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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Copa: a vingança dos corações solitários

Por Xico Sá
12/06/14 02:06

cabalero

“Bendita abertura da Copa que acabou com o massacre romântico dos pombinhos”, discursa uma bela e exaltada moça, põe gostosa nisso, meu chapa!, aqui no La Boca, um extraordinaríssimo boteco bunda-pra-fora de Copacabana.

Um breve parêntesis antropológico: bunda-pra-fora é aquele típico e pequeníssimo ambiente familiar carioca no qual o freguês bebe no balcão com o traseiro para a rua, lua e alhures.

SP tem os pés-pra-fora; Rio tem os bundalelês ao relento.

Bendita Copa, mandava a incrível criatura de calça vermelha –ah, como cai bem uma calça vermelha em uma fêmea.

Na contramão geral do negativismo, a doença infantil que tomou conta de milhões de brasileiros, a nega exaltava o mundial de seleções.

Por uma razão nada ludopédica, zero futebolística.

Pelo que entendi, bisbilhotando a conversa alheia –missão primeira de um cronista de costumes- a magnífica morena havia tomado um pé-na-bunda recentemente.

Para quem ainda vive o honesto e quase obrigatório luto de um relacionamento, o dia dos namorados é mais massacrante ainda. A nossa bela desconhecida mascava, era notório, o jiló da solidão.

Ainda bem que a maldita data não vai vingar este ano, entrei na conversa, conselheiro sentimental vocacionado que sou.

Ainda bem que esta maldita data de hoje foi engolida pela fome de bola.

Ainda bem.

O dia dos namorados, pedi a pelota, para continuar com o meu lirismo populista: é um massacre publicitário do demo, uma humilhação, a ditadura do casalzinho feliz. Feliz ou supostamente feliz. Feliz ou não se aguentando mais, apesar de cumprir, falsamente, os rituais.

Quantos casais não estarão hoje, mesmo com Copa, teimando contra a espontaneidade e contra a vida. Quantos casais não estarão hoje em completo silêncio, sem mais nada para um pombinho arrulhar ao outro, ouvindo apenas o tilintar dos talheres naquele bistrô onde um dia tudo começou lindamente?!

Quantos homens terão que passar na farmácia e comprar os estimulantes sexuais para fazer aquele sexoxim obrigatório e sem amor?! Apenas para cumprir o serviço obrigatório da data!

É triste, mas temos que lembrar da melhor crônica sobre esse tema de todos os tempos, escrita pelo gênio mineiro e botafoguense Paulo Mendes Campos:

“O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas.”

É, amiga, o dia publicitário dos namorados é mesmo um massacre. Amor, verdadeiro ou falso, vende, romantismo é o melhor camelô da praça, sempre.

A solidão, amiga do La Boca, não vende celulares e outros badulaques modernos.

Que massacre. Celulares com planos para falar de graça (hello!) cem anos com a pessoa amada! Como se o amor não acabasse.

Vai ter Copa. E quem mais ganha com isso hoje são os solitários envergonhados de expor o olhar de “bom dia tristeza” por ai afora.

Viva a dispersão em massa da Copa, como bradava a musa do La Boca –si, botequim em homenagem ao time argentino, por supuesto.

Esse golpe publicitário de antecipar o dia dos pombinhos não deu certo mesmo. Hoje é dia da suruba coletiva. A Pátria em shortinho verde e amarelo.

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Xuxa exorciza o tabu do "pornô"

Por Xico Sá
08/06/14 20:14

200px-Amor_Estranho_Amor

Como na canção de Odair José sobre luta de classes, Xuxa deixa essa vergonha de lado, sabe que a moral canalha não tem valor.

“Falam que o filme que eu fiz é vergonhoso. Compare aquele filme com alguém batendo numa criança e veja o que é mais vergonhoso. Eu tinha 18 anos. E interpretava uma garota de 15. O que é mais vergonhoso? Esse filme ou bater numa criança?”

E eis que 32 anos depois, Xuxa, 51, na madruga do “Altas Horas”, assume talvez o momento artístico máximo da sua carreira, o filmaço “Amor Estranho Amor”, de 1982, aquele fatídico ano da tragédia do Sarriá, quando o escrete de  Falcão, Sócrates e Zico perdeu a Copa jogando o futebol mais inesquecível do planeta.

