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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O drama do homem-espátula

Por xicosa
05/03/13 15:38

Animação do filme “Corra, Lola, corra”

Mais do que a era do amor líquido, vivemos o tempo do amor esfarelado, que acaba muitas vezes antes de bater o bolo.

Uns ainda se bolificam, a Lola espera o traste, que passara semanas tirando onda, no flerte, na corte, no 171 permanente do ambiente de trabalho, “como você tá linda hoje, nossa!” etc.

Todas as condições históricas estavam dadas, como diria meu coração comunista.

E coube ao desalmado, conta a leitora, brasileiríssima debaixo das palmeiras da Flórida, a iniciativa da saída. Ela estava ansiosa por algum convite.

O cara, qual um homem do tempo, viu até que faria frio no final de semana, o que não seria nada comum naquelas plagas.

“Seria ótimo degustar um vinho em sua companhia!”, disse, depois do um papo meteorológico.

De imediato, ela pensou:

“Queria que me degustasse!”

Mas, enfim, naquela esperança de que o vinho levasse a algo mais, calmamente disse sim: “Domingo seria perfeito!”

Tudo marcado, a moça depila, aqueles banhos bem-tomados, um jogo de adivinhação no chuveiro de como seria o cara, a nega toda trabalhada na Victoria Secret e outros badulaques etc.

Chega a fatídica hora e nada. O tempo passa, torcida brasileira, e necas. Ela manda uma mensagem de texto. Não vem nada de volta nem em Código Morse, domingo dos tambores silenciosos na selva de Miami, silêncio no planeta.

É, Lola, bata os ovos… junte a farinha… adicione o fermento e misture com a espátula do abandono, com a espátula do desprezo…

Estavam dadas as condições técnicas para o bolo. Um tremendo Souza Leão, um irresistível bolo de rolo, o chocolate da carência ou da larica de viver.

Somente na segunda-feira, a caminho do trabalho, ela recebe uma lacônica mensagem-cupim: “Trabalhei até tarde ontem”.

O que dizer?

Esse ai, amiga, nem podemos rotulá-lo de homem de Ossanha, o que diz que vai e “não vou”, como na canção de Baden & Vinícius. O Ossanha assanha, tira uma onda, arrega, não chega junto, mas pelo menos avisa, inventa uma desculpa.

Sim, ele tem um traço de homem-bouquet (vide posts anteriores), note-se que ele usou o perigoso verbo “degustar” em vez de beber, tomar um vinho etc.

Esse ai poderia ser chamado de homem-espátula, confeiteiro maluco, qualquer coisa óbvia do mundo do bolo e do forno em fogo baixo. Esse ai nem untado na manteiga, como no filme “Último tango em Paris”,  funciona.

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Como inventar um amor de segunda

Por xicosa
04/03/13 12:00

 É preciso ter um motivo para tocar o dedão do pé no taco frio da segunda-feira, bradar um “Levante-te Lázaro” e não dar cabimento à  ressaca.

Só conheço um motivo capaz de tal milagre: a inadiável loucura carnal por uma mulher. Isso no meu caso. Você dirá, jovem gazela, lânguidos lábios de crepúsculo, “por um homem”.

É preciso ter um motivo, um ensaio de amor, uma mentira amorosa, no mínimo, para pular da cama. O trabalho, a rotina, essa indesejada média com pão na chapa, são apenas desculpas.

Para que cerimônias se todo amor é, a princípio, uma invenção, uma ficção barata de Cassandra Rios ou J.M. Simmel?

Mesmo que você já sofra, amigo, de um certo donjuanismo diagnosticado, é preciso saber que a cura está no seu próprio veneno, ou seja, na arte de inventar mais uma presa.

