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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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A bronca do porteiro em Brad Pitt

Por xicosa
11/04/13 13:45

Um dia até bonito para ser São Paulo e o porteiro do predinho antigo blasfema, afinal de contas a vida não é apenas um boletim meteorológico.

O porteiro xinga o galã na capa da revista.

“O cara com um mulherão daquele, cheio da grana, pode pegar quem quiser, não sabe o que é vida ruim e fica choramingando”, descasca. “Mal-agradecido!”

O mulherão daquele é ela: Angelina Jolie.

O cara é o cara: Brad Pitt.

Seu Marcos reclama do mimimi do galã, que reflete, em entrevista na “Alfa”, sobre os 50 anos de vida. O galã pensa e repensa a vida.

Também na casa do meio século, o bravo corintiano do predinho antigo sapeca:

“Nem porteiro o cara é e fica se queixando de besteira”.

Para um macho-jurubeba, o drama existencial de Brad Pitt realmente não merece crédito.

Sob a fumaça do cachimbo de Freud, no entanto, a reflexão do galã é mais do que válida, afinal de contas ser rico, poderoso, bonito e ter uma fêmea daquela sob o mesmo edredon não tá com nada.

Que triste deve ser acordar com aquele bocão de bom dia e dormir com aquele bocão de boa noite.

Que tédio!

Até o seu próprio vinho o casal-bouquet fabrica. Um rosé de intenso aroma floral e notas de morangos e framboesa, seja lá o que diabo isso signifique.

Ô dó, ô vida!

É, seu Marcos, prefiro ser John Malkovich a ser este reflexivo Brad Pitt.

É muita falta de Deus no coração, né não, seu Marcos!

Prefiro a minha carranca agradecida, seu Marcos, afinal de contas a beleza é passageira e a feiura é para sempre, como me sopra aqui o Serge Gainsbourg.

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Amar é filme que melhora só muito depois de visto

Por xicosa
10/04/13 05:38

Viver é eclipse, vixe, meu caro Antonioni.

Com toda licença desse mundo, hoje quero escrever sobre uma coisa muito estranha. Como se fosse aquele filme que a gente vê e gosta mas não dá tanta bola e eis que aquele filme vai crescendo na nossa mente.

Assim como aquele encontro, aquele beijo, aquele sexo que não foi monumental naquela hora…

Passado algum tempo, como a hora do almoço, a fome de viver, essas coisas, aquele encontro, aquele beijo, aquele sexo aparentemente mais ou menos vai crescendo na nossa vagarosa mente…

Assim são alguns filmes, assim são os encontros, os sons arrodeados, as nouvelles vagues, Irma Brown dançando um jazz no Iraque, Hellcife, o mundo ao rés do chão dos pobres cronistas carapuceiros.

Marcha à ré ao tema da crônica: assim como existem filmes, peças, obras de arte que vão crescendo no juízo depois de vistos, assim é o encontro de um homem e uma mulher, por supuesto.

Sabe aquele John Cassavetes que você nem entendeu direito, uma mulher sob influência?

Assim às vezes é o amor rápido, o sexo por acaso, a vida ordinária, a pegação com quem você nem imaginava…

Aquele filme que vai crescendo na mente e vira um grande amor de verdade.

Viver é ver um filme que surpreende.

Um filme que vai tomando juízo e entranhas.

Aquele filme que vai crescendo na cabeça a cada minuto.

Depois daquele beijo, o blow-up que vira blow-job, o filme-cabeça que descamba e derrete o queijo do homem da meia noite, o cidadão comum qualhado de amor por dentro.

Coisa marlinda quando uma simples fodinha cresce na nossa cabeça no dia seguinte como um viva imaginação num queijudo muro de Paris meia oito.

O grande sexo é aquele que a gente não dá muito por ele no momento e ele vai crescendo de narrativa, na cabeça, qual um Hitchcock no “Terceiro Tiro” –o melhor filme do mundo todo.

O grande amor também assim se parece. Viver é o enevoado das acontecências, ver uma coisa e atirar noutra e vice-versa.

Amar é um filme que vai melhorando a cada minuto depois que a gente sai da sala escura.

