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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

No tempo do ficar quase nada fica

Por xicosa
20/12/12 00:07

Nem o amor daquela rima antiga.

E o blog segue com a sua retrospetiva caliente de 2012.

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura clandestinidade?

“Qual é  a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela. E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.

No tempo do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico, o cara nervoso, se tremendo como vara verde: “Você me aceita em namoro”?

O tempo passava e vinha mais um pedido clássico e igualmente tenso. O pedido de noivado.

Mais adiante, a hora fatal, mais uma tremelica do jovem mancebo: Você me aceita em casamento?

E pedir a mão, aos pais, meu Deus, haja nervosismo! Melhor tomar um conhaque na esquina para encorajar-me.

São raros, raríssimos hoje, esses nobres pedidos. Em alguns setores mais modernos e urbanos, digamos assim, talvez nem exista mais.

O amor e as suas mudanças.

A maioria dos homens, além de não pedir em namoro, além de não pegar no tranco, ainda corre em desespero diante de uma sugestão ou proposta de casamento feita pela moça.

O capítulo bom da história é que agora as mulheres também partem para o ataque e, diante de uns temerosos ou acanhados sujeitos, escancaram suas vontades, suas paixões, e fazem suas apostas, seus pedidos, põem na mesa os seus desejos e as cartas de intenções.

Voltando ao mundo dos homens, lembro que era bem bacana esse suspense masculino do “você quer namorar comigo?” Havia sempre o medo do fora. Um sim, mesmo o mais previsível, era uma festa.

“Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Tanto quanto um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o bistrô ou o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o batom e a força dos membros inferiores.

“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente. Eis a senha. Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro. O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira. Nada mais simbólico e romântico.

Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas…Não carecem uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra. Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. Nada mais os unia do que o silêncio, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, poeta dos melhores e mais líricos.

Palavras, palavras,palavras…Silêncio, Silêncio, silêncio…

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.

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Homem é vírgula; mulher é ponto final

Por xicosa
19/12/12 00:35

Hora de retrospectiva da gramática amorosa no apagar das luzes deste 2012.

Repitam comigo, esses moços, pobres moços: sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim,  o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente ou no samba de Roberto Silva: SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!

Sem reticências…

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáfora.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem aqui nem Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem pelo menos uma discussão calorosa.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

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Crônica para um amigo que se vai

Por xicosa
17/12/12 17:23

Para Cecília Araújo

Os dezembros é que costumam ser cruéis, não os abril, abris, como dizia o menino T.S.Eliot. Fora disso, não discordo em mais nada da tua terra desolada, poeta.

Os dezembros me levam sempre um grande amor ou um amigo idem. Ali na justa hora em que o calendário vai ficando mais magro. Viver é outono, cabeça pelada feito árvore onde o vento faz a curva.

Os dezembros são ladrões de afetos, almas sebosas, sebosas soul, caro Jorge du Peixe. Talvez seja a demanda natalina. Para cada gesto náufrago SOS por amor de qualquer jeito, mesmo que forçado, e lá se vai, na balança cambial do reino da Carençolândia, um amor verdadeiro.

Só cantando Belchior para aliviar a barra: ano passado eu morri, mas este ano eu não morro.

lá se vai meu amigo Sérgio, Sergim, Sérge, Barbosa, o mago das festas do edifício Caeté, rua da Aurora, Recife, Pernambuco, a rua da luz mais bonita do mundo, concordo com o rapaz Gilberto Freyre.

Ô mago pra festejar estar vivo.

Se acabava a festa na rua, festa dentro de casa. Só para esperar, de novo, recomeçar a farra pública. Olhar as moças, dizer coisas às moças, o que é viver senão a arte de dizer coisas às femininas oiças?

Lico(r)teria, a freguesia, tarde tingida de azul-Olinda, a gente postado,bons rapazes, direitinhos. Passa, menina, que a gente gasta os olhos que a terra desolada há-de.
Tudo passa, besta, inclusive as meninas dos nossos olhos.

