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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O baião-de-dois e o conto da comida de grife

Por xicosa
04/12/12 03:37

Talvez você seja de um lugar que nunca vai ter ideia do que estou falando. Isso é que é bonito.

Talvez você seja de um Brasil que só conhece a cartografia de NY e de Londres. Adoro as duas cidades, mas mesmo assim eu insisto.

Cosmopolitismo de cool é rola!

Jeca Tatu pode ser Jeca total, se é que você me entende.

A grife do baião-de-dois, como começaria outro dia uma crônica pros jornais “Aqui-DF” e “Aqui-CE”, essa coisa eternamente antropofágica e tupinambá (ou caeté) como o sangue da minha amada, indiazinha com sangue do Ceará e de Pernambuco, indiazinha que diz, quando eu me aproximo: “Lá vem minha comida se bulindo”.

Sabe aquela coisa de se aproveitar da comida de raiz, no sentido de origem da palavra radicalidade ou radical, e fazer do prato popular uma fortuna?!

Não, amigo, não tem nada a ver com as trapalhadas do sorteio da Copa das Confederações o que eu vou falar agora, de cara.

Assim como foi o cozinheiro paulistano de grife Alex Atala, um gênio, poderia ser qualquer um de nós. O menino só meteu a mão na cumbuca. Acontece. Eu faço isso diariamente, todos nós fazemos.

A sorte é que nem sempre é em público.

Mas o que vou tratar diz respeito a vender comida popular cara demais. Parem com isso. É plágio, para não dizer roubo.

Nego pega um baião-de-dois, por exemplo, dá um trato em restaurantes finos e cobram os olhos da cara.

Mesmo assim vale para mil e uma receitas. O baião vai como metonímia, parte pelo todo.

Seja em uma certa Fortaleza para turista ver ou qualquer capital nordestina para classe média pagar de besta. Não pode.

É roubo.

Seja no Distrito Federal e seja, principalmente, na ilusão maluca do eixo Rio/São Paulo.

Aqui nem se fala. Cadê a polícia que não vê uma coisa dessas?!

Outro dia liguei para minha mãe, dona Maria do Socorro, habitante do bairro da Timbaúba, em Juazeiro do Norte, e disse quanto havia pago na famosa iguaria com matriz sertaneja, mesmo sem o queijo derreter direito sobre o arroz com feijão da existência.

Um baião-de-dois tão errado como se a França vendesse o Existencialismo sem Jean-Paul Sartre, esse qualho enfezado sem derretimento.

E vos digo: baião-de-dois de responsa leva pequi da Serra do Araripe.

No que a minha santa mãezinha, como ia contando aí acima, deu o pipoco: “Por esse dinheiro, meu filho, eu já cozinhei para um batalhão de homens, para um ajuntamento que construía um açude”.

Sim, amigo, nas capitais, um baião-de-dois custa os olhos da cara. A cópia chique do prato nordestiníssimo.

O original continua caseiro e de custo decente. O que acontece é que a classe média cai no conto de comer mais a marca do que o arroz com feijão de fato. Isso que alimenta a comida. Falo da comida com assinatura. Daí damos margem para toda sorte de ladroagem e molhinhos picaretas.

A classe média adora cair no conto de qualquer molhinho de grife. Molhinho que muotas vezes destrói a receita materna e de origem, você sabe disso, amigo.

Mas besta é quem cai nessa besteira. Só para sair arrotando que almoçou em tal canto etc. Só para dizer para os amigos que está podendo. Só para deixar o carimbo de abestalhado pregado na testa.

Trato do tema porque agora a onda é pegar um prato caseiro e transformá-lo na “comida dos deuses”.

Ainda bem que dona Maria do Socorro, minha santa, jamais vai cair nessa lenda. Até porque é infinitamente melhor do que esses enganadores de grife.

Mas cai quem quer, não é, meu amigo? E a capacidade de ser enrolado pela coisa de marca, seja comida ou seja roupa, não tem limite.

O mundo está cheio dessa gente que adora ser roubada. Sorte dos espertos que inventam o truque.

Boa sorte contra a ladroagem e até a próxima semana.  E agora com licença que vou me fartar de comida sem assinatura. Comida de gente.

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Macho perdido: nécessaire X capanga

Por xicosa
03/12/12 02:27

Depois de citar ao infinitum a expressão macho-jurubeba, recebi uma nova balaiada de mensagens pedindo, encarecidamente, que eu tentasse explicar o que seria o tal homem.