À guisa da autoajuda mais ordinária, vos digo: inventai um alvo para o desejo, uma ficçãozinha para cada dia da semana, aquela gostosa do telemarketing, o subeditor das notícias do estrangeiro, a moça de vestido verde que passei antes da chuva nos arredores da Paulista, a dama tatuada do cachorrinho da Augusta, o bofe do almoxarifado…

Isso, claro, se você, Lola, não estiver completamente caída por aquele chefe canalha casado. Como é lindo o amor de foca, o amor das estagiárias, o lindo e inocente amor, como deve ser o amor em qualquer etapa da carreira.

Ah, vou quebrar a cara, diria você ai, sonsa e cética. Ora, quebra-se em quaisquer circunstância. Não há outra possibilidade na existência. Viver é Sísifo, sifu etc, me sopra aqui o velho Albert.

Agora uma palhinha tipo Leminski para amaciar, pero no mucho, a segunda: não há saídas, só ruas e avenidas.

Um motivo, baby, vai construindo uma historinha logo no ônibus, no metrô, sabe aquela cara que olha com feições de tarado no elevador? Sabe o moço tímido que ainda mora com a mãe? Sabe o que sempre almoça contigo, é bom amigo e enxerga lágrimas escondidas atrás do teu ray-ban?

Só não vale o chato que fala como se a firma fosse de todos: “Porque nosso lucro líquido este mês…” Que mané nosso, meu rapaz, se oriente.

Só sei que é preciso ter um motivo amoroso ou sexual para acordar para a vida. Só Eros salva.

Quem tem um(a) amante no trabalho sabe do que estou falando: ama a segunda-feira e, muitas vezes, roga pragas, maldiz um feriado qual um taxista, “coisa para folgazão e vagabundo”, esculhamba.

É preciso criar uma ilusão amorosa como um deus diário, nem que seja apenas para tirar o enjôo do mal-estar no mundo.

Uma ilusãozinha que seja. Mesmo por aquela cachorra bêbada e chapada, como na música do mundo livre s/a. Mesmo por aquele conquistador barato que diz isso para todas.

Nada como uma ilusãozinha de segunda. Nem precisa obrigatoriamente voltar com ela hoje à noite para casa.

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Seja homem, seu inclassificável

Por xicosa
04/03/13 01:13

Costumo falar de tipos de homens, tirar uma certa onda inclusive com a minha caricatura etc.

Hoje estou puto e vou falar dos inclassificáveis.

A amiga está ali, na saída de uma casa noturna moderna de SP –não importa o lugar mesmo, poderia ser em qualquer canto, o que que importa é o fdp nessa história.

O cara, aparentemente na paquera, no social clube, oferece um drinque. Ela titubeia, vai lá, vem cá, aceita. Ele vai no balcão e volta com a bebida, todo bom moço e educado, como costumam ser os inclassificáveis.

Ela, que já havia bebido algo, bebe do tal copo. Acontece.

Parece aquelas histórias de mães alertando as filhas na hora da saída de casa. Parece, mas, isso é outra coisa, é grave, sigamos com o caso.

Ela acorda, no susto, ao lado do desconhecido. Não lembra de nada até beber naquele copo.

Faz perguntas óbvias: se usou camisinha etc.

O cara some, ela também queria vê-lo no inferno àquela altura.

A amiga entende que foi abusada. Tem marca no rosto e nas costas.

Entre tantos e tantos exames, mesmo sendo olhada como aquela mina que exagerou na noite e estaria dando trabalho aos médicos, uma das conclusões é que ingeriu mesmo substâncias dopantes, algo na linha do “boa noite cinderela”.

Havia mesmo caído no conto do fdp que, incapaz sequer de cantar uma mulher com alguma decência, prefere levá-la ao desmaio e, daí, abusar o quanto pode.

Um tipo à solta. Um inclassificável que mal sabe que deixou rastros.

