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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Na noite com Picanha e Pedro Juan Gutierrez

Por xicosa
16/05/13 20:41

Lá se foi o amigo Paulo de Tharso, 52, o Picanha (foto), vulgo cuja origem é um personagem do seu livro “O dia de Santa Bárbara”. O Mário Bortolotto foi quem sacou o apelido. Ator, músico, poeta, pisou fundo na vida, viveu na sístole & diástole da respiração do blues.

Descansa em paz, viejo Picanha. Gracias pela antologia de ensinamentos na madruga da Roosevelt, bar Amistosas e arredores. Sem se falar nas traduções simultâneas de canções do Boris Vian (abaixo) e outros desesperos de rotina.

Deixo ai uma crônica em que registro o nosso encontro com o escritor Pedro Juan Gutierrez, naquela noite em que alertaste o cubano sobre os erros de expressões francesas contidas na “Trilogia Suja de Habana”. Eis o relato:

“Se o macho está perdido, amigo, como se apregoa por ai, não sou eu que vou procurá-lo”, bafejou o escriba Marçal Aquino, em animada mesa da nossa taberna lítero-boêmia em São Paulo de Piratininga, a Mercearia São Pedro.

Claro que o chiste do autor de “Faroestes” rendeu e desabou, graças ao abençoado tonel de Salinas, para uma buena onda digna das páginas mais quentes do cubano Pedro Juan Gutiérrez, que também nos dava a honra àquela noite em que até a lua, tão cândida, expelia garoa de testosterona e macheza.

É, amigo, nunca foi tão difícil ser homem, melhor, nunca foi tão difícil ser macho, para usar a acepção mais apropriada. “Os dilemas são muitos e o meio termo corre sempre o risco de ser mal-compreendido”, bradou algo assim um delicado rapaz de boina cujo batismo me fugiu na ressaca.

“Pára com isso, meu caro!”, atalhou o próprio Aquino.

Continuar sendo o velho e irredutível macho-jurubeba, o macho à válvulas, ou ceder às saudáveis tentações dos metrossexuais e outras vãs modernagens?

“Que pasa?”, manifestou-se o Gutiérrez, abusado.

O ideal, para os novos tempos, a voz dos moderados, seria dosar um pouco de macheza à moda antiga com mais cuidado com a aparência, uma guaribada no guarda-roupa, uma cosmética sem exageros… A diplomacia seguiu noite adentro, não me pergunte de que parte dos cavalheiros.

“No pasa nada!”, advertiu o bravo Picanha, messiê Paulo de Tharso, que se estranhara com o cubano em uma treta lá qualquer, ave memória, sobre expressões gaulesas. “O cubano não aguentou a onda, Xico, não entendeu a sacanagem, vou deixar esse cabrón maluco!”.

O debate-macho prosseguiu. Nada de ostentar uma bancada de creminhos maior do que a da patroa. “Prefiro não! Assim não dá, camaradas, elas odeiam esse tipo de concorrência”, esperneou Reinaldo Moraes, o Reinaldão do clássico “Pornopopeia”.

“Ah, minha gente, um Lancomezinho não tira pedaço”, provocou Marcelino Freire.

“Pelas barbas do profeta”, disse Terron.

“Marquinhos, uma Germana!”, foi tudo que tinha a dizer sobre o assunto o Bressane.

“Ah, eu amo homem cheiroso e bem-cuidado”, pôs lenha pra queimar na churrasqueira a amada Ivana Arruda Leite.

Mas ai não correríamos o risco de perder a personalidade, a pegada?, indagariam os mais tradicionais, aqueles que nunca se permitiram a nada mais do que um punhado de Minâncora ou banha de peixe-boi da Amazônia sobre uma espinha ou um cravo revoltoso.

Perfume ou cheiro natural de homem?

“En Havana mejor sucio mismo”, prossegue dom Gutierrez, pelo que entendi do seu espanhol selvagem.

E tome dilemas noite adentro.

Estão vendo como não está sendo fácil ser macho nos tempos modernos?!

“Macho que é macho não fala a expressão tempos modernos”, Marçal solta o jab de esquerda.

