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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Manual para ser menos ridículo nas eleições

Por xicosa
26/07/12 04:21

Além da picaretagem de sempre, campanha eleitoral tem seu lado tragicômico. Se você viu a imagem de José Serra tentando se equilibrar no skate, na vibe de agradar aos jovens paulistanos, entenderá facilmente este post.

A fotografia do Lula com Maluf, por um punhado de votos conservadores de SP, diz mais ainda. Nada do que é politicagem me surpreende. Repórter de quase todos os pleitos depois da redemocratização, deixo aí este breve e democrático guia.

Com uma mudança ou outra, minhas dicas em nada diferem do “Manual do Candidato às Eleições”, escrito em 64 a.C. em Roma, por Quinto Túlio Cícero. Foi publicado aqui no Patropizza pela editora Nova Alexandria. Você encontra fácil nos sebos.

Agora, porém, repare no que digo:

Beijo nas criancinhas – É o ato mais elementar da jornada. Recomendo, porém, sentir antes do afago o comportamento do infante. Não beije bebês, eles são mais surpreendentes e podem, inclusive, cagar aquele lindo cocô abacate na hora do afeto que se encerra.

Já vi o simpático Ulysses Guimarães (PMDB), que Deus o tenha nos mares nunca dantes, levar uma criança ao desespero em Ouro Preto. No mesmo dia em que ele, por tentar aparentar estar mais forte do que se suspeitava, levar o tombo em uma escadaria de igreja.

De nada adiantou a força do jingle de 1989: “Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais”.

Outros que vi pondo crianças em assombro digno do filme “O bebê de Rosemary”: Mario Covas em Bauru, embora fosse o mais sincero dos políticos em campanha; Serra em Ourinhos; Marta em São Miguel Paulista, na ZL de SP.

Buchada de bode – Esta joia da culinária internacional –a origem é escocesa- costuma deixar os desacostumados de cama. Onde os fracos não têm vez, a gastronomia do macho-jurubeba não é para qualquer um mesmo.

Meninos, eu vi o desconforto de FHC nas suas campanhas pelo Nordeste. Sim, é uma desfeita para o dono da festa o candidato fingir que come. Não tem saída.

Não custa lembrar, por falar em gente sensível, que o casal Sartre & Simone de Beauvoir sofreu um piriri mortal na visita ao Recife, nos anos 70. O existencialismo não resiste a meia hora de vida real nos tristes trópicos. O existencialismo é uma farsa sartreana.

O bêbado da esquina – Ele cola e baba no candidato, pede para pagar mais uma, promete o voto e logo depois o esculhamba. É o mais anárquico e inevitável dos personagens de uma campanha.

O eleitor pidão – Você, caro candidato, não vai conseguir se livrar deste fisiológico nunca. Ele aceita qualquer coisa, menos voltar para casa de mãos abanando.

“A única coisa que posso lhe oferecer é uma canção bem triste, para você passar o dia chorando”, dizia Pedro Bandeira, violeiro, repentista e vereador da minha rua em Juazeiro do Norte.

O eleitor que ainda acredita –   Eis um dos piores tipos. O esperançoso. O que ainda aposta que as promessas podem ser cumpridas. Ele gruda no postulante ao cargo público. É um pentelho. “Olhe, não vá me decepcionar, hein, acredito no senhor mesmo, não é brincadeira”, baba.

O programático – Um sujeito nada prático. Talvez o pior de todos. É o eleitor que pretende discutir programa de governo. Item por item. Como se essa obra aberta, essa carta de intenções interesseiras representasse alguma coisa em campanha política.

É só para enganar mesmo. No documento sempre estão contemplados genericamente todos os segmentos e pleitos da humanidade. Para nada.

O festeiro – Ganha a eleição, para este tipo de eleitor, o candidato que promover as melhores farras. Eleitor nietzscheano, ele só acredita nos deuses que dançam. Embora os showmícios sejam proibidos, as festas disfarçadas não.

Normalmente são os prefeitos que tentam a reeleição que torram toda a grana pública com bandas de forrós fuleiras e outros chicletes com banana. É o tipo do candidato-micareta. Nego ama.

Ajude, amigo(a), a enriquecer este manual eleitoreiro. Que outros tipos você sugere?

