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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Pedagogia da traição amorosa

Por xicosa
28/01/13 19:31

Não me canso de repetir aqui neste blog dos corações em desatino: Só um chifre humaniza um macho.

Desculpe, amigo, se o tema  o incomoda. Neste caso, melhor mudar de blog. A dor da gente, xará, sai sim nesta página.

Só uma traição humaniza a raça. É o velho mantra da coluna. Daqueles objetos pontiagudos bem parafusados pelo destino em nossas testas lisas.

Nem que seja apenas como arma de vingança, como reza a lírica do cancioneiro de Carlos Alexandre, o grande do brega.

Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com Stephanie Says, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça. Aí entra Tom Waits, que gorjeia This One’s From The Heart, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola.

Posso tocar mais uma da fita O Fino do Corno, que acabo de gravar aqui no velho cassete das antigas? Então lá vai, lá vai, roda, segura aí, peça logo outra cerveja: Les Amours Perdues, do canalha-do-bem Serge Gainsbourg. Essa é para chorar, como convém a quem deixou rastros de incompetência e de vacilos sentimentais pelo caminho.

Chifre posto, lá estamos nós, répteis do amor (agora entra Por que me Arrasto aos teus Pés, do rei Roberto, para coroar a breguice dos humilhados e ofendidos), carentes como um poodle.

E essa nossa loucura, muitas vezes, não deve ser tributada simplesmente à febre amorosa que estoura na pele e mancha o caroço dos olhos. Enlouquecemos mais pelo ego de macho, que não suporta uma “literatura comparada”, uma derrota, do que pelo grande amor de fato.

É o medo do cabrón diante das comparações. Tudo que queremos saber é apenas se o adversário, a quem sempre vemos, de imediato, como o Pelé do tantra, o Cassius Clay do priapismo, é mesmo o tampa-de-Crush, a bala que matou Kennedy, o tal da química de pele, o cão do terceiro livro…

Aí insistimos, insistimos, insistimos na nossa babaquice, até que ouvimos mesmo, daquela ingrata, que perdemos o embate, o jogo, o clássico do sobe-e-desce, o decisivo mata-a-mata nesse faroeste empoeirado dos nossos inconscientes.

A literatura comparada é o golpe fatal. E que gazela perderia a chance, diante da perguntado imbecil, de empurrar o sujeito para o abismo?! Aí não tem cachaça ou uísque que curem. É o fim. O mais confiante dos homens sucumbe nessas horas.

E se a moça, toda saltitante, aparecer na firma com aquele sorriso franco, aquela pele remoçada… Nunca vamos imaginar que possa ter sido apenas uma combinação perfeita entre o antidepressivo e o creme de vitamina C + coenzina Q10, obra e graça da renovadora indústria coméstica!

Sempre pensaremos no desastre-mor, no grito selvagem (dela) de prazer.Sempre achamos que a desgraçada, a miserável, descobriu, finalmente, todos aqueles multiorgasmos fresquinhos anunciados toda semana pela revista Nova. A capa da Nova é a primeira imagem que temos. A perua toda feliz com a carga elétrica de 220 wolts que recebeu do velho urso.

É assim mesmo. Pois a vida é simples e sempre vai imitar aquela singela crônica de Rubem Braga. Lá para as tantas, uma tal de Joana entra no carro de um palhaço, toda aconchegada a ele, meio tonta de uísque, vai para o apartamento do monstro – um imbecil que não sabe uma só palavra de esperanto. A vida é triste, Sizenando, conclui o escriba, a quem agora fazemos coro.

E no toca fita do meu carro, como canta agora Bartô Galeno, uma canção me faz lembrar você… Durante o luto amoroso, nossa vida não passa de um plágio descarado de uma música peba, brega e cafona.

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Como blindar o amor no carnaval

Por xicosa
26/01/13 13:39

“Carnaval de Rua”, expo de Fred Jordão, Recife

Aqui já começou.Os ursos pés-de-lã ocupam ruas e bailes. Um perigo.

E com recomendável antecedência, direto da concentração do bloco misto etílico carnavalesco Amantes de Glória, no Recife, relembro, à guisa de código de ética momesca, conselhos para evitar o desmanche dos casais durante a folia:

Sim, amigo, Carnaval sempre foi um perigo para os pombinhos que resolvem brincar juntos. Sempre a favor do amor e da paz nos lares doces lares, este cronista deixa algumas dicas úteis – e outras nem tanto- para os foliões que se arriscam de mãos dadas na festa da carne.