Picanha sorri a sua melancolia mais  sagaz e Pedro Juan Gutierrez parece ter encontrado o melhor amigo fora da Ilha. O mestre Picanha ganhava mais um round no ring da noite.

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Homem de saia: tabu de meio século em SP

Por xicosa
15/05/13 02:46

Mais de meio século depois do artista Flávio de Carvalho desfilar pelo centro de SP (aí na foto),  um homem vestido de saia voltou a escandalizar em plagas bandeirantes.

Regredimos tanto que desta vez o rapaz nem precisou ir para as ruas. Foi achincalhado em pleno campus da USP, a universidade teoricamente mais moderna do país.

Nas redes sociais, nem se fala. O estudante de têxtil & moda Vitor Pereira, 20, tem sido a Geni da vez. Olha ele aí abaixo.

Eu não teria peito, embora este cronista possua pernas bem torneadas pelo passado futebolístico de um autêntico camisa 10 -risos inevitáveis aqui até da patroa. Não teria coragem na condição de macho-jurubeba, mas defendo até o último fio de tecido o direito de cada um usar a peça que deseje.

Precisa ser muito homem para tal ousadia. O menino Vitor é um forte. Por causa da reação, criou até uma página-manifesto no Facebook defendendo o uso de saia pelos rapazes.

É muito mais confortável e se sente bem nas vestes, diz. Sem esquecer, caríssimo Vitor, que é mais adequado aos tristes trópicos. Pela criação do bicho solto.

Embora este cronista tenha pernas bem torneadas pelo passado futebolístico (risos da patroa aqui ao lado), jamais eu arriscaria tal exibição pública. Não esqueça, porém, que estou com quem tem a manha e a coragem. Todo apoio. Mesmo.

Pela multiplicação dos Flávios de Carvalho, este grande artista fluminense (alô Barra Mansa!) que atravessou SP vestido com o seu saiote com pregas, blusa de nylon com mangas folgadas e sandálias de couro. Traje tropicalíssimo. Gilberto Freyre aplaudiu à época.

Vanguardista, o arquiteto, engenheiro, escritor e filósofo, além de muitas outras formações e ofícios, era um gênio das performances. Promovia flash mob ainda nos anos 1940.

Nesta quinta, 18h, alunos de cinco campi da USP prometem um protesto: homens vestirão roupas convencionalmente de mulheres e vice-versa.

E você, cabrón, topa aderir ou teme a reação pública? Muitas mulheres se declaram atraídas por tal procedimento arrojado dos mancebos. Vai ancarar?

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Aos amigos do Bang With Friends, com carinho

Por xicosa
14/05/13 10:22

A princípio não se come inimigos -a não ser no canibalismo mais selvagem dos bravos caetés e tupinambás. Daí surgiu o Bang With Friends, o aplicativo do Facebook para facilitar a transa entre os amiguinhos(as) da rede social.

Mas eis que um dia, o que se anunciava como seguro e secreto teve suas portas arrombadas. Uma falha no serviço, como vimos, permitiu que todo mundo visse quem estava a fim de uma saudável sacanagenzinha sem compromisso.

Como a maioria de vocês, fui conferir a lista dos meus amigos na fila do B.W.F. Fora uma carola ou outra, estavam lá os críveis personagens que eu imaginava mesmo. Sem grandes surpresas. Os queridos e queridas tarados de sempre.

Confusão mesmo, federalíssimo barraco, rolou com um casal amigo de Brasília. Chamemos as doces criaturas de Eduardo & Mônica, no embalo místico da febre Renato Russo.

Eduardo conferiu e ficou furioso ao ver que a sua linda mulher estava a fim de uma aventura além das cercanias do lar doce lar.

Mônica riu ao ver o maridão inscrito no serviço outrora secreto. Mônica, mais liberal, não se escandaliza com café pequeno. Não houve sequer espanto para a sossegadíssima candanga-girl.

Eduardo, um tanto quanto hipócrita e porco-chauvinista, não se conforma. “Ela está a fim de dar para outros, cara, não sei se vou conseguir conviver agora com essa realidade”, disse-me hoje cedo. “Para quantos ela já deu a essa altura?”

