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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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As 12 melhores frases de Nelson Rodrigues

Por xicosa
20/08/12 15:27

Tio Nelson faz cem anos na quinta, 23. Seguimos aqui em regime de homenagem permanente, conforme prometido.

Difícil escolher as cem melhores frases do nosso maior frasista. Imagine apenas uma dúzia de pérolas.

Deixo a minha baciada. Espero que façam o mesmo. É um belo dever de casa para estes moços, pobres moços.  Afinal de contas, como N.R. dizia, aos vinte e poucos anos um homem não sabe, ainda, sequer dar bom dia a uma mulher.

Minhas 12 boutades rodriguianas:

– O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.

– Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

– Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.

– O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.

– A grande, a perfeita solidão exige a companhia ideal.

– A imparcialidade só merece a nossa gargalhada.

– Todo tímido é candidato a um crime sexual.

– Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.

– Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.

– Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

– Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.

Agora é a sua vez, amigo, quais as suas frases prediletas?

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O tira-teima é burro! O gol do Santos foi legítimo

Por xicosa
19/08/12 22:53

Foi de Nelson Rodrigues, não do coitado daquele bandeirinha, o erro mais lindo da arbitragem deste ano.

Foi, no mínimo, uma homenagem involuntária.

O que permitiu a vitória do Peixe sobre o Corinthians, o todo-poderoso, que não carece ganhar mais nada neste ano, papou até a Libertadores. Parabéns, amigos campeões da América.

Mas o erro foi lindo. Incrível. Nunca vibrei tanto. Um erro triplo. Se o videoteipe era burro, tio Nelson, o tira-teima global é um jumento.

Todo mundo viu, mas todo mundo viu errado.

Claro que não foi impedimento. Nunca. Jamais. Se haviam três avançados, alguém teria alguma razão moral para empurrar a pelota para dentro do gol do visitante.

Coube ao menino André, ali criado, o épico. O gol mais difícil do ano. Porque até um cego veria o impedimento. Se não viram, foi um milagre contra a mobralice dos tira-teimas e dos idiotas da objetividade.

Ai está a grande maravilha do futiba. Cheguei até a pensar que o bandeirinha havia confundido as camisas alvinegras. Tem uma delas que sempre é favorecida pelos árbitros.

Deixa quieto.

Confesso que estou emocionado, comovido e vou celebrar o resto do ano. Semana comemorativa no blog. Talvez a semana mais importante do ano, do século, do milênio. Daqui a três dias tio Nelson faria 100 anos. Faria não. Fará. Está mais vivo do que nunca.

Viva Nelson Falcão Rodrigues, o tarado –como gritaram seus detratores. Todas as peças foram vaiadas na estreia, menos “Vestido de Noiva!”, que agora está de volta com “Os Satyros”, em SP. Se eu fosse você não perderia nunca.

O recifense mais olindense de todos os tempos. Só lembrava, priscas eras depois, do mar de Olinda como reminiscência. Ele morou lá por uns meses.

Nelson chegou tão cedo ao Rio mas levou de Pernambuco o exagero, a hipérbole, uma figura de linguagem inventada na confluência do Capibaribe com o Beberibe. Os dois rios que se juntaram, óbvio ululante, para formar o Oceano Atlântico.

Nelson, menino nascido na cidade do Recife em 23 de agosto de 1912 e falecido no Rio de Janeiro no dia 21 de dezembro de 1980.

Como digo hoje para a rede “Aqui”, os jornais populares mais vendidos no Brasil, mesmo quando a gente não sabe, está citando Nelson Rodrigues.

Foi nosso maior frasista e dramaturgo. Perto dele William Shakespeare, aquele inglês do tempo do onça que escreveu Romeu e Julieta, não passa de um palhaço de circo mambembe.

Não há um acontecimento no Brasil em que alguém não se lembre de Nelson. O mais desmemoriado dos brasileiros sempre há de citar uma referência.

Repito: repare no que aconteceu ontem no jogo Santos 3×2 Corinthians. Um clamoroso impedimento de três jogadores do Peixe.