Não havia motivos, caríssima Xuxa, a não ser uma correção sem o menor sentido, para negar e proibir na Justiça a obra. Proibir como se fosse um Robertão paranoico e azulado.

Mesmo lidando com um público infantil na carreira, Xuxa não poderia confundir as bolas: o belíssimo filme de Walter Hugo Khouri é uma ficção. Se a atriz Xuxa, na pele da personagem Tâmara, troca carícias com Hugo (o ator Marcelo Ribeiro ainda criança), não passa de uma cena riquíssima do cinema.

Quem vê algo de errado nisso é capaz de levar Nabokov de novo à fogueira da inquisição por ter escrito “Lolita”, Lo-li-ta, luz da minha vida, um dos melhores livros de todas as eras.

O bom é que Xuxa, parece-me, exorcizou o fantasma. Ufa!

Por causa do filme havia sido humilhada em público recentemente pelo deputado Eurico Delgado (PSB-PE) durante discussões sobre o projeto da Lei da Palmada.

O deputado -ah, esses canalhas, esses moralistas de meia tigela- disse, na oportunidade, que Xuxa [ela fez lobby pela aprovação da lei] cometera “uma violência maior contra crianças por participar de um filme pornô”.

Finalmente a Xuxa assume o filme. Agora só falta liberar na Justiça a fita, deixar correr solto. Se bem que é facilmente encontrável até nos camelôs de SP que vendem DVD.

“Amor Estranho amor”, repito, é um filmaço que faz parte da grande obra de um dos melhores e mais importantes diretores de cinema do país: Walter Hugo Khouri.

Um cara tão bom que era chamado, na buena onda dos amigos, de o Antonioni da Mooca. Lembrar Antonioni, o italiano que figura entre os maiores do mundo, já diz tudo da competência do cineasta paulista.

Na minha lista, o diretor de “Noite Vazia” e “Amor Estranho Amor”é gênio. Fez com o inconsciente e os desvios do caráter da burguesia brasileira o que Glauber Rocha realizou com os sertões e a política de um Brasil em transe.

Ninguém melhor do que WHK soube filmar as mulheres. Nelville de Almeida (com o universo de Nelson Rodrigues )é o que mais se aproxima.

A cena polêmica de Tâmara, o personagem fictício de Xuxa –é arte, não é pedofilia, hello, minha gente- é uma das antológicas do cinema nacional. Xuxa atua com esmero. O menino Hugo idem.

Xuxa, talvez a sua atuação nesta fita seja a sua maior herança artística. O seu melhor momento. Ali você superou inclusive o preconceito que havia com modelos que atuavam na tevê e no cinema.

É motivo de orgulho, razão para liberar geral e ainda participar, com destemor de um eventual relançamento. Definitivamente não é esta obra que queima o seu filme.

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Receita para destruir o(a) amante

Por Xico Sá
06/06/14 02:13

borges_psicanalista(clr)

Sempre que um macho ferido me escreve, depois de levar um pé na bunda, ainda com a marca do kichute do amor no fundo das calças, recorro a um dos meus conselhos sentimentais mais bem-sucedidos. Era um conselho específico que virou genérico.

O que dá certo é para ser repetido e copiado.

Repare portanto, caro R., tu que me escreveste nesta quinta dos infernos, com o pseudônimo “Desesperado da Vila Tolstói”, zona leste, SP. Repare, no exemplo de Amaro, igualmente vítima de uma traição, uma bola nas costas como se diz na metáfora futebolística, com ou sem Copa.

Caríssimo desesperado, mire-se no exemplo de Amaro, repito:

Finalmente encontro Amaro. Ele queria agradecer por um bom conselho. Havia agradecido apenas por email. O seu desejo, aproveitando minha passagem no Recife, era oferecer um banquete, o que o fez de forma pantagruélica, babélica, dionisíaca etc, na sua residência em Piedade.

Ao seu drama, felizmente já resolvido:

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou-lhe o cronista.

Com Amaro não foi diferente.

Quis o destino parafusar objetos pontiagudos à testa da pobre criatura.

Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador da própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Vou-me embora pra Tegucigalpa?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, diz, urrando vaidades e orgulhos.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos por vários dias seguidos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros fortuitos e vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

P.S. – Amaro cumpriu à risca. Um mês e sete dias depois ela voltou desesperada e os dois celebraram a nova vida em mais uma lua de mel em Buenos Aires.