Concordo: a missão é quase impossível.

“Só se forem brincar em um baile de casa de swing”, corneta aqui um amigo urso, cético no último. “Utopia, meu caro”, diz o outro, homem sério e ainda enfeitado com as serpentinas de um trauma antigo. “Calma, senhores”, tento amansar os cavalheiros da nossa távola.

Até que aparece a primeira dica, com o humor que a ocasião nos pede:

“Aprenda a abraçar seu amor de forma satisfatória com apenas um dos braços, já que a outra mão vai ter uma cerveja sempre”, aconselha o estratégico Rodolfo Barreto, o único da mesa que pode ser identificado sem problemas.

O mesmo camarada alerta sobre o capítulo das fantasias. É recomendável que o casal saia às ruas ou aos bailes sempre vestido de fantasias complementares, como Adão e Eva, por exemplo. Ou Adão e a cobra. Tabém vale.

Agora uma moça se intromete lindamente na conversa. Ótimo, assim não fica uma visão tão porco-chauvinista:

“O ideal é se perder do bloco, depois se encontre de trombada e beije seu namorado como se estivesse beijando alguém que nunca viu em uma micareta na vida”, diz a danada, clássica diabinha.

Há também quem acredite existir uma única fantasia possível para os enamorados: um se veste de paciência; o outro de compreensão. E segurem a onda para que as máscaras não caiam diante de possíveis tentações avulsas. Nada fácil.

Não é à toa que muitos casais preferem o sossego de uma praia, a mais sábia das decisões. Principalmente para quem já correu muito atrás do trio elétrico e do Galo da Madrugada.

Otimista qual uma Pollyana fanática, eu acredito na celebração conjunta. Palavra de quem já viveu o inferno de brincar juntos, mas também encarou, na boa, e com muito amor, até o inferninho brega e fogoso do I Love Cafusú no Preto Velho, Olinda.

Sim, existem os espertinhos(as) que arranjam uma briga ainda na véspera. São os piores: crime premeditado.

Pior mesmo é tentar bancar o casal moderno e fazer o pacto da carnificina. Aquele em que cada um brinca em um canto da cidade ou em Estados diferentes. Terrorismo amoroso na certa. Fica o suspense e um sofrimento medonho. Carece muita evolução ou safadeza propriamente dita para segurar essa bronca.

Pombinhos, paz na terra aos homens de boa vontade. E se rolar algum acidente, dêem aquele desconto necessário, afinal de contas chifre de Carnaval não dói nem enxovalha a honra de seu ninguém. Acontece. As cinzas da quarta, reza a cartilha religiosa, ungem lindamente as nossas testas.

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Caetano e a elegância das ´minas´ de SP

Por xicosa
24/01/13 22:20

“Sampa”, de Caetano Veloso, é uma belíssima canção e traduz muito da cidade que completa 459 anos de vida.

Não há dúvida.

Tem um verso dela, porém, que empena minhas oiças: “Da deselegância discreta de tuas meninas”.

Sim, quem dizia era o Drummond: se meu verso não deu certo/ foi seu ouvido que entortou.

Pode ser que tenha sido diferente antes de chegar por aqui. O que vi dos anos 1990 até agora é o avesso completo. A mulher de SP, em um panorama geral, é uma elegância só.

Classe em todas as classes da babilônia. Da ponte para lá e da ponte para cá.

O amigo escritor Marcelo Rubens Paiva disse tudo na crônica “A garota de São Paulo”: “Usa botas. Não existe mulher que se veste melhor do que as paulistas.”

Quantas Valentinas.

As paulistas paulistanas de todas as origens, SP é quase o mundo todo.

As meias pretas das meninas desta cidade, meu São Braz, quantos mistérios.

O melhor espetáculo da terra é ver uma paulistana se vestindo no inverno. Quando eu cheguei por aqui só tinha olhos para Ligia, matriz napolitana, ragazza que se vestia como raras, raríssimas.

Um ritual. Acordava, mesmo quando não carecia, apenas para vê-la no lindo strip-tease ao contrário. Repito: uma mulher se vestindo é tão bonito quanto uma mulher tirando a roupa.

