Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

Hóstia gourmet e o pecado da vaidade

Por xicosa
20/07/13 11:46

Quando você acha que já viu tudo em matéria de frescura, meu xará Francisco, eis que aparece uma modinha para mostrar que o mundo está mais perdido do que você imagina: a onda no Rio da jornada católica é a hóstia gourmet.

Falo sério. Leia a notícia aqui.

Se Deus está relax, tudo está permitido, diria um fã do Pondé.

Se a Igreja Católica tenta conter o estrago feito pelos neo-pentecostais no Brasil, vale toda a modernidade, óbvio, como a confissão online liberada pelo papa Francisco.

Mas o que interessa aqui é a hóstia gourmet. Uma onda esse invento carioca. Perfeito, por exemplo, para livrar os metrossexuais do pecado capital da vaidade, amém.

Aguarde nos cardápios enganadores do eixo Rio/SP: hóstia gourmet sabor ovas de esturjão. Como entrada, sim. Por aquele precinho camarada que sai mais salgado do que ser vítima de um arrastão paulistano.

O macho-jurubeba, porém, resiste, como os destemidos habitantes da aldeia gaulesa.

Ecumênico no último, o sr.jurubeba, que vem a ser o avesso do metrossexual, aceitaria, no máximo, uma lasca de rapadura (dos engenhos de Barbalha) como alimento consagrado pós-confessionário.

Ou tapioca com nata da estação ferroviária do Crato. Calabresa na cachaça também cai bem a um incurável cristão.

Meu destino é pecar, tio Nelson.

Hóstia gourmet. Era só o que faltava.

Como diz o colega Josué Nogueira, do Recife, já já veremos modelitos de batina, ao modo fashion, nos desfiles.

Pelo pouco que conheço de moda, sinto que o Alexandre Herchcovitch, estilista de SP, viajaria na confecção de belas peças religiosas, inclusive com o universo medieval da Igreja.

Bom sábado a todos. Fico por aqui, na dúvida entre a Maria Gorda e o Gigabyte, dois cabarés de Garanhuns, onde me encontro.

Como dizia Santo Agostinho, “Deus, livrai-me das tentações, mas não hoje. “

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Helenas em pânico no Leblon

Por xicosa
18/07/13 15:15

 

É como se a baderna dos manifestantes de rua invadisse uma cena de uma novela de Manoel Carlos, o Balzac do Leblon.

Helenas em pânico.

As elegantes Helenas, como o novelista batiza seus personagens principais, não dormiram em paz de ontem para hoje.

O rolê no bairro não tem sido fácil. O jantar no Antiquarius, o arroz de pato mais caro do mundo, virou um inferno, como testemunhou este bípede cronista aquático e gramático.

A ilha do luxo da zona sul carioca, cujo metro quadrado fica na faixa de R$ 21,5 mil , é o alvo preferencial das manifestações de rua. É lá que mora o seu Cabral.gov., motivo de acampamentos, vigílias e “vândalos” –como classifica a tevê.

Seu Cabral agora atribui os protestos a ações orquestradas pela oposição –leia-se Garotinho (PR) e Freixo (PSOL). Como se meninada que está nas ruas fosse obediente a ordens de políticos.

O grupo anarquista Black Bloc não dá mole.  Na mira, agências bancárias. O que é quebrar um banco em comparação a fundar um banco? , indaga a rapaziada. A base da bomba poética do Black Bloc é Bertolt Brecht ( 1898-1956).

Na frase original, perguntava o pensador e dramaturgo alemão: “o que é roubar um banco diante de fundar um banco?”

A turma da baderna que faz tremer lindas Helenas do Leblon parece reeditar, na pedagogia da pedrada,  a filosofia brechtiana.

É, seu Cabral, a leitura é mais complexa.

Sim, infiltrados saquearam lojas, minhas queridas Helenas.  Sim, isso foi feio, Heleninhas.

