindade aqui já era.

Rocha vira um demônio:

-Só se for na sua casa! – rebate.

O sururu está formado.

-Eu tô na brinca, homem de Deus, não é na vera não – recua o anônimo cachaceiro cordial.

-Bulida mesmo aqui eu conto nos dedos, e tudo, como eu ja disse e redisse, bulida fora. Tem uma até que se empregou no cabaré de Beth Cuscuz, lá em Teresina, falam que é ambiente de classe, classe média alta.

Seu Rocha está impossível no seu diagóstico cabacístico:

-Aquela ali também mostra os panos – julga o velho.

“Mostrar os panos” é dizer antigo. Do tempo em que as moças, depois da primeira noite, exibiam, orgulhosas, o lençol manchado de sangue no varal na frente de casa. Para não deixar dúvida sobre a virgindade que levou até a lua de mel.

A noite chega por trás da Serra das Confusões. As mães despacham meninos para arrastar os pais cachaceiros das bodegas. Os pais tentam engambelar os meninos com alguma besteira, pipoca doce e guaraná caçula.

A mulher do até então indomável Rocha vem à venda e o arrasta para casa:

-Seu cachorro pé-de-cana!

Ele vai mansinho, mansinho.

A bodega inteira, uníssono: “Dominado”.

Anoitece na Serra das Confusões. No alto-falante do Parque de Diversões toca “Amor de rapariga”, o hit forrozeiro do momento.

As boyzinhas –como são chamadas as meninas-, cabelo cheirando a neutrox, passeiam com seus segredos e supostos cabacinhos.

Amanhã segue a viagem.

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O medo do macho diante da risada da fêmea

Por xicosa
29/05/12 04:02

Homem morre de medo de conversa de mulher. Fato. Em NY, Nanuque ou no Crato.

Mais do que o medo do goleiro diante do pênalti. Mais que tudo nessa vidinha sururu, minha gente, como definia nossa pequeneza o vovô Graça.

Uma rodinha então, nuestra madre, mesmo que o cara seja, digamos assim, muito seguro, treme nas bases. Não está sendo fácil, amiga cantora Kátia, confesso.

Homem morre de medo. Uma rodinha de fêmeas em gargalhadas, lascou, meu caro Lacan. O cara vai direto para a labiríntica estrada do encanamento. Sempre acha que estão rindo dele. Sobre performance ou sobre a alta literatura comparada de tamanho de pênis. E bote etc nisso.

Detalhes tão pequenos de dois nós dois são coisas muito grandes para esquecer. Aqui entra o contraditório canto do Rei Roberto, como discutia com os amigos Lirioboy e Villeneuve, em pleno Cachoeiro do Itapemirim, durante a Bienal Rubem Braga. Classe.

Deixa quieto. A gente encana mesmo. É o que pega na mente vida simples dos homens. Seja o mais cafa e dito safo. Seja o mais ingênuo tipo verdes anos. Que fazer, velho camarada Lênin?

Vale, só para variar, mais uma verdade do tio Nelson: todo homem deveria nascer com 35 anos para cima. Vero. Mesmo assim ainda é uma criança. Juro. Palavra de um “old man”, emplacamento anos 60, como na música de Neil Young que escuto enquanto escrevo.

Agora já podemos viajar para Nanuque, no Vale do Mucuri, Minas Gerais, como dito na cumeeira deste texto. Deu no noticiário, veja aqui no UOL Notícias, que  real doideira.

Neste singelo sítio uma mulher foi condenada a indenizar o ex-companheiro porque, além de traí-lo, fez gracejos sobre o desempenho sexual do camarada. Sim, uma piadinha aqui outra ali entre os (as) colegas comuns de firma.

O Tribunal de Justiça aplicou uma multa de R$ 8 mil na servente industrial -nomes não foram revelados, graças a Deus. Teria a nossa Bovary de Nanuque submetido o marido a danos morais e “situações vexatórias”. Não sobre tamanho nem documento. Sobre desempenho depois de anos e anos de casório.

Que julguem eles, jamais este mui castigado escriba.

Só sei que foi um instrutor de autoescola, segundo o processo, que reacendeu a acusada para a vida.

Depois de dez anos de lar-doce-lar…, meu amigo, não fique chateado, “acabou chorare, tá tudo lindo”, como na trilha final aqui dos Novos Baianos.

Fica um bom conselho, que te dou de graça, amigo platônico de Nanuque:  dispense essa grana, muito alta para ela, de quem te amou no tempo certo e por uma década!

O que acham, meus sensíveis leitores?

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