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Não vai ter dia dos namorados

Por Xico Sá
04/06/14 03:21

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No ano passado, aqui mesmo neste espaço lúdico-amoroso-futebolístico, fiz a seguinte pergunta:

O que aconteceria se o homem, aqui vale o homem normal, a média dos homens -aquele cara simples, tarado por mulher, cerveja, churrasco e futebol – gostasse tanto da sua amada como gosta do seu time do peito?

Seria revolucionário.

Com a Copa, porém, esquece. Seja você a favor ou contra, imagina a loucura!

Se bem que homem que é homem gosta mais do seu time do que da tal da pátria em chuteiras!

Vamos fingir, porém, que macho de verdade goste de Copa do Mundo, creio que muitos gostem, segue o raciocínio.

Repare na tabela. De repente seu marido resolve ver Irã x Bósnia com os amigos, que merda. Merece uma bola nas costas. Chifre em legítima defesa, corno padrão Fifa.

Ressalvando, brother, que temos muitas mulheres taradas por jogos esquisitos tanto quanto homens babacas como este cronista.

Não vai ter dia dos Namorados.

Que data ridícula, que cai justamente, neste ano, no mesmo dia da estreia do Brasil na Copa.

Quem não namora todo dia e toda hora não merece sequer a dialética, as contradições da phoda.

Digo data ridícula independentemente do jogo ou do apelo publicitário babaca para mudar o dia dos pombinhos para a véspera.

Como assim dia dos namorados se hoje em dia os(as) idiotas do amor líquido sequer pedem em namoro?

Não se pede mais em namoro, meu jovem.

Amor líquido que vai pelo ralo antes de qualquer proposta.

Quantas fêmeas também estão naquela fase de saco cheio doidas para ver Irã x Bósnia!

Amar é fuga.

Se bem que mulher gosta mesmo na Copa é de jogo da Itália.

Ah, ao final, as reflexões, depois que o juiz levanta a placa do desconto qual a Velha da Foice que impõe teus minutos finais de vida, são as mesmas, a bela e ordinária ideia de finitude.

A Copa não pode ser uma desculpa para a nossa comédia de erros particularíssima.

A Copa é apenas uma desculpa para o nosso erro diário no mata-mata da existência. O medo de morrer leva a tudo: tanto ao conformismo quanto ao mais vazio dos protestos dos pneus queimados e antiecológicos.

Por falar nisso, querem saber da vida?, leiam já “O primeiro homem” (ed. Nova Fronteira), o romance inacabado do goleiro argelino Alberto Camus, tão inacabado como genial, como continuar vivo mesmo sem saber o que fazer direito dessa porra toda.

Dito isto, acredito ter dito tudo (rs), como dizia um velho editorial de casa impressora de São Paulo.

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A arte da fêmea pedir gostoso

Por Xico Sá
31/05/14 01:00

crumbLuluA mulher hoje em dia pode tudo.

Não depende em nada de um homem.

Por isso ficou mais louválvel do que nunca uma das maiores virtudes de uma fêmea:

arte de pedir bem-pedido, ave, me muerro!

Como elas pedem gostoso, como elas são boas nisso. Resistir, quem há de?

Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.

Pede que eu dou. Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo. Estou pedindo: pede!

Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis. Não me pede nada simples, faz favor, please. Já que vai pedir, que peça alto. Você merece, uma mulher como essa não tem preço.

Um concerto de Iggy Pop, bem longe? Te levo.

Amor sincero? Fácil, fácil.

Fidelidade? Acabo de criar o seu exclusivo cartão de milhagem.

Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses. Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, 12 vezes sem juros, no pré-datado, no cheque sem fundos.

Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no braço…, são lindamente barulhentos.

Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.

Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos. “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”

Flores de helicóptero? Como na filosofia do pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!

Pede, benzinho, pede tudo.

Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere???

Pede, minha nega, que o amor tudo pode.

Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapa de um belo pedido.

Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte ou fetiche, o que não lhes comprometem a pose e muito menos a independência futebol clube.Não é questão de poder ou dinheiro. O que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.

Eu lhe peço: me pede.