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Dez motivos ´cabeçudos´ para ver novela

Por xicosa
25/07/12 14:31

 O macho noveleiro, mesmo com todas as mudanças de comportamento das últimas décadas, ainda é motivo de piada entre os amigos de botequim. Sério. Trata-se de uma figura discriminada.

Ah, fulaninho não chegou ainda porque está vendo a novela. No mínimo, o macho mais empedernido, da linha macho-roots-jurubeba, pode até ver a novela, mas não se assume noveleiro. Uma novela.

Pensando nesta oprimida categoria, cada vez mais minoritária depois de “Avenida Brasil”, traçamos boas desculpas para este ser testosterônico ver a novela numa boa, numa naice.

Os motivos abaixo também servem, independentemente de sexo, para os supostos intelectuais ou “metidos a” que não se rendem aos dramalhões televisivos:

1) Escrita por um grande leitor, o João Emanuel Carneiro, “Avenida Brasil” é a mais literária de nossas novelas de todos os tempos.

2) Tem Balzac, Lima Barreto, Dostoievski, o suburbano coração de Nelson Rodrigues.

3) O conflito Carminha x Nina nada mais é do que a repetição turbinada do livro “O Primo Basílio” (1878), de Eça de Queiroz.

4) Você pode dizer, arrogante: Onde se lê Carminha x Nina, leia-se, no velho Eça, Luisa e Juliana. Uma porrada na pequeno burguesia lusitana do século XIX.

5) Quer um motivo mais pop, sem a solenidade literária? A sede de vingança entre Carminha x Nina lembra Kill Bill. Tá limpo.

6) Agora uma razão sociológica. Assim como Karl Marx disse que tudo que sabia sobre a burguesia era graças a Balzac, você pode usar a desculpa de aprender com a novela tudo sobre a nova classe C brasileira.

7) Você curte futebol e acha o Tufão (Murílio Benício) uma onda.

8) Você não quer ficar por fora no papo das mulheres nos bares ou na firma. Não se fala de outra coisa.

9) Você é de esquerda e acha o José de Abreu o máximo. Boa forma de interagir com ele no twitter.

10) “Avenida Brasil” devolveu à tevê a gostosa à moda antiga, mais cheinha, tipo flor do bairro. Vide Suelen (Isis Valverde).

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Punidas pelo sexo: a olímpica e a congressete

Por xicosa
24/07/12 02:52

Duas mulheres; uma injustiça e meia. As duas perderam a vez pelo mesmo motivo moralista: o sexo.

Defendo uma por inteiro. Defendo a outra pela metade.

Comecemos pela meia-defesa: Denise Leitão Rocha (aí acima bem à vontade na foto do Facebook), a ex-assessora jurídica parlamentar do senador Ciro Nogueira (PP/PI).

Nogueira, como os amigos piauienses sabem, não tem lá essa reserva moral toda. O membro da CPI do Cachoeira demitiu a congressete depois que um vídeo de sexo da moça -com um suposto namorado- vazou na rede.

Vivemos a era do suposto. O suposto ladrão. O suposto amante. O suposto escândalo. O suposto jornalismo.

A garota é amiga de sua excelência o deputado Romário (PSB-RJ). Ponto a favor. A garota quer subir na vida. Nada contra. A garota pode até ser oportunista qual o ex-atacante na área e ter cavado uma capa de “Playboy” como quem busca um pênalti .

O oportunismo, reza a cartilha liberal, é um princípio limpo, legalíssimo.

A ironia é ser demitida por um simples, livre e prazeroso ato sexual em meio à sacanagem explícita do Congresso.

Se a moça é uma “mexerica” ou não, o errado é quem a contrata. Não a julgo por isso.

“Mexerica”, como tratamos aqui neste antigo post do blog, é um tipo de gostosa-padrão contratada pelos parlamentares, em cargos de confiança, para enfeitar o gabinete, livre de expedientes mais pesados, se é que você me entende.

Denise não leva minha defesa completa. Cargo de confiança não é crime, mas da forma que é feita no Congresso, tenho -para ser educado- imensas dúvidas.

Não é de toda inocente, mas jamais a julgaria pela saudável prática caliente do sexo.

No caso de Iziane não. Tremenda injustiça ser cortada da seleção feminina de basquete na véspera da Olimpíada.