Como desde as manifestações de junho, a onda de ressaca ideológica no Leblon era composta por todo tipo de gente  -a bandeira das ruas é uma coloridíssima colcha de retalhos. Desordem em progresso.

Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Baderna: linda confusão com nome de mulher

Por xicosa
17/07/13 02:56

O papa xará está chegando ao Brasil. As “vadias” do Rio prometem escandalosa marcha contra a vossa santidade etc. Será? Tomara. Aprecio uma baderna. Só crescemos na baderna. Desde que os índios caetés de Alagoas comeram vivo o Bispo Sardinha até hoje.

A antropofagia inventou a ideia de Brasil. No tempo em que comer gente ainda não era essa sacanagem toda que bem conhecemos.

Baderna, teu nome é mulher.

Donde me lembro da origem deste substantivo que também pode ser adjetivado de acordo com as intenções de classe, cor, origem ou credo: baderna. É o novo caiowáa como sobrenome nas redes sociais depois do incêndio junino nas ruas. Muita gente incorporou a palavra ao batismo.

E você sabe de onde veio esta baderna toda?

É sempre bom relembrar que era graça de mulher, evidentemente. Tudo começou com Marietta. A nega veio da Itália e aqui fez história e barulho. Virou coleção-agito da editora Conrad (SP) na sua melhor fase. Que bela editora foi esta jovem senhora!

A coleção de livros “Baderna” que, aliás, revela de onde veio tudo isso aí chamado protesto de rua que a gente sabe que é lindo mas é tão novo quanto o mais velho sindicato do parque industrial inglês ou de São Paulo. Mais velho inclusive do que os partidos políticos.

E chega de bagunçar o coreto, velho cronista de costumes rococós, vamos ao que interessa. Agora uma lista, revista e ampliada, de dez mulheres porretas que mudaram o Brasil. O pretexto para a relembrança, óbvio, é a senhorita Baderna como cabeça de chapa de uma velhíssima revolta:

– Marietta Baderna – Tão linda e disposta que o eu sobrenome deu origem à palavra baderna e virou sinônimo de agitação e vadiagem. Era uma bailarina italiana que reinou no Rio por volta de 1850.

– Bárbara de Alencar – Primeira presa política do Brasil. A revolucionária do Crato se engajou, com os filhos, que estudavam no Recife, na Revolução pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador.

-Patrícia Galvão, Pagu – Já aos 15 anos, nos anos 20, a jornalista e escritora paulista mostrou ao que veio. Escrevia textos comuno-anarquistas e andava na contramão das modinhas de fêmea.

– Dadá – A entrada de mulheres no bando de Lampião já foi uma quebradeira geral nos tabus. A macharada temia que o grupo ficasse fraco e vulnerável. Muito pelo contrário. Sérgia, vulgo Dadá, mulher de Corisco, foi a única que pegou em armas e revelou-se mais corajosa que a maioria dos homens.

– Luz Del Fuego- Linda como todas as mulheres da terra de Roberto Carlos e Sergio Sampaio, a artista Dora Vivacqua honrou o pseudônimo. Ergueu a bandeira do naturismo –todo mundo nu!, bradava em todos os lugares- e zelou pela causa das vadias até a morte, em 1967.

– Leila Diniz – Bagunçar o coreto era com ela. O Rio dos 60 e 70 que nos diga. Toda mulher é assim meio Leila Diniz, como canta a Rita Lee? –outra que já sacudiu os costumes.

Clarice Lispector – Carece falar dessa ucraniana? Melhor a gente abrir os seus livros mais uma vez e pronto.

– Rê Bordosa – A imortal personagem de Angeli que saiu das páginas da “Chiclete com Banana”, na SP dos anos 1980, para entrar na história das libertárias da porralouquice.

-Margarida Maria Alves – No comando do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, no interior da Paraíba, enfrentou o que muito “cabra macho” não tinha coragem. Brutalmente assassinada pelos coronéis do campo em 1983, aos 50 anos.

