Manual para ser menos ridículo nas eleições
26/07/12 04:21Além da picaretagem de sempre, campanha eleitoral tem seu lado tragicômico. Se você viu a imagem de José Serra tentando se equilibrar no skate, na vibe de agradar aos jovens paulistanos, entenderá facilmente este post.
A fotografia do Lula com Maluf, por um punhado de votos conservadores de SP, diz mais ainda. Nada do que é politicagem me surpreende. Repórter de quase todos os pleitos depois da redemocratização, deixo aí este breve e democrático guia.
Com uma mudança ou outra, minhas dicas em nada diferem do “Manual do Candidato às Eleições”, escrito em 64 a.C. em Roma, por Quinto Túlio Cícero. Foi publicado aqui no Patropizza pela editora Nova Alexandria. Você encontra fácil nos sebos.
Agora, porém, repare no que digo:
Beijo nas criancinhas – É o ato mais elementar da jornada. Recomendo, porém, sentir antes do afago o comportamento do infante. Não beije bebês, eles são mais surpreendentes e podem, inclusive, cagar aquele lindo cocô abacate na hora do afeto que se encerra.
Já vi o simpático Ulysses Guimarães (PMDB), que Deus o tenha nos mares nunca dantes, levar uma criança ao desespero em Ouro Preto. No mesmo dia em que ele, por tentar aparentar estar mais forte do que se suspeitava, levar o tombo em uma escadaria de igreja.
De nada adiantou a força do jingle de 1989: “Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais”.
Outros que vi pondo crianças em assombro digno do filme “O bebê de Rosemary”: Mario Covas em Bauru, embora fosse o mais sincero dos políticos em campanha; Serra em Ourinhos; Marta em São Miguel Paulista, na ZL de SP.
Buchada de bode – Esta joia da culinária internacional –a origem é escocesa- costuma deixar os desacostumados de cama. Onde os fracos não têm vez, a gastronomia do macho-jurubeba não é para qualquer um mesmo.
Meninos, eu vi o desconforto de FHC nas suas campanhas pelo Nordeste. Sim, é uma desfeita para o dono da festa o candidato fingir que come. Não tem saída.
Não custa lembrar, por falar em gente sensível, que o casal Sartre & Simone de Beauvoir sofreu um piriri mortal na visita ao Recife, nos anos 70. O existencialismo não resiste a meia hora de vida real nos tristes trópicos. O existencialismo é uma farsa sartreana.
O bêbado da esquina – Ele cola e baba no candidato, pede para pagar mais uma, promete o voto e logo depois o esculhamba. É o mais anárquico e inevitável dos personagens de uma campanha.
O eleitor pidão – Você, caro candidato, não vai conseguir se livrar deste fisiológico nunca. Ele aceita qualquer coisa, menos voltar para casa de mãos abanando.
“A única coisa que posso lhe oferecer é uma canção bem triste, para você passar o dia chorando”, dizia Pedro Bandeira, violeiro, repentista e vereador da minha rua em Juazeiro do Norte.
O eleitor que ainda acredita – Eis um dos piores tipos. O esperançoso. O que ainda aposta que as promessas podem ser cumpridas. Ele gruda no postulante ao cargo público. É um pentelho. “Olhe, não vá me decepcionar, hein, acredito no senhor mesmo, não é brincadeira”, baba.
O programático – Um sujeito nada prático. Talvez o pior de todos. É o eleitor que pretende discutir programa de governo. Item por item. Como se essa obra aberta, essa carta de intenções interesseiras representasse alguma coisa em campanha política.
É só para enganar mesmo. No documento sempre estão contemplados genericamente todos os segmentos e pleitos da humanidade. Para nada.
O festeiro – Ganha a eleição, para este tipo de eleitor, o candidato que promover as melhores farras. Eleitor nietzscheano, ele só acredita nos deuses que dançam. Embora os showmícios sejam proibidos, as festas disfarçadas não.
Normalmente são os prefeitos que tentam a reeleição que torram toda a grana pública com bandas de forrós fuleiras e outros chicletes com banana. É o tipo do candidato-micareta. Nego ama.
Ajude, amigo(a), a enriquecer este manual eleitoreiro. Que outros tipos você sugere?