Bela tarefa para cumprir logo ao alvorecer desta segunda sem lei.

A expressão surgiu no Cariri, onde os fracos não têm vez, mas ganhou força no seguinte momento:

Ao me deparar em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.

Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.

Praticamente extinto, sejamos sinceros. Não há esperança, o velho Francisco, meu pai, lá no seu rancho nas bordas da chapada do Araripe, deve ser um dos derradeiros da legião de bravos.

O macho-jurubeba é um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.

Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico.

Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro.

Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia…

Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.

Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros.

Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.

Investigamos também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável.

O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.

Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.

Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo cachetes de Cibazol.

Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que –para o bem ou para o mal- já era.

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Cabelo 'Joãozinho' e a reviravolta na vida

Por xicosa
30/11/12 13:11

Nada como um pescocinho à vista, bem ao estilo da atriz Jean Seberg (foto), aquela moça do filme “Acossado”(1959), clássico de JL Godard.

Aquele cabelo conhecido vulgarmente como “Joãozinho”, que sempre intrigou nós homens pelo que tinha e tem de dúbio.

Em alguns rostos, cai perfeito, ressaltando o que tem de mais belo nos traços, lente de aumento no brilho dos olhos… Mas não é para qualquer rosto tal corte ousado, todo cuidado é pouco nessa hora.

Talvez seja mais para as mulheres de gestos pequenos e delicados do que para as mulheres mais atrevidas e selvagens, que estão mais para tranças, madeixas e mil segredos debaixo dos caracóis. Mas há controvérsias.

É corte para aquela hora de reviradas na vida, ritual de passagem, transição amorosa, mudanças bruscas, as calmarias que chegam depois das tempestades.

E como é prático uma mulher com cabelos curtíssimos.

Ao acordar, por exemplo, ao lado de um novo possível amor, não viverás o drama comum às fêmeas de longas madeixas -elas já acordam, quando ainda não possuem intimidade, em sobressaltos, preocupadas com o desalinho feito pelos travesseiros e pelos sonhos novos.

Sonhos, como bem sabemos, são filmes dirigidos por cineastas mortos, maneira de Deus ocupá-los no purgatório.

Acordam e correm logo para a conferência no espelho! Mal sabem como são lindas, de todos os jeitos, as mulheres quando acordam.

E cabelo curto, quanto mais rebelde melhor, quanto menos penteado ou arrumado, melhor.

Segundo o meu instituto Databotequim, os amigos avaliam que uma mulher com cabelo mais curtinho e despojado representa um clima mais relax, com menos ansiedade, em caso de futuro relacionamento.

Será?

Não é nada científico, mas a minha enorme mesa de bar, entre os bons amigos, chegou à esta boa tese.

Nada como um pescocinho à mostra… Lembram da Audrey Hepburn? Meu Deus, talvez tenha sido o melhor cabelo curto da história(do cinema!)

Bem curtinho ou channel, que assim se denomina por causa de outra deusa de madeixas econômicas, a Coco Channel, uma mulher sem medo de fazer com que as outras mulheres adotassem um estilo aparentemente, só aparentemente, masculino.

Ora, foi ela que inventou o tailleur, ainda nos anos 1940. Isso é que é vanguarda,  poder.

Mulher que é mulher, não tem medo das mãos-de-tesouras e de nem um Eduardo que corta grama lá fora.

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Esse cara é tudo menos eu

Por xicosa
29/11/12 14:10

Educação sentimental para a massa.

É como disse nos queridos e popularíssimos “Aqui CE” e “Aqui DF”: o novo sucesso do Rei, a faixa “Esse cara sou eu”, tem deixado muito marido brabo por ai.

Um verdadeiro levante, rebelião nos lares doces lares.

Minha prima Rosa que o diga.

É que as mulheres, como ela, por exemplo, têm aproveitado para cobrar mais eficiência e devoção amorosa da nossa parte.

O cara da música, provavelmente o próprio Roberto, na sua versão o inimitável, é quase perfeito.

Além de não deixar faltar nada, ainda se derrete de amor pela cria da sua costela. É um fofo, como as fêmeas dizem hoje dos machos de qualidade.

“O cara que pensa em você toda hora/ Que conta os segundos se você demora/ Que está todo o tempo querendo te ver/Porque já não sabe ficar sem você.