Dercy Gonçalves – Pelo conjunto de uma obra de escrachos. Um poema sujo de saias. Fluminense da cidade de Santa Maria Madalena, morreu no Rio, em 2008, com 103 anos.

Hilda Hilst – Outra moça do interior nada comportada. Nasceu em Jaú (SP), em 1930, e morreu em Campinas, em 2004. Gênia da escrita. Na ficção, na poesia, na crônica e no teatro. Todo homem tem que pagar pau para ela, como se diz no City Bar campineiro.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Dia do Homem é coisa séria

Por xicosa
15/07/13 13:03

Hoje é dia nacional do Homem -a comemoração internacional é 19 de novembro. Não, não é uma besteira machista, pelo menos na sua origem. Óbvio que o comércio tenta sequestrar a data e confiná-la no shopping center, com a ajuda das redes sociais.

As mesmas redes que levam aos protestos nas ruas levam a estas arapucas e distorções. O face é um moleque de muitas caras.

O dia do Homem foi criado para chamar atenção sobre a saúde masculina. Fato gravíssimo: o macho resiste aos cuidados médicos como um gato evita a água. A cada três mortes de adultos, duas são masculinas.

Morte matada ou morte morrida.

Na minha família mesmo, cabras dos sertões do Pajeú e do Cariri, os felas só costumam ir ao médico arrastados pelas mulheres ou na hora da morte. No máximo se submetem a uma colher de Emulsão de Scott quando meninos.

Morreu de quê? Morreu do coração é o diagnóstico genérico que temos recebido até hoje.

O homem vai à guerra, mas teme um simples dedo de prosa com o urologista. E haja morte besta de câncer de próstata no Brasil, um dos recordistas mundiais. Na tentativa de encorajar os meus semelhantes, deixo aí a narrativa da minha primeira experiência com o toque:

-Senhor Francisco?!

-Sim…

Chegou a hora da verdade. As rotas de fuga estão obstruídas. Não há escapatória. Naquele instante, o primeiro homem de gerações e mais gerações do ramo sertanejo dos Sá Menezes seria submetido ao labiríntico mundo da procto-investigação.

Que fazer?, resigno-me, leninista rendido ao mais dialético dos toques da humanidade.

Ao adentrar o recinto, lembrei logo da infame pilhéria. “O médico introduz o dedo no respeitável cidadão e pergunta: ‘Sentes alguma coisa?’. Ao que o paciente sussurra: “Sinto que te amo.”

Recordei também de um amigo, rapaz de Serra Talhada, terra de Lampião, que era tão macho, mas tão macho de um jeito que usava dois sabonetes no seu banho: um Phebo para a parte dianteira e um Lux de Luxo exclusivo da traseira. “Esse contato é perigosíssimo, não se deve misturar as vocações”, dizia, no banheiro coletivo da Casa do Estudante da UFPE.

Era chegada a hora. Ao sacrifício, pois. Segura na mão de Deus e vai! O simpático doutor tenta disfarçar suas feições mal-assombradas à Anthony Hopkins. Foco nas mãos do monstro. Dedos médios, mas habilidosos como um manipulador de teatro de bonecos.

“Que macho sou eu, ora bolas!”, penso, para me encorajar. O médico ordena que eu deite. Um amigo da firma me contou que a primeira vez dele havia sido na clássica posição “de ladinho”. A minha foi, napoleonicamente falando, de bruços mesmo.

No meu retrovisor imaginário, vejo o dublê de Hopkins colocar uma espécie de camisinha de dedo. Depois, a vaselina, o lubrificante, sei lá. E não foi com o mindinho, muito menos com o seu vizinho, coube o serviço ao matreiro fura-bolo, como no folguedo infantil.

Mas tudo dentro do maior respeito, uma escaneada tecnicamente irreparável. Como diria o bardo lusitano, apenas uma rápida bulida no meu “eu profundo e outros eus”.