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Quando o homem vira mulher de antigamente

Por xicosa
01/03/13 03:02

Uma amiga, tipo assim uma tremenda LGI, de Linda, Gostosa e Inteligente que é, estava saindo com um cara… E, pasme, você aí descrente na humanidade, no terceiro, digo TERCEIRO encontro, o tal carinha solta o seguinte texto, música romântica para ele, meu DJ Dolores:

“Porque eu preciso saber se você está só saindo comigo, sabe? Não faz sentido pra mim apenas sair, se não for para casar”, manda o rapaz. “E eu fico com medo, porque a gente é muito diferente… E (rápida gaguejada) eu sonho em casar na igreja!….”

Idades? Ambos ali na faixa dos 30 e poucos.

Quando se diz que o homem é a nova mulher, amigo, tem nego que acha exagero. A amiga se sentiu um macho enganando a mina. Mundo de pá virada.

Os discursos andam meio trocados. Até o nosso clássico “estou confuso” agora cai melhor na língua delas.

Ah, fiquei com dó desse bom rapaz, direitinho, namorinho de portão, como na música do Tom Zé. Que moço bem-intencionado. Pena que a amiga queria apenas se divertir um pouco, ver qualé, dar um rolê, flanar pela noite de São Paulo.

É, amiga, esse tipo de moço ainda existe.

A pressa, ele gastou toda munição ao terceiro tiro, o terceiro encontro, deve carregar algum trauma recente de uma gostosa que desejava apenas uma “aventura”.

Agora o imaginei, na viagem de ficcionista –minha amiga não entrou em detalhes- um pequeno príncipe, assim um Ronnievonzinho, todo harmonizado na correção e na decência… Ô, querida R., como assim deixar o bom rapaz a mascar o chiclet de bola da falta de compromisso?

Não estou te julgando, minha pérola, sorriso mais bonito do faroeste de San Pablo, apenas uma certa piedade, comiseração, vá lá, deste bom rapaz, rodriguianíssima figura, em busca de alianças e vestido de noiva.

Era magro o sujeito, minha amiga?

Por nada não, só para brincar com aquela coisa do tio Nelson: todo canalha é magro. Canalhice certamente não era o pecado deste homem.

O canalha está praticamente em extinção. Não confunda, colegas, canalha com o homem frouxo e com o homem de Ossanha –aquele que diz vai, não vou, como na música de Baden & Vinícius.

O pecado do canalha, este último romântico, é o excesso, o caos amoroso, a perversão, o donjuanismo como doença crônica etc. Mas comparece. Talvez você não tenha saco, Lola, para tamanha falta de planejamento. O amor clandestino nunca caberá numa planilha de Excel, baby.

Aí já é outro assunto. Bora refletir sobre esse bom rapaz que só pensa em casamento enquanto minha amiga toma drinques coloridos.

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Para quem se acha fracassado no amor

Por xicosa
28/02/13 05:47

O manhoso urso amoroso do pintor José Cláudio

Sinto muito em decepcioná-la, você não é tão culpada assim pelo seu próprio fracasso amoroso. Vem comigo -na psicanálise selvagem- que eu explico.

O amor, muitas vezes, talvez nem dependa de mim, de você, de ninguém.

Não foi aquilo que você falou enviesado, besteirinha de nada, que provocou a desordem. Muito menos a paranoia com o seu corpo.

“Foi tudo culpa do amor” é apenas uma bela canção de Odair José, um dos meus ídolos do cancioneiro romântico.

Sequer foram os astros e a sua mania mística de achar que o retorno de Saturno é mais importante do que o eterno retorno do filósofo do bigode de quem engoliu as andorinhas de todos os verões.

Você talvez não tenha muito a ver com o insucesso na continuidade das coisas como você pensa. Sinto muito.

Um post à guisa de conformismo? Não, no, non, nada disso.

É que são milhares de cartas que se acumulam aqui no consultório de Miss Corações Solitários, a madame que socorre os aflitos neste blog do amor e da sorte, todas as cartinhas com o mesmo assunto: que passa, nunca houve tanto desencontro, “o problema sou eu?”, como pode? Não sou assim nenhuma mulher desprezível.