Simpatizante do maior time de todos os tempos, o alvinegro praiano, de imediato pensei: se o videoteipe era burro (frase do centenário Rodrigues), o tira-teima global é jumento. Não foi nada irregular, embora tenha sido.

Tio Nelson gritou a sua célebre sentença em um jogo em que o Fluminense, seu time do coração, havia sido igualmente beneficiado.

Só Nelson Rodrigues salva a idiotice pátria.

Amanhã, eleição das maiores frases do mestre. Vamos celebrar o maior de todos!

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Turismo sentimental: benvindos ao reino da Carençolândia

Por xicosa
17/08/12 21:26

Bravas fêmeas expulsas do paraíso por um deus misógino fundaram um reino nada encantado.

Deram a este pueblo o nome de Carençolândia.

Embora tenha sido criado pelas mulheres no tempo em que só existia o fogo e o verbo, foram os machos que se impuseram, muitos séculos depois,  como os mais legítimos cidadãos carençolandeses.

Cuidado, frágeis!, eles estão perdidos, sejam metrossexuais, übersexuais ou brechossexuais [aqueles que só usam roupas com encosto de brechó].

Fracos, não agüentam o tranco das mulheres mais destemidas. Arrotam macheza nos botecos, mas logo que põem as patas em casa, uivam para a lua minguante e sonham com uma chuva de coleiras.

O macho carançolandês não passa meia hora separado, não vive sequer o luto amoroso da resoluta que aplicou-lhe um conga no meio da bunda – a padoca mole e farta que dantes já prescrevia o chute.

Ele vai lá e agarra a primeira que passa, nem que seja um manequim de gesso, como ocorreu ao meu amigo Sizenando, aquele mesmo que trabalhava como galhudo-mor nas crônicas de Rubem Braga.

Enquanto o manequim era levado de um lado a outro da rua, para uma troca de vitrines, ele abofelou-se com a loira gessificada e a entope de gala até hoje.

Bem-vindos ao reino da Carençolândia, esse golfo inevitável da existência.

Sim, na Carençolândia ninguém vem a passeio e o turismo é proibido. A Carençolândia é uma espécie de Mali, de Níger, de Burkina Fasso, de Guiné Bissau, de Chade… d´alma.

A Carençolândia é o vale do Jequitinhonha metafísico que chia como catarro em nossos pulmões e tórax _diga 33!!!

Carençolândia não tem sequer feriado.

Um programa populista e eleitoreiro de saúde pública agora trouxe Rivotril, Lexotan, Frontal e zilhões de remédios tarjas pretas para este reino.

Os compromidos foram postos em toda a rede de água de Carençolândia… Adicionados ao sal, ao açúcar… Mesmo assim não houve um sorriso sequer, nem mesmo do gato lisérgico de Alice.

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A volta da mulher do lar doce lar

Por xicosa
16/08/12 14:44

Uma austera instituição alemã tenta o resgate de um velho ofício: o famoso “do lar”. Era assim que as donas de casa preenchiam antigamente o quadradinho dos questionários profissionais.

Parece tão absurdo quanto a proibição do ovo mole nos botecos de SP e outros kassabismos surreais. Parece mas não é, meu velho Tomé.

A notícia é séria. Leio aqui reportagem de Graça Magalhães para o caderno “Ela”, n ´”O Globo”. A Liga Federal das Domésticas (Deutscher Hausfrauenbund) quer salvar a espécie da extinção completa.

A coisa anda tão maluca que o estado da Baviera, conservador até o último chucrute, adotou o “prêmio do fogão” -uma bolsa de 150 euros para mães que largam o emprego e cuidam de crianças em idade pré-escolar.

E repare que estamos falando de um país governado pela Angela Merkel, a toda-poderosa da comuna europeia.

Não precisa ser uma feminista radical para chiar contra o movimento. O barulho foi grande por lá.

Ficar em casa cuidando dos filhos e esperando o maridão parece mesmo obsoleto até em Passa Tempo (MG).

Se bem que vez por outra a gente ouve, mesmo em tom irônico, uma colega se queixar dos males da modernidade.

