Desafio às palavras cruzadas do amor
19/11/12 16:10O casal entra no Fuad, bom e popularíssimo bar-restaurante madrugador de Santa Cecília, SP.
Pede uma cerveja.
Ela, uma loira ali na faixa dos 60, saca da bolsa um Coquetel, da linha mais
difícil –Desafio- em matéria de palavras cruzadas.
Ele, na mesma faixa de idade, porém mais danificado pelo trabalho e os dias, pega a caneta e começa a preencher os quadradrinhos.
O casal se diverte. Mais uma cerva. Comida farta. Um casal que, ao melhor modo jurubeba-style de ser, encara uma maminha completa na madruga. Palmas.
É silenciando que se entendem.
Mal conversam, transformam um possível tédio amoroso em melodia, como na lírica roqueira do Cazuza.
Apenas balbuciam. Tocam de ouvido. Parecem juntos há décadas.
Quando completam a página se cumprimentam como os jovens. Yes. Mãos abertas se tocam no ar. No suspense de um achado difícil, se abraçam.
Ela está pintada como se fosse para uma festa. Ele também mantém a decência. O garçom diz que são velhos frequentadores e capricham nas vestes a qualquer dia e hora. É um gosto pela arrumação mesmo.
Sinônimo de “Fofo”, cinco letras, a segunda é “A”…
O casal prossegue.
O amor simples, desindexado de chatices e discussões, o amor muitas vezes carece apenas de uma cerveja na esquina e um coquetel de palavras cruzadas.
Sem essa de se entregar ao processo de pijamização.
Ao passeio. O passeio salva de qualquer tédio.
Não é à toa que o professor Stephen Jones, da University College de Londres (UCL), disse recentemente à BBC: a bicicleta é a invenção mais importante para o sexo e para o amor (não simplesmente por ser algo saudável e esportivo) dos últimos 100 anos.
Invenção mais relevante, para os costumes amorosos, do que a pílula anticoncepcional, a camisinha e o Viagra.
O passeio, não apenas para os pombinhos, mas para os solteiros.
“A bicicleta fez com que os homens não se limitassem mais a encontrar sua companheira sexual na porta ao lado, mas, sim, transportar-se a aldeias vizinhas e manter relações sexuais com uma mulher de outro povoado”, disse o professor londrino.
O homem sabe das coisas. A pé, como o casal do Fuad, de cavalo branco, bicicleta ou de charrete, leve o seu desejo para tomar um vento.
O pijama está para o amor como o paletó de madeira está para a vida.