Como se fosse um filme de Godard ou de Antonioni. Será que foi bom mesmo?, eis a senha sensorial de responsa judiando o juízo da manhã tapiocosa.

Alguns encontros de nada viram grandes cinemascopes no cocuruto. Vem, gostosa!

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Na pele de uma mulher-Nostradamus

Por xicosa
08/04/13 20:24

Sei, está bom demais para ser verdade. Sei, fazia tempo que alguém não se devotava tanto. Sim, posso imaginar o que esteja pensando: “Esse cara vai me levar às alturas e me deixar sozinha no despenhadeiro”.

“Não, não vou cair mais nessa, sei o tamanho de tombos do gênero,” você prossegue nas suas reflexões, nervosa, nervosíssima, daqui a uma hora se encontrarão mais uma vez.

Ele a convidou para jantar fora. Quanto tempo alguém não a tratava com tanta distinção.

Você se sente valorizada, mas está com medo, pode ser apenas mais um truque. Que que eu faço, Diós mio?

“Ele só quer sexo”, você pensa, como se sexo fosse uma coisa ruim do outro mundo. “Vai ficar comigo e na manhã seguinte esse telefone emudecerá de vez…”

Você projeta o futuro no pior cenário possível. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros homens. Jurisprudência amorosa.

Você consulta a amiga, a amiga mais cética, porque você está querendo ouvir algo desencorajador.

A amiga recomenda muito pé atrás. A amiga já levou muitos tombos e, de alguma forma, isso é humano, demasiadamente humano, sente uma certa ponta de inveja da sua história. Óbvio que a amiga invejosa vai desencorajá-la.

Falta meia hora para o novo encontro. Você confere o cabelo e acha péssimo. Você está desesperada como uma daqueles mulheres dos filmes de Pedro Almodóvar. “Por que esse cara vem logo para o meu lado”?”, você beira a paranóia delirante.

O carro dele pára na frente da sua casa. Há tempos você não ouvia aquela buzina que parece tocar uma sinfonia, um allegro. A buzina chama para a vida lá fora.

“Não pode ser verdade”, você insiste na desconfiança enquanto pisa na calçada da rua. “O que eu fiz por merecer?”

Entradas, drinques, o jantar está ótimo, a conversa incrível. “Só pode ser truque”, você aciona de novo todos os botões do painel da desconfiança. “Não fico com ele hoje de jeito nenhum, nem me venha com essa conversinha mole, seu canalha”.

Com licença, vai ao banheiro. Não resiste e resolve consultar de novo a amiga, pelo celular. Está em pânico. A amiga recomenda mais pé atrás ainda. Você acha o cabelo péssimo.

Você volta com aquela cara de cautela e dúvidas e é recebida com um sorriso de quem já sentia a sua falta.

“Demorei muito”, você diz. Sim, você demorou muito, só de telefonema foram dez minutos. Mas ele, todo afável: “Imagina, demorou quase nada”.

Sobremesa, café, a conta.

No carro, você nota, como aprendeu com aquele livro “O corpo fala”, que o carinho dele é cada vez físico e o desejo é cada vez mais quente. Mas você se esquiva,afinal de contas você não pode ser vítima desse “truqueiro” que só “pensa naquilo”.

E não era a primeira ou a segunda vez que vocês se encontravam. O flerte e a devoção dele já fizera aniversário de mês.

Moral da história: desconfiada e projetando já um eventual abandono, você, apocalíptica como uma afilhada de Nostradamus, não pagou para ver, você não arriscou, você não se permitiu, deixou de viver, como se na vida pudéssemos ter a certeza prévia das coisas, mesmo em se tratando da obviedade do mundo-macho.

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O domingo não dá folga aos corações - II

Por xicosa
07/04/13 21:00

Você passa, de carona, involuntariamente, na frente da casa dela (e). O GPS do amor ainda mal-resolvido berra qual um cabrito montanhês desmamado.

Você acha que está resolvido(a) e encara, na buena, o almoço no restaurante que sempre ia com o(a) ex. Na sobremesa, a musse da melancolia amarga deveras no céu da boca.

É o domingo que pega da entrada ao café da despedida.

Repito: é o domingo que pega principalmente para quem perdeu o amor há pouco tempo.

É o domingo que lasca.