A acusação: dormiu com um namorado no tour da equipe pela França. Um rapaz, pelo que se sabe, até ligado ao mundo esportivo e à vida dos atletas. Em que isso comprometeria o desempenho da moça em futuras jornadas na quadra?

A atleta maranhense foi sacaneada.

Ah, descumpriu as regras, argumentam os chefes da menina. Aposto que acordou mais feliz, naquele clima romântico francês, e disposta a ser a grande jogadora de sempre.

Duvido que cortassem um macho, em quaisquer esporte olímpico, em ocasião semelhante!

O amigo há de argumentar: é uma atleta problemática. Conta outra. Então para quê convocaram? Caretismo.

E você, amigo(a), como julga?

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Como curar a dor de amor pelo estômago

Por xicosa
23/07/12 07:41

Bom dia, tristeza. Bom dia, ressaca. Segunda-feira é dia de receitas para mulheres tristes, como no livro acima do compay colombiano Héctor Abad.

Há quem diga que a dor de amor está diretamente ligada ao aparelho digestivo. Não às simbologias do coração. Muito menos às ondas do cérebro e o controle da serotonina.

É o caso de um personagem de um dos melhores livros da literatura latino-americana: “Tia Julia e o Escrevinhador”, de Mario Vargas Llosa.

Repare na tese do rapaz:

“Para dores de amor, nada melhor do que leite de magnésia(…). Na maior parte das vezes, os chamados males de amor, etcétera, são distúrbios digestivos, feijões duros que não digerem, peixe estragado, entupimento. Um bom purgante fulmina a loucura do amor.”

A gente sabe que o enfezamento é um dos grandes males da humanidade. Também é do conhecimento público que a mulher, mais que o homem, padece da prisão de ventre.

De acordo com a ficção de Vargas Llosa, aquilo que você, rapariga em flor ou linda afilhada de Balzac, imagina como recaída amorosa… pode ser apenas a falta de digestivas ameixas.

Com Héctor Abad, a salvação está nas receitas culinárias e em uma certa feitiçaria dos selvagens da América do Sul.

Não havia dado muita bola para o livro dele até uma semana atrás, quando o jornalista Paulo Carvalho (Diario de Pernambuco), em um bate-papo comigo no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), tratou de uma certa semelhança entre os textos deste blog e as receitas do colombiano.

Precisei ser mordido pela humaníssima mosca azul da vaidade para ler com atenção o receituário. Recomendo.

Quando o tédio se instala de vez entre os casais e só o silêncio faz um eco infernal, Abade recomenda que se vá à caça de boas perdizes. Arrastões à parte, pode ser também num restaurante de São Paulo.

Ele disse que te ama e você não tem certeza se é verdade? Há uma fictícia sopa que mudará de cor caso o canalha esteja mentindo.

As receitas são simples. Pura literatura disfarçada de linguagem de almanaque, coisa que os escritores brasileiros, em nome de fracassadas obras primas, estão esquecendo.

Para a mulher curar parceiros impotentes, o livro recomenda a paciência de 31 noites. O cara será o maior amante da história. Terá a amiga tanta paciência?

O melhor é o remédio contra a culpa. Carne de dinossauro. Eles foram extintos há 65 milhões de anos.

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O feitiço da mulher mineira

Por xicosa
20/07/12 21:48

 

Desenhos do estilista mineiro Ronaldo Fraga

Essa impressão eu tive desde a primeira vez. No casamento com uma delas não havia mais dúvida. Coisa findas muito mais que lindas. Mas ainda carecia de rodagem e meditação nas montanhas para escrever com mais tutano e propriedade.

Carecia de mais depuração no alambique de Salinas ou Januária. Precisava comer mais frango com quiabo na serra do Rola-moça.

Agora não há mais dúvida: há realmente algo de especial na mulher mineira. Se você pedir que eu me explique melhor sou incapaz de fazê-lo. A mineira tem um “je ne sais quoi”. E pronto.

Um não-sei-o-quê, se é que você me entende.

Você vê a mais moderna das moças de Minas, por exemplo, e, além muito além daquele repertório todo de modernidade haverá, quase sempre, um quintalzinho imaginário com uma pimenteira, uma sombra, uma pitada de arcadismo e contemplação.

Na mineira há sempre um conforto depois da fachada.