Só no Crato mesmo é possível encontrar algo semelhante. Mais que um marido, é um artigo de luxo, do tipo “tem mas tá faltando” na praça.

“E no meio da noite te chama/ Pra dizer que te ama/ Esse cara sou eu”.

Há quem diga que tal tipo de homem, derretido como manteiga de garrafa sob o sol do Jaguaribe, tenha uma vocação medonha para ser traído.

Especula-se que tal sujeito, mais dias ou menos dias, não passa de um corno manso. Duvido. É inveja nossa. Despeita dos caras errados, dos chamados machos “cargas-tortas”, verdadeiras mercadorias sem nota.

“O cara que pega você pelo braço/ Esbarra em quem for que interrompa seus passos/ Está do seu lado pro que der e vier/ O herói esperado por toda mulher”.

Esse Rei, com esse exagero todo, acabou com a gente, mas deixa, com a canção, um belo exemplo para os marmanjos. É uma música pedagógica para todos mobrais sentimentais.

Canção paulofreiriana. Quem sabe a gente não aprende um pouco com vossa majestade.

Meu amigo Glauber Gabuga Carlos duvida, mas também tenta, como este cronista. Entre um sofrimento e outro pelo seu Sport Recife, o talentoso boêmio pernambucano fez, na noite, sua paródia do sucesso de R.C.

Ele manda, na lata, no free-style:

“O cara que reclama se você demora, que sai com os amigos e esquece da hora, que tá todo o tempo querendo beber, e quando ta bêbado esquece você… E no meio da noite você liga, retada da vida… esse cara sou eu!

E continua, desmantelado:

“O cara que chega arranhado no braço, fedendo a cachaça e trocando os passos, inventando mentira e soltando migué, dizendo que onde tava não tinha mulher… E você vem brigando comigo mas to bêbado e nem ligo…esse cara sou eu!”

Para terminar, o único momento com alguma delicadeza é no pedido de desculpas para continuar tudo de novo:

“O cara manhoso que não tem mais jeito, te chama de amor e ainda bate no peito, fica de joelhos e pede perdão por favor, foi a ultima vez você é o meu amor, de manhã eu não lembro o que eu fiz, sexta feira tem bis… esse cara sou eu!”

Amigo, melhor seguir o exemplo do Rei. Faça o que eu peço, não faça o que eu faço.

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Episódio de hoje e sempre: a recaída amorosa

Por xicosa
29/11/12 03:37

Agora falando sério: a recaída.

Poxa, você acha que está inteiro(a) de novo, que já viveu o luto, que está no jogo, que está pronto para outra(o).

Mas que nada.

Você pega um táxi ou um carro dum amigo, não dirijo.

Toca uma música qualquer.

Roy Orbison, o cara aí da fotinha, um mestre do gênero. Qualquer uma.

Um Roberto Carlos, um Leonardo Cohen, Cat Power, que lindo, que fueda, que merda.

Um Chico Buarque ou um amado Bartô Galeno, que é a mesmíssima coisa –“no toca-fita do meu carro, uma canção me fez lembrar você…”.

Ah, esse cara tem me consumido, me canta agora a garota, uma Lo-li-ta, que nem havia nascido no tempo dessa música.

No que lembro do melhor começo de livro de todos os tempos:

“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.”

Chega.

Qualquer música, pianista José, qualé a nota, diz aí, velho Pablo, canta para nosotros.

E esta música, mesmo sendo a mais bela ou a mais vagabunda, trata-se, inevitavelmente da sua biografia completa naquela hora.

Toda canção, na hora de algum sofrimento verdadeiro, conta a sua história de vida, a sua crônica.

Na bandeira 1 ou na bandeira 2.

No rádio do seu carro ou no radinho fanhoso do porteiro. Também ao cruzar o cais de Santa Rita, nesta exata hora, no Recife.

Ontem, a mesma coisa, Cobal do Humaitá, Espírito do Chopp, dom Paulo Scott Fitgerald & Marechal Blue Note.

Na rodoviária de Salgueiro, depois de atravessar a Transmaconheira já sem maconha que preste, ouvi o maior blues de todos os tempos, “Assum Preto”, de modo a nublar de vez as vistas.

E fui seguindo, Afogados da Ingazeira, a leseira bonita de um Roberto “cama & mesa”.

São os perigos da recaída na madruga.

Você vai ligar pra ela.

Gastar a última ficha.

Você vai ligar pra ele.

A última narrativa possível.

