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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Só a rua saberá a resposta

Por xicosa
18/06/13 01:16

Terra em transe, velho Glauber Rocha, o simbólico e contraditório rochedo brasileiro, sempre.

Esse negócio de entender manifesto de rua é pra direita e esquerda antiga. Já era. Não entendem nada.

Esse negócio de entender é para entendidos, estou fora. Assim como aquele best-seller, só o vento saberá a resposta.

Desejos difusos & complexos, caro Sigmund, Freud, a voz das ruas, o indecifrável boquete, nem que seja inconsciente, da massa, sempre na retaguarda da história, a oralidade mais linda, o direito de dizer, o grito é gula e manifesto.

Chama o Gilberto Freyre, o mais contraditório de todos, safado pelo alinhamento orgânico e visceral à Ditadura e moderno que só a porra na compreensão da tal brasilidade.

Entendimento e polêmico fácil é pra gente burra, eu quero é complicar a parada. Bora.

O doido, amigo, é saber o que a gente quer e nem sabe direito ainda. Falo sobre as levas nas ruas desta hora do protesto contra…

Então me valho também de seu Kafka, para completar meus três guias geniais, não apenas nesse texto, se é que eu entendo direito do universo do meu trio de atacantes.

Deixarei Darcy Ribeiro para futuros embates… Na reserva antropológica, vê se pode. Ali no banco junto com o dotô Sócrates, o amigo que mais me ensinou coisas nesse mundo.

Só sei que nada sei na riqueza dessa hora. Sigo com meus guias simplesmente por não entendê-los o suficiente nas suas sabedorias legítimas, rogo ao que me é caro, bonito e incompreensível, assim é a existência.

Se precisasse do óbvio, ligaria a tv na Rede Globo, na Bandeirantes, na Record, SBT, pronto, ou compraria um jornal na banca da esquina.

O bom deste momento é que a explicação não é nada simples, como acreditam os comentaristas de plantão dos telejornais e a passarinhada, na qual me incluo, das redes sociais.

O mais interessante dessa onda de protesto é que o levante é indecifrável para a política tradicional, para a maior parte da imprensa idem.

O mesmo vale para quem é de direita, de centro e de esquerda ao modo mais antigo, por supuesto.

Cada um reage de um jeito, só a ignorância fardada se repete, sob as ordens: desce a lenha indiscriminadamente, seja a tropa de Alckmin, Aécio ou do Cabral, o encobridor, no Rio de Janeiro etc.

Bala de borracha não tem partido e ali onde eu chorei qualquer um chorava com o gás lacriminoso de sempre, porra, diz a mina, chegando aqui no meu colo a essa altura.

A classe da política convencional foi educada para bandeiras pontuais e negociações mais óbvias, como a troca de cargos pelo cala-boca etc, dado cordial que se arrasta do Império até hoje cá Dilma, com Aécio, com Dudu, com todos os pretendentes ao trono de novo.

E há quem queira, na sub politicagem, pegar carona geral na saudável baderna de la calle –depois eu explico, antes que você ache que estou contra o movimento.

O caroneiro mal sabe aonde pode ir o bonde da história quando se solta nas ruas uma legião de ânimos e sambas exaltações às mudanças –mesmo que não se saiba quais mudanças agora, pouco importa, que se mude o estadão das coisas, como diria Wim Wenders.

O que quer essa rapaziada? Nem o velho Sigmund, ainda bem, explica. Quer se manifestar e isso diz tudo. Pelo direito de dizer coisas, como me disse ontem o Michel Mellamed.

Se fosse a manifestação contra um velho ditador egípcio era mais fácil explicar em cinco linhas de um telegrama da Reuters. Não se trata da obviedade das primaveras de longe. Somos tropicais e mais labirínticos.

Vivemos um regime democrático, da maneira mais antiga das representações, mas vivemos.

Ai talvez esteja o ponto: a democracia ao longe, como a de Brasília, precisa mudar geral, incorporar a decisão a cada quebrada, bairro, aldeia de Tolstói, o sítio do meu pai lá no Araripe, por exemplo.