Não pede mimos baratos, pede atenção, por exemplo, essa mercadoria tão cara ao mundo das moças. Pede, amorzinho, pede gostoso, sou o senhor das tuas demandas. [* crônica republicada a pedidos]

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10 razões pra amar e 10 p/ odiar a Copa

Por Xico Sá
28/05/14 01:04
Meu estimado corvo Edgar, o maior secador do Brasil

Meu estimado corvo Edgar, o maior secador do Brasil

Dez razões para amar a Copa, inocente:

1) Mulher. As mulheres, gracias a Diós, atualmente já participam mais do dia-a-dia do futebol. Lindo. Mas é durante a Copa do Mundo que a maioria, como minha santa mãezinha lá em Juazeiro e as “primas” aqui de Copacabana, por exemplo, se engajam naquela velha corrente pra frente. E quanto mais mulher na torcida, melhor para qualquer ambiente ou qualquer mundo. Mulher, teu nome é sustentabilidade.

2) Conjunto das obras. Bom saber que, somente por causa da Copa, algumas grandes obras de infraestrutura urbana -como na área falida dos transportes públicos- foram iniciadas e podem ser concluídas, mesmo depois do evento. Se não fosse o Mundial… nem a pau, never more, corvo Edgar.

3) Essa grita de querer educação #padrãoFifa é  balela. Como mostrou a Folha, aqui literalmente copiada: mesmo mais altos hoje do que o previsto, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos. Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões. O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões. Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área.

4) Centro do universo. Bora matar o vira-latismo provinciano, ser cosmopolita, receber gente do mundo inteiro e poder mostrar que o Brasil não é apenas o que a mídia internacional publica e o que estamos cansados de saber. Somos, na guerrilhas das contradições, infinitamente mais ricos do que a vã sociologia de boteco explica.

5) Gosto de futebol, porra, como diz o Peréio. Ô pentelho mascarado, me deixa curtir em paz os melhores jogos do planeta.

6) Quero aproveitar os feriados para viajar para uma praia distante ou para o mato, bem longe dessa baderna toda que assola o país, bando de babacas e grevistas chantagistas. Verei a Pátria em chuteiras bem longe de vocês, palhaços.

7) Vou faturar uma grana extra no meu botequim ou em um comércio de rua improvisado, afinal de contas é carnaval de novo e Deus é nosso.

8) Por que deixaram para reclamar sete anos depois? Quando o Brasil ganhou o direito, 97% eram favoráveis, ouvi até fogos dos vizinhos que hoje fazem muxoxos.

9) Se o futebol era tido como o ópio do povo, inclusive por quem agora está no poder, nunca gerou tanta discussão política. Viva o futebol. Foi capaz, inclusive, de unir a extrema direita e a extrema esquerda na turma do contra, a turma do  #naovaitercopa.

10) Já que os gastos foram feitos, quero mais é comemorar o hexa e enterrar de vez por toda a síndrome de Maracanazzo.

Dez razões para odiar a Copa, inocente

1) Copa para quem? Se na hora da família inteira curtir o futebol somente uma elite econômica tem acesso aos ingressos pela hora da morte? Isso é o que se pode chamar de um evento somente para a Casa-grande e não para a senzala.

2) Além de gerar milhões em grana superfaturada para as empreiteiras, as obras públicas não foram entregues a tempo. Qual será esse legado?

3) No país em que há desvios na educação e doente morre em maca de hospital, essa grana dos estádios poderia salvar muita gente. Sem comentários. Esse assunto é muito grave.

4) Só vamos passar vergonha com os estrangeiros. Ponto.

5) Somente um alienado fica vendo esse futebol globalizado e babaca enquanto o país está um caos. Meu negócio é várzea ou a Segundona.

6) Como se não bastassem os mil e um feriados nacionais, mais dias parados ainda por simples jogos da Copa. Bando de vagabundos!

7) Ledo engano você, pequeno comerciante ou ambulante, achar que vai encher os tubos. Até o acarajé baiano de verdade está proibido pela Fifa nas cercanias do estádio. Só rola produto controlado pela entidade suíça, inclusive as iguarias regionais. Senhores turistas, fujam desses malditos exploradores tupiniquins, Nova York está bem mais em conta a essa altura.

8) Disseram que não seria empregado um centavo público nessa joça. Repare no que deu a farra do boi com o dinheiro público. Palhaçada.

9) País de alienados. Depois da vergonha da febre do álbum de figurinhas, só me falta ver esse bando de imbecis vestidos de verde e amarelo e torcendo pela seleção da CBF -porque de pátria em chuteiras, que me desculpe Nelson Rodrigues, esses jogadores mimadinhos não têm nada.