Principalmente as que fazem tudo praticamente sozinhas. Trabalham que só umas desalmadas, cuidam da casa, dos filhos… assobiam e chupam cana.

Outras clamam, igualmente irônicas, por um marido rico, um fazendeiro, um rei da soja…

Isso não quer dizer que as colegas desejem o retrocesso. Creio ser apenas desabafo em tom de blague e pilhéria.

E aí, vocês acham que esse movimento alemão “do lar” teria êxito aqui no Brasil?

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Ainda procurando chifre em cabeça de vampiro

Por xicosa
15/08/12 00:55

Bela Lugosi, como Drácula, aí sim um sanguinolento macho-jurubeba

Assim como em cabeça de cavalo, juro que não vou procurar mais chifre em cabeça de vampiro. É a derradeira e última vez.

Quero apenas, como sempre faço com os meus pares, levar mais uma filosofia de consolação, um afago mesmo.

É que ele agora deu sua primeira entrevista oficial, em um programa de tevê norte-americano, o “The Daily Show”, do humorista Jon Stewart, ainda constrangido. Bote constrangimento nisso.

Diabos de chifre que não cura, que homem frouxo!

Falo do ator Robert Pattinson, 26, obviamente, o astro de “Crepúsculo”, que levou uma bola nas costas, para usar nossa metáfora futebolística predileta, da menina em flor Kristen Stewart, 22.

Vamos superar isso, meu rapaz. É chegada a hora. Aliás, se eu fosse você voltava correndo para ela. Teria o melhor amor do mundo. O amor de uma mulher culpada.

É. Como me disse outro dia a Adelita, em uma reunião de trabalho: a fêmea (moderna) hoje não tem mais aquela velha culpa. Esta aí, nessa sentença rodriguiana de uma sábia moça, a explicação para tudo.

Com menos de 30, meu amigo, você teve tudo na vida. Só quer moleza, é?

Um homem com a sua idade, como dizia o centenaríssimo tio Nelson, não sabe sequer dar bom dia ou boa noite a uma mulher.

Esqueça o infortúnio passageiro. Um homem sem chifre é um animal indefeso, desprotegido, principalmente um vampiro de uma saga para lá de emo.

Aproveita a fantasia, meu chapa, a delícia de uma mulher culpada, juro que ela vai dizer, mesmo que não seja 100% verdade, que você é o melhor homem do mundo.

Inclusive o melhor homem do mundo na cama. Você não irá resistir. A tendência é de um sexo bonito e raivoso. Com todas as ganas de um macho, mesmo de um macho vampiro.

Você dará o melhor de si, como dizem os jogadores de futebol. Você será o rei do tantra, em um esforço concentrado nunca dantes visto. Imagina ela: vai subir no teto.

Perdoa, seu besta!

Já fizeram vampiros mais machos, não é mesmo, caro Bela Lugosi? Esse ai fica constrangido com um mero e inocente par de chifres.

Não acham?

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A fêmea e a arte de pedir gostoso

Por xicosa
13/08/12 13:52

Atendendo a um pedido especial de uma musa do bairro,  resgato uma crônica sobre um dos atos mais bonitos de uma mulher:

Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir.

Como elas pedem gostoso.

Como elas são boas nisso.

Resistir, quem há de?

Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico, como a cena que serviu de espoleta para esta crônica.

É o jeito de pedir, o ritmo safado da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.

Quantos segredos se escondem na covinha de uma mulher.

Pede que eu dou.

Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!

Estou pedindo: pede!

Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.

Não me pede nada simples, faz favor.

Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.

Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.

Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.

Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim ou de Nossa Senhora do Carmo no braço, são lindamente barulhentos.

Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.

Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos.

Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”

Um castelo na Inglaterra?

Sim, eu dou na hora.

Que o Íbis seja campeão este ano?

Sim, eu opero o milagre.

Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!

Pede, benzinho, pede tudo.

Que eu largue a orgia, pare de beber e me regenere???

Pede, minha nega, que o amor tudo pode, por ti cumpro as promessas de todos sambas de regeneração.