O que quer a rapaziada?

Sim, a turma quer a queda do preço da passagem de ônibus, mas essa foi apenas a espoleta da hora. Acreditar só nisso é a mesma coisa que perguntar: mas apenas por 20 centavos de aumento?

Quer mais é protestar geral, quer inclusive a arruaça, badernar no Congresso e na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro –esse, aliás, não é apenas um desejo de jovens de 17 anos. Daí o que o poder pode usar esses meninos para maldizer o resto, só amanhã saberemos, embora eles tenham feito o que todos nós temos vontade.

Vontades guardades, vixe!

Dá vontade de volver aos 17 em muita gente, inclusive neste cronista velho e safado, como na canção de Mercedes que ouvia lá na rua das Ninfas com Progresso, Hellcife, Pernambuco. Vontade de brigar com assembléias e congressos.

Errado?

Ou só vale, para efeitos morais de protesto, a gente boazinha e organizada? Só vale o protesto certinho? A anarquia não vale com 100 mil nas ruas? Se liga, humanidade. E se entrar um dia na bagunça a gente feia, suja e malvada, como no clássico do cinema italiano?

E se minha faxineira resolver entrar no jogo, em vez de ficar apenas limpando minha casa para quando eu voltar do protesto e encontrar tudo bonitinho?

Aí o bicho pega e vai ser lindo. Afinal de contas, como diz o Leminski, na lucha de classes todas as armas son buenas…

Mais ou menos como já são os agitos dos sem-teto e dos sem-terra o ano inteiro. Esses são ameaçadores de verdade da ordem, são os homens de boa vontade, bíblicos. Pouca gente aparece aqui nas redes sociais para apoiá-los. Se muito meio segundo no “JN” quando ocupam as fazendas de laranjas dos laranjas e outras cítricas assombrações patronais.

Mas tá valendo. Não é isso que está em jogo agora, velho Glauber.

Falar nisso, corto, sabem a origem da palavra baderna? Era o sobrenome de uma bailarina bem louca, anarquista italiana, que arruaçou no Rio do século XIX e daí esta palavra que virou manchete hoje.

Por favor, não me entenda, mas se você leva mil, 5 mil, 10 mil, 100 mil pessoas às ruas, como foi o caso da Candelária corre esse risco.

Não adianta esse lenga-lenga, inclusive de alguns líderes da parte “mais sensata” do movimento, de rotular de vândalos o que, possivelmente, fuja do controle. É o risco da praça quando vira território livre. Risco que já deu em revoluções e também já deu em muita merda sem sentido.

Risco que deu, seja no subúrbio de Paris recentemente ou no centro do Rio e SP, em flamejantes episódios.

Ir para as ruas sempre implica no imponderável. O resto é mofo ou ranço da história. É a hora que a ordem estabelecida vira piada.

A bonança, não o risco, de ir para as ruas é isso, ninguém sabe aonde vai parar o bonde. E não vai ser a mídia a ditar o ritmo da carruagem, como acreditou nos últimos dias, quando chamou todo mundo de vândalo e mudou dois dias depois.

Sabe-se lá por quais vaias ou conspirações, meu repórter João Valadares, deve ter mudado milagrosamente a mídia. Talvez, voltemos às caronas da história, por acreditar em só enfraquecer a presidente Dilma como candidata. Vire-se a Dilma, estamos apenas analisando a história recente.

Como se na onda toda fosse possível passar essa leitura. É bem mais complexo, amigo(a), me ligo, se liga, a vida é um tê, um benjamin de três tomadas, no mínimo.

Só sei que nada sei, só sei que Kafka seria capaz de entender tal metamorfose.

Só sei que nem o mito do futebol como ópio do povo, como acreditava a velha esquerda, resiste a esta hora. A Copa das Confederações que o diga.  Nunca se protestou tanto exatamente contra os gastos dos eventos de hoje e do futuro.

Isso tudo, amigo, é para a gente tentar decifrar as coisas. Simbora.