10) Que vença o Uruguai de novo. Ou a Bósnia. Tanto faz. Se é que vai ter Copa.

Sentiu falta de alguma coisa, amigo pró Copa? E você, amigo contra a Copa? Colaborem aí nos comentários.

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Só a Maria Chuteira salva a Copa

Por Xico Sá
23/05/14 02:16

pacheco

Contra ou a favor da Copa, eu vou fazer a louvação especial àquela moça, pobre moça, normalmente execrada no mundo do futebol. Ela suporta, fiel e resignada, o banco de reservas, ela não nasceu para matriz, amar demais passou a ser o seu defeito, mesmo sendo apenas a filial.

Vou fazer a louvação, louvação, meu caro Gilberto Gil torcedor do Bahia do Lessa Futebol Clube!

Louvando quem bem merece, a Maria Chuteira!

Mais importante do que qualquer camisa 12, ela não treina, não joga, mas é quem salva as concentrações, os Carandirus ludopédicos, do tédio e da miséria humana, reanimando o boleiro para o clássico.

É ela quem diz “xô má fase, xô uruca”, é na Maria Chuteira que estão os poderes.
A Maria Chuteira está para o atacante em jejum como São Pedro, padroeiro dos pescadores, para os velhos Santiagos que não veem há tempos um grande peixe na rede.

Ela é a Iemanjá dos gramados.

Ninguém beija aliança ou faz o coraçãozinho na mão para oferecer o gol à nobre moça dos amores clandestinos. Nem quando nasce o seu filho por fora, o atacante faz o gesto inventado pelo Bebeto na Copa de 94 -o nana neném para as câmeras é exclusivo da família oficial.

Pobre moça dos afetos paralelos, és a Maria Madalena do mundo da bola. Meu glorioso Santo Antônio, na véspera da sua data e no Dia dos Namorados, protegei a Maria Chuteira, ela também é filha de Deus, amém.

Tudo bem, moralistas a julgam oportunista, perdoai, eles não sabem o que dizem. Não sabem o peso de ser a outra permanentemente. Boleiro é mais moralista ainda, separa mulher para casar de mulher para o recreativo social clube.

Treino é treino, jogo é jogo, vale a máxima do Didi, sempre, ô raça, como blasfemaria o chapa Tutty Vasques.

De todas as Marias, a Maria Chuteira, amigo, é a mais perseguida e folclorizada. Nem a Maria Gasolina sofre tanto na encruzilhada pseudomoral. A Maria Coxia (teatro), a Maria Edital (cinema), a Maria Balão (HQ), a Maria Ervas Finas (chef de cozinha) usufruem sem preconceitos da admiração pelos artistas.

A Maria Teclado, nem se fala, ama jornalistas e escritores e ganha o status de musa. A groupie de astro de rock ou de qualquer garoto de banda, nossa, no problem, amor livre sem os beques morais da sociedade.

Maria Chuteira não, pobre moça.

Ela chega cedo ao CT, acompanha a chatice dos treinos táticos, aguenta os professores Pardais e seus 3-3-4, seus 3-5-2 noves fora nada, espera os cobradores de falta chutarem contra barreiras imaginárias…

Sim, Maria Chuteira, uma heroína. E imagine aguentar o 171 de boleiro nas oiças? Se homem normal já mente à beça, imagine um “migué” ludopédico no juízo. Sorte que é tudo menino, quando acha que está entrando com bola e tudo, ela já está fazendo o teste de DNA na esquina.

Eu amo a Maria Chuteira e a defendo, aqui na crônica do amor louco de sempre.

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Quando a dor de amor vai embora

Por Xico Sá
21/05/14 22:31

|Leonard_Cohen_by_galagoola

Místico que sou, parece coisa de lua minguante. Na caixa postal desta quarta-feira, mil pedidos por uma crônica sobre fim do luto, fim da dor amorosa -tem algo mais difícil de vencer na vida?

No que pego, só para variar, a tal experiência própria, e reedito:

Para você, minha pequena, que acaba de se livrar de uma dor amorosa que a acompanhava pelas ruas como um vira-lata sadomasoquista.

Para você que acabou de deixar essa dor no cemitério dos amores esquecidos ou no crematório dos encostos e homens-roubada.