É, Mago, dezembro passado foi doutor Sócrates, daí bebemos juntos a grande perda, lembras?

Peguei um bode danado deste mês, Sergim menino. Num ria não, cabra safado.
É, tens razão, camarada, também é o bonito mês que chegam os amigos de fora.

Eu ligava era avoando: “Estarei adentrando o espaço aéreo de Pernambuco logo mais, queria pedir licença ao comandante Mago e pedir, se tenho ainda milhagem afetiva na manga, data vênia, uma noite celebrativa”.

Tu dizias:

“Fulerage, seu Francisco! Acabei de falar de vossa pessoa com menino Fred Jordão, uísques crepusculares da Aurora, como o amigo pronuncia toda vida”.

E emendavas:

“Só chegou gente fraca, menino Fabinho, Pupilio, LirioBoy e… Guga Marinheiro está com a sede de sempre, dos sete mares de todas as regatas. Menino Azoubel é dúvida para o jogo, mas nunca para o amor de Poly. Teu sobrinho (João Valadares) num para de ligar perguntando que hora tu chegas. Disse que nunca bebeu na vida. Faraó Keopim, amando mais do que nunca, promete sair da tumba. Sim, xará Saboya é boia, porra”.

Simbora, dezembrinho miserável. Tu levas, mas nem pense que eles nos deixam.

Serginho que tanto queria um amor grande e sempre estava, no check-in platônico da vivência, à meia-noite em Paris.

Serginho que amava Cecília e, uma vez por ela correspondido, morreu lindamente de amor. O fim dos melhores.

P.S. Desculpa, amigo, nem falei do teu timbu. Sim, a cachorrinha de peruca, como dizias, caiu, e daí? Sem gréia, Mago, sem segundas intenções ou divisões. Beijo.

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Retrospectiva caliente: pedagogia da manga

Por xicosa
16/12/12 11:23

Isso mesmo: retrospectiva caliente no verão do .blog. Aqui direto de Icapuí, Ceará.

Mil perdões, leitores mais delicados,  pelo sexo hortifruti explícito.

Sorry, seu Adão, mas a manga é a nova maçã.

E chega de gracinha fácil, seu cronista preguiçoso em plena véspera do apocalipse.

Vamos ao que interessa.

Uma das queixas recorrentes sopradas pelas mulheres, sejam raparigas em flor ou lindas afilhadas de Balzac, diz respeito à pratica milenar do sexo oral por parte dos homens.

Além de displicentes e pouco devotos, os rapazes, em particular os da novíssima geração, não estariam voltados para tal cerimônia como necessário. Não seriam, digamos assim, tão chegados, tão devotos.

É, amigo, as moças andam queixosas da nossa oralidade, já não fazemos mais sermões em latim como os nossos pais.

O protesto do megafone do mulherio faz lá o seu sentido. É só o que se ouve nos banheiros femininos, conforme apurou este blog.

Os homens estão chegando aos 20 e poucos sem saber dizer sequer bom dia a uma mulher, como já reclamava o tio Nelson.

Pior. Os marmanjos estão chegando aos 30 indiferentes a um bom agrado oral às moças. Elas merecem, seus preguiçosos.

Esses moços, pobres moços. Só querem receber, ao vosso reino nada. Lembrem-se da regra número 01 do franciscanismo: é dando que se recebe.

Nesse cenário, só a pedagogia da manga salva. Foi o que ouvi muito dos mais velhos na juventude.

Os homens maduros, sobretudo nas cidades e vilarejos do interior, aconselhavam os mancebos a chupar a fruta da mangueira como educação sentimental para o futuro macho que desabrochava.

Além de saudável, a manga é milagrosa para a saúde, o exercício evitaria queixas femininas como as que hoje reverberam nas nossas atentas oiças.

Entenda, meu caro rapaz, o ato de chupar manga como uma bela entrega ao lambuzamento e à doce sujeira de guardar o melhor dos cheiros na barba, mesmo que juvenil, indie e rala.