Você pega a bicicleta, ventinho no rosto, maior sensação de que está liberta, ali na rota da ilha do Recife Velho… Quando dá fé, o traste do ex, que nunca dera uma pedalada na vida ao seu lado, todo fosforescente na companhia de uma biscaite-sáude!

É o domingo que pega na ciclovia dos amores perdidos.

Não tem jeito.

Ficar guardado em casa é pior ainda. O(a) ex virá nas fibras óticas, na frase de um livro, nos objetos cortantes, nas peças de cama, mesa e banho.

A culpa é do domingo.

Durante o jogo de futebol, nós, os cavalheiros das mesas redondas, ainda abstraímos um tanto. O time do peito divide a caixa torácica com as sístoles e diástoles de um amor que nos bateu a porta.

Para a mulher, o domingo é ainda mais difícil. Mesmo que vá ao cinema com um delicado moço que tenta agradá-la e ocupar o posto dos combustíveis sentimentais da existência.

Alguma coisa muito besta do novo candidato não irá agradá-la. Ele come pipoca de um jeito horrível, por exemplo.

Se fosse outro dia qualquer, passava, mas acontece que é domingo.

É o domingo que fode, data vênia, com o devido perdão pelo verbo.

É o domingo que lasca feito maxixe cortado em cruz.

Não adianta disfarçar nos salões da SP Arte, como tentou uma amiga que acaba de me ligar em lágrimas. Óbvio que encontrou o vagabundo decifrando algum abstracionismo para a lesa Lolita do Liceu do bairro.

É o domingo que pega. Agora você devora a pizza da ansiedade e se ilude com folhinhas de rúcula por cima. Não adianta. Não é por estar cheinha ou magricela que a vida a desfavorece nessa maldita hora.

É o domingo que, no seu sonso e inocente silêncio, maltrata qual uma furadeira elétrica.

Para quem se achava curado(a) de um amor perdido, o melhor é que a maldita segunda-feira –o trabalho e os dias,santo Hesíodo!- dê logo as caras.

P.S. Se tiver nervos de aço, leia aqui “O domingo não dá folga aos corações I”.

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Dúvida cruel: o homem frouxo ou o canalha

Por xicosa
04/04/13 22:06

Uma velha questão sempre discutida aqui nas noites da taverna voltou à baila, quando Carol, vestida nas suas calças vermelhas e com teses da mesma coloração, pediu a palavra:

“Pois saibam todos vocês: prefiro um bom canalha a um homem frouxo.”

A sentença da paulistana, sem deixar um farelo de dúvidas sobre a mesa repleta de bebidas e acepipes, fez com que alguns de nós levássemos a mão ao queixo, como se todos virássemos, naquele instante, ingênuos pensadores de Rodin. Pense!

“E querem saber mais? Só existem esses dois tipos mesmo de homem!”, arretou-se a dama.

A frase nem era para tanto, mas saiu tão afirmativa, tão sem dúvida ou vacilo, tão incendiária, que balançou até a plaqueta do “Fiado só amanhã” do boteco. A coisa fica forte conforme ela é dita, digo, conforme as labaredas do discurso.

Na boca de mulher bonita, então, vira imediatamente certeza absoluta.Essa capacidade que elas têm de acordar as mesas e fazer balançar, qual ventania mal-assombrada, as garrafas de cachaça com raízes ou cobras -sim, no botequim sem nome de ontem, na Bela Vista, havia aquelas garrafas envenenadas.

Carol se apegou ao recurso do conhecimento de causa, ao saber da rotina, à jurisprudência amorosa da sua trajetória.

“Pois saibam todos vocês: prefiro um bom canalha a um homem frouxo.”

O cearense dono do estabelecimento parou as suas atividades para ouvir a moça. A mulata da Vai-Vai também se ligou no discurso. Uns vagabundos deram pitacos. Como uma frase dita de forma convicta pode virar um Pentecostes em um simples pé-sujo de San Pablo.

Ela não repetiu a frase, não carecia, a frase ecoava como uma sentença romana e voltava a balançar as garrafas, a mexer com os presentes, os vivos e os que por ali passavam àquela altura.