Seja homem, cabra, treine em casa, com a namorada. Pode até ser viciante. No mais, é seguir o conselho do filósofo Emerson, que em velho anúncio do uísque Johnnie Walker recomendava: “Faça tudo aquilo que você mais teme”.

Sinceramente, o que custa um dedinho de prosa com o seu urologista. Cuide-se, homem!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A dor e a delícia de morar sozinho

Por xicosa
14/07/13 21:55

E por falar em solidão, agora na ventania domingueira da rua da Aurora, Hellcife, lembro que existe uma estatística oficial do IBGE: somos quase 7 milhões de criaturas que moram sozinhas em alguma grande cidade do Brasil.

Não quer dizer que não tenham seus cachos, seus namoros, seus rolinhos primavera. Alguns raros até imitam o Jean-Paul Sarte e a Simone de Beauvoir: casados em apês separados.

Na frieza do relatório do IBGE –mais frio que a solidão do chicabom do tio Nelson-, a coisa pode ficar menos dolorosa: somos apenas habitantes de unidades domésticas unipessoais, UDU´s.

Chique no último, não?

“E, aí, na minha ou na sua unidade doméstica unipessoal?”, perguntaria o conquistador politicamente correto.

Somos quase 7 milhões de solitários. E como sempre repito aqui mesmo: é o domingo que pega. Dói no osso como uma bala alojada na perna em noites de inverno.

O domingo humilha, mas voltemos à frieza das estatísticas:

O contingente de pessoas morando sozinhas subiu, nos últimos dez anos, 8,6% para 12,1% da população.

Reparo nas estatísticas e me sobe logo ao nariz o cheiro do miojo do desprezo.

Mas isso não significa, amigo(a), obrigatoriamente o que sugerem os números.

Significa também independência.  Principalmente daquele povo que vive, qual um Dr. Smith no velho seriado de ficção científica, reivindicando o seu “espaço”.

Significa uma certa síndrome de Greta Garbo (foto), a deusa que declarou à multidão de pretendentes o clássico “i want to be alone”.

Diz muito também da solidão da velhice. O ex país do futuro está virando uma pátria de bengalas.

Diz muita coisa. Conheço centenas de pessoas que não trocariam as suas confortáveis  UDU´s por acasalamento algum.

Tem todo um luxo e é sonho de muita gente morar solitariamente.

Tem tudo isso, é bom, é ruim, como tudo na vida.

É bom ter sua liberdade, inclusive para curtir as mais inerciais das ressacas. É, meu velho, depois dos 40 a ressaca não é mais apenas uma consequência natural da farra. Depois dos 40 a ressaca é uma dengue existencialista.

Somente na cidade do Rio de Janeiro, 15% vivem na solidão do próprio eco. Incluindo, óbvio, a mais luxuosa de todas as solidões, a solidão do sr. João Gilberto, que vive de cortinas sempre fechadas no Leblon.

Nem os entregadores do bife do restaurante Degrau, onde pede comida todo dia, avistam o gênio baiano de Juazeiro. A quentinha do seu João é deixada elegantemente ao pé da porta.

O Rio da bossa só perde para Porto Alegre, com 21% de tri-solitários -número próximo à média de grandes capitais europeias.

A solidão amazônica é a menor do país: apenas 8%. Os maranhenses, com 8,1%, também não querem saber de silêncio dentro de casa. Se o cara conhece “A Intrusa”, personagem do folhetim homônimo de Bruno Azevêdo, avimaria, aí é que o lar doce lar ganha mais erotismo e graça da ilha de São Luís.

E você, amigo, aprecia a arte de morar sozinho?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A solidão da mulher que se enfeita para sonhar

Por xicosa
12/07/13 01:32

Havia algo de Catherine Deneuve no ar

Só o reflexo azulado da tevê por companhia. Peraí, agora vejo também uma redinha de proteção contra queda de animais, um pequeno cão, talvez um gato –ainda não consegui vê-los nesta minha chegada a Copacabana.