Entenda, jovem mancebo, não há amor limpinho. Lambuze-se.

Daí a pedagogia da manga, meu velho e bom Paulo Freire. Deveria fazer parte do currículo básico.

Outra coisa bastante educativa para a devoção era o ato postal de lamber selos na hora de colar nas cartas. Amorosas ou não. Quem me alertou para esta pedagogia foi o amigo Marçal Aquino, autor de “Miss Danúbio”, entre outros livros.

Como ninguém hoje mais escreve cartas… Imagina lamber o sétimo selo!

Às mangueiras, às feiras livres, às manga, meu jovens!

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O dia que vi Gonzagão pela primeira vez

Por xicosa
13/12/12 05:20

Aí lá vem o negão todo jeitoso descendo as escadas rolantes das Casas Pernambucanas, as primeiras escadas rolantes que subi na minha vida, o negão todo paramentado, camisa mais psicodélica do que toda a estampa dos ácidos da Califórinia.

Minha mãe me cutuca e diz: “Luiz Gonzaga, meu filho”.

Ele escuta e replica:

“Respeite sua mãe, leia cartilha e livro e, se der tempo,  escute minhas modas, caba do olho de bila”.

Parece que foi hoje.

Juazeiro do Norte, sul do Ceará, cidade vizinha do Exu, anos mil novecentos e setenta e nada. Fiquei com aquela ideia fixa balançando no trapézio da memória feito o doidim do emplasto de Machado de Assis.

Daí,  depois, foram tantas loas. Sempre gostei das mais tristes. Talvez por causa da maior lição estética que recebi na vida. Não do mestre Ariano Suassuna, meu professor de tal disciplina por pouquíssimo tempo na UFPE, mas de dona Maria do Socorro, a santa que me mandou ao mundo:

-Meu filho, num escreve coisa tão alegre assim não. O mundo gosta é de chorar riachos, nem que sejam riachos que nunca passaram aqui por dentro -levava a mão ao lado esquerdo do peito, justamente ela cuja origem era o riacho do Navio, Floresta, Pernambuco.

Como esquecer tamanha lição de vida, seu Luiz? Nem o jumento, nosso irmão, é capaz de tamanha desfeita.

O jumento é uma ciência.

E soubeste, Gonzagão, que agora estão judiando deveras do bichinho? Será a inveja do pênis, seu Lua, da qual falava um gênio mais ou menos assim do teu porte, o velho Sigmund?

Uma cidade tange o jegue pra outra. O sertão que expulsa os cardãs só quer saber de moto, barulho e velocidade. Tem até um plano para levar os jumentinhos que carregaram Jesus Cristo para virar jabá na China de Mao Tse-Tung. Pense!

É, seu Luiz, o Nordeste melhorou muito, muitíssimo, tem até mais gente rregressando do que na pisada da triste partida, mas continua injusto e descuidado. Até a seca resolveu chover no molhado e dar as caras de volta.

E chega de nove horas. Hoje é dia de festa. A família do meu avô paterno, que desceu lá do Exu para o Crato, agora mesmo faz o caminho de volta. Viva teu centenário, volte e meta a cuia no fundo do pote mais antigo, timbungo, timbungo, é hora de ouvir um dos maiores blues de todos os tempos, assum preto, olhos furados para cantar melhor, assim seja.

Falemos das músicas de amor. Aprecio. Karolina com K. É o maior fungado onomatopeico da história. Consegue bater o Gainsbourg e a Bardot na gemedeira do Je t´aime moi non plus.

A todo mundo eu dou psiu…

Olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo.

Tu que andas pelo mundo, sabiá…

Xanduzinha, meu xodó, bela prosódia que lembra chamego no cabaré de Glorinha, no Crato. Reza a lenda que autobiográfica.

E Orélia, amigo Otto Maximiliano, que achas? É a fraca!