Eduardo está paranoico. Não sossega o juízo. Fica repassando a lista geral dos amigos de Mônica para tentar descobrir com quem ela teria transado. Um obsessivo.

Sossega, meu rapaz, afinal de contas, como soprou ontem um camarada no bar Joia Carioca, chifre é como rato, você acha um e logo aparece um monte. Deixa quieto.

Amigo do casal, farei tudo, com as forças poderosas de Miss Corações Solitários, para devolver a paz aos pombinhos.

Bobagem, meu bem, não passa nada. Temos que aprender a conviver com essa vida paralela que quase todos nós adotamos na rede.

Uma vida paralela como canal das humaníssimas fantasias diárias. Não obrigatoriamente para ir às vias de fato.

Aproveitem tais fantasias para reesquentar geral a chapa caseira. Funciona. Agora com licença que vou ali mandar um sinal de fuego para as carolas da minha lista amiga.

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Complexo de Édipo com a mãe alheia

Por xicosa
12/05/13 14:19

“Antigamente quando eu me excedia/ Ou fazia alguma coisa errada/Naturalmente minha mãe dizia:/ Ele é uma criança, não entende nada.” (Erasmo Carlos)

Porque as mulheres com filhos são especiais, especialíssimas, como sempre sublinho nestes papiros mudernus.

Porque tem homem que morre de medo do que se costuma chamar por ai de “pacote completo”, quando a deusa vem com os seus meninos à tiracolo, canguruzinha marlinda.

Se bem que conheço amigas que temem mais do que nós hombres. Diante do menor barulho dos diabinhos fazem cara de Herodes.

Eu faço é cara de marido.

E tenho inveja porque não são meus. E tenho inveja porque não pude influenciá-los, ainda, nem na escolha do time.

Tudo bem, já saquei muito da cachola aquela lengalenga tipo Brás Cubas: não quero deixar na terra o legado da minha miséria etc etc.

Balela.

Bora fazer menino, minha musa, e confundir de vez criador e criatura.

As mulheres com filhos são o que há de mais tentador nesse lero-lero vida noves fora zero.

Incríveis, magníficas, únicas. No papo e na cama.

Agora rio aqui sozinho lembrando da noite em que fui pela primeira vez para a casa de uma ex-ex-ex.

Saía desesperado do quarto em busca de um copo d´água. O amigo que bebe sabe o que é um homem cego, que não achou os óculos na cabeceira, saindo por uma arquitetura desconhecida, na madruga, em busca de um refrigério para a ressaca.

Depois de alguns tropicões, seguindo uma fresta de luz, ainda sem fazer ideia onde estava a geladeira… eis que um endiabrado menino, senhoras e senhores, portando uma daquelas armas iluminadas que me levou direto para um conto de ficção científica.

Aquela tocha de fogo aumentou ainda mais a minha sede e desespero. Não se nega um copo d´água a um ressacado, apelei ao rapazinho.

Sorriso sádico, o menino, armado com uma daquelas miseráveis espadas de He-Man, não cedeu ao meu apelo. Quem manda mexer com a sua linda Jocasta. O ciúme e a sede de aventura o faziam me espetar e dar pulinhos ridículos e cegos.

Quando fui tomar o mísero copo d´água, o dia já havia dado as caras. Depois do duelo, e muitos passeios a três, de mãos dadas, nos tornamos grandes amigos.

Por isso é que aqui repito um haikai que fiz ainda nos anos 80:

Que coisa feia/ Complexo de Édipo/ com a mãe alheia!

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Quando o amor ata, desata e reata

Por xicosa
10/05/13 21:54

(Ou o Amor é fósforo com duas cabeças)

by Rita Wainer

Tudo que ata, desata, mas quando é amor de muito, como na balada marinha de Chico Science, reata. O amor na conserva do mar salgado.

No tempo  em que quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga, é quase milagre, yo creo em milagres e reescuto Ramones, play again, sempre.