Lembro, de cara, do verso do Drummond, ilustre morador do bairro:

“Nesta cidade do Rio, /de dois milhões de habitantes/, estou sozinho no quarto, /estou sozinho na América.”

Agora vejo seu rosto. Ela se ajeita no espelho, talvez para dormir, quem sabe já tomou algum necessário tarja preta. Vaidosa, ela capricha no penteado.

Havia uma certa viuvez no primeiro momento que a avistei na janela. Luto algum, porém, encobria aquela dama, repensei. Uma resignada, refleti, apelando ao mais cristão dos verbos.

Dias antes, recordo, havia visto a mesma mulher tomando uma Leão Veloso, a sopa dos sete mares, uma das maiores invenções da humanidade, no bar e restaurante Príncipe de Mônaco.

Nada mais solitário do que uma sopa na esquina de casa. Uma taça de vinho verde e duas ou três palavras com os garçons, no conforto de antiga frequentadora do estabelecimento.

Larguei o jogo na televisão para vê-la. Uma dama linda,  uma sessentona conservada, que me perdoem por expressão tão antiga. Talvez nem isso.  Dei-lhe uns cinquenta e pouco, apesar dos desmentidos dos garçons cearenses, esses pestes tiradores de onda de toda a humanidade.

É a mesma que miro agora no prédio do outro lado da rua. Um charme de Catherine Deneuve a cada gesto, classuda, a solidão mais elegante da América.

Prepara-se para dormir. Ela sabe que os sonhos são restos de filmes não-aproveitados pelos cineastas mortos. Ela sonha Buñuel, quem sabe.

Se teve bons ou maus maridos, pouco importa.

Ela sabe, nada nostálgica com o Rio antigo, que a vida é tango, jamais bossa-nova.

A bela solidão da mulher que se enfeita para os sonhos.

Há uma impressionante dignidade a cada movimento dela no apartamento de uns 200 metros quadrados. Às 00:11 desta sexta, ela ri irônica para o espelho, volta, fecha a cortina, talvez durma mais tranquila do que todas as mulheres mal-acompanhadas da América.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O mais lindo chamado de uma mulher

Por xicosa
10/07/13 15:52

 

Perdão por ser tão direto, logo eu que curto uns arrodeios no verbo, mas a hora mais comovente de um homem é quando a moça, enredada nas preliminares e nos dengos orais, nos puxa e ordena: “Me come!”

Hora sagrada, pedido que justifica estar no mundo, um pára-tudo na vida besta, um sentido para a dramaturgia terrena, uma viagem sideral com  Barbarella, uma pausa que move o planeta, rotação e translação, formigas nas nervuras das folhas das folhas da relva.

“Me come!”, ela diz, ela prescreve o gozo, o ossinho, digo, o ilíaco perfura nuvens do arranha-céus na janela, você é feito homem de novo na hora, Adão reloaded, costela bíblica no bafo.

O milagre, o projeto levanta-te Lázaro, você que se julgava morto depois de uma antologia de ressacas e invertidas do varejão Ceasa da existência.

O “me come” é o fiat lux, o Gênesis –tanto o bíblico quanto o do Crumb. O “me come” é o chamado capaz de ressuscitar um zumbi, um morto-vivo, um fantasma de homem.

O “me come” é sinfonia, é Frank Zappa com gritos & sussurros, é música ao longe, é onomatopeia do pre-gozo de Serge Gainsbourg e Jane Birkin…

“Me come” que sou tua, mesmo que por um momento, e vamos fazer dessa noite a noite mais linda do mundo, como recomenda o Odair, o gênio do cancioneiro romântico.

É o decifra-me ou te devoro, é o mantra mais sagrado até mesmo para um inapetente faquir de mulheres, é o incêndio da hora, todos los fuegos, o fogo, como no livro do homenzarrão Cortázar que tanto excita a falsa-magra do Catete.