Puerra, você berra, borracho(a), em portunhol selvagem. Puerra, estava tudo tão, aparentemente, bem resolvido.

Nem chega a ser surto. É algo assim mal-passado na chapa quente do juízo: “Ah, mas ele(a) vai ter que ouvir agora!”

Você tem algo mal-digerido nas oiças e no coração perdido. Comassim?
Ele/ela acha que é tão simples partir pro outro lado da força.

Né não.

É pesado.

Eu não te mereço um caralho.

Você é muito boa para mim una puerra, de nuevo.

Enfim, tudo, aparentemente, havia chegado ao fim, com uma certa civilidade falsa e babaca, e você, a caminho de casa, nessa madruga, pensa “que merda”, como pude, como pude aceitar tudo isso, não, ele(a) vai ouvir agora tudo que merece.

A lindeza de reconhecer que amor (paixão, vamos lá!) não come da ração cachorra da civilidade.

Ponto.

Agora é com vocês, se virem, que passo por isso nesse exato instante e cometi o mesmo erro. Erro?

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Crise do macho: números frescos sobre homens idem

Por xicosa
28/11/12 15:15

Não, minha amiga, não dramatize ainda as novas estatísticas do IBGE.

A vida está muito além dos frios algarismos. Até porque o déficit de homens na praça é bem maior do que o apontado pelo instituto.

Ou você acha que existem mesmo 94,3 homens para cada grupo de cem mulheres?

Duvido.

Descontados os homens que preferem, legitimamente, outros homens… Descontados os héteros que até gostam de mulher mas não são tão devotos assim a ponto de não viver sem elas…

Preste atenção. Nesse caso anterior não estamos falando do tipo que a mulher aplica o “você quer apenas me comer”. Nem para isso eles ligam tanto.

É grave a crise, amigas.

Descontando os fiéis… Fiéis? Opa, há controvérsias. Talvez os 100% fiéis não existam. Deixemos a questão sub judice para posterior decisão do mérito.

Enfim, passando a régua, sobra bem menos, apenas uma rapa de tacho de testosterona.

E repare que nem descontamos os frouxos em geral, os que correm das Lolas diante do menor sinal de afetos e cafunés.

Se no Brasil inteiro a situação é de penúria, projeto vidas secas mesmo, no Rio e em Salvador, pelo menos nas contas do IBGE, a coisa ainda pior ainda.

Para as baianas, 85,3 machos para cada 100 fêmeas. As cariocas dispõem de 88,9. Descontados os héteros atraídos pelas turistas nacionais e estrangeiras…

Seriam os lugares, estatisticamente, eu disse estatisticamente, piores para o casamento.

Os mais fartos para as moças são Curitiba (95,8), BH (94,2) e São Paulo com 93,8. Veja aqui a tabelinha completa.

Existe esse amor todo em SP, amigas? Deve ser do tipo “tem mas tá faltando”.

E repare que falamos apenas do homem normal. O macho-jurubeba, por exemplo, está praticamente extinto.

Trata-se do homem de raiz, o hétero roots de antigamente, o bom selvagem que desconhece a crise do macho perdido e outras filosofias baratas.

Sabe-se do paradeiro de uma meia dúzia deste gênero, distribuídos geograficamente desta forma: dois no Cariri e unzinho nas freguesias da Móoca (SP), Jaraguaçu (terra mineira de José Mayer), Alegrete (berço natal do Peréio) e o derradeiro em Aldeia Campista, Rio, herdeiro direto de Olegário, o herói real da peça “A mulher sem pecado”, de Nelson Rodrigues.

Ou você conhece mais algum por ai? Notícias para os comentários deste blog.

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Campanha pela volta do cafuné

Por xicosa
26/11/12 15:21

Tela de Hahneman Bacelar sobre o tema

Além da volta da carta de amor, outra campanha permanente deste blog, repetida ad infinitum, é pela volta do cafuné.

Porque dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é o cafuné.

Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os delicados estalinhos no cocoruto do mancebo.

Pela volta imediata do mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas cabeças.

Pela criação imediata da Casa de Cafunés Gilberto Freyre, como me propõe, em sociedade, a amiga Maria Eduarda Risoflora Belém. Ótima idéia a ser espalhada por todo o país. Milhares de casas, guichês, varandas, redes debaixo de coqueiros, sofás na rua… Tudo a serviço dos breves e deliciosos estalinhos dos dedos das moças.