Que eu suba na pedreira Paulo Leminski e declame os mais lindos poemas de amor verdadeiro?

Só se for agora, estou indo.

Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora, nem que seja a nado.

Eu lhe peço, me pede.

Não pede mimos baratos…

Pede ATENÇÃO!!!, essa mercadoria tão cara nos dias que correm.

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Ser pai é afastar a filha de certos tipinhos

Por xicosa
10/08/12 22:37

O velho Faceta e a sabedoria do casamento

“Papai eu quero me casar!/ô minha filha, você diga com quem!…”

Lembram dessa moda genial do Velho Faceta, em versão de Os Trapalhões, ainda nos finalmente dos anos 80?

Reveja aqui.

Borracho, costumo também fazer várias versões em mesas de bar com as destemidas colegas da fuleiragem social clube.

Agora aproveitamos a efeméride paterna para uma nova adaptação.

A modinha não tem segredo. Conforme a moça, supostamente ingênua, vai enumerando os ofícios dos seus pretendentes, o ciumento papai a faz esmorecer da idéia sinistra.

Sempre lembrando os perigos que representavam aqueles modestos profissionais.

A música se chama, óbvio, “Casamento”, repare só nesta estrofe, como o humor dos caras era popular e refinado ao mesmo tempo:

Zacarias: Papai eu quero me casar
Didi: Pois minha filha ocê diga com quem
Zacarias: Eu quero me casar com o Marlon Brando
Didi: Com o Marlon Brando ocê não casa bem
Zacarias: Por quê, papai?
Didi: O Marlon Brando amantegou a Maria Scheneider e depois vai
amantegar você também!

E por ai afora. Tem o motorista que aperta muito a buzina, o vaqueiro que tira leite da vaca, o economista -ofício em alta na época da hiperinflação- que mexe muito com a poupança etc.

A canção dos Trapalhões nos sugere uma atualização dos perigos de tipos de homens que até existiam no tempo áureo de Didi Mocó, mas não representavam lá tanta periculosidade como agora.

O apreciador de vinhos finos, por exemplo, também conhecido como homem-bouquet.

Com o sommelier, filha, você não casa bem. O cara vai cheirar a rolha e sentir o amadeirado… e vai esquecer de degustar você também.

Com um DJ nem pensar, minha douçura. O DJ vai fazer scratch (aquelas mexidas bruscas e sensacionais no vinil) nas picapes… e depois vai scratchear o seu corpinho também.

Papai eu quero me casar…

Eu quero me casar é com um hacker, mas com um hacker você não casa bem.

Por que, papai?

O hacker vai fuçar as senhas proibidas da Internet… e depois escarafuncha você todinha também!

Papai eu quero me casar…

Eu quero me casar é com um blogueiro, ó minha filha, você não casa bem, o blogueiro vai postar a noite inteira… e não sobra nada para postar em você também.

Que outras profissões podemos afastar das nossas filhas? Jornalistas, por exemplo, não passarão na minha porta quando eu fizer a minha Florbela. Questão de honra.

Publicitário, se depender de mim, nem bom dia direito.

Cineasta, ave, não come do nosso almoço domingueiro.

Artista plástico moderno, incluindo a gente da videoarte, de cara já é suspeito.

Desejo que minha filha case com um profissão decente. Um homem normal, por favor, jamais um artista.

Que tal um rapaz do design?

Ator não passa nem na frente de casa. Sob pena de levar um distanciamento brechtiano nas fuças.

Que outros maleditos, papai, seriam enxotados da área?

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Por um momento pensar que você pensa em mim

Por xicosa
10/08/12 05:34

Pasme, na foto é a Anna Karina em momento sensual chic.

Mas o momento é de Miss Corações Solitários em busca de conforto. Para responder, de uma só talagada semanal, tantas almas aflitas que me procuram. E responder, principalmente, às dúvidas do meu miocárdio.

Sexta-feira radicalmente romântica. Sem medo da cafonice e do disse me disse.

Por um momento pensar que você pensa em mim.