Quando eu cheguei por aqui, de cara vi que o verso da belíssima Sampa não era bem o que parecia. Nem um pouco. Na noite do Pirandello, o bar, mil e uma noites de alumbramento com as moças. Ali, na presença de gente que admiro, como Ignácio de Loyola Brandão e Caio Fernando Abreu, entre tantos ilustríssimos em declarada festa.

Quando eu cheguei por aqui chapei por completo com as moças da Mostra de Cinema. Passava horas em um plano sequência a mirá-las. Elegance avec nouvelle vague, minhas Annas Karinas, e eu sempre vos cantando com uma infame paródia de Odair José:

“Eu vou tirar você desse Godard/ eu vou levar você pra fiar comigo/ e não interessa o que os outros vão pensar”.

Parabéns, SP, e lembre-se: atrás de todo caos da paisagem há sempre uma mulher que rouba nossos olhos de voyeur.

Desculpaê, Caê, a elegância é aqui.

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Como se vingar de um homem mau

Por xicosa
23/01/13 01:06

E no segundo episódio das Ficções de Verão, sempre baseado em fatos reais, um caso de vingança, vingança, vingança:

Era um daqueles dias mais quentes dos últimos anos que o noticiário adora dizer que foi o dia mais quente dos últimos séculos em São Paulo.

B., a enfermeira do São Camilo, acabara de terminar, exausta, o turno de trabalho na emergência. Saíra para fumar um cigarro na calçada antes de pegar a bolsa e voltar à Vila Nova York, Aricanduva, ZL.

-Olha quem tá lá, perto da banca! – o amigo taxista na frente do Souza, boteco da Avenida Pompeia com a Tavares Bastos, alertou sobre a presença da mulher que eu desejava havia dois meses.

Neste dia, embriagado de coragem, resolvi falar com ela. Mesmo não sendo fumante, comprei um maço de Camel, atravessei a avenida e pedi fogo. Acendi o cigarro no dela.

(Bestamente lembrei do título de livro que mais gosto na vida: “Todos los fuegos el fuego”. Julio Cortázar).

Tentei puxar uma conversa fiada. Os monossílabos de B. subiam aos céus com a fumaça sinuosa do desprezo como resposta.

Insisto, nervoso, mais desarticulado ainda.

Ela começa a chorar da maneira mais feminina. Do nada.

-Morreu alguém no seu plantão?

-Não. Morri eu mesma antes de sair de casa –ela disse.

-…

-O filho da puta do meu noivo.

-Te traiu?

-Antes fosse.

-Desistiu do casamento?

-Não quero falar sobre isso, com licença.

Pedi desculpas e ela entrou no hospital, raivosa, enxugando as lágrimas.

Segui para casa. Quando chego à Raul Pompeia, me assusto com aquela mulher pegando firme no meu braço.

-Preciso me vingar de alguma forma –disse a enfermeira.

-Se vingar…

-É, não posso ficar nesse chororô antes da vingança.

-Estou indo para casa.

-Posso ir também, você não tem mulher, tem?

Assustado eu disse sim, venha.

-Não quero chorar, entenda, quero me vingar, não quero ombro, por favor não seja bonzinho –disse.

Fiquei nervoso.

Na dúvida, pus a coisa mais óbvia, na radiola: um vinil do Sérge Gainsbourg. Não tenho mesmo criatividade.

Fiquei nervoso. Será que vou dar conta.

Minha gatinha de quatro patas ronronava: “Que roubada”.

Diante daquele desacerto e da tempestade de reticências, lembrei que estávamos no dia mais quente dos últimos séculos.

Aproveitei que ela voltava do banheiro da edícula e joguei o primeiro jato de mangueira na sua roupa branca. Entre um assombro e um riso de maluca, ela pareceu gostar da brincadeira. Estava um pouco alta de bebida.

Dosava. Jatos mais fortes entre as coxas e jatos mais leves, bem leves, nos peitos. Ela girava para receber água nas costas.

-Mais forte –ela pedia. –Agora vem você!

O dia mais quente dos últimos quarenta anos, dizia, com mais exatidão meteorológica, o rádio da vizinha.

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Amor para viagem

Por xicosa
20/01/13 21:49

Toda mulher sonha com uma bela viagem com o homem dela. Seu homem.

Segura aí o drama: eis que o homem dela, seu homem, depois de alguns meses de separação, faz aquela viagem dos sonhos com outra, a atual mulher, namorada ou cacho do miserável, do lazaranto, do cão das costas ocas.