Gilberto Freyre era um entusiasta do cafuné e a ele dedicou páginas e páginas. GF, aliás, escrevia como quem dá cafuné, prosa mole, ritmo dos mais sensoriais. Como também assenta palavras outro Freire, sem o estilingue do Y, o Marcelino de “Contos Negreiros”.

Que machos & fêmeas sejam treinados, em um programa social de emergência, para reaprenderem o hábito do cafuné.

Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos!

Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo, o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura libido.

Delícia de se sentir; beleza de se ver. O cafuné de uma mulher em outra, ave palavra!, puro cinema, para além muito além do lesbian chic.

Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.
Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto era silêncio.

Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus cafunés.

Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, sob a graça dos dedos de uma morena jambo ou de uma morena caldo-de-feijão.

Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida sem provar do êxtase de um cafuné?

Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos, nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.

Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de mulher.

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Lambendo o chão dos amores perdidos

Por xicosa
24/11/12 16:26

Tomava tranquilamente a minha cerveja com comida de homem de verdade, na Adega da Velha, em Botafogo, Rio de Janeiro…, quando, do nada, surge o amigo D., Tom Waits no fone de ouvido, arrastando a sua antologia de ressacas e pendências morais.

Antes fosse apenas esse fardo. O velho companheiro de imprensa, que sempre se gabou de sua romântica canalhice com as mulheres, estava lambendo o chão sujo dos amores perdidos. Um vira-lata sentimental, um cão vadio chutado por uma mulher-abismo.

É, amigo, para o cafa descer a essa condição é porque, realmente, as mulheres estão conquistando o monopólio do pé-na-bunda. Até um legítimo canalha é capaz de morrer de amor nos trópicos.

Definitivamente.

Tem até respaldo estatístico minha tese de botequim:

De 2008 para cá, os sismógrafos conjugais do IBGE já mostraram que as fêmeas são responsáveis por 71,7% das separações não consensuais –situação em que um pombinho quer cair fora e o outro senta na margem do rio Piedra e chora.

Donde revisito meu velho mantra: em matéria de fim de relacionamento, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto borrado da caneta-tinteiro do amor. Fato, amigo absolutista.
Às vezes o ponto final vem com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências…

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!! Canalha. Vagagundo. Cachorro.

O macho pode até fugir para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Camel sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, não trabalha com metáforas nem cartão de crédito. Nesse sentido, não divide, paga para ver, à vista.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato…nem em Estocolmo. Nem no Beco da Facada, no Recife.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

Agora, com licença, preciso cuidar do camarada D., arrasadíssimo. Seu Francisco, mais uma aqui pro amigo. O xará, garçom-proprietário, entende do que se passa em um coração de um pobre homem.

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50 tons de cinza x 50 tons de relho

Por xicosa
22/11/12 21:38

Os gaúchos, sempre na vanguarda da macheza e no charqueado, carregaram nas tintas para dar uma resposta ao sadomasoquismo-família de “50 tons de cinza”.

É o que leio aqui n“O Bairrista”, o maior jornal do Rio Grande do Sul e derredores.

O contra-ataque à sacanagem do casal Anastasia Steele e Christian Grey nasceu nas mãos calejadas, realmente um hombre que peleia, do escritor Leonardo Pinheiro Fagundes.

O valente escriba -versão chimarrão do macho-jurubeba- acaba de lançar o já clássico “50 Tons de Relho”, cujo objetivo é alertar os mancebos sobre o perigo que é deixar a mulher folhear esse tipo de volume.

Deixemos o próprio destemido gaudério, sem medo da correção e do mulherio mais avançado, explicar a sua obra:

– A ideia de escrever esse livro veio da minha mulher. Ela leu o ´50 Tons de Cinza´ e subitamente parou de fazer os serviços de casa. Não queria mais lavar, passar e cozinhar. Foi quando eu comecei a escrever o primeiro capítulo – disse o cara de pau, sem temer a alcunha de machista, porco chauvinista e derivados.

No livro, relata “O Bairrista”, o autor dá dicas de “como manter sua mulher nos eixos, utilizando táticas aprendidas por ele ao lidar com a esposa viciada no livro erótico.”

O sr. Fagundes alerta que a saga acinzentada estimularia sexualmente as mulheres ao ponto de sugerirem outras posições na cama, fato inaceitável para um gaúcho que se diz gaúcho.