E quando imaginávamos que estava tudo acabado, que amor não mais havia, que tinha ido tudo para as cucuias, que o fogo estava morto, que o amor era apenas uma assombração do Recife Antigo…

Quando já dizíamos, repetidamente, a uma só voz, aquela crônica triste de Paulo Mendes Campos: “Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido…”

Quando já separávamos, olhos marejados, os livros e os discos…

Quando o Neruda já estava no fundo da caixa de mudança…

Quando mirávamos, no mesmo instante, a nossa foto feliz no porta-retratos…

Quando não tínhamos nem mais ânimo para as clássicas D.Rs – discussões de relação, que saco etc…

Ave, palavra, quando até o gato, nervoso, sem saber com quem ficaria, quebrava coisas debaixo daquelas telhas àquela altura…

A casa caíra, nem corruíra nas manhãs; sabiás nas madrugas paulistanas jamais…

O cheiro do fim tomara todos os cômodos, a rua, o quarteirão, o bairro, a cidade, o mundo…

Quando só restava cantar uma música de fossa… “Aquela aliança você pode empenhar ou derreter…”

Quando só restava a impressão de que eu já vou tarde…

Sim, o quadro era realmente trágico, não se tratava de exagero nosso. Sabe quando resta apenas o silêncio e o descaso nos jantares?

De tanta inércia, faltava até força para que houvesse a separação física, faltava força para arrumar as malas, para ir morar no Lameiro, lá no Crato, ou na casa de um amigo.

Ah, amigo, quer saber quem bateu o ponto final da história do casamento? Ela, claro! Você acha que homem tem coragem para acabar qualquer coisa?

O estranho é que ela não disse, em nenhum momento, que não gostava mais do pobre mancebo. Aquilo me encucava. Porque um homem, como disse o velho Antonio Maria, nunca se conforma em separar-se sem ouvir bem direitinho, no mínimo quinhentas vezes, que a mulher não gosta mais dele, por que e por causa de quem etc etc.

E nesse clima de fim sem fim, os dias foram passando… Até que chegou o domingo.

Eu acabara de levantar do amigo sofá, que havia se transformado no meu leito, quando ela passou com uma cara de impaciência e desassossego. Mais que isso: com vontade de matar gente!

Era a cara que fazia quando estava faminta. Sabe mulher que fica louca quando a fome aperta?

Vi aquela cena e cai na gargalhada. A princípio ela estranhou… Mas sacou tudo e danou-se a morrer de rir igualmente. Nos abraçamos e rimos e rimos e rimos e rimos daquilo tudo, rimos da nossa fraqueza em não dar a volta por cima, rimos do nosso silêncio sem sentido, rimos desses casais que se separam logo na primeira crise, rimos da falta de forças para enfrentar os maus bocados, rimos, rimos, rimos….

E um casal que ainda ri junto tem muita lenha verde para gastar no feijão com arroz da existência.

Agora ela está deitada, linda, cheirosa, gostosa, psiu!, silêncio, ela dorme enquanto termino esta crônica do nosso reincêndio.

O amor é fósforo com duas cabeças!

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Era uma vez a monogamia

Por xicosa
09/05/13 16:53

(Ou crônica das verdades absolutas de uma noite na rua do Ouvidor)

-A monogamia 100% já era, foi para o saco, não existe mais.

Era a tese mais arrojada em debate na mesa ao lado, no meio da rua do Ouvidor, precisamente na Toca do Baiacu.

A discussão prossegue:

-A monogamia total nunca existiu, é que as coisas eram mais escondidas, não havia internet, redes sociais etc.

Acompanho com o ouvido de cronista de costumes, digo, cronista de futricas:

-Hoje o mais sonso e certinho dos maridos pula a cerca. Nem que seja a cerca da sacanagem virtual, mas que trai, trai.

-A mulher faz pior ainda, diz lá um exaltado Bentinho com umas brahmas no juízo.

Chego até a escutar o barulho dos tílburis da Ouvidor de Machado.

Na mesma mesa, uma fêmea com ares de Capitu capitula:

-Não conheço uma amiga casada que não tenha pelo menos um amante virtual!