Perdão por ir tão ao ponto, caro leitor mais correto, mas o “me come”, seja homem, é o chamado da selva, a psicanálise selvagem depois de línguas e dedos, o grande cartaz da passeata, a redenção, você sai às ruas feliz com o cheiro dela na barba, você sai chutando as tampinhas da realidade para dentro dos bueiros, você mira com cara de safado a morena-Jolie de Botafogo, você desce na estação Cantagalo -ai de mim, Copacabana!-, ainda com aquele “me come” a encobrir o barulho das britadeiras da cidade maquiada da beleza e do caos.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Tipos de homens e o grau de roubada

Por xicosa
08/07/13 20:46

 

Por sugestão de generosas Lolas da plateia do meu bate-papo na “Casa Folha”, durante a Flip, reúno todos tipos de homens de alta periculosidade -e outros nem tanto- que foram citados aqui nestes últimos anos de crônica de costumes.

O grau de roubada atribuído varia de cinco a dez. Por que já começa em cinco? Ah, de certa forma, seja de qual tipo for, o homem já nasce com um alto poder de canastrice.

Homem-Ossanha – É o grande e majoritário representante do nosso tempo tão marcado por machos vacilões. Trata-se daquela cara que repete o comportamento da música “Canto de Ossanha”, como no samba de Vinícius de Moraes e Baden Powell: “O homem que diz vou/ Não vai!” O cara que provoca, assanha a moça e sempre cai fora com uma desculpa furada de última hora. Grau de perigo: 9,5.

Homem-tupperware – O sujeito que a mulher moderna guarda para comer no dia seguinte. Tipo noturno, boêmio, ele exagera na dose e normalmente está sem condições técnicas para o sexo quando chega em casa. Sábia, a moça que o conduziu espera a recuperação do cara para então abatê-lo lindamente. Não representa grande risco: 6,5.

Homem-gourmet – A cerveja dele é gourmet,  o café é gourmet, até a água é gourmet. Se tudo é gourmet, perdão pela grosseria, mas nada de te comer. Corra, Lola, corra. Grau: 9.

Homem-ocupação – É o tipo que sempre tem uma causa. Ótimo. O mundo carece destes homens de boa vontade. O problema é que de tanto salvar o mundo, ele esquece justamente de você. Desocupa a área, Lola, desocupa. Risco moderado: 7.

Homem de predinho antigo – Até este macho-jurubeba que vos fala já morou em um desses endereços durante o passado suspeito. Logo eu que dizia que todo homem que habita um predinho é, para dizer o mínimo, um metrossexual enrustido.

O pior deste tipo de homem nem é morar em tal lugar. O que mais dói é quando ele pronuncia, como toda a afetação desse mundo, que mora num “predinho-antigo-charmoso”.

O cenário do homem de predinho antigo é o seguinte: você entra, resistente leitora, e avista logo umas revistas chiques estrangeiras espalhadas pela sala, tipo “ID”, “Wallpaper” etc.

O cara manja de decoração e entende de iluminação indireta. É cada luminária de design que só vendo! Possui também cadeiras ou poltroninhas de grife, aqueles estranhos móveis com nome de gente. Grau: 8.

Homem-hortinha – Aquele mancebo que, ao receber as moças elegantemente para um jantar, usa o manjericão cultivado na própria hortinha que mantém no quintal ou na área de serviço.

Cultivar o próprio manjericão não é exatamente o defeito do rapaz. O problema é que ele passa duas horas a discorrer sobre o cultivo da hortinha. Uma amiga, coitada, conheceu um destes exemplares que cultivava até a própria minhoca usado como “fator adubante” da própria hortinha.  Corra, Lola, avoe, mina! Risco: 8,5.

Homem-bouquet – Aquele macho que entende de vinhos finos, abre a garrafa cheio de drama e nove-horas, cheira a rolha, balança na taça, sente o bouquet e curte o amadeirado. Gostar de vinho bom, velho Baco, não é um delito. Pecado mesmo é arrotar esse conhecimento por horas nas oiças da moça. Dispare, Lola, dispare enquanto é tempo. Grau: 9.