Se a bela viagem do fdp é para a Europa, com o roteiro que ela imaginara, minha nossa Senhora do Perpétuo Socorro, valei-me.

A dor de vê-lo amostrado e feliz com a nova mulher é osso. Vale para qualquer destino. É que a Europa a dois é mais fetiche das antigas. Dói a cada milha sobre o Atlântico.

Pior é que quando estavam juntos, o ex não se animava para ir muito longe, embora tenha prometido, em um momento de comovida bebedeira, Paris e algo mais.

“Ele fazia no máximo as curvas da estrada de Santos”, me diz uma amiga paulistana, Ana Cristina, Ana C., como a poeta, pobre Ana Cristina. “Depois que acabamos, foi até em Praga com a miserenta, vê se posso com uma coisa dessas”.

Ana, mulher forte, tem grana para ir até para a lua sem escala. Não é disso que estamos falando.

Mulher ama viagem de amor. O amor pede mesmo umas saídas. Nem que seja Recife/Triunfo ou Fortaleza/Guaramiranga –para o festival de Jazz & Blues. Cito aí duas fugas friazinhas e românticas do Nordeste.

O amor parado mofa, cria beta, lodo,  amofina.

Amor parado é dengue via mosquito de pneu velho em garagem a céu aberto.

Mesmo que você more no Rio de Janeiro, com todo aquela overdose de cartão postal, fuja para a serra, quem sabe Araras, onde comecei um dos grandes amores da minha vida.

(Lembro. Ela estava menstruada. Dou sorte em fazer amor nessas fases das moças. Tenho uma superstição particularíssima com isso. E ainda tem gente que se nega a transar naqueles dias de chico).

Tenho um único arrependimento em relação a todos as minhas mulheres: ter viajado pouco com elas. Embora tenha sim me aventurado por terra, mar e ar etc.

Amigo, não regule milhas e coragem. Seja um Gulliver do amor e da sorte. Nem espere que ela te dê um “se liga”. Preste atenção como ela fala de certos lugares. Com as exclamações boiam no branco do olho quando alguém fala dos leões marinhos de Cabo Polônio (Uruguai).

Para cada hora de amor parado, pelo menos um segundo de amor em movimento. Quando o amor acaba, e o amor acaba, como bem me avisou o chapa Paulo Mendes Campos, é das horas de exílio que mais nos lembramos.

Vamos para Bora Bora, como no filme “O fundo do coração” (One from the heart)?

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O bom e desencanado sexo com ex

Por xicosa
18/01/13 08:46

Sugestão de filme para o fim de semana

Há quem veja no ato uma roubada. Não é o meu caso. O que não mata, fortalece, como diria o filósofo em bigodes de vassoura.

Sexo com ex é uma maravilha.

Sexo confortável sem o drama da primeira vez. Sem o drama da cama, esse objeto metafísico por excelência, me alerta aqui o tio Nelson, seja lá que diabo isso signifique.

Mas há uma gente austera em relação ao assunto. Uma gente que canta “acabou chorare”. Uma gente que teme a recaída, que prefere o orgulho da “fila anda”, que parte mesmo para outro(a) ou para o luto amoroso sem chance para o amor-retrovisor.

Pode ser até um pouco melancólico o sexo com ex. No problem. Depois do gozo, a gente sempre fuma mesmo o king size sem filtro do abandono. Seja fumante ou não seja. É o desamparo de saber que, no fundo, viemos sós e sós morreremos, mesmo os que merecem multidões no enterro.

O sexo com ex também traz uma certa esperança aos que não conseguiram dar o amor por finalizado. Isso pode ser péssimo.

Falo do sexo com ex depois de um certo tempo. Em um reencontro fortuito no bar Genésio ou no show de uma velha banda de rock que os dois curtiam juntos.

O bom e confortável sexo com ex exige uma quarentena. Como a lei que vale para autoridades de cargos públicos importantes.

Sexo com ex é tão bom que nem é da conta dos atuais ocupantes do cargo. É perdão imediato. Pelo menos lá em casa. Ela nem precisa me contar direito, “ah, meu amor, estava bêbada, fiquei com meu ex” etc. Não passa nada, minha pequena.

Você se incomoda, amigo(a)?

Sexo com ex é um barato. Em Nova Iorque, Helsinque, Recife ou no Crato.

Estou dentro.