Não, o problema tampouco são os outros.

O inferno é mais embaixo.

Você ai que se vê toda completinha, pronta para o melhor da história, linda, gostosa, a tal da Física, tipo assim uma nação Pernambuco à espera da invasão do irreparável conde Maurício de Nassau, lindo, bonito e com todas as vantagens da companhia das Índias em busca do mascavo brasuca, se liga!

Que tal saber que século seculorum, um dos homens mais sábios do planeta, o doutor Lacan, quase um Freud mais palavroso e viajoso, já dizia, para o desespero e o calor fatal das bacurinhas de Paris e de Viena:

“Não há (sequer) a relação sexual”.

Nojento!

Mas é isso mesmo. O francês sustentava, como me explicam aqui os professores Marco A. Coutinho Jorge e Nadiá P. Ferreira, que a foda há, seja boa ou seja má.

Não existe, porém, é a complementaridade entre os sexos.

Sem essa de cara metade na cama.

Lacan radicaliza: não existe o outro sexo, portanto, necas de pitibirecas, não tem conversa, côncavo e convexo e outras melosidades.

A parada é outra:  cada um fica inventando um gozo lá possível, isoladamente. O resto é lambuzamento e a ideia de viver junto, o consórcio, o aluguel, os vícios burgueses, os filhos, a sociedade, a satisfação, aí tudo dura ilusoriamente um tanto etc.

Doloroso.

Esse Lacan não sabe de nada do que é a vida como ela é, você diria. Já disse muito isso também na terceira vodka etc.

Apenas reflexões para a gente esquentar o coco juntos, me entenda. Reflexões.

Você sabe, minha nega, que, por mim, cuja educação sentimental é puro Mobral, não é qualquer sabedoriazinha iluminista que vai espalhar as brasas fumegantes e ignorantes do nosso churrasco do amor. Never more.

Diante, porém, de queixas tão generalizadas, matutei aqui com meus botões do Crato e o matulão de macho-jurubeba. É muito fácil ficar culpando apenas os metrossexuais, por exemplo, e outros tipos de fraquezas humanas.

É de arrombar se for tudo mais absurdo mesmo e sem jeito, como no pacote completo Alberto Camus da existência. Sem sequer uma viagem CVC de lua de mel a Porto Seguro.

É só para gente pensar, eu juro. Eu tenho fé que não é nada disso. E você, como tem se virado?

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O adeus do papa e as tentações de Ilze

Por xicosa
27/02/13 00:39

Neste exato momento em que o papa se prepara para fazer o último sermão, ajoelho no milho da moral e dos bons costumes, rogo o perdão para minh´alma pecadora, e, resignado, confesso: não tem jeito, só penso nela.

Nunca a verei tanto em tão curto espaço de tempo. Na praça do Vaticano, nos bastidores com marcas de “O nome da rosa”, em Castel Gandolfo, em atos, palavras e omissões.

Quando ela surge com aquela voz plácida, mesmo tratando das mazelas da Igreja Apostólica Romana, eu corro para a frente da tevê, no susto, e largo tudo, paraliso, como se diante de um novo milagre de Fátima.

Bendita renúncia de Bento XVI que a fez mais presente no meu lar doce lar. Por sorte ainda tivemos as eleições italianas. Que venham boletins de cinco em cinco minutos até a fumaça do habemmus papam subir aos céus.

Falar em fumacê, tenho um amigo do Recife, iconoclasta até a última ponta, que tem uma viagem televisiva particularíssima: acende unzinho e espera a correspondente do Vaticano. Jura que levita como aquela mocinha do filme “O Exorcista”.

“Nunca houve uma experiência sensorial tão incrível”, diz.

E olhe que o rapaz, o supracitado canalha, é um místico novidadeiro que experimenta de tudo que há na praça e nas prateleiras do orientalismo moderno.

(Perdoemos este cabra safado, minha musa papal, como se diz nas margens do Capibaribe. E, crianças, atenção, não repitam tal ato em casa).

