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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Os barulhos caseiros que destroem o amor

Por xicosa
06/08/12 19:56

Quando a noite vira um pesadelo como neste filme de Scorsese

Uma boa nova para o macho que ronca acaba de ser aprovada pela Anvisa, a agência de saúde e vigilância sanitária do governo.

Trata-se de um microchip implantado no céu da boca capaz de reduzir os decibéis da apneia. Está disponível no mercado. Alvíssaras, meus camaradas.

O ronco é um destruidor de lares, bem sabemos.

Não apenas o ronco.

Já vi sólidos casamentos ruírem por causa de uma simples, humaníssima e desavisada flatulência de um marido ogro.

Aconteceu com uma ex-cunhada. L. despachou o pobre coitado em pleno inverno paulistano.

Há uma etiqueta para este tipo ocasião? Como proceder?

A convivência longa é uma arte mesmo. Depende de todos os detalhes tão pequenos de nós dois.

Às vezes implicamos com um simples gesto do outro, um pigarro e até um inocente atchim que nos desconcentra.

Um marido que toma sopa fazendo aquela sucção barulhenta é um marido com os dias contados. Mesmo que a sua mulher entupa diariamente a pia com as sobras da sua farta cabeleira.

Nem vamos tocar em questões já batidas como a péssima pontaria no vaso sanitário, o que obrigou, em países como a Suécia, a obrigatoriedade do xixi sentado para os marmanjos.

Enfim, são dezenas de pequenos problemas que enchem o saco de ambos.

O ronco, porém, é o mais comum destes barulhos caseiros. O que mais chateia as mulheres, embora algumas delas também ronquem e jamais admitam.

A amiga E., de um humor finíssimo, diz que o problema do ronco não é o barulho em si. É a falta de ritmo e a inconstância dos trovões na madruga.

Algumas pessoas mais duras, digamos assim, adotam a dormida em quartos separados para sanar o problema. Providência civilizadíssima, uma coisa assim meio Sartre/Simone de Beauvoir. Très chic.

Discordo. Não há casamento que resista a camas separadas. Só há amor sob o mesmo lençol ou edredon. Mas vamos em frente.

Que o milagroso microchip devolva a paz aos lares dos homens de boa vontade.

O amor e os seus barulhos perturbadores. O que mais irrita vocês?

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Só a mulher sabe acabar uma história de amor

Por xicosa
05/08/12 19:47

Vejo aqui, em reportagem de Isabela Barros para o UOL, respeitáveis especialistas, gente da USP etc, tratando da dificuldade que o macho tem para terminar as relações.

E ponha dificuldade nisso. E bote enrolação e nove-horas.

É isso mesmo. Homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim,  o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências…

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido  prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato…nem na Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

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Quem na vida não teve um problema de amor

Por xicosa
03/08/12 15:01

Não há momento mais sublime de um homem do que durante uma dor amorosa. É quase a prova de que é um homem de verdade.

Não há. Não mesmo. É rico. Perdoa-me por me traíres, salivaria o tio Nelson, que faz cem anos neste agosto.

Com ou sem chifre, é sublime. Um macho ou uma fêmea narrando um grande caso de amor é tão forte quanto Shakespeare.

Mesmo num posto de gasolina de beira de estrada, lá em Sergipe, como fez um tiozinho conhecido como Maguila: “Cheguei lá e ela tinha ido embora com outro rapaz!”

Acontece. O canto mais limpo. Nem o cheiro da moça. Maguila sofreu o baque-mor da existência. A roupa dele revirada em cima de uns papelões na sala da casa, a roupa que vivia junta, grudada na cômoda do comodismo do amor sossegado.

Eis um dos bravos narradores de “Vou rifar meu coração”, da diretora Ana Rieper, que entra em cartaz hoje nos cinemas.

Inicialmente no Recife -o umbigo do mundo-, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, , Belo Horizonte, Salvador, Maceió e Florianópolis.

Com uma excelente pesquisa de personagens e uma trilha de cortar corações, só posso dizer que é um grande filme. Simples como a música romântica brasileira, hoje vulgarmente conhecida como cafona ou brega.

Embora seja a música da educação sentimental do país, este gênero sempre foi relegado. Somos metidos e queremos nos iludir com a grandiloquência estética da minimalíssima Bossa Nova. Estou fora.

Neste capítulo viva o historiador baiano Paulo César Araújo com o seu livraço “Eu não sou cachorro não” (Ed. Record).

Neste libelo, Araújo desconstrói o mito de como a MPB de Chico, Gil e Caetano foi a grande vítima da censura da Ditadura. Os maiores alvos, amigo, foram os românticos, como sempre: Odair José que o diga.