O canalha, concluímos, sem que ela dissesse mais nada, merece mais respeito porque é mais explícito, a mulher já entra na história sabendo, e ainda pode ter momentos líricos, passionais, bonitos, pois todo canalha é, no fundo, um devoto, ajoelha-se diante de uma fêmea como um romeiro diante do seu santo predileto.

O frouxo representa, sem nenhum distanciamento, a maioria dos homens contemporâneos e o chove-não-molha da hora, o homem-de-Ossanha, aquele que diz vou e não vai, o indeciso, o confuso, melhor, o “cafuso”, como dizia o velho Didi Mocó.

O fraco não se apresenta para valer no jogo, titubeia, faz que vai e acaba não “fondo”, como dizia, no seu genial futebolês, o Dedeu, um desses tantos macunaímas da bola, cearense que brilhou (pelo menos na prosódia) no Clube Náutico Capibaribe.

Triste escolha essa: o canalha ou o homem frouxo.Pobre dicotomia alcóolica.

O mundo é bem melhor que isso, não acha, amiga?

Só sei que nada sei sobre esse assunto, como diria o grego complicado. Melhor ainda, como diria Roberto Carlos das antigas: “Só agora eu sei, o que aconteceu/quem sabe menos das coisas/sabe muito mais que eu!”

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O fim de um bar é uma queima de arquivo

Por xicosa
03/04/13 20:52

Quando um bar, um bar-restaurante, um cabaré gostosinho, um banco de praça, uma esquina qualquer desaparece, não deixa de ser uma tentativa de fazer uma queima de arquivo.

A pior das queimas. A queima sentimental, sinistro afetivo, o apagão da memória dos homens de boa vontade.

É com pesar que escrevo sobre o fim do Bode Dourado, também conhecido como “O Cabeça Branca”, ponto de encontro de velhos amigos & novos amores na Encruzilhada, o jardim dos caminhos que se bifurcam no Recife ou Hellcife –só para lembrar que nesse caso o inferno são os especuladores imobiliários mesmo!

“O melhor bar do mundo, desde 1976, fechou”. A manchete mais triste de um repórter acostumado a grandes furos, o sobrinho João Valadares, me deixou bodeado.

Ali comecei namoros, acabei casamentos, recomecei tudo de novo com a mesma mulher, levei moça de São Paulo para conhecer e, principalmente, consolidei amizades para século seculorum, amém.

Quantas teses filosóficas e quantas pelejas de embate político naquela calçada-galeria. A morte de um bar leva todos esses ecos consigo. Leva nossas retinas congeladas de alumbramentos diante de todas as gostosas que passaram na nossa frente.

Com licença que hoje estou piegas. Quando um bar morre, lá se vai também um pouco da gente.

E pensar que não fui ao almoço com a galega, que me intimara na última sexta-feira, o penúltimo dia de funcionamento da honrada casa! E que galega!

Seu Evaldo, o sábio Cabeça Branca, não me perdoará se souber dessa minha amarelada. Seguramente vai me receitar o milagre do Cepacol erótico. Pense num bochecho poderoso!

Além do caprino no capricho, dourado bode como rezava o santo nome do estabelecimento, as receitas e histórias do impagável proprietário valiam sempre a viagem. E dona Gil, mulher do Cabeça, só ria da pabulagem do marido-figura. Potência!

Outra bela história de tal sítio caprinoetílico: era o melhor lugar do país para se torcer em paz contra a seleção do Brasil. Quem lembra disso é o diretor de cinema Lírio Ferreira. Imagina na Copa!

Ruim, Joazim, que nossos bares morram antes da gente. Deveria ser proibido pela ONU, deveria constar da carta universal dos direitos do homem.

É o tipo de memória que não vamos encontrar no Google, Beto Azoubel. Ai de mim, Walter Benjamin!

É o tipo de memória que, uma vez lá, naquela roda de chapas e damas, rebobina outras memórias e nos faz mais vivos.

Vítima dos tubarões imobiliários, voadores como os de Arrigo e perigosos como os de Boa Viagem, muitos bares e restaurantes tradicionais tendem a desaparecer da vista e do alcance.

Alguns raros reaparecem depois em outras esquinas, como vi recentemente em SP. Até que os tubarões descubram. Porque são bares que valorizam a área e são perversamente engolidos.