Com uma mineira você tem a sensação de gozar sob as badaladas dos sinos de Ouro Preto. E não estamos falando da sem-vergonhice da Linda Lovelace no filme “Garganta Profunda”.

Há um drama barroco, uma pedra sabão de Aleijadinho no amor com uma moça das Gerais. Você sempre acha que está cometendo algum inexplicável pecado.

Você sempre vai achar que está fazendo sexo na porta funda de uma igreja de Congonhas.

Você diz “mas não há nada de errado nisso, somos maiores, vacinados, estamos juntos, como um homem e uma mulher de qualquer canto do planeta”. Mesmo assim, diante do olhar de uma mineira, ira permanecer a sensação pecaminosa.

Quer algo mais incrível do que ser devolvido à condição de pecador? Não tem dinheiro que pague. É a inversão do teorema de Dostoievski: se Deus está vivo, tudo é proibido.

Você pode praticar todas as safadezas do mundo, mas com uma mineira você tem a nítida sensação de estar fazendo sexo. A bíblica conjunção carnal de fato. Não apenas sacanagem. Isso é outra coisa.

A mineira nos faz recuperar a bela culpa que torna o sexo mais gostoso. Uma transa qualquer sem uma demão de culpa ainda não pode ser considerado sexo.

Só há sexo em Minas Gerais. No resto do Brasil é sacanagem.

Você há de contestar, amigo, dizer que sou um reducionista. Um esmagador de clichês sobre a mineiridade etc etc.

Insisto. Com uma mineira é diferente. Há algo que faz da prosódia um doce de leite de Senador Firmino.

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A mulher de uma covinha só

Por xicosa
19/07/12 04:45

Essa linda tem duas e fez questão de chamar atenção para o seu sorriso

Tudo que me interessa, assim como a hipótese de barriguinha que me soprou Vinícius e a amiga Camila, é a observação da anatomia feminina.

Caso queira saber sobre a hipótese de barriguinha, leia o receituário neste post que escrevi outro dia.

O encanto radical da semana é a mulher de uma cova só. Uma só covinha no rosto.

A unicova, monocova, covinha solitária, não sei que terminologia use. Só sei, meu Rei, que na paz do teu sorriso, meus sonhos realizo.

Quem é capaz de nos enterrar primeiro, no vasto cemitério das raparigas, meu caro cronista lusitano Miguel Esteves Cardoso: a mulher de uma cova só, a mulher de duas ou a mulher cujo rosto é uma linda planície sem acidentes geográficos?

De uma cova só eu nunca tinha visto. Mas hei de morrer tendo observado, voyeur permanente qual a revolução maoista, plantão 24 horas, quase tudo neste mundo.

A mulher de uma covinha só existe. Vez por outra ela dorme comigo.

Duas covinhas é –são?- uma beleza. Uma só, como no samba do João Gilberto, imagina!

Do lado esquerdo da face. Minha river gauche.

Só a lição de anatomia interessa, profi.

Do meu observatório, agradeço a Deus. Como repito, escrever é ter mantras, mulher é metonímia. Parte pelo todo. Nunca busco o conjunto da obra. Essa é a observação dos pobres de espírito, os que desejam a gostosa óbvia.

Mulher é um joelho, uma omoplata, uma, duas covas.

Assim como o amor, na lição do meu cronista Pitigrilli, um italiano derramadíssimo e macarrônico, parole-parole, é mais ou menos a seguinte:

O amor é um beijo, dois beijos, três beijos, quatro beijos, cinco beijos… Cinco beijos, quatro beijos, três beijos, dois beijos, um beijo. E fim. E pronto.

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Kassab contra os feios, sujos e malvados

Por xicosa
18/07/12 19:08

Filme sobre deserdados. Recomendo, sr. Kassab

Iria escrever sobre amor, óbvio uluante, a pegada de sempre, a minha religião e minha crença: a mulher.

Mas depois que vi esse vídeo, enviado por um amigo, guardei a devoção na gaveta do lirismo e não me aguentei. A indignação trouxe fogo às ventas.

Veja e repare se não tenho razão.

Não que seja novidade. A política de higienização do Sr. Kassab é velha conhecida em SP. Agora a limpeza se junta à covardia contra os feios, sujos e malvados.

Não é só uma questão de micropoder dos guardas municipais. É a política do kara.

O gás pimenta, como vemos no vídeo, é uma ação permanente da prefeitura para afugentar camelôs e moradores de rua.