-Mas só um flerte é do jogo, não conta como traição, é só o vício permanente da sedução, diz o sr. gravatinha com ares de gerente.

Hipérboles alcoolizadas à parte, nunca valeu tanto aquela velha sabedoria: o que os olhos não vêem o coração não sente.

A monogamia dos suicidas já era, cismou outro dia o escriba ultramarinho António Lobo Antunes.

Só sei que a discussão veio com a conta e um chorinho de obviedade e transparência:

-Nunca se traiu tanto –fechou a secretária com ares de explícita safadeza.

Você há de dizer, amigo, lá em casa não tem disso não.

Você há de dizer, amiga, uma traiçãozinha não mata ninguém, até estimula o desejo.

Pode ser. Nada como um marido culpado. Vira o melhor homem do mundo, inclusive na cama.

Nada como uma mulher que acabou de cometer um pecado fora de casa. Será capaz de caprichos orais nunca dantes.

Finda a discussão na mesa ao lado, eis que nossa távola, até então composta só de macho botafoguense, é iluminada com as presenças de Luisa e Kamille.

Que efeito sobre os homens da rua do Ouvidor. A graça divina. O mais casmurro dos viventes da área se docilizou.

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Como encontrei PC Farias

Por xicosa
07/05/13 18:41

Esse julgamento dos seguranças de PC Farias me faz voltar à pele do jovem e farejador repórter que, por acaso, outrora fui.

Digo por acaso porque todos os meus ditos furos, inclusive o de revelar o paradeiro do então inimigo público número 1 da nação, devo ao acaso.

Melhor: devo a uma cachaça –marca Divininha- com caldinho de sururu. Uma cachaça e espumas flutuantes, obviamente, em um um boteco da praia de Guaxuma.

Foi lá que ouvi, de uma profundíssima garganta, que o tesoureiro do Collor estaria em London London.

Corri para confirmar com minhas fontes na família Farias e arredores. Batata. Publiquei um dia antes da TV Globo soltar a notícia e voei para comemorar com as moças do Coquetel Drinks, a boate azul de uma Maceió inesquecível dos anos 90 –sim, eu praticamente morava nesse agradável parque de diversões adultas, embora a Folha me pagasse o velho Othon da Pajuçara.

Por acaso as moças da boate sabiam tudo sobre a vida pública e a vida privada da República de Alagoas. Por acaso, só para variar, eu estava no lugar certo.

Dias depois encontraria PC no porão de uma cadeia em Bancoc, Tailândia, para onde fugira o chefão.

Como encontro minha velha fonte? Simples: mais uma vez fui guiado pela mão do acaso. Minto: pela mão de uma massagista tailandesa, a mesma mão que havia me levado ao nirvana.

E quem matou PC Farias?, perguntaria o amigo.

Se soubesse tinha publicado à época neste mesmo jornal que me paga as contas.

O que estranho, porém, desde aquele tempo é que em nenhum momento tenha sido ouvido o PIB que negociava com a vítima. Não se levou em conta a sabedoria americana de seguir o caminho do dinheiro.

Ou pelo menos decifrar a agenda de encontros de PC com os maiores empresários do país.

Deixa quieto.

Só queria me exibir um pouco com meu passado de repórter e rapaz sério.

E, quem sabe, por acaso, reencontrar um amor que eu tive no Coquetel Drinks.

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Nena como nossa mãe linda e puta

Por xicosa
07/05/13 04:49

Se toda cidade do planeta tivesse respeito pela vida à vera, digo, a vida de verdade, faria como a Câmara de Vereadores de Arcoverde, portal do sertão pernambucano, e homenagearia, com o maior respeito a essa vidinha que não vale nada -num vale nem o troco da passagem- e homenagearia, repito, uma mulher que deu carne e alma pelas pobres criaturas precisadas.

Homenagearia a mais bela das suas putanas.

Ninguém é mais homem ou mulher do que uma puta de verdade. Ninguém é. Nada.

Um mulher que chega a esse ponto vai além dos gêneros.

Sei que as forças estranhas, em tempos tão corretos, estão tentando barrar a homenagem, afinal de conta vivemos a tristeza de um cinza reacionaríssimo e lobotômico.