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Pelo direito de gozar com gritos & sussurros

Por xicosa
15/06/13 20:57

É, meu velho Manara (ilustração), os balõezinhos calientes das suas inspiradoras HQs aqui seriam silenciados. Repare como a coisa anda.

Que mundo é esse que não se pode nem mesmo emitir saudáveis onomatopeias no momento mágico do orgasmo!

Que mundo é esse?, indagam as minhas sobrancelhas fatigadas.

Existe amor em SP, mas é quase proibido alardear esse sentimento sagrado na hora do gozo.

Em muitos prédios da cidade, só mesmo gozando com um esparadrapo na boca.

Psiu!

E não estamos falando de um escândalo ao estilo Linda Lovelace (foto) ao ouvir o bimbalhar dos sinos no filme “Garganta Profunda”.

Muito menos da gemedeira gostosa de Jane Birkin & Serge Gainsbourg na música  “Je t’aime moi non plus”.  La petite mort, como dizem os franceses. Escute aqui a canção.

Reflito sobre a grave causa depois de uma cartinha de uma fogosa leitora, com a qual me solidarizei de imediato.

Pelo “direito de gozar”, como a Lola define no seu manifesto. “Moro em um apartamento que, como a maioria dos apartamentos de hoje, vaza som”, conta. “Moro com meu namorado há seis meses e, óbvio, transamos com frequência.”

Sacanagem, seu síndico!

Não há som mais bonito que uma mulher no clímax.

Voltemos ao relato da leitora: “Não faço escândalos, não grito durante toda a transa, mas gosto de gozar gemendo alto, gritando, que seja. A questão é que isso acontece por apenas 10, 20 segundos. Não é, de fato, um incômodo terrível para o ouvinte.”

De forma alguma, amiga. É o melhor som ao redor do universo.

Agora a sacanagem das sacanagens: os vizinhos registraram a queixa contra a destemida leitora no livro do condomínio.

Um vizinho solteirão chegou ao cúmulo de dizer a ela que os gemidos teriam como objetivo chamar a atenção dele. Pode?

Mil anos de análise para um sujeito desses, meu caro Sigmund.

Não se pode mais nem gozar em paz, minha gente. Isso é que é patrulha.

Não se reprima, caro vizinho, aproveite a inspiração e faça bom uso. Nem que seja consigo mesmo.

Pelo direito dos gritos & sussurros nos prédios, edifícios, casas, puxadinhos. Não somente de SP, esta Carençolândia de pedra, mas em todo o país.

Goza, Lola, goza!

Aviso importante: os comentários do blog estão desativados por um problema técnico. Estamos corrigindo a falha. Peço desculpas.

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Bilhetinho de amor para Giuliana Vallone

Por xicosa
14/06/13 18:39

Querida, queridíssima Giuliana Vallone, mal acabamos de nos falar, sobre a pauta que eu faria aqui no Rio do “TV Folha”, e a PM, covardemente, te alveja o olho. Falaste: vou às ruas cobrir a passeata. Te desejei boa sorte. Beijo. Fuerza, baby.

Quase disse te amo e outros pronunciamentos que fiquei pensando depois. Sabe como é passional este cronista diante da comoção da existência. Vivo dessa gasolina azul do sentimento.

Depois foi isso que sabemos. Teu rosto tingido de sangue e um bocado de teorias e versões oficiais que não batem. Teu relato é límpido: o homem fardado, sem mais nem menos, te atingiu e pronto. Claro como um parágrafo dos romances policiais de Dashiell Hammet.

Esse cara é a PM, não importa o nome. Digo a PM no plural, digo a PM como tropa, digo a PM como Alckmin, o chefe, pois fica difícil particularizar e punir depois que o governador encorajou seus homens, como em uma preleção de jogo de futebol da Libertadores da América.

Ele avisou que iria jogar duro. Está gravado em todas as mídias. Vide vídeos.

Desde Paris, onde se encontrava, Alckmin diria, qual um anti-Flaubert da ignorância e da treva Opus-Dei:  a PM c´est moi, a PM sou eu, para o bem ou para o mal.