Agora a que eu mais amo, seu Luiz: ai se eu tivesse asa, ainda hoje eu via Ana…

Légua tirana. Faixa do tempo em que os homens faziam um estirão a pé e recebiam o maior presente da existência: os zolhinhos vesgos e marejados de uma mulher dizendo que havia sentido na vida.

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Um ano sem o doutor Sócrates

Por xicosa
12/12/12 03:35

Amigo torcedor, amigo secador, faz um ano que o doutor Sócrates partiu. Não careço de efeméride alguma para celebrar, todo dia, toda noite,  a memória do velho camarada. O momento, porém, tingido em branco e preto, é especial e comoveria o Magrão.

É, doutor, o bando de loucos, como você bem conhece, invadiu o Japão. Como na música do Gil, meu velho, teve corintiano que viajou até no cargueiro do Lloyd lavando o porão. Se oriente, rapaz, a festa começou em Cumbica e talvez não pare nem mesmo com o anunciado apocalipse que se aproxima.

Outra coincidência da semana, Magrones, é que o teu chapa Oscar Niemeyer também se foi. O último dos bravos comunistas, sempre motivo dos teus brindes, está chegando aí na área. Sei que vais tirar onda e dizer que estou sempre dando notícias velhas, que estou mais enferrujado do que minha última Remington.

Ah, Magrão, não zoa, mas realmente nada mudou muito depois que partiste. Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock´n´roll, mas nada de novo debaixo do sol dos homens, meu camarada,  como diriam o Eclesiastes e o teu amigo Chico.

Sabe quem saiu da CBF, Magrão? Acredite: o Ricardo Teixeira, teu ídolo (rs) para não dizer o contrário. O bom é quem entrou, rapaz: o José Maria Marin, doutor, pode crer. Aquele mesmo cupincha da ditadura.

Mil desculpas, velho camarada, mas nada mudou neste último ano, embora o deputado Romário (PSB-RJ) insista em uma CPI para investigar os podres da entidade. O Juca, porém, segue cutucando os homens com sua caneta afiada, não para. O prezado amigo Afonsinho, aquele bom papo de sempre, agora escreve no espaço que ocupaste na “Carta Capital”, tem repetido a categoria dos tempos de Botafogo.

Não zoa, notícia velha um cacete. Agora vou te contar uma nova. O Mano Menezes caiu, no momento mais errado do mundo –se é q tem tempo certo para a queda- e o Felipão assumiu o comando da canarinha.

Foi mal, Magrão, esta bola tu cantaste há séculos. Essa, porém, é novíssima: os estádios para a Copa do Mundo estão em um atraso miserável (rs). Mais uma: a Fifa tende a proibir a venda de acarajé nos arredores da Fonte Nova durante o Mundial de 2014. Sério, Magrones, essa é braba, confesse.

Sabes quem está na bancada do nosso “Cartão Verde”, doutor? O Rivelino, com um bigode de deixar teu ídolo Nietszche com inveja, e o boa praça Celso Unzelte, este sim um jornalista competente. E pasme, Magrão, o Vitor Birner aderiu ao futebol-arte. Um poeta. O velho Mussa, como chamavas, carinhosamente o Vladir Lemos, continua o mais civilizado dos mediadores.

Fazes muita falta, doutor, e sempre cantamos para ti aquela seresta do Sérgio Bittencourt: “Naquela mesa tá faltando ele/ e a saudade dele está doendo em mim”.

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SP precisa sim `importar´ gente de toda parte

Por xicosa
11/12/12 04:38

E haja aspas, preconceituosas ou não, mas SP precisa sim “importar” não apenas um baiano, mas qualquer povo que a fez e que está disposto a uma possível refazenda urbana e moderníssima.

Até porque o movimento agora é de deixar a cidade. O que a torna humanamente mais pobre.

Como diria o rapper Cascão, o inventor do estilo e da expressão “vida loka”, SP não pode perder mais tempo sendo uma cidade fechada ao varejão do preconceito.