Mas…, que bonito, meu amigo Fernandão, cabrabom daí da área, que a importantíssima Nivalda Rafael de Siqueira, mais conhecida como Nena Cajuína, uma prostituta famosa da cidade, receba a Medalha de Honra ao Mérito Cardeal Arcoverde, a mais alta comenda entregue pelo legislativo.

O clorofilado cardeal, aos céus da história, deve ficar orgulhoso.

Viva viva Nena Cajuína!!!

Mil vezes, viva Nena!

Talvez, sugiro a dúvida, meu amigo Lirinha, ninguém tenha sido mais importante nesta cidade do que esta bela senhora.

Lira, meu amigo, precisamos dizer certas coisas, mesmo sabendo dos incômodos, mesmo sabendo que as famílias que se julgam mais-além talvez não compreendam a tese.

Não me cabe aqui, cronista ao rés do chão da finitude do cuspe, entrar na vida desse povo que se acha puro e sem pecado. Digo minhas coisinhas e passo.

Que bonito dona Nena, como mereces, saiba que conta com meu pobre discurso e a defenderei no panfleto lírico deste blog ad infinitum.

Que o projeto da vereadora Celia Cardoso (PR) seja repetido no planeta todinho.

É preciso que a gente defenda as honradas prostitutas. Independentemente de partido, a buceta-honesta é a razão mais ideológica do universo. É dada a quem a mulher escolha, seja por amor, seja por dinheiro, seja por uma besteirinha de nada depois de uma cerveja, seja seja, gracias a la vida.

Se fóssemos um país de verdade, além das homenagens daríamos -aí sim eu respeitaria o meu imposto- uma bela indenização para essas heroínas que iniciaram no sexo e na existência todos os homens.

Viva Nena de Arcoverde, viva Albert Camus, viva minha mãe, viva todas as mulheres que de alguma forma se identificaram com essa crônica.

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O tempo que se ganha vendo mulher

Por xicosa
06/05/13 01:27

Quanto tempo da sua vida, amigo, você gasta olhando as mulheres? Melhor: quanto tempo você ganha mirando as fêmeas?

Perdi a conta. Ai de mim, Copacabana.

Chego ao Rio para uma nova temporada e a imagem que mais me impressiona é a das moças que pedalam de vestido nas suas bicicletas.

Um tipo carioca por excelência.

Vento do outono, sempre a favor dos homens, por testemunha.

As moças que pedalam de vestido nos provocam mais desejo do que qualquer óbvio e sumário biquíni de Ipanema.

Chego ao Rio, gasto a vista e me lembro de uma pesquisa feita na Inglaterra pela Kodak Lens Vision Centres: o homem gasta, em média, 43 minutos por dia olhando as mulheres.

Protesto.

Como assim, menos de um tempo de um jogo de futebol? Mesmo o mais cool dos ingleses, mesmo em uma pátria sem bunda, duvido que se gaste tão pouca retina com o melhor dos espetáculos da existência.

 E se um britânico fica só nisso, creio que gastamos pelo menos umas três, quatro horas por dia nesta observação da natureza.

Joguei a questão para os cavalheiros da távola redonda no boteco e a reação foi idêntica.

Nas estatísticas da pesquisa inglesa, entre os 18 e os 50 anos, o homem perde um ano olhando para mulheres. Como assim, filhos da mãe? Perde? Não seria o contrário?

Tem maior ganho na vida do que mira las chicas?

Ora, até nos grandes faroestes sabe-se da importância de mirar uma dama.

No clássico “Era uma vez no Oeste”, do  Sergio Leone, em um certo momento crucial, um velho caubói diz para a mocinha: “Vai lá fora e leva uma xícara de café para eles, os homens mudam de assunto ou calam quando vêem uma mulher bonita”.

Era uma forma de evitar que os dois se matassem. Infelizmente, ela, Claudia Cardinale, tesouro, não obedeceu, quer dizer, não chegou a tempo. Acontece.

Ah, a amiga quer saber quanto tempo as mulheres gastam por dia vendo os homens? Segundo a mesma pesquisa da Kodak, apenas 20 míseros minutinhos. Econômicas!