É tão bom sexo com ex que quando você diz “foi bom, meu bem?”,  a dama responde não apenas por aquela transa, mas pelo conjunto da obra de todo o casamento. “Agora, com o passar dos anos, vejo que nossa história foi até honesta”, diz ela.

Você ainda leva para casa este belo atestado de bons antecedentes.

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Ela se apaixonou por um gay. O que fazer?

Por xicosa
15/01/13 13:11

Miss Corações Solitários, personagem que incorporo desde que li este livro aí acima, abre mais uma vez a sua tenda.

Vamos ao drama da semana, aqui resumido:

Estou apaixonada, arriada, caidinha mesmo, por um cara que nunca transou com mulheres. Descobri, com amigos, que ele se declarava homossexual até encontrar comigo, naquele fatídico sábado do final de novembro passado.

Um flerte e outro, resolvemos sair. Hoje faz um mês que tentamos a primeira vez. Ficamos ali nas preliminares e nada.Mais duas tentativas, inclusive no Reveillon em Barra do Sahy, e ainda não rolou para valer.

Fofo, sensível –isso é o que muito me atrai nele- pede desculpas e paciência. Alega que tem que se preparar psicologicamente para a mudança.  Você acha que desse mato sai coelho? Não queria perdê-lo, acho um cara precioso, diferente dos toscos com quem me relacionei ate agora.

Atenciosamente, M.S., 23, Vila Tolstoi, SP

Resposta:

Paciente e estimada leitora, essa esperança de conversão é um clássico. O cara, por estar mesmo confuso e por medo de sair de vez do armário, fica nessas, acreditando que possa virar o fio, cambiar a trajetória.

A mulher, além da eventual paixão pelo rapaz, também entra na onda de se achar a tal, a que vai operar o “milagre” da mudança do sujeito. Isso gera uma fissura, um tesão sem limite.

O enredo é tão conhecido que era um dos temas recorrentes na fase da pornochanchada do cinema brasileiro, nos anos 1970-80. O enredo: héteros se passavam por gays para despertar nas mulheres a chamada “tara pela conversão”.

Na vida real, querida, roubada sem limites. A não ser que ele ainda seja apenas um pós-adolescente, ali na casa dos 19, 20 anos, que realmente pode ainda estar confuso, embaralhado. Como já dizia o tio Nelson, aos vinte e poucos um homem não sabe sequer dar bom dia a uma mulher.

O meu conselho, porém, é o mesmo daquele sempre citado no blog: “Corra, Lola, corra”.

Você não é um desses pastores que ficam prometendo por ai a conversão de gays e lésbicas.

Os gays costumam ser bons e divertidos amigos. Tente a amizade. Com o carinho e a atenção de sempre, Miss Corações Solitários.

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Quando o horóscopo diz `Amor em alta´

Por xicosa
13/01/13 21:30

Estimada astróloga, saudações, como tens passado? Espero que mui bem, o que não é o meu caso, por supuesto, ao contrário do que imaginas e tens previsto.

Nada bem, aliás, nadíssima. Não gastaria minha saliva para grudar os patrióticos selos desta missiva, estimada astróloga, caso não fosse grave, gravíssimo.

Não me acharia o último dos librianos da face da terra caso tu não tivesses me viciado, nas últimas duas décadas e meia, com a granola matinal da imperdível coluna do horóscopo.

Como assim AMOR EM ALTA, se acabam de sujar o meu traseiro com um bom, lindo e delicado pezinho número 36?!

Cá ainda vê-se a mancha de tal miserável despedida nitidamente impressa na calça jeans. Não mandei à lavanderia para guardar como prova material do crime –é uma mania, digamos assim excêntrica, de construir um particularíssimo museu dos pés-na-bunda.

Amor subindo ao telhado, isso sim, minha respeitável senhora. Amor na cumeeira, amor no penhasco, amor no cânion de todas as desgraças, amor pulando de um edifício em chamas.

O motivo desta carta, estimada astróloga, é tão-somente para prestar minhas mais veementes queixas em relação às suas previsões para os últimos dias. Danem-se os astros vagabundos que me humilham  por terra, fogo e ar.

Até  parece que a nobilíssima senhora, que tenho em altíssima conta, esqueceste dos dons artísticos, dos dons estéticos e, pasmem, dos delicadíssimos dons dos corações que ao mundo vieram entre 23 de setembro e 22 de outubro.