Macho jurubeba – O homem de raiz, roots mesmo, aquele que não admite frescuras, completamente oposto do metrossexual. Com o jurubeba não tem essa de cheirar a rolha. Brabo, ele protesta contra tudo isso que está aí em matéria de masculinidade. Risco: 7.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O PF da literatura em Paraty

Por xicosa
06/07/13 12:34

Capa do jornal "Cândido" pôs o gênero na roda e na excruzilhadaPara você que está na Flip: faço bate-papo neste sabado, 16h30, com mediação de André Barcinski, colega de blog aqui ao lado. A conversa é na Casa da Folha, rua da Matriz s/n, Paraty. É de graça. O tema é a arte da crônica.

Deixo aí uma receita frugal deste gênero que é o PF, arroz, feijão e bife da literatura. Com um ovo por cima, evidentemente. Só para aquecer o debate:

Algumas saem fáceis, menina, como aquelas de Rubem Braga, como uma polaroid, uma pose digital, olha o passarinho, diga xis, um sabiá teimando contra o barulho da metrópole, fáceis como beijos roubados de mulheres difíceis, na dança, na pista, uma moleza, como empurrar bêbado em ladeira, como Vinícius no elogio de uma saboneteira, como descer para um café ou uma cerveja aqui na esquina da Augusta, como quem costura para fora, mesmo sabendo quanto custa a mais-valia da musa da encomenda, mesmo sabendo que na vida não tem almoço de graça, muito menos sobremesa, mesmo sabendo que a vida não é café pequeno, mesmo sabendo que no fundo da xícara, na borra mais árabe, o desenho do futuro, Etelvina, é obscuro, o jogo do bicho, Etelvina,  ainda não permite o teu luxo.

Algumas, menina, são crônicas de britadeiras, saem na marra, à força, furando o asfalto para tirar uma florzinha de nada, a peleja do escriba com o lirismo que não chega nunca, as chagas abertas, croniquinha raquítica, só o fiapo de narrativa, sem sustança, sem tutano, coisinha sem graça, metalingüística, a crônica sobre a crônica falta de assunto.

Algumas vêem ao mundo para confundir a audiência, são crônicas-travestis, arte dos cronistas transgêneros… Pois é, menina, a gente não sabe se é um conto, uma rápida elegia expressionista, um poema em prosa, sabe-se lá, menina, mas mesmo não sendo nada já nasceram crônicas.

Algumas, não têm jeito, eram apenas notícias, que o dedógrafo teimou em decepar as aspas, minha menina, e enfeitar o naturalismo como pôde, coitado.

Algumas, menina, são para ninar as moças nas sestas, como as de Antônio Maria, sabia?

Algumas são de costumes, e até ficam como registros históricos, crônicas de épocas, já ouviu falar em João do Rio?

Algumas já nasceram crônicas de rua, como a grande arte de chutar tampinhas, como os sem-teto e malacos, como os bambas das sinucas das antigas, aí já estamos em João Antônio, manja?

Algumas são do amor louco, menina, como aquelas do velho Charles, o safado catando milho na Remington, menina, com aquela outra menina na praia, gaivotas quase a bicar-lhe os peitos, como no cinema.

Algumas, minha adorável criatura, minha menina sem nome, são como aquelas, lembra, quando me conheceste, lembra, quando pela primeira vez lindamente me deste.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Flip: Maria Teclado é a Maria Chuteira dos escritores

Por xicosa
04/07/13 22:26

Há quem diga que escritor não é uma raça muito chegada em sexo.

Sempre prefere a busca pelo parágrafo perfeito, a metáfora dos sonhos ou um simples bolinho francês que o fará lembrar que ele gosta mesmo é do colo da mamãe -oui, si, sim, ele mesmo, o sacana enrolador chamado Marcel Proust, que levaria boas bifas e palmatórias corretivas do velho Graciliano Ramos, o maior do Brasil, evidentemente filho do Nordeste, das Alagoas, claro.