Para você, neste exato momento em que se livra da praga, o cirúrgico instante em que você diz “baby você já era”, como na versão da Clarah Averbuck para “Out of Time”, dos Rolling Stones, clássico dos concertos de Wander Wildner.

Está ai um momento lindamente difícil, primeiro plano, fechado, só você e a câmera do homem que filma tudo lá de cima, agora em 3D, para que todos acreditem e não vejam como truque ou chantagem…

Está ai o justo instante em que diz, aqui, câmera 1, a grua de Deus: acabou chorare,  tá tudo lindo, chega de palhaçada!

O momento da iluminação, meu santo Jack Kerouac, o beijo no vento, o sorriso, o fim da maldição de todas as músicas tristes que pareciam sempre biográficas, como as de Leonard Cohen, do Chico ou do Waldick.

Já reparou, amigo(a) que, quando doentes de amor, toda e qualquer canção é a história cagada e cuspida das nossas vidas?!

Maldita FM da madruga. No Hellcife, a rádio Caetés dá o bis!  Lascou duplamente e de vez.

Entramos no carro ou em um táxi de madrugada, velho e bom amigo Serginho Barbosa, e lá está a trilha sonora da existência.

Agora você simplesmente ergue as mãos para os céus e diz: estou livre, carajo!

Penei, sofri, vivi o luto amoroso, mas essa(e) peste não me merece. Você ergue as mãos para os céus e agradece.

Você foi grande, não esnobou com o(a) primeiro(a) que apareceu pela frente, respeitou o luto sob trilha de Morrissey, viveu noites de insônia e solenes estiagens no reino da Carençolândia.

Você quase toma barbitúricos, você quase toma racumin como os suicidas antigos, mas você foi forte, enfim, você foi intenso(a) e segurou a onda em todas as medidas e trenas do possível.

Óbvio que às vezes você se enganou, achava que estava livre e teve ruidosas recaídas, todos nós dançamos esse tango sem manteiga, achamos que estamos libertos e lambemos, de novo, os pés de novo da mulher-abismo ou do homem-roubada,  afinal de contas o amor é mesmo uma pedra de crack rumo à estação da Luz.

Amor é eclipse.

Agora não, você se sente livre mesmo, até recita um verso de  Walt Whitman: “De hoje em diante não digo mais boa sorte, boa sorte sou eu!” E segue. Lindeza.

Pronto. Você se sente livre mesmo(a), se arruma bem linda, bota flor no cabelo, você, homem velho, luta boxe sozinho no banheiro, yeah!, você pede um uísque duplo, bota um Rolling Stones na radiola de ficha, sai bonito da sinuca, mata a bola preta de tabela, você está preparado(a) para uma nova vida, caiu a pena como um passarinho, caiu o pelo como um(a) gato(a), mudou de sina e com todo respeito ao clichê mais vagabundo, a fila anda.

Você fez todas as rezas, orou para Jesus, foi no terreiro e no centro espírita, baixou os tarôs e tomou carma-cola, pediu para a menina anônima que viu a virgem na mata e rendeu-se ao neo-orientalismo, você fez de tudo um pouco, santa.

É, amigo(a), se o pé-na-bunda é em preto e branco como naqueles bons, mudos e tristes filmes do expressionismo alemão, a salvação é em 3D, mais que léguas submarinas, é uma montanha russa, um carrossel de parque de diversão, um homem-aranha II, a roda gigante ou uma simples caminhada pelas ruas com um sorriso enigmático e um bom ventinho na cara.

Adeus, roubada!

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Mire-se no exemplo das mães de Abreu e Lima

Por Xico Sá
19/05/14 12:52

É preciso, no meio da bandalheira e dos arrastões, louvar as mães de Abreu e Lima.

As mães que deram início ao movimento de devolução das mercadorias saqueadas durante a greve/ motim da PM de Pernambuco na semana passada.

A delegacia da cidade mais parece Casas Bahia. A todo instante chegam geladeiras, máquinas de lavar, tablets… e outras mercadorias fetiches.

Vi e ouvi declarações comoventes. Filho meu não bota a mão no alheio, disse uma dessas anônimas e honestíssimas brasileiras a um telejornal. Ela mesma foi devolver um eletrodoméstico levado por um dos seus meninos.

Depois que as mães reagiram, começou uma onda de devolução das mercadorias. Deu vergonha em quem havia cometido os saques no comércio da cidade da região metropolitana do Recife.