Voltemos à Roma.

Quando ela surge com aquela voz capaz de ninar o mais inquieto dos marmanjos, meu déficit de atenção fica zerado. Sinfonia para vagabundos, diria o Raimundo Carrero.

E que elegância essa menina italiana de Araras. Qualquer cachecol implora para enlaçar lindamente esse pescoço e o rio Tibre manda o vento certo para balançá-lo conforme o nosso desejo.

Os melhores casacos e botas de Milão a perseguem, pedindo uma chance naquele corpo.

Vivo fosse, o Alberto Morávia, o escritor romano amante radical das mulheres, faria vários volumes sobre Ilze Scamparini. O tipo da musa que gera obra-prima.

Nunca fui tão religioso. Nunca fui tão papa-hóstia como neste conclave de despedida e vinda do novo papa.

Desculpa ai, caro Darwin, mas com ela na área eu cumpro todos os sacramentos, com ou sem Deus.

E o meu querido Santo Agostinho nunca esteve tão certo como nesta temporada da Ilze: “Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje”.

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Crônica para a mulher do nariz grande

Por xicosa
25/02/13 15:21

Ih, lembrei da B.Streisand by R.Avedon. Clássico

A mulher de nariz grande chega bem antes em qualquer ambiente.

É a que chega primeiro também na vida de um homem.

Sai, quase sempre, sem bater a porta. Prefere uma bela vingança.

A mulher de nariz grande fareja, degusta, vê, ouve e tateia na velocidade da luz. Como se o nariz grande se intrometesse nos outros sentidos.

Para o bem e para o mal. A mulher de nariz grande chega bem antes.

Chega primeiro para matar a sua curiosa fome de viver. Chega primeiro porque odeia ter saudade e não poder matá-la imediatamente.

Para o bem ou para o mal, a mulher de nariz grande chega do nada. Inclusive para aplicar um flagrante delito no canalha.

Ela fareja de longe a desgraça.

Até no altar a mulher de nariz grande deve chegar primeiro do que o noivo, desmentindo todo o folclore.

A mulher de nariz grande é a que, entre todas as suas semelhantes, tem menos inveja do pênis.

A porção mulher que até então se resguardara, amigo, aflora, freudianamente, diante da presença dela.

A mulher de nariz grande me lembra o melhor conto que já li na vida: “O Nariz”, de Nikolai Gogol, evidentemente.

A mulher de nariz grande puxa oxigênio e aroma dos jardins para a cama até em uma manhã de segunda.

Na horizontal, o nariz grande vira uma ponte para a margem esquerda do nirvana.

Em um colchão d´água de motel barato, é ponte sobre o Danúbio.

Ao contrário de Pinóquio, quando mente, digo, quando ilude, a mulher do nariz grande cresce as orelhas, Deus castiga.

Graças a tal temor, a mulher de nariz grande é a que menos utiliza o dom de iludir os tontos como este que vos digita.

A mulher de nariz grande emite as mais lindas e barulhentas onomatopeias quando goza ou até mesmo quando se aproxima do solene momento. Ela sente antes o incêndio das horas.

Mesmo em uma distância transatlântica, amigo, saiba: é a mulher do nariz grande que estará mais perto do que qualquer outra.

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A posição sexual é nossa marca no mundo

Por xicosa
22/02/13 01:35

Será? Creio que sim. Mais do que o time, mesmo para os mais fanáticos e fundamentalistas. Mais do que o signo para uma orgulhosa leonina. Mais do que a ideologia para um reaça ou para o mais maluco dos anarquistas, mais do que a religião para um papa demissionário.

No livro “Desidéria”, do comuna italiano Alberto Moravia, que acabei de reler aqui na rede, na margem esquerda do Capibaribe, o autor caracteriza cada personagem por uma maneira predileta de fazer amor –ou sexo, vá lá, é que hoje estou muito romântico.

