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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O que Kafka tem a ver com o BBB

Por xicosa
09/01/13 14:14

Franz Kafka por Robert Crumb

O que aconteceria se um reality show, seja o BBB ou qualquer outro confinamento de animais racionais, fosse imaginado por Franz Kafka?

No conto “O Artista da Fome”, escrito ainda em1924 pelo gênio tcheco, pessoas se submetem a testes que lembram o absurdo das provações de um big brother.

Naquela época era comum na Europa a exibição, em circos e praças, de homens enjaulados que tentavam mostrar o quanto resistiam sem comer nada -como em uma prova de um reality, que me desculpem a baixaria na comparação.

O público, faminto de desgraça como os modernos telespectadores, provocava os jejuadores profissionais atirando nacos de alimentos. Pura tortura.

Acontece que, depois de algumas temporadas, o espetáculo dos “artistas da fome” perde a graça para os sádicos europeus. O personagem do conto kafkiano, por exemplo, acaba morrendo esquecido em uma jaula do circo. Isso é que é ostracismo à vera.

Os participantes dos confinamentos brasileiros ainda estão longe desse risco. Principalmente as mulheres ricas. Então com licença que vou ali reler meu kafkazinho diário. É a única forma de entender a humanidade.

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De como manter um amor à distância

Por xicosa
08/01/13 01:37

Gostosa, ela é gostosa, o que está pegando é que ela mora muito longe. Bem que minha mãe avisou… 36 horas de ônibus e cacetadas, pra ir e pra voltar…

Esse Jorge Benjor sabe das coisas. É barra.

Quanto tempo resiste um amor à distância? A coisa é tão complicada que nem essa crase é consenso entre os gramáticos. Evanildo Bechara prefere com. A maioria sem. Deixemos a causa com o professor Pasquale. Segue o bonde.

Existe uma quilometragem razoável?

Não estou falando de um amor de ponte aérea ou de um amor Juazeiro/Petrolina, muito menos um amor São Paulo/São Carlos, por exemplo.

Falo de algo como Milão/Parque São Jorge, SP.

Um amor com um oceano no meio é outra parada.

Sim, atentei para o assunto ao ver o menino Pato, novo jogador do Corinthians, dizer que o seu amor à distância com a Bárbara Berlusconi, a mocinha filha do chefão italiano, não seria um problema. Ela não planeja, por enquanto, mudar de país.

Tudo bem, eles têm grana e podem se ver com uma boa frequência, diria o amigo.

No amor à distância, meu caro, não é bem assim que a banda toca. Não é essa facilidade toda, mesmo com todo dinheiro do mundo. O amor à distância é bronca. Mesmo com skypes etc.

O amor exige missa de corpo presente.

Amor é comparecimento.

Óbvio que, se existe mesmo amor, segura por um bom tempo até um dos pombinhos cumprir o ciclo migratório.

Já tive uma experiência SP/Recife e outra Rio/SP. Para segurar as pontas, digamos assim, passamos, em ambos os casos, por mudanças de cidade.

Por um tempo é um tesão você viajar, livre da rotina do casamento, e encontrar o outro(a). Fuego en las entrañas, como se diz em portunhol selvagem.

Acontece que chega aquela sexta-feira e você sente uma certa preguiça de enfrentar o trânsito até a rodoviária, até o aeroporto ou mesmo pegar a estrada de carro –para quem dirige e namora a uma distância razoável.

Acontece que bate uma carência… acontece que ela não está ao seu lado naquela festa, acontece o que também acontece, humanamente, até mesmo com os casais que vivem grudados. Imagina para quem não está tão perto assim. Simplesmente acontece. É do jogo, caríssimo Pato, sabes muito bem disso.

Sim, amigo, a saudade é o genérico do Viagra, mas saudade demais também cansa. Camões já dizia algo do gênero nos seus delírios oceânicos.

Um diploma à distância até que é facil. Eu que o diga, diplomado detetive pelo clássico Instituto Universal Brasileiro. No amor é diferente.

E você, amigo(a), que já viveu uma experiência amorosa à distância, o que me diz sobre o doloroso tema?

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Novos e velhos tipos de homem-roubada

Por xicosa
07/01/13 12:31

Todo começo de ano, como serviço de utilidade pública, alertamos  sobre tipinhos de alta periculosidade. Agora não será diferente, em edição revista e ampliada, velhos tipos e algumas confissões de fraqueza deste cronista:

Homem-gourmet – A cerveja dele é gourmet,  o café é gourmet, até a água é gourmet. Se tudo é gourmet, perdão pela grosseria, mas nada de te comer. Corra, Lola, corra.