Cabeça Branca cansou de teimar. Resistiu como pode. Segunda-feira, ao lado de dona Gil, levou o fogão e a fome de viver para casa. Estava puto, blasfemava, conta Nilton Perreira, outra frequência ilustre da área.

Aos céus blasfemo aqui também.

P.S. Há um clamor para que o estabelecimento seja reaberto no Uruguai, sob o batismo de “El Chivo Dorado”, óbvio. Todo apoio!

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Quando se perde uma mulher para outra

Por xicosa
02/04/13 13:52

Adentro o saloon do Bar Central e aquele marmanjo a sofrer de amor busca, aflito, uma palavra de conforto. Na radiola de ficha toca um bolero, vida noves fora zero, a dor de todos os cotovelos da espera.

Digo, acontece, amigo. Ele diz “você não está entendendo”. Passa um jambo-girl daquelas. Tá vendo, meu caro, como é linda a noite. Ele nem pisca. Sem inspiração, solto generalidades as mais bestas.

“Você não está entendendo”, insiste. Vejo que mareja os olhos. Agora Tim Maia canta uma de sofrimento e raparigas levam as mãos aos céus na pista. Me dê motivo. Até o avião da fotografia na parede treme.

O amigo da noite me dá um abraço sofrido e pede que, pelo amor de Deus, incorpore a Miss Corações Solitários, a consultora sentimental deste blog.

Entendi, amigo.

Ele, um durão que encara com honradez o faroeste da existência, está perdido.

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucuras por uma mulher, manda um Lupicínio.

E depois encontrar esse amor, meu senhor, nos braços de uma OUTRA qualquer.

Si, si, si… ele perdeu a mulher para outra mulher. Não uma mulher qualquer. Algo assim como a melhor amiga do casal etc e tal.

Minha pobre pessoa física berrou na maciota, sem verbalizar: que coisa linda. Não passa nada perder uma fêmea para uma semelhante. O que pega, penso, é o sexo oposto. Só dói quando se perde para outro velho cowboy.

Miss Corações Solitários ri das minhas primaríssimas bobagens e conforta o moço.

Sabe que o que pega para o rapaz é ser traído na relação de confiança. É ficar conjecturando quanto tempo as duas já mantinham esse idílio nas suas barbas, depois daquele vinho bom do Alentejo que ele ofertava com os melhores acepipes da Casa dos Frios.

Este pobre cronista imaginando o belo velcro das ninfas e Miss Corações Solitários indo ao ponto. Como quase sempre.

Perder alguém dói. Seja até para o vento. O que pega é não tê-la mais, é ouvir o never more do corvo do amor e da sorte. Para uma mulher, porém, me daria um leve desconto n´alma.

Como me cutuca aqui a Miss C. S., vou parar de falar bobagens. O que houve no caso é mais grave, repito, ventríloquo da minha cigana conselheira: traição na relação de confiança.

Acontece e o coração do rapaz ficou triste.

Agora é com vocês: dói menos perder um homem para outro homem ou perder a mulher para outra mulher?

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Orgasmo fingido como presente no 1º de abril

Por xicosa
01/04/13 00:58

Todo começo de amor é meio inventado, tem um quê de fictício na narrativa, portanto toda história de amor começa com uma mentira.

A manutenção amorosa também carece de pequenas fraudes. Não, você não engordou nadinha de nada, você é o melhor homem que já tive na cama etc etc.

O amor também acaba por suas mentiras, trapaças, pulhas, lorotas, petas (pronuncia-se pêtas), farsas e mais um zilhão de sinônimos.

Nenhuma mentira de amor, no entanto, é tão generosa como a mentira prática do orgasmo fingido.

O belo teatro do orgasmo fingido. Haja distanciamento brechtiano, minhas amigas atrizes.

Longe de ser uma falsidade, o orgasmo fingido é um ato franciscano, meu caro xará e novo papa.

A criatura mostra ao parceiro como ele é capaz, potente, viril, macho.

O orgasmo fingido dignifica o homem e abre o caminho para futuros orgasmos de verdade. Treino é treino, jogo é jogo.

Um orgasmo fingido, como escrevi em outras aberturas de abril, parece até mais verossímil do que um gozo que deveras sente a desalmada.