Ele diz que é a melhor forma de definir um ser humano. Assim como Charles Dickens marcava suas criaturas por um gesto mais forte, uma mexida estranha no nariz, por exemplo, e pelas cores das roupas.

Cada escritor com sua mania. Essa escolha sexual, porém, é muito interessante. No livro citado, cada um tem a sua posição ou modo de tentar o gozo mais, digamos assim, satisfatório.

A personagem principal, a Desidéria, é retratada pela imaginação. Viaja nos seus próprios dedos e consolos. A mãe dela, Viola, lindamente safada, é devota do anal. Praticamente só anal. Um outro lá aprecia o sexo da forma mais bruta, “sexo operário”, como ele mesmo diz.

E assim por diante.

Creio que seria mesmo, ficções à parte, uma boa maneira de catalogar a humanidade.

Por mais que se goste de variar nos bambuais do kama sutra, temos uma maneira preferida para chegar ao possível nirvana. Um item obrigatório no cardápio.

Apanhar para as muito histéricas é um clássico. Pelo menos vi isso na obra do tio Nelson e revi ontem no filme “Um método perigoso” (2011), que retrata a treta de Freud e Jung – direção David Cronenberg. Isso não significa, porém, que qualquer pessoa não possa apreciar,  independentemente do diagnóstico, umas boas lapadas.

Já testemunhei, em rodas de amigas, algumas delas arriscarem a preferência de homens que circulavam no ambiente. Aquele ali tem cara de quem gosta disso ou daquilo. Aquele outro não faz sexo oral nem por esmola. E assim por diante.

Tem quem só acredite, na hora H, no papai e mamãe –com ou sem beijo na boca.

Há quem goste de ver o amor pelo retrovisor e de quatro.

O certo é que todos nós temos uma preferência. Quem acha obrigatório 69, por exemplo, é rotulado hoje em dia de um tremendo(a) nostálgico(a), old-school, vintage etc.

É, acho que é melhor mesmo cada um aplicar os dotes orais de uma vez, separadamente.

O franciscano dando-que-se-recebe talvez não encaixe bem no simultâneo. Talvez mate a necessidade de um certo egoísmo do gozo –como vou usufruir pesadamente e ao mesmo tempo retribuir da forma mais altruísta do mundo?

Nem de batina marrom com passarinhozinhos no ombro.

Mas isso é apenas um detalhe. Demodê por demodê, quer mais antigo que a suruba? E ainda conheço gente que a pratica.

O que importa é saber que, assim como temos um time, um signo, uma ideologia, vá lá, temos um modo preferido de fazer amor, digo, sexo, digo, amor, que nos define.

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A arte de ganhar o homem pelo ouvido

Por xicosa
20/02/13 16:20

Frases, verdadeiras ou não, que valem por um placebo de Viagra, um diamante azul niágara.

A que mais me comove nem é diretamente sobre sexo.

Homem ama também as verdades que ela não diz, taí o livro novo de crônicas do Marcelo Rubens Paiva que não me deixa mentir. Recomendo.

O que importa é a manha, o jeitinho como solta o verbo. Tive uma moça que ficava até vesguinha quando me agradava com um cacho maduro de vocábulos.

Volta, vem viver novamente ao meu lado, cabe todo mundo lá debaixo daquele teto onde a lua tirava onda de furar nosso zinco.

Engatemos a ré, chega de delírios: a frase que mais me comove é quando ela diz “ai como você me acalma”. Amo isso. Prova de utilidade mínima na vida da moça em momento que os hormônios fazem um estrago de meteorito russo nos lares doces lares

Melhor ainda como ouvi daquele sotaque carioca: “Só você me acalma”. Está ganho o namoro, o casamento, o cacho, o amor de verão, o rolinho primavera.

“Você é homem de verdade” é outra pérola rara, raríssima. Pior é o que no mesmo dia que ouvi essa de uma ex, tive que suportar o contrário de outra: “Você é um homem de mentiras, promessas”.