Pânico em SP , grande Clemente, salve sempre Inocentes.

Sao Paulo de Piratininga pós-Kassab, o homem das 1001 noites proibidas, carece retomar sua vocação de cidade aberta.

O novo prefeito carece fazer muito, mas sobretudo precisa devolver, no mínimo discutir, a ideia de uma Pauliceia de todos nós brasileiros.

Assim como foram e são as praias cariocas, as incomparáveis grandiosidades nordestinas, assim como são e serão os sertões, montanhas mineiras, pampas, chapadas & recôncavos etc .

Ah, gostei deveras, no meu barroquismo jamais sequestrável, diz aê velho poeta Gregório de Mattos, de ter um baiano como secretário da Cultura da cidade que habito há 22 anos.

Sim, o Juca Ferreira, bom currículo, ex-ministro do mesmo mundo, ex-pós-tudo de Gilberto Gil no Ministério idem da República.

Tem gente torcendo os beiços por aqui. Que mundinho sem horizonte.

Com desculpinhas babacas.

Não, não estou me referindo ao que todo tamarindo dá e muito menos ao colega desta Folha Gilberto Dimenstein. Entendi o questionamento localizado dele. Não foi preconceituoso, só rolou a bola de uma certa classe cultural paulistana insatisfeita e fechadinha. É papel do jornalista contar o que se passa na real-politik.

Como eterno novo “baiano” cearense e pernambucano -família metade de um Estado metade d´outro- fico orgulhoso que seja um soteropolitano o novo cara da secretaria de Cultura do meu município.

Digo: no mínimo não pode ser vetado por ser de tal origem.

Nao, nem todo nordestino é baiano, assim como nem todo japonês é coreano e vice-versa.

Um dia, quem sabe, o sudeste aprenderá geografia, como um norte-americano que deixará de confundir Bogotá com Brasília, e saberá, só Deus sabe, separar os gentílicos. Mas isso é café-pequeno, bronca safada.

Enquanto isso, tá valendo, somos todos diferentíssimos nordestinos, cada um com seus Estados de origem, riquezas e prosódias, embora sejamos todos chamados de baianos em SP e paraíbas no Rio de Janeiro.

Nessas horas sempre solto um educado “fodam-se”, mas apenas para os meus boníssimos amigos paulistanos e cariocas que entendem o pugilato e a bossa nova de Juazeiro.

No geral, rimos dos preconceitos babacas, todos juntos, se é que você me entende, e, sábio do Crato que sou (rs), recito o velho Walt Whitman, o cara cuja pátria era apenas a árvore que o encobria naquele instante.

Se o Nordeste continua sendo uma ficção, para retomar um verso genial do Belchior, azar -ou inferno- dos outros. Se meu verso não deu certo, agora vou mineiramente de Drummond, foi seu ouvido que entortou.

SP precisa se livrar da praga de fomentar separações e proibições tão fermentadas quantos os pães branquinhos da Bella Paulista na madruga.

Salve esta lindeza de metrópole escancarada que recebeu japoneses, italianos, brasileiros de todos os nortes, itas e bússolas, judeus, árabes e bolivianos em busca de um bueno retiro possível.

Quantos jovens coreanos e novos africanos agora te habitam. Verás na praça Júlio Mesquista que já foi dos ciganos e agora tem o movimento negro, a cerveja de todos os banzos & blues de Luanda.

Só gritando em portunhol selvagem, poeta Douglas Diegues, para alertar essa gente covarde que não flana e não sabe da soma das ruas.

Que não conhece Esperanza, linda costureira de Cochabamba, Bolívia, que já vendeu seu trabalho escravo nas fabriquetas de costura de San Pablo e agora rifa o seu corpo no desejo crepuscular dos machos que flanam no Parque da Luz.