Homem-ocupação – É o tipo que sempre tem uma causa. Ótimo. O mundo carece destes homens de boa vontade. O problema é que de tanto salvar o mundo, ele esquece justamente de você. Desocupa a área, Lola, desocupa.

Homem de predinho antigo – Até este macho-jurubeba que vos fala já capitulou e mora em um destes endereços. E logo eu que dizia que todo homem que habita um predinho é, para dizer o mínimo, um metrossexual enrustido.

O pior não é morar em tal lugar. O que mais dói é quando ele pronuncia, como toda a afetação desse mundo, que mora num “predinho-antigo-charmoso”. Pelo menos desse mal não padeço.

O cenário do homem de predinho antigo é o seguinte: você entra, resistente leitora, e avista logo umas revistas chiques estrangeiras espalhadas pela sala, tipo “ID”, “Wallpaper” etc.

O cara manja de decoração e entende de iluminação indireta. É cada luminária de design que só vendo! Possui também cadeiras ou poltroninhas de grife, aqueles estranhos móveis com nome de gente.

Sim, habito um predinho antigo, mas, fora um ou outro presente das moças, pelo menos no critério decoração mantenho a integridade jurubebística.

Homem-hortinha – Aquele mancebo que, ao receber as moças elegantemente para um jantar, usa o manjericão cultivado na própria hortinha que mantém no quintal ou na área de serviço.

Cultivar o próprio manjericão não é exatamente o defeito do rapaz. O problema é que ele passa duas horas a discorrer sobre o cultivo da hortinha. Uma amiga, coitada, conheceu um destes exemplares que cultivava até a própria minhoca usado como “fator adubante” da própria hortinha.  Corra, Lola, avoe, mina!

Homem-bouquet – Aquele macho que entende de vinhos finos, abre a garrafa cheio de drama e nove-horas, cheira a rolha, balança na taça, sente o bouquet e curte o amadeirado. Gostar de vinho bom, velho Baco, não é um delito. Pecado mesmo é arrotar esse conhecimento por horas nas oiças da moça. Dispare, Lola, dispare enquanto é tempo.

Homem-Ossanha – Trata-se daquela cara que repete o comportamento da música “Canto de Ossanha”, como no samba de Vinícius de Moraes e Baden Powell: “O homem que diz vou/ Não vai!” O cara que assanha e cai fora.

Esse cara já fui eu, fomos, não é, amigo? Haja carapuça. Todo macho tem seu momento de frouxo. O mal é manter esse comportamento como regra, caso da maioria dos homens do nosso tempo. Vaza, Lola, vaza!

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Receita para afastar um amante

Por xicosa
03/01/13 12:18

Finalmente encontro Amaro. Queria agradecer por um conselho amoroso. Havia se manifestado apenas por email.

O desejo de Amaro, aproveitando minha passagem nas praias de Pernambuco, era oferecer um banquete, o que o fez de forma pantagruélica, babélica, dionisíaca etc, na sua residência em Piedade.

Amaro está feliz, em lua de mel restaurada, com a cria da sua costela. Ao drama, felizmente resolvido, para quem não lembra mais:

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou-lhe o cronista.

Com Amaro, chamemos assim o nosso personagem, não foi diferente.

Quis o destino parafusar objetos pontiagudos à testa da pobre criatura.

Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador da própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Vou-me embora pra Tegucigalpa?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, diz, urrando vaidades e orgulhos.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos por vários dias seguidos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros fortuitos e vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

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Só na ressaca o homem é perfeito

Por xicosa
02/01/13 02:00

E assim começamos o ano do centenário de Vinícius

Reflito aqui com Miss Soledad, primeiro dia do ano, na margem esquerda do Capibaribe: o homem só é bom por inteiro quando está de ressaca.

Como é virtuoso o homem de ressaca. Se não bebe, vale a ressaca moral, naturalmente.

Ao amigo que emenda uma bebedeira na outra de modo a não conhecer mais esse estado de espírito, recomendo: vale a pena dar uma chance a uma ressaquinha felina.

Na ressaca, o homem tem alma de gato; no restante da vida, o homem repete o cachorro.

O primeiro pensamento no homem de ressaca solteiro é casar-se, ter filho, uma vida regrada, amar a Deus sobre todas as coisas, cumprir os dez mandamentos.

Sim, ao acordar naquela manhã de sonhos intranquilos, amigo Otto, o mais vagabundo e vira-lata dos homens pensa em véus e grinaldas.

O homem de ressaca está sempre em um altar imaginário à espera da noiva.