A mesma gestão que fez a rampa antimendigo, a fonte antibanho de menino, a grade dos viadutos, o banco de praça que não permite o sono –tem uma barra de ferro que impede que alguém se deite- e outras invenções do design fascistóide.

O mesmo kara, espécie de Jânio Quadros sem álcool, que proibiu o cachorro quente nas ruas, que lacra com uma parede as portas dos botecos que não se rendem à velha máfia dos fiscais.

Se Jânio Quadros passava a vassoura, o kara passa o rodo.

O kara que tentou acabar com a vocação boemia de SP. O kara que não faz, proíbe.

Bonito, seu Kassab.

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Beleza e perigo do olhar vesgo de uma mulher

Por xicosa
17/07/12 16:22

Laika e os mistérios de uma fêmea no espaço

Ligeiramente vesgo ou estrábico. Tanto faz.

Nada mais lindo em uma mulher do que aquela fração de segundos em que a gente a flagra olhando bobamente para o infinito. Sem mirar pessoas, mares, luas cheias, paisagens, horizontes.

Nesse momento, posso estar a perdê-la. Seria a divagação que faltava para que ela aterrissasse em outra laje, outro quintal de mistérios.

Um instante, um free-jazz no juízo, e ela pode voltar à terra sob influência do flerte fatal com os astros: fora atingida pelo retorno de Saturno.

E como já alertei aqui aos amigos, quando uma mulher se põe mística, adeus, é pé-na-bunda na certa.

Retorno de Saturno é o mesmo que outra desculpa sideral das antigas: preciso do meu espaço.

Mesmo assim, voyeur de cada quadro ou movimento feminino, corro o risco. Aquele olhar perdido é um dos onze instantes mais incríveis de uma fêmea –listei outros dez neste post.

Olharzinho perdido de Laika, a cadela russa que subiu ao espaço a bordo do Sputnik –jovens ao Google, lição de casa do tio comunista para esta terça chuvosa.

Laika delira no cosmos e mira o nada; a terra é azul.

E se o olhar for ligeiramente vesgo, zolhinhos tortos, meu deus. Um pra lá, outro pra cá, quase uma dança.

Como a moça daquele romance lesbian- beatnik do escritor Haruki de Murakami no livro “Minha querida Sputnik”.

Nada como um olhar ligeiramente vesgo e chapado sob aflitas sobrancelhas.

Naquela fração de segundos, o desexistir, o coração debaixo da língua para impedir as mais inúteis falas.

Toca “Suspicious Mind” na KCRWRadio. Pelas costeletas do Elvis, volta, minha cadelinha estrábica.

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A origem das piriguetes e o sexo dos anjos

Por xicosa
16/07/12 14:16

Seriam os deuses astronautas? Seriam as vedetes as primeiras piriguetes?

Tudo agora é coisa da nova classe C. Balela. O periguitismo, por exemplo, seria a representação mais explícita da nova economia.

Como se a safadeza ou liberdade de se vestir ou dar para quem quiser fosse questão de classe ou dependesse dos novos indicadores econômicos pós-Lula.

A pirigueti, periguete ou simplesmente piri praticamente não nasce com Eva, mas nasce talvez com a imagem sapeca de Marilyn Monroe nos anos 1950. No Brasil, talvez com as vedetes de umbigo de fora, quase na mesma época.

O termo piriguete teria surgido em Salvador, no carnaval da virada deste século e consolidado nas letras do funk, do arrocha e da fuleragem-music do forró eletrônico.

Se fóssemos arriscar em uma representação da moça de classe C, essa moça seria bem diferente. Mais para comportada do que maluca, mais conservadora, focada em subir na vida pelos estudos etc.

Tiro pelas minhas 50 primas, entre o subúrbio paulistano e cidades do Nordeste.

Enfim, uma musa mais pudica, talvez até evangélica.

Mas chega de minha sociologia chinfrim de boteco.

O que importa é que a piri mete medo na concorrência. Calça apertada, miniblusa, barriguinha de fora, peitos turbinados em suaves prestações, um colosso.

Não se nasce periguete ou piriguete. Torna-se periguete. Não é questão de origem ou de classe. Pode ser, inclusive (concorda comigo, dona Simone de Beauvoir?),  emancipação feminina de fato.