Repare no nível:

“Onde já se viu mulher querer atenção do homem na cama? É um absurdo para um Gaúcho ouvir da mulher que prefere assim ou assado”.

Depois dessa, só pegando de novo os “Artigos de Fé do Gaúcho”, do bravo Simões Lopes Neto, para meditar no rancho do amigo Nauro Júnior, fotógrafo e escritor de mancheia, aqui na beira do arroio Pelotas.

Reza o Lopes Neto, lá no artigo 11º:

“Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar”.

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Breve alerta sobre a festa da firma

Por xicosa
21/11/12 20:30

Aqui o leitor aprende a arte do vexame

Cada vez começam mais cedo. Nem chegamos a dezembro e elas pipocam por ai. Como presto serviço a vários senhores -frila tal aquele moço trapalhão da commedia dell´arte-, já recebi uns três convites.

A festa da firma está chegando. Todo cuidado é pouco. Aqui antecipo o meu repetido conselho anual endereçado aos que se excedem neste momento.

Nos meus tantos anos de carteira assinada, já vi de tudo nas confraternizações. É um capítulo à parte da nossa existência sob o domínio das 365 folhinhas do calendário.

Tão importante quanto a Missa do Galo.

Quase um dia das Mães sem as nossas mães, ainda bem, ufa.

Um dia dos namorados sem namorado(a)s por perto. A menos que vocês desrespeitem aquela verdade bíblica do pão e da carne -onde se ganha o primeiro, não se desfruta do segundo, amém.

Festa de firma.

Tédio para uns, celebração dionisíaca para outros.

Fim de ano, aquela animação, aquele queijo coalhado no juízo, nervos à flor da pele, a vida assim meio Roberto Carlos, meio Almodóvar, meio Nelson Rodrigues, enfim, a vida simples, brega como ela é, a vida sem mistificação ou assepsia, a vida que não lava as mãos à toa.

Alguém querendo bater no chefe que o humilhou o ano inteiro, alguém querendo comer a gostosa do telemarketing.

O cenário certo, na graduação alcoólica certa, na boca-livre perfeita para um elemento cometer alguma desgraça ou crime de primeira página, seis colunas, manchete. Com direito a story-board.

Festa de firma. Pequenas histórias acumuladas o ano inteiro. Alguém sempre jurado de morte.

Tanto no terreno amoroso como na violência física de fato, tentando tirar na base da ignorância a mais-valia de uma vida inteira.

O acerto de contas.

Todo cuidado é pouco, caros bebedores amadores, com a festa da firma. Falo sério.

A melhor cena que vi foi numa farra do “Notícias Populares”, o glorioso e sanguinolento “NP”, de saudosa memória, que bateu as botas gutenberguianas como os presuntos que exibia em suas páginas.

Imaginem uma linda e desgostosa (com o marido canalha!) secretária.

Pensaram?

Terceira caipirinha. De alguma fruta exótica. Toda gostosa adora uma novidade.

Música, maestro.

Toca uma faixa capaz de fazer de uma madre superiora uma Madonna, capaz de fazer de qualquer entrevado um Elvis, um Elvis em Acapulco cantando na beira da piscina do Hilton Palace .

Toca algo assim como aquele “chabadabadá” da trilha de “Un Homme et Une Femme”, filme das antigas, “Um Homem, uma Mulher”, de Claude Lelouch, grande película.

Quarta caipirinha.

O chão é pouco para os passos da pecadora.

Ela sobe numa mesa.

Antes, beijara na boca, sem discriminação de classe, do diretor ao contínuo. Eu, um reles cronista folhetinesco daquele diário, também locupletei-me, claro, mas meio tímido, juro.

Quinta caipirinha.

A blusa não resistiu ao primeiro gole. O sutiã foi parar na cabeça do tiozionho do arquivo.

Sexta caipirinha acompanhada de uma cerveja mexicana: foi-se quase tudo. Belas saboneteiras, omoplatas geniais, observei.

Coube ao marido -a quem mais caberia?- enquadrar a “vadia”, como ele berrava sem economizar nas exclamações! Chegou para apanhá-la e acabou testemunhando o que não queria.

A festa acabou.

E agora, José, fica ai o alerta: não há inocentes em uma festa de firma. Numa festa de firma, o mais tímido e sonso dos mortais dubla Carmem Miranda e passa a mão na bunda do chefe, só pra quebrar a hierarquia pelo seu ponto mais, digamos assim, inviolável.

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