Como descrevi no meu romance “Caballeros solitários rumo ao sol puente”, quer saber o que é SP, veja uma pelada ao cair da tarde de sábado aos pés da estátua de Duque de Caxias, o facínora da Guerra do Paraguay:

Lá, no chão da praça, jogam latino-americanos X miseráveis brasileiros. Qualquer coisa contra o resto do mundo. Eis o clássico.

Peladas, como diiria o tio Nelson Rodrigues, mais complexas que toda a dramaturgia shakespereana.

Agora, com licença, daqui a uma estação do metrô estarei no Oriente…

SP tem os olhos mais incríveis do planeta, o bisturi de Deus a serviço permanente da mestiçagem, como acabo de ver agora ao descer da São Joaquim com a minha gueixa que nem me ama (ainda) tão direito assim.

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Resoluções (sexuais) para o fim do mundo

Por xicosa
10/12/12 01:25

Bom livro para aguardar tranquilamente o apocalipse

E se o diabo desse mundo estivesse mesmo à beira do apocalipse previsto para o dia 21?

Não duvido mais de nada na face da terra depois de tantas coisas incomuns que vimos neste ano.

E se você tivesse certeza que já era?

Cantaria que gostosa?

Chamaria que homem, sem firulas ou mimimis, à chincha, à cama?

Proporia que ménage?

Arriscaria tudo no swing?

Sei, és do tipo que não pensa só naquilo. Preferias ler um bom livro, não é, respeitável mentiroso(a)?.

Nestes nostradâmicos momentos, sempre nos bate essas vontades urgentes.

Nada como um bom álibi da bagaceira final. Seja na iminência da bomba atômica iraniana, seja na profecia Maia, tudo é bela desculpa. Já que o mundo vai se acabar mesmo, tudo está permitido.

Pense que maravilha: você está finalmente livre da ressaca moral e da ansiedade amorosa. Pode tudo.

Tem gente, aliás, que vive sempre com o apocalipse no bolso. Como se não houvesse amanhã mesmo. Flamejantes criaturas sem rédea ou juízo.

Um amigo do Sul me sopra aqui, ao telefone:

-Bá, pegava toda a grana e torrava na tia Carmén.

Para quem não conhece esse maravilha de cenário, esclarecemos: Tia Carmén talvez seja a melhor casa de moças de fino trato do país.

-Que mané talvez, irmão, é a melhor do planeta! – reage o gaudério.

Nada como uma desculpa de fim de mundo.

Para um corintiano, depois de ser campeão no Japão, pouco importa a sequência dos dias.

E você, amigo(a), que loucura faria?

Talvez eu corresse o risco de estragar alguma amizade, propondo juntar, sob os mesmos lençóis, afeto e sexo sauvage. Sabe aquela amiga que você pensou, com algum desejo, a vida inteira?

Talvez eu telefonasse para todas as ex-mulheres. Creio que faria isso. Ligação safada prometendo renovar os mil perdões e repetir as phodinhas  iniciais depois das siestas.

Não. Não buscaria novas mulheres. Estocaria ostras e caixas de champanhe. Renovaria o amor que tive por todas elas que um dia me fizeram cruzar o paraíso bem antes do fim do mundo.

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Sophia Loren mineira e o strip ao contrário

Por xicosa
08/12/12 15:57

Você andava a uma velocidade de uma paixão à primeira vista a cada seis horas de flânerie nas ruas ou na boemia.

Chega em Belo Horizonte e essa média cai para cada meia hora.

Para completar você encontra a vereda fatal da perdição. A Sophia Loren versão mineira, com olhos até mais bonitos e mais bem cortados, elipse de Deus, bisturi celestial.

Alumbramento como o do menino de Bandeira que viu a moça nuinha no banheiro de palha nos arredores de Caxangá.

Sophia, encanto da Rede Minas, com um vestido encarnado cheio de motivos. Ou seria grená e este míope e astigmático cronista se perdeu nos olhos molhados da moça?

Só sei que aquilo tudo, que não era nada pouco, me fez lembrar o belo strip-tease ao contrário.

Você lembra?