Giu, Ju, como chamo, que merda, que covardia na Augusta. Nem o pior e mais violento dos cafetões desta rua que bem conheço seria capaz de tamanha falta de consideração com uma moça.

Bem sabes que não tenho músculos para enfrentar essa covardia toda, mas bem sabes que faria do meu pobre esqueleto envelhecido um exército em tua defesa.

O luxo de viver é a coragem, Giu.

A covardia, bem, a covardia é típico da tropa cega.

Não sabes como fiquei feliz por teu olho estar a salvo. Teu bonito olho que filma além do “risco da profissão” de não estar ao lado da polícia nessa hora, como diz a guarda alckmista. (…)

Teu olho como história.

Teu olho como narrativa.

O roxo e o risco da tua vista são uma forma de ver de novo o mundo.

Um beijo, sempre no olho, do teu repórter-cronista, Xico

P.S – Por problemas técnicos, este post ficou desativado para comentários.

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Nem só de lirismo vive o cronista

Por xicosa
13/06/13 16:55

Duas reivindicações das ruas contam com o apoio deste que vos fala. Eis o panfleto da hora: que abaixem os preços das passagens, que levantem o moral dos velhos.

Sem essa de vovô viu a uva. Vovô viu o Viagra. Mais do que legítima essa bandeira nova dos idosos.

O Sindicato Nacional dos Aposentados pede a inclusão de medicamentos para a chamada disfunção erétil na cesta básica  ou, no mínimo, a que estes remédios tenham desconto na rede de farmácias populares.

É uma questão de saúde pública. Se você melhora a vida sexual, melhora tudo. Não precisa ser um Freud de botequim para saber dessa tremenda obviedade.

Não deixa de ser também uma maneira de lutar pelo meu futuro desde agora. Ai de nós, Copacabana.

Nem só de gamão e resmungos contra a humanidade vive um velho.

Não custa nada, porém, aproveitar os avanços da ciência, a química a serviço da vida.

Mesmo sabendo, meu caríssimo e centenário Vinícius de Moraes (foto), da bela lição que nos deixaste: “Enquanto eu tiver língua e dedo/, mulher nenhuma me põe medo”.

P.S – Por problemas técnicos, este post ficou desativado para comentários.

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As dez melhores canções para fazer amor

Por xicosa
12/06/13 17:47

Luz vermelha no studio da rádio Chabadabadá. “Play Misty for Me”, pede a ouvinte obsessiva como no primeiro filme do velho Clint Eastwood.

Toca, DJ. Momento trovadores do miocárdio no blog. Com vocês, uma lista do cronista Marcelo Mendez, nosso dileto colaborador, para embalar amorzinho gostoso ao cair da noite.

Barry White – Love Making Music – Aí é covardia! Barry White e sua voz de trovão aveludado é infalível. O Homem é capaz de fazer qualquer pacata senhoura tirar a roupa, apenas com um “Bom Dia”! Sente só o clima ouvindo aqui.

Al Green – Love and Happiness – Do Green, escolher uma musica para a hora santa é pouco. Daria pra sacar umas 150 pelo menos! Elegemos esta por ser de um suingue, de um sacolejo malemolente, daqueles que tornam o ensejo da coisa toda algo que deveria durar pelo menos uns dois meses.

Serge Gainsbourg – Je T’aime Moi Non Plus – Se tocar esta canção em um cabaré de Petrolina ou em uma tenda no meio da Jordânia… os gemidinhos de Jane Birkin ao som do órgão meloso de Gainsbourg deixarão bem claro a intenção da cousa toda.

Isaac Hayes – By The Time I Get To Phoenix – Essa é do lendário HOT BUTTERED SOUL. A famosa faixa dos 19 minutos. Com 19 minutos, uma boa dama e um pouco de imaginação faz-se a festa da vida eterna.

Duke & Trane – In a Sentimental Mood– Duke Ellington e John Coltrane se juntaram para fazer um disco em 1963. Histórico. A faixa marca um momento em que homem e mulher se encontram e o mundo pára! Só isso.