Tem algo mais importante na vida do que isso?

Não basta me querer por uma semana, por uma quinzena, por uma vida.

Basta eu pensar que você pensa em mim. Um segundo já é o bastante.

Sim, um verso de Roberto e Erasmo como mote dessa crônica inviável de sempre.

Você vaga, olhar vesgo e perdido como a cachorrinha Laika do Sputnick.

Não importa com quem estejas mais ou menos feliz ou vagues qual uma zumbi-metal.

No nosso orgulho macho o que vale é ter essa importância mínima dependurada no cocuruto da fêmea qual uma criança num balancê do passeio no parque de domingo.

Essa esperança de  pensar que você pensa em mim.

É o que vale.

Nem carece da soberba do Sr. Detalhes, aquele, dos mesmos geniais compositores, que pedia, mais orgulhoso ainda, para que a nega não dissesse seu nome sem querer para a pessoa errada.

“F… asteriscos”, como dizia Leila Diniz.

Como se toda a humanidade, noves fora ele, fosse um equívoco. Pense num Ego tamanho família.

Ah, pouco importa que tu andes, de novo amor, nova paixão, toda contente. O que vale é pensar que você pensa em mim, o resto é ontem e as perdições do mundo.

Civilizadíssimos, entendemos quando não tem mais volta, até já estamos com outros enxerimentos e paixões malandras etc.

Mas…, na buena, o que vale é a canção, o mantra, a ilusão derretida, o fio de manteiga que escorre ainda do nosso último tango em Paris ou derradeiro forró no Agreste –neste caso com manteiga de garrafa.

Onde você estiver não se esqueça de mim.

Como vivemos desse fiapo de nada!!!  Machos e fêmeas. Seria o orgulho de não ser apagado da memória cada vez mais fraca do outro?

Tempo  líquido em que nada se solidifica, nem o nostálgico amor de pica.

Dos 30 anos pra frente, amor é Alzheimer.

Por um momento pensar que você pensa em mim. Basta isso, mesmo com o teu silêncio, como nunca tivesse me visto, nem boas festas e feliz ano novo, poxa, que gelo baiano, mineiro, siberiano, londrino.

De que adiantou eu ter quebrado tudo e ser um monstro? Um animal precisa ser reconhecido como tal. O resto é psiquiatria, frontal, e química a serviço da vida.

Não te peço nada, sequer o protocolo das datas, feliz aniversário etc, quero apenas que, vagamente, por um momento você pense em mim e resmungue, baixinho: filho da p…, canalha, que lindo que deu tudo certo e depois tudo errado.

Por um momento pensar que você pensa em mim… Só isso interessa.

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Dia dos Pais e a Síndrome de Brás Cubas

Por xicosa
08/08/12 23:42

 Toda vez que um amigo tem um filho, escuto uma sentença comovente, sempre a mesma, mais ou menos assim reproduzida:

“Não tem nada igual nesse mundo, é uma sensação única, mudei a minha vida”.

Não duvido.

Escuto e fico ruminando aquela comoção por longos dias e noites. A primeira vontade é pegar a primeira maluca que aparecer pela frente e fazer também um lindo bruguelo.

Tempinho depois, costumo pensar no velho Brás Cubas, o solteirão sábio e maluco criado por Machado de Assis.

É dele outra frase que, de alguma maneira, mesmo tingida de negatividade, também comove:

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Ao contrário dos que se orgulham em se perpetuarem nos herdeiros, o velho Cubas, que amou muito e já havia sonhado com um rebento, purga-se da culpa de não ter deixado na terra alguém para sofrer as mesmas e inevitáveis dores humanas aqui por baixo.

Filosofia de consolação ou não, há um alívio, ufa, na assertiva da melancólica figura.

Tomado por vontades paternas a cada criaturinha que se mexe na minha frente, como meus sobrinhos, esse ter ou não ter filho virou uma luta de boxe no cocoruto.

É com esse ringue armado na cabeça chata que atravesso o massacre publicitário de mais uma semana que antecede o Dia dos Pais.

Ter ou não ter?