Se for casado, o homem de ressaca põe na ponta do lápis os planos para o ano novo.

E promete. Como promete um ressacado. Promete mais do que todos os prefeitos assumidos neste primeiro de janeiro.

O homem sob o sol da ressaca é de uma dignidade estupenda. Imaculado, fiel, ético, extremamente confiável nesta real grandeza da hora.

Impecável. O homem diante do chá de boldo de todas as regenerações morais deste início do ano da graça de 2013.

Carinhoso. Ninguém é mais carinhoso com a mulher do que o homem de ressaca. Só não leva café na cama por estar sem condições físicas para o ato, mas pede os melhores pratos em domicílio.

Neste instante da comida, ele faz, inclusive, mais uma promessa: este ano será mais do cinema de mãos dada e cada vez menos do boteco.

Mesmo em câmera lenta, como é bom de cama o homem hepaticamente fragilizado. Aliás, amigos, deixo uma interrogação das mais sérias: por que ficamos tão tarados em dias de ressaca? É uma paudurescência infindável –mesmo sabendo que a ressaca, depois dos 40, é uma doença, uma dengue existencialista.

Recapitulando: o homem de ressaca é perfeito. Não mente, não pula a cerca, é carinhoso e tântrico.

Só na ressaca existe o homem. É neste estadão das coisas que a sua bondade se revela.

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Quando a mulher faz o balanço erótico do ano

Por xicosa
31/12/12 02:23

Quando acordei, na rede da praia, as meninas da casa faziam a retrospectiva amorosa e sexual. Com quem foram para a cama no ano que hoje se despede.

Entre um cochilo e outro, pescava calientes fragmentos daquela animada roda de moças movida a baldes de caipiroscas, o néctar das sinceridade crepusculares.

Se um ano tem 48 semanas, a recordista do grupo havia transado com “uns 40” homens ou “rascunhos de homens”, termo que uma delas usava para definir os caras que não eram muito devotos ao sexo.

Fosse uma das fêmeas das letras do xará Buarque, a recordista seria a mulher de “Folhetim”. Uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema, um botequim…

A mais modesta –ou azarada!- ficou com apenas dois novos sujeitos. Um incrível; outro péssimo -tinha nojinho de sexo oral e corria para tomar banho depois do ato.

Eram sete mulheres afogadas em narrativas eróticas e os seus numerados homens-objetos. Esperavam ampliar a conta hoje na praia de Carneiros, Pernambuco.

No quarto rapaz de 2012, M., 29 anos, emplacou um romance, em setembro.

L., 42, é casada há nove réveillons. As outras cinco, que variam entre 29 e 38 anos, estão solteiríssimas. Aparentemente, apenas A., 32, deseja um relacionamento sério e o mais rápido possível.

N., 30, a recordista de homens no ano, tem apenas um caso com um “velho” de 52 anos. Declara-se ninfomaníaca. Na noite anterior havia praticado o seu esporte preferido: uma ménage a trois com um casal que conhecera no Recife.

Não foi tão prazeroso como nas vezes anteriores: “A mina do cara ficou com mó ciúme e estragou um pouco a festinha”.

D., 38, dez homens na temporada, diz que gosta cada vez mais de mulheres. Não obrigatoriamente por trauma dos cafas e dos homens frouxos.

A mais quente na narrativa é R., 36, oito “canalhas” em 2012.  Confessa-se uma neoviciada em clubes de swing paulistanos.

W., 34, sete homens no ano, é a mais discreta, tem um filtro de melancolia nos olhos clorofilados. W. é a mais sexy. Ela sofre atualmente com um platonismo miserável. No que lembro à misteriosa moça de um velho mantra do poeta Eduardo Kac:

“Para curar um amor platônico, só uma trepada homérica”.

Aos leitores, um 2013 nada acinzentado, com todos os tons de vermelho como um gozo estilhaçado em uma tela de Pollock.

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Plano bom é plano não-realizado

Por xicosa
26/12/12 11:09

Trilha para os últimos dias do mundo que não acabou

Nas espumas flutuantes de mares e cervejas crepusculares, reflito:

Plano bom é plano não-realizado.

Cronicamente inviável e repetitivo vos digo, como a cada fim de ano: nossos planos são muito bons, como na canção dos Doces Bárbaros, nossos planos são recicláveis, como os de mil novecentos e antigamente…

Nossos planos são os mesmos que se arrastam desde século seculorum, nossos planos são tão conhecidos, tão íntimos, eles nos acompanham há tanto tempo que viraram nossos amantes, nossos melhores amigos.