“Eu vou rifar meu coração”é um grande tributo à canção amorosa brasileira. E começa com uma pergunta matadora do meu amigo Nelson Ned: “Quem é…
Que não teve na vida/ Um problema de amor/ Uma desilusão/ Quem é?…”

Esse anãozinho sempre fez crescer os nuestros corazones. É amado em toda a América Latina e Caribe. Só Fidel e Raul mandam mais em Cuba do que ele. É sério.

O filme tem muito mais coisas lindas e românticas. Amado Batista. Tem um cara de Brasília Teimosa, Recife, exaltando a cachorrice amorosa na cama.

Tem um jurubeba-man que não titubeia diante de uma pergunta rapidamente capciosa: “Tenho lado feminino não. Sou macho. Raparigueiro”. Hahaha.

A cena anterior talvez seja a mais macho mesmo. Um casal gay dança, rostinhos colados, ao som de “Deslizes”, na voz de Raimundo Fagner. Ah, não sei porque insisto tanto em te querer.

Agnaldo Timóteo dá um depoimento sincero. Sai da política, Agnaldo, és um dos maiores cantores brasileiros. Ele diz como foge da solidão na pele de um aventureiro, na busca do amor líquido das saúnas e paradas de ônibus.

Odair revela a isonomia da dor de corno. Sofre o pedreiro e sofre o doutor. Só muda o cenário. Eu vou tirar você desse lugar, meu amor dos outros.

E assim, na beira da estrada, em confissões em lares doces lares, “Vou rifar meu coração” se constrói. Claro que tem Wando. Ele canta “Moça”. Ele explica.

Walter de Afogados vem com “Moranguinho do Nordeste”. Clássico recente.

Lindomar Castilho, o da canção-título, aparece, com tese dostoievskiana para a imbecil tragédia que cometeu em 1981. Matou a mulher por ciúmes e extremado machismo. Cumpriu a pena. Momento tenso do filme, demasiadamente humano. Elipse por cima de elipse.

Quem ama se acaba sozinho, chora todas as lágrimas no ombro do garçom amigo, toma banho na lama amorosa e ressuscita. Só a lama cura.

Vale um velho mantra deste amorosamente surrado cronista: “Quando a vida dói, drinque caubói.”

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O amor e o transtorno do diagnóstico

Por xicosa
02/08/12 00:54

A galega do filme “Barbarella” lembra a moça deste conto-crônica

Ela me conta, na cama, logo depois da nossa primeira noite, que sofre do transtorno da bipolaridade.

Só quero ver, com mais detalhe, a cor dos seus olhos. Ela insiste em esmiuçar o diagnóstico.

-Aumenta, aumenta, é Strokes –ela diz.

Subo o volume da KCRWRadio que toca no ipad. –Cala a boca bem-te-vi –ela ri do pássaro colado na janela. (Impressionante como tem bem-te-vi em São Paulo.)

A música é “Machu Picchu”.

Ela fala dos tantos remédios que toma. Sente saudades da Ritalina, ri bonito. Ela conta muito sobre a vida, um casamento, a família interiorana, viagens, projetos, o significado de tantas tatuagens, diz que falo árabe dormindo.

Agora ela chora. Choro junto, havia um bocado de coisas represadas. As lágrimas das raparigas são coquetéis sem álcool, lembro da frase do gajo Miguel Esteves Cardoso, autor de “O amor é fodido”.

Cortinas abertas para o mundo. Ela vai embora qual uma Barbarella lindamente armada até os dentes. Ela vai embora e me deixa pensando em tudo.

Não me espanto em nada com o diagnóstico dela, embora eu tenha amigas, com este e outros humaníssimos transtornos, que me dizem: “Não conto esse tipo de coisa de cara, deixo bem mais para adiante. Tem homem que sai correndo”.

Como os diagnósticos são cada vez mais comuns e catalogáveis –todo mundo porta o seu debaixo do braço- quero dividir com vocês essa dúvida. Contar ou não contar, por exemplo, que é um(a) fóbico(a) medicado(a)?

Em que momento abrir o jogo? Você acha que atrapalha a possibilidade de romance?

Juro que tenho uma certa atração pelos diagnósticos. Dá vontade de cuidar, mesmo quando é algo bem leve. Uma vez que de perto ninguém é normal mesmo, por quê temê-las?.

Não pode é haver –e já vi um tanto disso- esse orgulho todo pelos diagnósticos mais pesados. Como se fossem álibis para quaisquer desgraças ou impossibilidades.