Essa honra materna é a salvação da lavoura.

Filho meu não bota a mão no alheio. Que o velho coração materno bata mais forte.

Para o filho trombadinha e para o filho político.

Para o filho taxista, para o filho empresário, para o filho dono de restaurante na cidade do Rio de Janeiro.

Para todo amor filial.

Que as mães de Abreu e Lima sirvam de exemplo. Bravas como as mães da praça de Maio.

Um lugar que tem um batismo nobre, é bom que se repita: Abreu e Lima (1794-1869), o pernambucano que lutou, escreveu discursos para Simón Bolívar e participou ativamente das guerras da independência da América espanhola.

Que fique esse eco como mantra a todos os rebentos da tal mãe gentil: filho meu não mete a mão no alheio.

Isso é que é lição de casa. Vale por todo um sistema de educação que não funciona.

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Morre o maior sacanólogo do Brasil

Por Xico Sá
14/05/14 13:28
Liêdo em foto de Cida Machado, 2010

Liêdo em foto de Cida Machado, 2010

E lá se foi o escritor e, de longe, o maior pesquisador da sacanagem popular brasileira, o velho safado Liêdo Maranhão, 88, que morreu nesta manhã no Recife, vítima de parada cardíaca -hospitalizado havia três meses, resistira a um AVC e a uma queda que lascou seu fêmur.

Quando soube da notícia, a primeira imagem que me veio foi a de Liêdo recitando Baudelaire, em francês, para a rafameia do Recife. Dizia na língua do poeta e traduzia na sequência, verso a verso, para os feios, sujos e malvados.

Dentista sem dente, como tratava da sua formação profissional, Liêdo, nosso guru da Praça do Sebo e da cachaça nos derredores do Mercado de São José, deixou livros, diários, pesquisas e um grande museu de objetos e folhetos sobre tudo que é safadeza e fuleragem do Brasil.

De comida de pobre, receitas para tempos de guerra -vide o mingau de cachorro- às aventuras na zona portuária do Recife, a opening city dos mariners, como era chamada pelos gringos.

Folclorista, antropólogo autodidata da poeira (povão no Recife), apanhador de costumes… De um tudo Liêdo era chamado nas ruas e na imprensa. Talvez o que mais gostasse, porém, fosse o tratamento recebido nos bares do Mercado de São José: bucetólogo. De tanto estudar os órgãos sexuais na visão da massa, mereceu a galhardia.

Futebol, sexo e religião -com mais sexo que os outros dois itens- formavam a santíssima trindade das investigações nada teóricas do mestre.

Liêdo estava para o Recife/Olinda como Joe Gould para Nova York. Lembro dessa comparação da jornalista Silvia Bessa em texto exemplar na revista Continuum (Itaú Cultural).

A diferença é que, com sua coleção de pesquisas e diários, Liêdo concretizou o sonho que o americano não conseguiu realizar, lembrou Silvia.
Conhecido boêmio da NY dos anos 1930 e 1940, Joe foi personagem do livro “O Segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell (Companhia das Letras).

A utopia do boêmio e sem-teto Joe, no seu mergulho no submundo das ruas, era chegar ao que chamava de  “a maior e mais importante história oral da humanidade”.

Liêdo deixa essa saga que o velho Joe tentou lindamente construir.

Para findar a louvação, um caso real de Liêdo Maranhão narrado a este cronista por Moema Cavalcanti -sim, a autora das capas de livros mais bonitas do país.

Liêdo, tarado por carnaval, aceitou um trato com a mulher, uma valente espanhola: não iria, pela primeira vez na vida, se esbaldar na sacanagem momesca. Tudo certo. Por um milagre, ele conseguiu cumprir a promessa.

Na Quarta de Cinzas, foi cobrar a recompensa. No que a mulher,  braba que nem siri na lata, se esquivara. Revoltado, Liêdo bradou:

“Olhe, só existem duas coisas na vida com as quais não se brinca de jeito nenhum: cu e arma de fogo!”

A esposa havia prometido, obviamente, um prêmio em sexo anal pelo bom comportamento do marido no período carnavalesco. Desde então a frase “com cu e arma de fogo não se brinca” é um clássico popular no Nordeste.

Que a terra lhe seja leve, meu queridíssimo Liêdo.

 

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