Uma mão afaga, outra apedreja.

Outra que aprecio, mas aí já estamos tratando de tesão em estado bruto:

“Eu ainda não era nascida!”

Explico. Você conta uma história qualquer, cita uma banda etc, e a gazela tira essa onda com El Viejo Hombre.

Nem carece ser tão Lolita assim. Você sabe, amigo, que o lolitismo não é questão de tempo; é questão de maldade nos olhos pintados.

Parêntesis, colcletes, ô abre alas para uma observação que sempre repito no meu catecismo:

Lola, nada de acreditar nessa historinha de “você já é bonita com o que Deus lhe deu!” Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, sábio, mas esse verso, não soa bem aos ouvidos. Pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma menina brincando de colorir o desejo.

Ah, como você me acalma!

Com algumas frases, as mulheres nos arrancam o coração, todas as flores de Holambra e as minas dos melhores diamantes d´África. Mesmo do caubói que não tem nem mesmo onde alimentar seu pobre mustang paraguaio.

Na ficção, o melhor exemplo está nos livros do italiano Alberto Morávia.

No cinema de macho, uma lição para todas as mulheres está em um filme exemplar do John Huston: “Os Desajustados” –do tempo em que nem mesmo esse velho cronista era nascido, quanto mais você, minha pequena.

A galega Marilyn dá um show de como conseguir tudo de um homem, mesmo em um ambiente tão inóspito. Entre falas, insinuações, biquinhos e mimimis, a recém-divorciada deixa o saloon aos seus pés.

Não estou falando de sedução apenas pela beleza óbvia e pela gostosura. Trato do belo dom de iludir mesmo. O homem vive disso. Quando a mulher cansa do jogo, vamos jogar o palitinho da desilusão no boteco mais próximo, o dominó do desprezo, o pôquer dos cotovelos em sangue.

Quando falo em jogo não falo necessariamente de maquiavelismo feminino. É a regra do jogo mesmo, se é que você me entende.

Se eu te acalmo, você consegue exatamente o contrário: me deixas louco, esse louco amor cantado pelo Júlio Barroso. Você não era nascida, Lola, mas corra ao Youtube, corra, e aproveita a viagem e passa lá em casa.

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Inveja do chuveirinho é maior que a inveja do pênis

Por xicosa
19/02/13 02:45

Que inveja do pênis que nada.

A grande inveja,  querido amigo Sigmund Freud, para meninos e meninas, é a inveja do chuveirinho, essa suposta neutralidade molhada.

Valendo para meninos & meninas, repito.

Ah se pudéssemos, durante o sagrado ato da devoção oral, usar a língua como jatinhos de água que morrem mansamente sobre o clitóris! Pingos que descaem com precisão depois de tocar nos céus das negas, os nirvanas de todas as religiões do gozo, um beijo de cachoeira ao contrário.

Ah insuperável chuveirinho, desgraçado chuveirinho-amansa-moça, amansa-moça… Minha Nossa Senhora dos Afogados de todas as poças!

Mesmo os devotos, mesmo os mais chegados, mesmo aqueles educados sob a orientação da pedagogia da manga, aqueles que aprenderam a se lambuzar desde infância com a fruta, perdem para os jatos do mais absoluto contra-plongè da existência.

Só o chuveirinho supera a língua e os dedos, caríssimo Vinícius de Moraes, mesmo para o mais destemido dos homens, poeta, poetinha de Ossanha -o homem que diz vai não vai…

Sim, amigo, pedagogia, aquela bela existência entre Flaubert e Paulo Freire, se liguem, a arte de saber, com licença da minha objetividade, chupar uma buceta.

Pedagogia e não careço dizer mais nada.

Não é que eu saiba até hoje. O saber, porém, significa continuar tentando. Respeito a tudo, menos à ideia de desistência e  pijamização do macho.

Ah, o chuveirinho que atinge o nirvana das moças…

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