Agora não adianta bajular-me com o anúncio de Vênus em Aquário e a promessa de amor e encanto. “Clima mágico” a partir desta data? Não, não ficarei atento, como indicas. Não me venhas com esperanças depois que pisaste distraída nas cascas de bananas deixadas pelos cosmonautas.

Se você já tem um amor, sugerias tu, uma boa época para viajar com ele começa na semana que sucede a Lua cheiaem Gêmeos. Busque novos ares, um ambiente leve e divertido, em que possa espairecer.

Se tem um amor uma ova, tinha, e o perdi justamente no dia em que relaxei e abri um sorriso indecoroso com aquele teu AMOR EM ALTA.

Reparo ainda aqui nas tuas previsões, amiga, que o libriano conhecerá alguém, ou, se tem uma relação estável, passará ótimos momentos a dois.

Como assim, conhecer alguém para depois me deparar outra vez, justo no bem-bom da história, com um assassino AMOR EM ALTA?!

Prefiro não conhecê-la nem bordada a ouro, nem vestida de bonequinha de luxo, nem com o bocão de Brigitte Bardot no auge, nem mesmo.

E não me venhas com outras adulações a respeito das finanças. Desde já, aviso, querida madame dos signos: não tentarei incorporar as oscilações do mercado e o lado inesperado da vida adaptando planos à realidade.

Tampouco vou me lixar para Marte e Plutão que alcançam Capricórnio, inaugurando uma fase importante para pensar investimentos familiares e gerenciamento de bens de raiz.

Danem-se os negócios imobiliários, a casa caiu, estimada senhora!

Que me importa a sorte no dinheiro se os cupins do amor festejam a minha ruína?!

Sem mais para o momento, carecia de tal desabafo sincero, me despeço carinhosamente, com um beijo de um admirador, ainda que desiludido.

P.S. A desalmada criatura que me levou ao pântano amoroso é de Áries, seja lá que diabos isso represente na minha peleja contra as atuais leis do cosmo.

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Breve homenagem a Rubem Braga, 100

Por xicosa
12/01/13 01:21

Retrato do cronista por Cândido Portinari

Hoje é o dia em que o homem-crônica completaria 100 anos. Viva o centenário Rubem Braga (1913-1990), o cara que moldou esse gênero vira-lata da literatura  brasileira -era assim mesmo que tratava a própria obra.

Publico a seguir um texto que fiz para RB durante uma visita a sua terra, Cachoeiro do Itapemirim, a mesma de Sérgio Sampaio (“Eu vou botar meu bloco na rua”) e de Roberto Carlos:  

A arte da vagabundagem crônica

Algumas saem fáceis, como aparentam aquelas de Rubem Braga, como uma polaroid, uma pose digital, olha o passarinho, olha a borboleta amerela, diga xis, um sabiá teimando contra o barulho da metrópole, fáceis como beijos roubados de mulheres difíceis…

Outras nascem na dança, na pista, uma moleza, como empurrar bêbado em ladeira, como Vinícius no elogio de uma saboneteira, como descer para um café ou uma cerveja lá na esquina da Augusta.

A crônica é uma costura para fora, mesmo sabendo quanto custa a mais-valia da musa da encomenda, mesmo sabendo que na vida não tem almoço de graça, muito menos sobremesa, mesmo sabendo que a vida não é café pequeno, mesmo sabendo que no fundo da xícara, na borra mais árabe, o desenho do futuro, Etelvina, é obscuro, o jogo do bicho, Etelvina,  ainda não permite o teu luxo, a vida, minha menina, é cronicamente inviável.

Algumas, menina, são crônicas de britadeiras, saem na marra, à força, furando o asfalto para tirar uma florzinha de nada, a peleja do escriba com o lirismo que não chega nunca, as chagas abertas, croniquinha raquítica, só o fiapo de narrativa, sem sustança, sem tutano, coisinha sem graça, metalingüística, a crônica sobre a crônica falta de assunto.

Algumas vêem ao mundo para confundir a audiência, são crônicas-travestis, arte dos cronistas transgêneros… Pois é, menina, a gente não sabe se é um conto, uma rápida elegia expressionista, um poema em prosa, sabe-se lá, menina, mas mesmo não sendo nada já nasceram crônicas.

Algumas, não têm jeito, eram apenas notícias, que o dedógrafo teimou em decepar as aspas, minha menina, e enfeitar o naturalismo como pôde, coitado.