Sade – Smooth Operator – Ao som da musa nigeriana o caboclo já começa a pensar na dama dançando, tirando safadamente a alça da blusinha, mexendo mirabolicamente a anca, num sacolejo de fazer Aiatolá Khomeine corar a barba!

Aretha Franklin – Drinking Again – Chique! A Aretha pedindo por mais um drink, para que anoite não acabe, para que o amor não acabe…

Ibrahin Ferrer – Aquellos Ojos Verdes – E como a gente vai falar de classe sem lembrar de Ibrahin Ferrer? A Voz de Cuba cantou lindamente boleros lendários, com uma elegancia de fazer inveja a um Yves Saint Laurent.

Tim Maia – Nobody Can Live Forever – Big Boss! Aqui conosco ele não é “sindico”, só pode ser de Presidente pra cima. Fica aí uma canção de um momento peculiar. Em 1976, depois de tomar um cambau dos safados da seita Racional, Tim perdeu grana, trampo e a mulher. E em uma tentativa de reconquistar a nega, grava uma balada daquelas…

Willie Dixon – Back door man – Mestre. Agora ele chega com este sussurro que diz tudo: “Mulher, se prepara que sou o homem atrás da sua porta, vai ver estrelas!”

E você, pombinho(a) enamorado(a), qual a sua trilha predileta?

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A solidão não vende um picolé de coco

Por xicosa
10/06/13 16:14

Seguimos nas reflexões sobre o fatídico 12 de junho.

Saiba, de cara, amigo(a), a solidão não vende um picolé de coco.

Daí o massacre da data dos pombinhos no jornalismo e na publicidade, diria o meu conselheiro Acácio.

O dia dos namorados vende de tudo: é a 25 de Março do amor e da sorte.

Talvez somente o dia das mães -somos todos edipianos e este é nosso primeiro romance caliente ainda no berço- tenha tanto apelo quanto o dia dos namorados.

A solidão não vende um celular pré-pago, não recarrega ilusões baratas, não carameliza maçãs…

A solidão não janta fora em um bistrozinho romântico.

Seja a solidão opcional, seja a solidão imposta pelas contingências do momento.

A solidão faz amor consigo mesma.

Seja a solidão espalhafatosa, que chama a atenção do mundo; seja a solidão chique à Greta Garbo -“I want to be alone”.

O solitário talvez seja um bom personagem apenas para anúncio de uísque. Como a publicidade feita pelo Bill Murray (foto) naquele filme “Encontros & Desencontros”, da Sophia Coppola.

Se a vida dói, drinque caubói, renovo aqui o meu velho mantra.

Solitários de todo o mundo, uni-vos.

Não vos deixai abater pelo massacre do verdadeiro ou falso romantismo deste 12 de junho.

O massacre é tanto que alguns solitários se trancam dentro de suas casas diante da ditadura do fofismo. Como se o mundo fosse minimamente de pelúcia.

Calma, não vos deixai sucumbir de véspera.

É só mais uma noite de motéis e restaurantes lotados. É só mais chance para os arrastões na capital gastronômica do país.

A solidão não cai no conto do amorzinho-gourmet.

Sim, apelo. Tudo serve de filosofia da consolação nessa hora.

A solidão não carece de vaga no estacionamento, a solidão não cai no conto da noite-roubada, a solidão se contenta com uma pizza em domicílio. Com muito alho, óbvio, para espantar as más companhias que rondam a área no desespero e na carência da data.

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No tempo do ficar, quase nada fica

Por xicosa
09/06/13 12:56

Sob o massacre publicitário do dia dos pombinhos, retomo uma crônica de costumes a respeito da frouxidão dos laços de ternura e da falta de pronunciamento dos rapazes:

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura clandestinidade?

“Qual é a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela.

E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.

No tempo do amor líquido, para lembrar o título do livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico, o cara nervoso, se tremendo como vara verde: “Você me aceita em namoro?”

O tempo passava e vinha mais um pedido clássico e igualmente tenso. O pedido de noivado. Mais adiante, a hora fatal, mais uma tremelica do jovem mancebo: “Você me aceita em casamento?”