Tive a sorte de ter ajudado a criar dois lindos meninos, filhos de uma ex, agora rapazes. Peguei novinhos. De certa forma são também filhos. Muitíssimo. De certa forma abaixaram o fogo do meu instinto da paternidade.

Ter ou não ter?

E a reflexão continua: sob pena de ser, mais adiante, um avohai – mistura de avô e pai-, teria que engravidar logo uma moça disposta à maternidade.

A hora é agora, seu Brás Cubas?

Voltaremos ao tema, quem sabe com o filho já encaminhado, até o próximo domingo.

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O choro olímpico e o choro ´besta´ na firma

Por xicosa
07/08/12 16:31

Neste filme você escuta os mais belos choros da existência

Não, não vale mandar de cara a mais bela música sobre lágrimas de todos os tempos.

Falo de “Crying”, do meu querido Roy Orbison: “É difícil compreender, mas o toque da sua mão pode me fazer chorar”.

O choro olímpico, das moças ou dos rapazes, me comove, óbvio, fiquei chorão depois de velho safado.

Melhor morrer de lágrimas envodkadas, como as das atletas russas do vôlei, do que de tédio.  Legítimo que o choro da derrota seja mais tocante do que o choro do triunfo.

Lágrimas de meninas não têm pátria. São iguais a lágrimas de refugiados.

Ainda nas Olimpíadas, vemos que o ex-judoca Flavio Canto, comentarista do Sportv, tem derramado sinceras lágrimas de homem sensível. Acho bonito.

Não menos sincera foi a menina Ana Claudia Lemos, quinto lugar numa eliminatória dos 200 metros rasos.

Ao ser indagada sobre a sua performance mandou na latinha do repórter: “Uma merda. Frustrante. Eu esperava muito mais de mim.”

Linda!

Não ficou com desculpas furadas, como a colega do salto que pôs o fracasso na cota do vento.

O choro ou o desabafo olímpicos são comoventes.

O choro por amor continua sendo o imbatível em nobreza e dignidade.

Nunca esqueço, por exemplo, quando o amigo Solano se debruçou sobre o monumento às Bandeiras, mais conhecido como empurra-empurra, e comoveu até o Brecheret –o autor da escultura- com tantas lágrimas em uma madruga fria no Ibirapuera.

Havia perdido a mulher, óbvio, sob o olhar complacente das duas filhas. Infinita tristessa.

Tudo isso é tocante.

Nada, porém, me comove mais do que o choro nada épico, nada olímpico, o choro aparentemente sem motivo ou nobreza.

Quando a moça umedece o ombro do primeiro que passa na firma. Não obrigatoriamente por TPM. Como a moça bonita, do nariz de camponesa italiana, que agora me relata:

-Ai, que vergonha, chorei no ombro do chefe do estoque!

Que vergonha nada. Eis o choro mais rico. Aquele que surge do nada, de uma agoniazinha de varejo. Nisso admiro mais do que nunca as mulheres. Essa falta de solenidade ou de morte de parente para um choro derramado.

Assim como admiro esse choro, emputeço quando alguém, geralmente uma fria, austera e calculista mulher de tailleur da avenida Paulista reprime tal manifesto. Diz que não é nada profissional etc.

O choro público da mulher é a grande vantagem deste sexo em relação aos machos educados no faroeste onde o chorinho é apenas o do garçom ao servir o uísque.

Como invejo o choro público e, aparentemente sem maiores motivos, das moças.

O charme da minha amiga N. chorando no táxi de óculos escuro é quase a reinvenção do movimento francês da “Nouvelle Vague”.

A superioridade feminina se prova mais na hora do choro em público do que na voz de comando em um cargo como o da Presidência da República.

O choro em público vale tanto quanto os escritos geniais da Virgínia Woolf.  Leiam correndo “Profissões para mulheres e outros artigos feministas” –baratinho nas bancas pela L&PM Pocket.

O choro em público é a salvação do planeta. O homem do estoque pode até não saber disso, mas está colaborando à beça com o seu ombro tenso de macho-jurubeba.

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