Nossos planos renascem a cada fim de ano como os nossos melhores cúmplices.

Nossos planos sabem que se os realizássemos à risca a vida perderia a graça, seríamos perfeitos demais, estávamos todos magérrimos, malhados, gozando a saúde dos deuses ou dos imortais da ABL, seríamos todos um bando de Davids Beckhans e Giseles.

Nossos planos são muito bons, mas sinto muito por eles, coitados, mais uma vez não serão cumpridos na íntegra no ano da graça de 2013.

Cumpriremos, no máximo, os 10% da humaníssima cota do possível, os 10% do garçom, justa medida.

Nossos planos são muito bons e nunca foram atrapalhados por crise alguma. O que nossos planos enfrentam para valer é uma invencível guerra interna nos fracos juízos repletos de defeitos de fábrica.

Nossos planos são muito bons, mas, como sempre, ainda temos o benefício da dúvida, ainda temos a complacência e, se, por acaso, faltar alguma conversa fiada no estoque, botamos a culpa nos outros –nosso inferno mais próximo.

Nossos planos mal devoraram a ceia do Natal, nossos planos famintos, nossos planos eivados pela fome histórica de todos os semi-áridos e Jequitinhonhas, e lá estão nossos planos a dormir a mais preguiçosa das siestas espanholas.

Nossos planos estão dengosos, como nunca, para o ano novo, nossos planos querem colo, nossos planos odeiam uma academia de ginástica, um cooper às cinco da matina, uma dieta saudável…

Nossos planos não têm medo do colesterol e muito menos da gordura trans, nossos planos adoram uma costelinha de porco, como aquela que Maria fez ainda no Paraíso, costelinha com cerveja preta.

Ah, nossos planos lamberam os beiços, mesmo não sabendo o que seríamos de nós dali a duas voltas do sol no eixo da existência.

Nossos planos não se desgastam à toa, não vivem de estresse, não andam de automóvel na cidade de SP, nossos planos são eternos pedestres e adoram uma rede depois do almoço.

Nossos planos são do interior do mato e ruminam um capinzinho entre os dentes manchados pelo cigarro brabo do tempo.

Nossos planos se espreguiçam, estralando todas as juntas e costelas, quando ouvem falar outra vez de novos planos.

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É Natal: a graça de um belo vexame em família

Por xicosa
24/12/12 14:18

E de repente, na fila da farofa, aquela priminha que você não dava nada se revela a gostosa-mor do universo.

*

Minha solidariedade aos parentes desconhecidos que logo mais estarão mais perdidos na ceia do que vira-lata em caminhão de mudança.

*

Tudo muda na família. Menos as ovelhas negras. O espírito natalino é burro. São as mesmas eleitas a vida inteira.

*

Toda ceia carece de pelo menos um velho comunista para chocar as criancinhas mesmo no tempo em que Papai Noel não passa de um aplicativo de quinta.

*

A cara de espanto com o novo gay recém-revelado. E para cada um assumido, dois no armário ad eternum.

*

A hora de falar umas verdades. Alguém bate o talher na garrafa, como no “Festa de Família” (no cartaz acima), filme do Dogma 95. Suspense.

*

Na falta de assunto, tempo, tempo, tempo. O calor carioca, a estiagem cearense, o mormaço do Recife, as quatro estações diárias de San Pablo etc.

*

O cunhado bêbado, em plena Missa do Galo, ainda com o interminável grito de guerra: Vai, Curíntia!

*

O tio bêbado, tipo papudinho mesmo, que dureza acompanhar seu ritmo.

*

A parente maldosa que presenteia a prima idem com uma roupa maior do que ela veste. Só para fotografar –vide post no Facebook ainda na madruga- o justo momento em que a “inimiga” exibe a peça para todos.

*

E a vovó-Niemeyer repete o chiste de sempre para a neta predileta: “O que mais gosto do Natal, Rose, é que você está sempre de homem novo!” O detalhe é que Rose está à beira das bodas de prata com o mesmo hombre.

E você, estimado(a) leitor(a), qual o bafo natalino predileto da vossa família?

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Campanha de Natal: pela comilança das moças

Por xicosa
22/12/12 12:07

Nessa retrospectiva caliente, nada mais oportuno do que lembrar nossa campanha pela comilança, sem culpa, das fêmeas.

Mais prazeres da carne e menos metafísica nesse final de ano.

Te juega, Lola, no banquete nada platônico deste Natal.

Nada pior, amigo, do que sair com a pequena, e ela só beliscar, qual um passarinho, uns saudáveis farelos ou folhinhas sem graça.