Enfim, vivemos uma era em que muita gente chega na vida do outro com um diagnóstico –em vez da loucura não medicada de todos e de sempre.

Há um momento certo para este tipo de papo? Quanto mais à queima roupa mais eu me comovo. Agora é com vocês: ajudem este velho cronista a entender os novos tempos.

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A moda e a negação do corpo da brasileira

Por xicosa
01/08/12 12:39

A moda e a mídia têm um certo complexo de vira-lata quanto ao corpo típico da brasileira.

Tal complexo foi inventado pelo gênio Nelson Rodrigues para definir o sentimento de inferioridade do nosso futebol antes das grandes conquistas mundiais.

O efeito Gisele Bundchen e o sucesso de outras top models no exterior reforçaram ainda mais o nosso fetiche pela (irreal) magreza absoluta.

Qualquer celulitezinha nas passarelas ou nas fotos de celebridades na praia passou a ser discutida como um crime de lesa Pátria.

Uma obsessão sem sentido.

O sociólogo Gilberto Freyre, no seu livro “Modos de homem & modas de mulher” (editora Record) alertava, ainda nos anos 1980, para esta negação do corpo miscigenado deste país.

É o que diz, em outras palavras –e que doces palavras-, a atriz Débora Nascimento, a Tessália de “Avenida Brasil”,  à revista “TPM”.

Repare nas aspas: “Sempre fui uma mulher grande, tenho quadril, sou brasileira, né?”.

E como és, meu tesouro.

A moça, que mede 1,78 m de altura, conta ainda que ganhou 26 kg em quatro meses e chegou a pesar 84 kg. “Vestia 44, hoje uso 40. E daí?”

Daí que você pesando cem vai continuar um colosso. Daí que não podemos negar as belas ancas, bundas e coxas das nossas divinas flores do bairro.

Dai que repito, pela enésima vez, um velho mantra deste cronista: homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite.

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`A gente se vê´ é pior que o pé-na-bunda

Por xicosa
31/07/12 14:34

O amigo P., aqui de São Paulo, me liga, às 13h13 nesta terça invernosa. Liga esbaforido, acabou de levar um pé-na-bunda.

Pé-na-bunda não. Muito pior. Pior do que um chute de uma bela bota de uma elegante paulistana. Como são elegantes as moderníssimas moças desta cidade no inverno –como Caetano pisou na bola ao falar da “deselegância discreta” das nossas meninas.

Elegância, porém, não é o caso desta sofrida hora do meu camarada.

O amigo não levou apenas um cartão vermelho. Pé-na-bunda até é compreensível, acontece.

O que ele levou mesmo na cara dói muito mais: o desprezo de um lacônico e gelado “a gente se vê”.

Isto sim, tio Nelson, é voltar para casa chupando o frio chicabom da solidão nesta cidade nada amorosa.

“A gente se vê um cacete”, reagiu P. Sem jeito.

Estava morto de feliz com a garota. Um intensivão de sexo. Grudados, costela a costela, com o superbonder do amor desde o começo de julho.

Repeti para ele -temos que rir da própria desgraça- uma frase do cronista e compositor Antônio Maria:

“Toda mulher, após trinta dias de felicidade sente fome e sede de desgraça. Só não irá embora se não tiver condução.”

P. não consegue ter humor nessa hora.

Nada pior do que um “a gente se vê”, “a gente se esbarra”, “a gente cruza por ai” etc.

O amigo está inconsolável. Estava fazendo a coisa certa, deduz, em uma correção como não praticava havia séculos.

Ex-canalha, andava regenerado como em uma letra de samba antigo. Se você jurar, que me tem amor…

Aquele “a gente se vê”, porém, soou ao seu ouvido como o “never more” do corvo de Edgar A. Poe.

“A gente se vê” é uma espécie de “onde está Wally”do amor e da sorte.

É pior do que tentar achar o amor da sua vida na festa dos papangus de Bezerros (PE), o maior baile de máscaras do mundo.

É pior do que a velha desculpa de sair para comprar o Malboro vermelho do abandono sem filtro.

“A gente se vê” não é o mesmo que deixar ao acaso.

Nada mais detestável de ouvir do que a maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.

Pobre amigo P., inconsolável. Um ex-canalha quando soluça desperta a piedade do mais frio dos assassinos.

“A gente se vê” não é o mesmo que “vamos dar um tempo”.

É o gelo baiano do namoro. O que separa de fato, cada um em uma mão na avenida Paulista.