E pedir a mão aos pais, meu Deus, haja nervosismo. Melhor tomar um conhaque na esquina para encorajar-me.

São raros, raríssimos hoje esses nobres pedidos. Em alguns setores mais modernos e urbanos, digamos assim, talvez nem existam mais.

O amor e as suas mudanças.

A maioria dos homens, além de não pedir em namoro, além de não pegar no tranco, ainda corre em desespero diante de uma sugestão ou proposta de casamento feita pela moça.

O capítulo bom da história é que agora as mulheres também partem para o ataque e, diante de uns temerosos ou canhados sujeitos, escancaram suas vontades, suas paixões, e fazem suas apostas, seus pedidos, põem na mesa os seus desejos e as cartas de intenções.

Voltando ao mundo dos homens, lembro que era bem bacana esse suspense masculino do “Você quer namorar comigo?”.

Havia sempre o medo do fora. Um sim, mesmo o mais previsível, era uma festa.

“Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Peguetes do mundo, uni-vos.

Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Tanto quanto um buquê de flores, mais do que uma carta ou um e-mail de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o gloss e a força dos membros inferiores.

“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente.

Eis a senha.

Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marqueteiro.

O cinema, além da maior diversão – como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro – é a maior bandeira.

Nada mais simbólico e romântico.

Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas.

Não carecem de uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra.

Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. “Nada mais os unia do que o silêncio”, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, poeta dos melhores e mais líricos.

Palavras, palavras, palavras…

Silêncio, silêncio, silêncio…

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.

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O ´xêro´ na educação sentimental do homem

Por xicosa
06/06/13 13:24

Pitrigrilli, meu cronista italiano cafona predileto, dizia que o amor obedece à seguinte regra de elevação e declínio:

Amar é um beijo, dois beijos, três beijos, quatro beijos, cinco beijos… Quatro beijos, três beijos, dois beijos, um beijo…

Definição simples que cabe num twitter.

O cheiro, não. Vai além do ideal romântico. Pode ser praticado a granel, à paisana, no casamento oficial, no amor clandestino ou no amor que fica.

Em busca do Cashmere Bouquet perdido na nuca naquela moça da Adega Pérola.

O cheiro é aquele gesto mais animal e infinito, a cafungada no pescoço da amada, a busca por todos os perfumes de Gardênia, a pegada perfeita, o vampirismo sem sangue.

O cheiro ou  simplesmente xêro, como se diz na lexicografia caseira e no fonema norte-nordestino.

Sempre preocupado com esses moços, pobres moços, suplico, em mais este capítulo de educação sentimental, que as mães ou orientadoras repassem tal prática aos meninos.

Como faz uma amiga, a Flavia Guerra, Itaquera, SP, que educa um sobrinho para não perder o encanto do cheiro. Para ser um bom homem, diz ela, um homem de futuro. Toda semana ensaia com o guri o básico instinto da cafungada.

O cheiro é mais importante até mesmo do que o beijo na boca, essa obviedade que se aprende em qualquer manual de primeiros socorros.

Cheirar, não. Cheirar é sagrado. No pescoço, de preferência, no cangote, o melhor pedaço do mapa erógeno.

Aspirar até o pó das almas que escorre feito ouro em Serra Pelada no gogó das das raparigas.

Cheirar a mulher amada na melhor das horas, segundo Bandeira: às quatro da tarde, quando ela está lindamente dividida entre o perfume das manhãs e os odores naturais da existência. Viver não é limpinho nem tem proteção 24 horas.

Sugar ao natural, sugar seja como for, sugar, sugar, baby, sugar  o cheiro do sabonete barato e genérico, alfazemas, leite de rosas ou um bem-tratado pescocinho-L´Occitanne.

Às vezes nem carece encostar o nariz totalmente, como recomenda o meu amigo russo Gogol.

Basta passar por perto.

Como no metrô ou no ônibus.

No corredor da repartição, na firma, na fila do banheiro, no bar, no basfond, onde o zangão sentir o bafo de uma alma de flores.

Fungar…

Eis o verbo.