Algumas, menina, são para ninar as moças nas sestas, como as de Antônio Maria, tu sabias?

Algumas são de costumes, e até ficam como registros históricos, crônicas de épocas, já ouviste falar, por acaso, em João do Rio?

Algumas já nasceram crônicas de rua, como a grande arte de chutar tampinhas, como os sem-teto e malacos, como os bambas das sinucas das antigas, aí já estamos em João Antônio, manja?

Algumas são do amor louco, menina, como aquelas do velho Charles, o safado catando milho na Remington, menina, com aquela outra menina na praia, gaivotas quase a biscar os peitos, como no cinema.

Algumas, minha adorável criatura, minha menina sem nome, são como aquelas que simplesmente distraem o feirante antes dele embrulhar o peixe, a banana e, quem sabe, também as flores.

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Sexo oral não é amor, mr. Neil Young

Por xicosa
10/01/13 22:27

Nem só de Nabokov vive o lolitismo. Todo escriba tem a sua danada

Este blog inicia, orgulhosamente e sob fator 30 de proteção, uma série de ficções de verão. Pequenos contos baseados em fatos reais. Pelo menos uma vez por semana, incontáveis tons-pimentões. Eis a primeira aventura:

C.amava ser vista, nos hotéis e restaurantes, como minha filha.

Idade eu tinha mesmo de sobra para tanto.

Provocadora, ela até me presenteou com uma fita cassete com 30 minutos inteiramente tomados por “Old man”, a sua canção preferida do Neil Young, e mais 30 de “Homem Velho”, do “Cidadão Instigado”.

A fita cassete era uma forma de redundar minha velhice. Pequena sacanagem para mostrar o poder do deus Cronos. Gravei muita fita cassete para namoradas.

Outra provocação inevitável: estava sempre a dizer “nesse tempo eu não era nascida”.  Mal sabia o tesão que aquilo me dava.

Uma Electrazinha, transferia a um velho vagabundo qualquer o desejo pelo pai. Foi o que pensei de cara.

A perversão começou ainda em SP. Exigiu que El Viejo, na véspera de inteirar 50 verões, fosse com ela comprar os biquínis da viagem. Uma maratona. Vestia as minúsculas peças e me convocava de dentro dos provadores:

-Vem ver se esse é do seu gosto! Vem logo! –berrava na sua impaciência juvenil. Juvenil não. Digo impaciência feminina.

Situação ridícula para o tiozinho, mas ai de mim se não obedecesse as ordens.

Constrangido com as vendedoras, descortinava então os provadores e lá estava C., empinadinha:

-Tá bom? –perguntava, talvez na tentativa de, em vez da praia, me levar a uma mesa cirúrgica do Incor.

Na viagem, as mesmas provocações de quinta. Ao chegar à pousada Paraíso dos Hedonistas, em Canoa Quebrada, C. riu sacanamente da moça da recepção que indagara –quase já afirmando- se eu precisava de uma cama extra para a filha.

No café da manhã, o constrangimento era maior ainda. Pulava no meu colo e balançava as pernas, como se brincasse de cavalinho. No desfile entre as mesas, me pedia, de novo, opinião sobre o biquíni, fazendo barulho do elástico da minúscula peça contra o corpo. Amava deixar El Viejo desprotegido.

Na segunda caipirinha da tarde, a garota pagava de europeia e fazia topless.

Em uma semana, a menina má se tornara o alvo do desejo de todos os marmanjos. Uma sessão de strip generosamente oferecida aos pescadores –presente de Yemanjá aos mais humildes,ela dizia- foi a consagração.

Nesse momento de descuido, o velho jogava uma inocente pelada com os gringos: Ingleses X Brasileiros –clássico batizado bebadamente de Monty Phyton X Trapalhões, homenagem aos humoristas que representávamos na areia ao tentar jogar bola.

Nos forrós, lambadas e carimbós da noite, o esporte de C. também era chacoalhar a testosterona de todos os homens, para a ira de nativas e estrangeiras.

Quando eu perdia a paciência com aquele lolitismo irrefreável, lá vinha a pequena desalmada com o seu jogo baixo. Oferecia, a titulo de compensação, um pedaço do nirvana. No que eu deixava escapar, amadoristicamente, uma palavra proibida.

– O nome disso é boquete, ainda não é amor –dizia a pequena. –Amor é como a placa do fiado ali da venda, só amanhã!

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