Por quê? Ah, as onomatopeias do fingimento são mais calculadas e sinceras –lembram até alguns barulhos geniais dos discos do Frank Zappa ou do Captain Beefheart.

A dramaturgia é mais paradoxalmente verdadeira, se é que você me entende a essa altura da filosofia de boteco.

A gritaria de um orgasmo fingido impressiona mais os vizinhos: esse cara está podendo, pensam as minas do prédio.

Uma mulher me prometeu hoje um orgasmo fingido no dia da mentira. Fiquei instigado de poder levá-la a um orgasmo de verdade. Repare como funciona e motiva o sujeito.

Um orgasmo fingido é muito melhor do que a velha desculpa da dor de cabeça.

Um orgasmo fingido é um grande presente para o seu amado no dia de hoje. Como tudo na vida tem que ter um lastro simbólico, o orgasmo fingido está para o 1º de abril como o chocolate para a Páscoa.

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A mulher como namorada lésbica de si mesma

Por xicosa
27/03/13 14:28

O sol na banca de revistas, quem lê tanta notícia? Não dou conta, mas vejo aqui uma chamada que merece uma conferida e uma versão macho-jurubeba como contraponto. “O que as mulheres querem dos homens”, diz a capa da “Época”.

Antes de tudo é bom lembrar que, independentemente do homem, toda mulher é namorada lésbica de si mesmo. Assim falou o tio Nelson. Falou e disse. A fêmea primeiro deseja ela mesma.

Só depois, muito depois, começa a flertar com o tal do sexo oposto. Aí complica, aí a porca torce o rabo. Separei aqui no meu embornal de crônicas sobre o tema duas ou três coisas que não respondem por completo, mas ameaçam a decifrar a velha indagação freudiana:

O que querem as mulheres? Entendemos a complexidade, mas a interrogação não veio ao mundo para nos acomodar ou humilhar.

Veio para instigar o cidadão, não é, meu caro Catatau?

As mulheres querem que os homens adivinhem, sintam, farejem os seus desejos como labradores do amor e antecipem essas realizações.

Bem-aventurados os que descobrem que elas estão a fim de uma viagem à montanha e levam-nas à montanha; bem-aventurados os que sabem que elas não agüentam mais aquele velho boteco sujo e levam-nas a um restaurante decente, dentro das posses, claro.

Bem-aventurados os que sabem que elas gostam de novidades e detestam quando os garçons nos dizem “o de sempre, amigo?” Essa confortável rotina é coisa de macho!

As nossas mulheres querem que tenhamos olhos só para elas. No que, aliás, foram contempladas biblicamente pelo décimo mandamento das tábuas da lei entregues por Deus a Moisés: não cobiçarás a mulher do próximo.

As mulheres querem que alternemos momentos de homens sensíveis e momentos de selvagens lenhadores.

Pena é que costumamos inverter as coisas. Na gana da obediência e do agrado, somos lenhadores quando nos queriam sensíveis e vice-versa. Comédia de erros. Onde queres Leblon sou Pernambuco… Onde queres romance, rock’n’roll…

As mulheres querem que reparemos no novo corte de cabelo, mesmo que a alteração tenha sido mínima, tipo só uma aparada nas pontas. O radar capilar tem que acender a luzinha, sem falha, na hora, se liga! Se for luzes, entonces, cruzes!!!

As mulheres querem… massagem. Muita massagem. Primeiro nas costas, depois nos pés e sempre no ego.

As mulheres querem… molhinhos agridoces. Como elas se lambuzam lindamente!

As mulheres querem… flores e presentes. Não caia, jovem mancebo, nesse conto de que mulher gosta é de dinheiro. Se assim o fosse, amigo, os lascados de tudo não teriam nenhuma, nunca, jamé. Eles têm e são igualmente raparigueiros.

Repare que até debaixo do viaduto está lá a brava fêmea na companhia do desalmado. Ela e o cachorrinho magro, só o couro, o osso e a fidelidade. O que vale é a devoção, amigo.

Mesmo que você seja mais liso que os mussuns do brejo, pobre de marre-marré, pode muito bem presentear uma bijuteria com a dramaturgia de uma jóia da Tiffany´s.