Gastar todos os sentidos num só olfato, como um Marcel Proust que, em vez de mimimis e arrodeios, vai ao caroço do abacate, afinal de contas, como dizia o Eduardo Cac, para curar um amor platônico só mesmo uma trepada homérica.

Em vez de afrescalhadas madaleines,  as vias de fato.

Em vez de cheirar a rolha, como um afetado homem-bouquet que prova um vinho metido, degustar pescoços e ventres.

No cheiro somos quase vampiros, mas sem caninos, só a fungada.

O cheiro é a memória afetiva, o faro a favor do encontro no mapa das cidades depois de perdições cartográficas.

Como nunca precisamos reabilitar o cheiro, xêro, com toda a força desse mundo, nada como um cangote cheiroso num baile ou numa pista de dança. Cabelos presos ou soltos.

É pela fungada que se mede a inspiração de um homem.

Sem se falar naquelas madeixas molhadas no elevador ou naquele Neutrox de fim de tarde na fila da padaria do bairro.

Debaixo do black-power ou dos caracóis dos seus cabelos pré-chapinha muita história pra contar, sempre.

O xêro é o verdadeiro proustianismo do macho-jurubeba.

O resto é beijo de novela.

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Carta aberta a Michael Douglas

Por xicosa
04/06/13 19:13

Prezado Michael, meu grande tarado confesso, venho por meio desta confessar um susto, manifestar um alívio e discorrer sobre uma certa pedagogia para esses moços, pobres moços que esquecem dos agrados orais às meninas.

Sim, amigo, um baita susto. Ao atribuir um câncer na tua garganta à devoção pelo sexo oral nas moças, deixaste muitos chegados por ai reflexivos e inquietos. O Paiva, por exemplo, lembras do Paiva?, me disse que não via mais sentido na existência.

Espanto geral nos praticantes contumazes.

Agora o teu porta-voz nos diz aqui: não foi bem assim o caso etc. Ufa. É mais complexo. O cigarro e a bebida, outros dois vícios que possuis, podem ter ajudado na doença. Enfim, não vamos entrar nos detalhes do diagnóstico –é o tipo do assunto que tratado por um cronista leigo pode gerar apenas um inútil pânico.

O bom é que estás curado e disposto para o que mais gostas na vida. O bom é saber que, como todos nós que amamos as mulheres, arriscarias tudo de novo.

Ora, para ter uma doença grave basta estar vivo. Tudo é arriscado, viver é perigoso, como soprou o escriba das Geraes.

Uma vez que tocamos a língua no assunto, caro Michael, sabias que as mulheres nunca se queixaram tanto da falta da oralidade por parte dos homens?

É grave a crise.

Especialmente nas novas gerações. Em um mundo mais asséptico, limpinho, muitos jovens só querem receber sexo oral. Egoístas. Não rezam o mínimo pela cartilha franciscana do “é dando que se recebe”.

Os homens estão chegando aos 20 e poucos sem saber dizer sequer bom dia a uma mulher, como já reclamava o tio Nelson.

Tem marmanjo beirando os 30 indiferente a um bom agrado oral às moças. Elas merecem, seus preguiçosos.

E não venham nos dizer, viejo Douglas, que seja por uma questão médica ou preventiva. É nojinho mesmo.

Nesse cenário, só a pedagogia da manga salva, meu prezado. Foi o que ouvi muito dos mais velhos ainda na minha juventude rural.

Te conto, repito aqui conselho já repassado neste blog, caríssimo tarado Michael:

Os homens maduros, sobretudo nas cidades e vilarejos, aconselhavam os mancebos a chupar a fruta da mangueira como educação sentimental para o futuro macho que desabrochava.

Além de saudável -a manga é milagrosa para a saúde-, o exercício evitaria queixas femininas como as que hoje reverberam nas nossas atentas oiças.

Entenda, meu caro rapaz, o ato de chupar manga como uma bela entrega ao lambuzamento e à doce sujeira de guardar o melhor dos cheiros na barba, mesmo que juvenil, indie e rala.