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

“A gente se vê” é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. Da época em que nada fica. Nem o amor daquela rima antiga.

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Tons de cinza e o erotismo para mulheres

Por xicosa
30/07/12 13:59

A espiã Brigitte Montfort no traço de Benício

Muito barulho por uma versão “Sabrina” de luxo, para ficar apenas no nosso mais famoso romance de banca.

Trato do badaladíssimo “Cinquenta tons de cinza” (ed. Intrínseca), da escritora britânica E.L. James.

O luxo, no caso, fica por conta dos personagens: uma estudante de literatura e um jovem bilionário. Anastasia e Christian Grey. Tudo muito chique.

No mais… Um erotismo que não engata.

Não sei, a não ser por ter vendido milhões lá fora, qual razão faz a mídia brasileira ceder um latifúndio de espaço a tal brochura.

O principal apelo do bestseller seria um erotismo capaz de incendiar as mulheres. Será?

Tentei fazer uma leitura sem preconceitos. Mas foi dureza. Intercalei o calhamaço com vários livrinhos de banca. “Sabrina” é mais caliente, sugestivo e não precisa focar o tesão em uma espécie de Eike Batista versão sadomasoquista de butique –caso do mr. Grey.

Desculpa Srta. James, mas fui educado pelas aventuras da espiã Brigite Montfort, do gênio da pulp-fiction Lou Carrigan. No Brasil as capas eram feitas pelo artista Benício –o camaradas acinzentados acima dos 45 anos sabem do que estou falando.

Creio que exista uma certa diferença entre o erotismo/pornografia para homens e para mulheres. Em vez dos tons de cinza, amiga, pegue logo um livro da Anaís Nin. É literatura sem chatice e infinitamente mais excitante.

Outro dia deixei dez sugestões de outros escritores do gênero. Você pode conferir aqui o post ainda em chamas.

Ou simplesmente largar os livros e criar você mesmo o seu enredo. Muito mais interessante. Seja erótico ou pornográfico.

Aliás acho besteira fazer tal distinção entre erótico e pornográfico.

Meu advogado de defesa, nessa tese, é bem fraquinho:  o escritor francês André Breton. Repare no que ele disse: “A pornografia é o erotismo dos outros.”

O que acha?

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O domingo não dá folga aos corações

Por xicosa
29/07/12 13:51

 

Essa sabia viver um domingo. Grande filme. Recomendo

O telefone não toca. Antes de qualquer ensaio de sofrimento à toa, advirto:

Ainda não é o courvert do desprezo. É o efeito da pane telefônica com o nono número dos telefones de São Paulo.

Consolação preventiva à parte, amigo(a),  é o domingo que pega.

Repito e repito: é o domingo que dói como um gol contra aos 47 do segundo tempo.

O sábado é uma ilusão, como dizia o tio Nelson.

O sábado, creio, é uma ressaca cantada de véspera.

O sábado é um embalo de desespero para corações solitários na pista. Seja com um brega na radiola ou seja com um Sonic Youth.

O sábado é uma baixaria, um sexo bêbado  e desajeitado. A tentativa de um beijo que não cola, não ajusta, não molha.  As pernas também não se entrelaçam. O drama do entrelaçamento das pernas. Um desastre, um teatro de amadores.

O sábado é um arrependimento.

O sábado é um jantar fino entre casais –essa gente que janta, que ama jantar fora e pagar caro por um chéf qualquer de grife.

O sábado é apenas a ressaca mais óbvia que sentimos agora e nos faz odiar aquele almoço previsto para a casa da sogra –mesmo a melhor sogra do universo, nesse capítulo sempre dou sorte.

O domingo, não.

O domingo pega.

Principalmente para quem
perdeu o amor há pouco tempo. Como dói o almoço domingueiro nestas ocasiões. Nem vale um almoço. A este tipo de solidão a gente alimenta com miojo ou com a pizza gelada da tentativa amorosa que o sábado prometera e não cumpriu o delivery.

Domingo dói como aquele golzinho fanhoso que ouvimos no rádio do porteiro.

Melancólico como aquele operário que põe só os olhos de fora na janelinha de compensado de mais um prédio em construção na Pompeia.

O domingo é um perigo. Você pode cair na fraqueza e ligar para aquela(e) ex. Que roubada. Justamente aquele(a) fdp que já está dando belas risadas na sobremesa com outro(a) vagagundo(a). Sim, eles estão pagando a conta e vão ao cinema.

O domingo é a grande prova.

Tenho amigos cuja receita é a seguinte: beber desde cedo e capotar, liquidar logo a ideia de um arrastado e tenebroso domingo.