Vale o gesto e a safadeza na hora da entrega.

As mulheres querem… atenção, ponto, parágrafo.

As mulheres querem… muitas vezes o que não temos ou temos mas está faltando na prateleira.

As mulheres querem, os homens se acomodam. A vida repete a hora do gozo: os homens, mesmo os que fingem algum carinho, capotam; as mulheres continuam querendo querer novos quereres.

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Escravidão amorosa é P&B, liberdade é 3D

Por xicosa
26/03/13 03:53

Repito:sofrer é preto & branco, liberdade é o que te conto mais adiante, simbora.

Tudo aqui é narrativa, nada é desperdício, a leitura desse blog é a leitura de um romance sem fim, amém, aconselho que o leiam como fosse a continuação dos fragmentos do discurso amoroso, sem a sabedoria científica do broder Barthes, mas com a ignorância prática dos homens de verdade.

Donde repito uma velha saga renovada ontem:

Está ai um momento lindamente difícil, primeiro plano, fechado, só você e a câmera do homem que filma tudo lá de cima, agora em 3D, para que todos acreditem e não vejam como truque ou chantagem, o justo instante em que diz, absoluto(a): adeus, acabou chorare, chega de palhaçada!

Se você for mais enérgico(a), dirá: foda-se, não te quero mais. Mesmo. Seu filho da puta. Sua filha idem.

Dificílima decisão quando você ama o(a) sujeito(a) como nos versos mais lindos dos Beatles que ouviram do Ipiranga, da Serra do Rola Moça, do Mucuripe,  da beira do Capibaribe ou do Crato.

Mas que linda iluminação, meu santo Jack Kerouac, o beijo no vento, o sorriso, o fim da maldição de todas as músicas que parecem biográficas, sejam de Leonard Cohen, do Chico ou do Waldick Soriano.

Agora você simplesmente ergue as mãos para os céus e diz: estou livre!

Penei, sofri, vivi o luto amoroso, mas essa(e) peste não me merece. Você foi grande, não esnobou com o(a) primeiro(a) que apareceu pela frente, respeitou, viveu noites de insônia e solenes carências.

Você tomou fortes remédios, enfim, você foi intenso(a) e segurou a onda em todas as medidas e trenas do possível.

Óbvio que às vezes você se engana, todos nós caímos nessa, achamos que estamos libertos e temos recaídas, acontece, basta estar vivo, dane-se, o amor é uma droga pesada, muito bem disseram, passa a régua.

Agora não, você se sente livre mesmo, até recita um verso de outro grande poeta, o Walt Whitman, aquele que diz mais ou menos assim, não recordo de memória: “De hoje em diante não digo mais boa sorte/boa sorte sou eu!”

Pronto. É isso ai, vamos embora e etc.

Você se sente livre mesmo(a), se arruma bem linda, bota flor no cabelo, você, macho velho, luta boxe sozinho no banheiro, ouve uma do Rolling Stones ou do Bartô Galeno, você está preparado(a) para uma nova vida, caiu a pena como um passarinho, caiu o pêlo como um(a) gato(a), mudou de sina e com todo respeito ao clichê mais vagabundo, a fila anda.

Vixe, nossa!, você fez todas as rezas, orou para Jesus, foi no terreiro e no centro espírita, baixou os tarôs e tomou todas as carma-colas, pediu para a menina anônima que viu a virgem na mata e rendeu-se ao neo-orientalismo, você fez de tudo um pouco, santa, de tudo um pouco como o nome daquele bom prato do restaurante Buraco de Otília, Recife, rua da Aurora –a rua da luz mais bonita do mundo, segundo Gilberto Freyre e todos os bons fotógrafos do planeta.

É, amigo(a), se o pé-na-bunda é em preto e branco como naqueles bons, mudos e tristes filmes do expressionismo alemão, a salvação é em 3D, mais que Avatar e léguas submarinas, é uma montanha russa, um carrossel de parque de diversão, animação, uma roda gigante ou uma simples caminhada pelas ruas com um sorriso enigmático e um bom ventinho na cara. Adeus muchacho(a).

Tem um tipo de ventinho na cara que nos sopra: estás livre! Que beleza, que coisa marlinda, que maravilha!!!

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