Daí a pedagogia da manga, meu velho e bom Michael Douglas. Deveria fazer parte do currículo básico, como o método Paulo Freire.

Aqui me despeço, caro amigo, com o apreço e a consideração de sempre, X.S.

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Futebol como a nova exclusão social da hora

Por xicosa
03/06/13 00:20

Vivo fosse e estivesse aqui ao meu lado nesta tarde domingueira do novo Maracanã, Nelson Rodrigues, o cronista esportivo, esqueceria o jogo, como de costume, e cutucaria a todos nós, observando apenas a torcida:

“Não há um só desdentado, só gente com saúde dentária de artista de cinema”.

Óbvio que a saúde bucal do brasileiro melhorou um pouco desde a morte do tio Nelson, em 1980. A visão rodriguiana, no entanto, está valendo, certíssima, justíssima -só a turma bacana teve acesso ao Brasil 2×2 Inglaterra.

N.R. usou essa imagem inicialmente para falar da histórica “passeata dos cem mil”, em 1968, um dos maiores protestos contra a ditadura militar, aqui no Rio. Depois aplicou a mesma em variadas situações e entrevistas. Tio Nelson era um escritor de geniais e repetidíssimos mantras.

Voltemos aqui ao Maraca, ô psit.

Só gente com saúde dentária de artista de cinema, meu caro amigo Halley (Bó) Maroja, o melhor odontólogo de Caruaru, portanto de Pernambuco, logicamente do Brasil, ora pois.

Pior é saber que a política sorridente de exclusão não é um pecado exclusivo da praça esportiva carioca. É e será a lógica excludente não só do MaracanaX –o “x” fica por conta da administração do Eike Batista.

É o esquema Fifa que vale para todas as novas arenas: Pernambuco, Mineirão, Castelão, Fonte Nova, Beira Rio, Brasília, Itaquerão etc.

Do velho estádio Mário Filho, homenagem ao irmão e guru do supracitado e amado Nelson Rodrigues,  o Maracanax não tem nada. Minto. Reapareceu aqui hoje, lindamente, a bandinha dos Fuzileiros Navais executando o hino do lábaro estrelado. Gostei. Foi bonito. Palmas.

O estádio, digo, a arena, é uma beleza, claro que uma beleza na nossa visão colonizada do que convencionamos a imitar os europeus em matéria de futebol e arquitetura etc. Coisa de primeiro mundo, como o Brasil aprendeu a dizer na Era Collor.

Por que imitar os projetos de arenas, ops, estádios de Itália e Alemanha, por exemplo? O que acham meus leitores arquitetos, é bonito?

Só voltando mesmo ao velho N.R.: O subdesenvolvimento não se improvisa. É fruto de séculos”.

Maracanã, adeus.

Se fosse só o ingresso a mais de 100 por hora, a 500…

Pense no cachorro quente, um bicho frio da peste que não chega aos pés do “comeu-morreu” da Pracinha do Diário, no Recife, a quase dez mirréis. Sequer alcança a excelência do hot-dog da Cascatinha, na rua 7, no mesmo Hellcife.

Pense num mate, como reclamavam os cariocas que amam essa bebida, na mesma pegada da carestia da moléstia. Água, então, caro Monsueto, só na hora da sede extrema amorosa, só pra agradar a donzela… a fonte secou!

Cadê o ladrão que não vê uma polícia dessas!?

Existo, logo dialogo aqui com o amigo Marcus Galiña. Tudo que o governo federal conseguiu incluir de Lula para cá foi excluído com a política das Arenas. Quem sempre frequentou estádios, adeus, está fora doravante. O futebol como simbólico. Tem algo mais representativo para o brasileiro?

Perdeu, nova classe C, ganhou playboy. Nas arenas a moral é essa. Se liga gerência simbólica do governo!

Repito: levando em conta que o futebol representa o que há de mais popular na cultura brasileira… Puta derrota da massa!

Será? É apenas um cutucão que recebi do tio Nelson, nesta tarde no ex-Maraca. Começa agora, com vocês, damas & cavalheiros, a verdadeira mesa redonda ai nos comentários.

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