Olhos não se compram. Agora com licença que vou limpar a vista ali ao ritmo da “Balada das meninas de bicicleta”, como receitou o safo e centenário Vinícius.

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Só um chifre melhora um homem -III

Por xicosa
03/05/13 12:03

Antes de mais nada, e mesmo sem saber se sentiram falta ou alívio, vos digo: estava Rio Negro abaixo, no “Navegar é preciso”, projeto da Livraria da Vila (SP) que leva escritores selva amazônica adentro para encontros com os leitores.  Foi bonita a festa, pá, fiquei contente.

No que meditei e repito o mantra e a crônica:  Só um chifre humaniza um macho.

Daqueles bem parafusados pelo destino em nossas testas ou frontes de artistas. Nem que seja apenas como arma de vingança, como reza a lírica do cancioneiro de Carlos Alexandre, o gênio potiguar dos românticos dizeres.

Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com Stephanie Says, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça.

Aí entra Tom Waits, que gorjeia This One’s From The Heart, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola.

Posso tocar mais uma da fita O Fino do Corno, que acabo de gravar aqui no velho cassete das antigas?

Então lá vai, lá vai, roda, segura aí, peça logo outra cerveja: Les Amours Perdues, do gênio Serge Gainsbourg. Essa é para chorar, como convém a quem deixou rastros de incompetência e de vacilos sentimentais pelo caminho.

Chifre posto, lá estamos nós, répteis do amor (agora entra Por que me Arrasto aos teus Pés, do rei Roberto, para coroar a breguice dos humilhados e ofendidos), carentes como um poodle.

E essa nossa loucura, muitas vezes, não deve ser tributada simplesmente à febre amorosa que estoura na pele e mancha o caroço dos olhos. Enlouquecemos mais pelo ego de macho, que não suporta uma “literatura comparada”, uma derrota.

Enlouquecemos, na maioria das vezes, mais pelo ego de macho do que pela perda. É difícil saber o que é amor e o que é orgulho em um coração caubói.

É o medo do cabrón diante das comparações.

Tudo que queremos saber é apenas se o adversário, a quem sempre vemos, de imediato, como o Pelé do tantra, o Cassius Clay do priapismo, é mesmo o tampa-de-Crush, a bala que matou Kennedy, o tal da química de pele, o cão do terceiro livro… Perdeu, playboy!

Aí insistimos, insistimos, insistimos na nossa babaquice, até que ouvimos mesmo, daquela ingrata, que perdemos o embate, o jogo, o clássico do sobe-e-desce, o decisivo mata-a-mata nesse faroeste empoeirado dos nossos inconscientes.

A comparação é o golpe fatal.

E que gazela perderia a chance, diante da perguntado imbecil, de empurrar o sujeito para o abismo?! Aí não tem cachaça ou uísque que curem. É o fim. O mais confiante dos homens sucumbe nessas horas.

E se a moça, toda saltitante, aparecer na firma com aquele sorriso franco, aquela pele remoçada… Nunca vamos imaginar que possa ter sido apenas uma combinação perfeita entre o tarja preta e o creme de vitamina C + coenzina Q10, obra e graça da renovadora indústria coméstica!

Sempre pensaremos no desastre-mor, no grito selvagem (dela) de prazer.

Sempre achamos que a desgraçada, a miserável, descobriu, finalmente, todos aqueles multiorgasmos fresquinhos anunciados toda semana pela revista Nova.

A capa da Nova é a primeira imagem que temos. A perua toda feliz com a carga elétrica de 220 wolts que recebeu do canalha.

É assim mesmo. Pois a vida é simples e sempre vai imitar aquela singela crônica de Rubem Braga. Lá para as tantas, uma tal de Joana entra no carro de um palhaço, toda aconchegada a ele, meio tonta de uísque, vai para o apartamento do monstro – um imbecil que não sabe uma só palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, conclui o escriba, a quem agora fazemos coro.

E no toca fita do meu carro, como canta agora Bartô Galeno, uma canção me faz lembrar você…

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