Tudo para não chegar acordado àquela hora em que ecoa no prédio a musiquinha do Fantástico.

Claro que existem os anormais, os destemidos e saudáveis que aproveitam o dia, vão ao parque, sorriem bonito, fingem que não sentem as formigas da existência provocando calombos do tédio e da ideia de finitude.

Claro que para os religiosos também é mais leve. Eliminam um pouco o mal-estar da civilização etc etc.

Para os desprotegidos desses escudos, o bicho pega, o vira-lata domingueiro morde a canela.

No começo de namoro o santo domingo consegue até ser o dia mais incrível. Óculos escuros, mãos dadas, todo mundo lindo, a única dúvida existencial é escolher o lugar do almoço.

No fim do amor, nuestra madre, nos endomingamos tragicamente. Nos pegamos, na forma mais maluca do mundo, torcendo pelo dia seguinte.

Só dois tipos de criaturas conseguem essa maluquice de não ver a hora de chegar a segunda-feira: os que estão arrasados pelo apocalipse amoroso; os casados que têm amantes na firma.

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Ela tem um amante. O que fazer?

Por xicosa
27/07/12 16:50

“Encontros & Desencontros”, belo filme sobre o tema.Recomendo

Fico feliz quando meus conselhos sentimentais dão certo. Muito feliz, pois crente que a felicidade é mercadoria de varejo, nunca de atacado.

Não sei se vocês, meus incríveis 12 fiéis leitores, lembram. Nem eu me recordava direito.

O certo é que aconselhei, há séculos, um homem que penava horrores por causa de uma traição. Ele cumpriu à risca os meus conselhos e, pasme, a desalmada voltou.

Agora os dois vivem uma espécie de IPHAN do amor, restauraram a lua de mel e outras ruínas. Convidaram este faminto e sedento cronista (dá-me vinho que a vida é nada) para um jantar na casa deles. Foi lindo.

Repito, abaixo, o meu conselho, que serve, inclusive, para o arrasado rapaz do “Crepúsculo” e para outros que rastejam com suas dores amorosas.

***

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma filosofia de consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou-lhe o cronista.

Com Amaro, chamemos assim o nosso ensaio de Bentinho, não foi diferente.

Quis o destino parafusar-lhe objetos pontiagudos à testa.

Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador de sua própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Vou-me embora pra Tegucigalpa?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, envaidece-se o próprio.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros fortuitos e vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

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Chifre é vida ou Carta aberta ao rapaz do "Crepúsculo"

Por xicosa
26/07/12 21:12

Caro amigo Robert Pattinson, o motivo desta é tão-somente levar algum afago, um conforto de um especialista, um cara do ramo.

O chifre é como a morte. É para todos, indiscriminadamente.

Confesso. Deu dó desse moço, pobre moço, exposto ao sol –nada crepuscular-do noticiário com a sua inquestionável dor amorosa.

O menino Robert Pattinson, 26, que se diz traído pela Kristen Stewart, 22. Um até então exemplar e romântico casal de Los Angeles.

O casal da saga “Crepúsculo”. Sim, o amor sempre acaba em um final de tarde, como senteciava Paulo Mendes Campos.

Por isso prefiro ver o mundo daqui da janela do oitavo andar do edifício Alfredo Bandeira. na rua da Aurora, a rua da luz mais bonita do mundo, segundo Gilberto Freyre. Crepúsculo, estou fora.

Deu dó, mas também temperou minha ciência antiga: o chifre nasceu para todos. É o castigo mais democrático depois da morte. Só há isonomia por parte da velha da foice e da maldição do corno.

Para todos e todas.

Muita calma, caro Robert. Não será o último objeto pontiagudo que será parafusado na fronte do artista. Viver é levar essa bola nas costas.

Como diz a plaquinha do boteco: “Chifre é coisa para homem, boi usa de enxerido”.

Até os 30 anos dói mais mesmo, caro Robert. Depois, dói de novo, mas com o tempo vai perdendo o sentido.

Não sei para ti, que é um galã, um cara orgulhoso e bonito. Taí mais uma vantagem de ser feio, digo, mal-diagramado pela mãe natureza. O corno feio sofre menos. O corno feio é um agradecido de nascença.

Se for o chifre de uma mulher bonita, minha nossa, temos sempre uma filosofia de consolação: já estávamos no lucro. Nem a merecíamos. Portanto nada aconteceu de tão grave.

Repito outra vantagem, mantra desse cronista discípulo de Serge Gainsbourg: a beleza é passageira, a feiura, graças a Deus, é para sempre.

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