Que desgosto.

Você caprichou na escolha do restaurante, acordou com água na boca por um prato que só você sabe onde encontrá-lo, quer fazer uma presença, fazer bonito com a cria da sua costela.

Que desgosto, a gazela mira o ambiente com “nojinho”, de tão fresca. Uma estraga-prazeres, eclipse de um belo sabadão ensolarado.

Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança.

Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.

Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.

Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!

Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ”Os Desajustados”, quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato de operário. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida.

Além do prazer de vê-las comendo, pesquisas recentes mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser mais nervosas, dão mais trabalho em casa ou na rua, barraco à vista, intermináveis discussões de relação…

Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las nesse crime perfeito.

Moças de todas as geografias afetivas e gastronômicas, aos acarajés, às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos assados e cozidos, ao  sanduíche de mortadela, à dobradinha à moda do Porto, ao lombo -de lamber os lábios!-, ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado que capricha na carne e sabe a arte de gelar uma cerva. E aquela fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último tango do agreste.

O importante é reabrir o apetite das moças, pois, repito, senhoras e senhores, o velho mantra: homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite.

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Aos desiludidos do amor, com carinho

Por xicosa
20/12/12 23:57

“Alta fidelidade”: até furar o vinil da dor amorosa

E o mundo não se acabou. A não ser debaixo de alguns tetos. Então seguimos com a nossa retrospectiva caliente de 2012.

Hoje me dirijo exclusivamente aos que andam meio ressabiados, cínicos ou descrentes.

Triste de quem fica desiludido(a) e evita outro amor de novo, cai no conto, blasfema, diz “tô fora”, já era, tira onda, ri de quem ama, pragueja e nunca mais se encontra dentro das próprias vestes.

Como se o amor fosse uma bodega de lucros, um comércio, como se dele fosse possível sair vivo, como nunca tivesse ouvido aquela parada de Camões, a do fogo que arde e não se sente, a da ferida, aquela sabedoria do soneto musicado pelo menino Renato Russo.

Triste de quem nem sabe se vingar do baque, sequer cantarola, no banheiro ou no botequim, “só vingança, vingança, vingança!”, o clássico de Lupícinio Rodrigues, o inventor da dor-de-cotovelo, a esquina dos ossos úmero com os ossos ulna (antigo cúbito) e rádio, claro, lição da anatomia e da espera no balcão da existência.

Tudo bem não querer repetir, com a mesma maldita e peçonheta criatura,os mesmos erros, discussões, barracos e infernos avulsos e particularíssimos.

(Falar nisso, nunca mais ouvi o velho e bom “eles renovaram o namoro”. Coisa linda, linda, linda, o mais comum era dizer apenas “eles renovaram”. Prestou atenção na força das palavras?)

Não estamos tratando desse tema. O caso aqui é de quem se desilude ao infinitum. Triste de quem encerra o afeto de vez, como se aquela mulher e/ou aquele homem “x” fossem fumar o king size, duvidoso e sem filtro, lá fora, e representassem o último dos humanos.

Chega do clichê e do chavão de que todos os homens ou mulheres são iguais. São, mas não são, senhoras e senhores. Cada vez que uma folha se mexe no universo a vida é diferente. Todos os machos e todas as fêmeas são novidades. Podem até ser piores, uns mais do que os outros, porém dependem de vários fatores.

Não adianta chamar o garçom do amor e passar a régua para sempre por causa de apenas um(a) sujeito(a) – como se representassem a parte pelo todo da panelinha do mundo. O que não vale mesmo é eliminar o amor como proposta mínima na plataforma política de estar vivo.

Já pensou quantos amores possíveis, como diria Calvino, você estaria dispensando por essa causa errada? E quem disse que amor é para dar certo?

Amor é uma viagem. De ácido.

Amar é… dar ou levar pé-na-bunda. Depois, como se diz, a fila anda, mesmo que mais demorada que a do velho INPS ou do que a dos ingressos para a final do campeonato.

E tem mais: a única vacina para um amor perdido é um novo amor achado. Vai nessa, aconselho! Só cura mesmo com outro.

Sim, o amor acaba, se não você não entendeu ainda… Corra a ler o gênio mineiro Paulo Mendes Campos: em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Vamos esquecer a ilusão católica do até que a morte separe os pombinhos e viver lindamente o amor e o seu calendário próprio. Muitas vezes, não temos o amor da vida, mas temos um belo amor da quinzena, que, de tão intenso e quente, logo derrete. Foi bonito.

Vale tudo, só não vale o fastio e a descrença.

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