Há quem diga que escritor não é uma raça muito chegada em sexo. Há controvérsia.

De uma geração para outra até que aparecem um Henry Miller, um velho safado como o Buk etc .

Lenda.

Escritor é como um ser qualquer, apenas um pouquinho mais aviadado, como diria um habitante da Bifaland, a cidade maldita criada pelo Allan Sieber. É bem mais fácil o perôbo do Feliciano curar um gay do que sarar um escriba.

Somente uma autêntica, assumida, linda e perversa Maria Teclado, espécie de Maria Chuteira com pedigree e PhD em letras, dá um jeito no homem que escreve livros.

A Maria Teclado ama tirar a literatura do sério. Chega de solenidade e mãozinha abaitolada no queixo -pose predileta dos autores, como vemos aqui na Flip.

Só a Maria Teclado profissa salva uma festa literária. Seja em Bifaland ou Paraty.

A  Maria Chuteira, coitada, é uma sentimental, uma musa de Carlitos diante de uma Maria Teclado.

Num país que pouco se lê, tem coisa mais bonita? Lobateana, a Maria Teclado sabe que um país se faz com homens e livros. Mesmo que esses homens não sejam lá grandes coisas.

Ela dá um jeito na narrativa mais broxa ou brocha. Para a Maria Chuteira tudo vira romance de capa-espada, uma quixotesca por excelência. Tudo vira um projeto Lázaro: levanta-te!, seja homem.

Sem essa de musa. A Maria Teclado é emancipada no último.

A Maria Teclado que é Maria Teclado não crê em inspiração. Ela é toda trabalhada na transpiração e no sexo antes e depois do capítulo perfeito.

Para um escritor ainda não muito flipável ou conhecido, a maldição literária é a melhor isca para levar uma Maria Teclado à alcova. Vale por uma estante de prêmios jabutis. Pense numa criatura democrática.

Os marginais sabem, como no mantra do Eduardo Cac, um dos marginais da geração 70, que “para curar um amor platônico somente uma trepada homérica.”

Não carece, porém, repito, preocupação alguma com vosso gênero ou estilo. Pasme, até os cronistas, velhos praticantes do caldo-de-cana com pastel de feira da literatura, têm direito a amantes talhadas para o tecladismo.

A Maria Teclado possui um caráter inoxidável. É raro uma MT  amar um mago da autoajuda. Mesmo um mago milionário.

A MT prefere um jovem ficcionista sub-40.  Em literatura é tudo muito tardio, amigo, diferente do mundo das neymarzetes.

Ter uma MT é um luxo sob qualquer ângulo. Para começar, ela é antes de tudo uma leitora. Voraz, estuda o seu alvo, nunca larga um livro antes da vigésima página -se bem que existem  MTs que sabem dar o truque tanto quanto os resenhistas de plantão dos nossos jornalões.

No geral, ressalte-se, a Maria Teclado é uma mulher séria, honesta, lida mesmo, capaz de dizer no ouvido do mancebo parágrafos inteiros dos  livros obscuros dele. Inclusive daquela primeira publicação que o autor renega e abomina. Nestas ocasiões é broxada na certa, deixa quieto, não era esta a intenção da moça.

Um país é feito por homens e livros? Um cacete, discordo, caro Monteiro Lobato. Um país é feito por escritores bêbados e formosas Marias Teclados. Só elas nos salvam do tédio das festas literárias.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailxicosa@uol.com.br
  • FacebookFacebook
  • Twitter@xicosa

Buscar

Busca

Blogs da Folha

  • Recent posts Xico Sá
  1. 1

    O partido dos corações partidos

  2. 2

    A arte da cantada permanente

  3. 3

    O tal do amor aberto dá certo?

  4. 4

    E Abelardo da Hora recriou a mulher

  5. 5

    Como eleição mexe com amor e sexo

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 20/03/2011 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).