Você acorda e está diante do maior espetáculo da terra: a mulher no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna levemente amparada sobre a poltrona, os cabides em forma das mesmas interrogações e dúvidas –com que roupa?

Em muitas ocasiões, finjo até que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir no acontecimento. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, meu filme preferido, cinema na cama antes de pedir o café pra nós dois.

Porque uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais que seja fina, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos do sexo selvagem.

Seja um Yves Saint Laurent, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lindo e lento strip-tease ao contrário.

E o momento da maquiagem, Marina, morena? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de “você já é bonita com o que Deus lhe deu!”

Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincando de colorir o desejo.

Agora ela anda na casa, à procura do acessório perdido… Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.

Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs –final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.

E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha do vestuário, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: não tenho roupa. Pode ser uma madame de alta classe ou uma jovem atriz que ainda trabalha de garçonete.

O importante é que você se veste e aquele filme, cinemascope, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.

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Jornal Nacional do Amor está no ar

Por xicosa
05/12/12 02:25

Sobe a vinheta, a musiquinha impregnada. Chegou a hora, nesse corrido dezembro, de lembrar mais uma vez da importância do Jornal Nacional do Amor, o JNA, nada global, particularíssimo, eu diria.

Ali nas primeiras horas da noite, bate aquela necessidade física inadiável de contar como foi o dia. Contar e ao mesmo tempo receber notícias tuas.

Seja um épico, um feito memorável, seja uma coisa à toa, um carro na poça que quase te molha todinha, um chato que te pegou para Cristo, um chefe maluco, os comentários sobre o tempo, ainda bem que choveu, meu bem, a noite está ótima para tomar um vinho, para dizer aquelas coisas que não se dizem para qualquer uma.

Sobe a vinheta, sonoplasta, é o Jornal Nacional do Amor que começa agora, uma dos momentos nobres de ter alguém na vida, conta lá que eu conto cá, e haja narrativas.

Ter alguém para contar seu dia é melhor que sexo, melhor que costelinha de porco, melhor que lamber os beiços com o galetinho-gloss da tevê de cachorro, melhor que doce de leite, melhor que sarapatel, é tão bom que empata com carne de cabrito, manjubinha com cerveja ou feijoada completa.

Contar para um amigo é diferente, contar para um irmão é outra história, contar para a vizinha é roubada, contar só serve, amigo, se for à boquinha da noite, e se for para a mulher que habita, sem pagar prestações, sem aluguel ou fiança, a Cohab, o BNH, o conjunto do Mirandão no Crato, o Alfredo Bandeira no Recife ou a quitinete metropolitana dos nossos pobres corazones.

O Jornal Nacional do Amor não tem mentiras de graça, somente mentiras sinceras, aquelas que melhoram as coisas, que levantam a bola, que restauram a lua de mel no auge de Canoa Quebrada, com aquele céu de Bilac, ora direis, aquela cachaça, sustança, e os lençóis de cambraia bordados, letras barrocas, “até que a morte os separe”.

Na alegria ou na tristeza, contar o dia é a melhor das artes de estar juntos.

Do amor e suas leseiras incríveis, suas breguices, porque todo amor é brega assim como todas as cartas amorosas são ridículas; só os cults e metidos não amam, não aprenderam nem mesmo com os brutos de Shane e de outros belos faroestes.

Do amor, seu Sthendal, nós nunca enchemos a barriga.

Eita fome de viver da gota, eita Jequitinhonha da existência.

“Ai, amor, estou tão cansada, meio enjoada, acho que vou menstruar”, ela diz, bem linda, ainda na rua, “você me agüenta mesmo assim?”, ela completa.

No que o mancebo sintoniza Legião Urbana: “Você me conta como foi seu dia/ E a gente diz um p’ro outro:/ – Estou com sono, vamos dormir!”

Contar sempre, porque até nossos silêncios dentro de casa deixam ecos que viram legendas para sonhos e amanteigadas manhãs.

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