A periguete que eu amo, por exemplo, não me deixa em paz. Não me dá garantias, enlouquece o meu juízo. Faz o nosso caso virar um filme que mistura erotismo e suspense. Quase um pornô dirigido pelo Hitchcock.

Essa falta de domínio total sobre ela, me faz renovar a paixão diariamente. Só as periguetes sabem disso. Não deixam o macho folgar e mandar no jogo.

A minha periguete toca o terror no bairro. Só escuto as fofocas. Nem ligo. Não há como tê-la de outro jeito. Me conformo. Sim, ela me domina, ajusta a coleira diariamente. Eu aceito.

Fazer o quê, amigo?, se as certinhas da área não me falam ao miocárdio. As mulheres sonsas, metidas a santas, muito menos. São as piores.

Então quer saber de uma coisa: vou assumir de fato a minha periculosa e periclitante condição de homem dominado.

 

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O medo do macho diante do toque

Por xicosa
14/07/12 09:06

O médico e o monstro: eis o drama do consultório

Nós vamos à guerra, mas fugimos de um consultório médico como o diabo da cruz. O eterno medo do macho diante de um diagnóstico.

Quando o assunto é o exame de toque, Nossa Senhora do Ó, o tabu é quase imbatível.

Só vamos ao médico à força. Na maioria das vezes arrastados pelo braço, como crianças. Graças às nossas zelosas mulheres.

Repare nos números oficiais de uma pesquisa da Secretaria de Saúde de São Paulo: 60% dos marmanjos só procuram o homem de branco quando a doença já atinge um estágio muito crítico.

O levantamento me fez lembrar a minha primeira vez no exame mais aterrorizante para a macheza latina:

-Senhor Francisco?!

-Sim…

Chegou a hora da verdade. As rotas de fuga estão obstruídas. Não há escapatória. Naquele instante, o primeiro homem de gerações e mais gerações do ramo sertanejo dos Sá Menezes seria submetido ao labiríntico mundo da procto-investigação.

Que fazer?, resigno-me, leninista rendido ao mais dialético dos toques da humanidade.

Ao adentrar o recinto, lembrei logo da infame pilhéria. “O médico introduz o dedo no respeitável cidadão e pergunta: ‘Sentes alguma coisa?’. Ao que o paciente sussurra: “Sinto que te amo.”

Recordei também de um amigo, rapaz de Serra Talhada, terra de Lampião, que era tão macho, mas macho de um jeito que usava dois sabonetes no seu banho: um Phebo para a parte dianteira e um Lux de Luxo exclusivo da traseira. “Esse contato é perigosíssimo, não se deve misturar as vocações”, dizia, no banheiro coletivo da Casa do Estudante.

Era chegada a hora. Ao sacrifício, pois. Segura na mão de Deus e vai! O simpático doutor tenta disfarçar suas feições mal-assombradas à Anthony Hopkins. Foco nas mãos do monstro. Dedos médios, mas habilidosos como um manipulador de teatro de bonecos.

“Que macho sou eu, ora bolas!”, penso, para me encorajar. O médico ordena que eu deite. Um amigo da firma me contou que a primeira vez dele havia sido na clássica posição “de ladinho”. A minha foi, napoleonicamente falando, de bruços mesmo, quase de quatro, diria.

No meu retrovisor imaginário, vejo o dublê de Hopkins colocar uma espécie de camisinha de dedo. Depois, a vaselina, o lubrificante, sei lá. E não foi com o mindinho, muito menos com o seu vizinho, coube o serviço ao matreiro fura-bolo, como no folguedo infantil.

Mas tudo dentro do maior respeito, uma escaneada tecnicamente irreparável. Como diria o bardo lusitano, apenas uma rápida bulida no meu “eu profundo e outros eus”.

Próstata em ordem, tamanho clássico de uma noz, segundo a autoridade médica, voltei para casa engajado na brigada preventiva contra esse tipo de câncer, uma das maiores causas de mortes de cavalheiros por estas plagas.

Seja homem, cabra, treine em casa, com a namorada. No mais, é seguir o conselho do filósofo Emerson, que em velho anúncio do uísque Johnnie Walker recomendava: “Faça tudo aquilo que você mais teme”.

Sinceramente, o que custa um dedinho de prosa com o seu urologista. Cuide-se, homem!

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