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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Para as leoninas, neste inferno astral

Por xicosa
09/08/13 01:02

Já tive três mulheres de Leão, digo, três mulheres de Leão me tiveram, dominaram, fizeram gostoso e bonito.

Não estou falando dessa coisinha cujo status de hoje seria “estamos em um relacionamento do tipo fala sério”.

Falo de amor, independentemente da temporada no inferno.

Uma de casar, morar junto, duas do tipo “quero me embolar nos teus cabelos, te abraçar o corpo inteiro, morrer de amor, de amor me perder”.

Não entendo nada de horóscopo, embora aprecie a narrativa astrológica desde Omar Cardoso no rádio. Os mais velhos lembrarão do mantra dele: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”.

Precisasse yo de uma desculpa intelectual, recorreria aos escritores argentinos, que amam enfiar o zodíaco na parada, como Robert Arlt no livro “A viagem terrível”, por exemplo.

Não é o caso. Um cronista vira-lata não carece de ilustríssimas desculpas.

Não entendo de astrologia, mas compreendo um pouco das leoninas.

Sim, o amigo cético aqui do Papillon, cearense garçom que já batizei de Ciço Cioran, me deu a real da guerra ao ouvir o meu papo em uma roda de saias, sábado em Copacabana:

– Larga de ser lesado, toda mulher, por natureza, já nasce leonina pra cima da gente!

Bicho sabido.Pense!

Faz todo sentido. Assim como todo mulher é meio assim Leila Diniz –uma ariana-, toda mulher tem um quê de leonina.

Seria o signo do mando feminino, caríssima Bárbara Abramo? Lembro que falaste:

“No amor, o leonino se destaca pelo romantismo, dramaticidade e sensualidade. Este é o signo do amor cortês e da conquista, que faz de tudo para ser o centro das atenções, mas também trata como uma pessoa especial o ser amado. Galante e possessivo, o que mais o atordoa é a rejeição, o descaso e a frieza.”

Gosto muito de te ver, leoazinha. Com fome, então, imita a fera na selva: é incapaz de ouvir uma palavra, mesmo do nosso discurso amoroso. Parte para cima, sexy e carnívora, chorizo y malbec, rasgando ditongos crescentes nos dentes, nas presas, como C. estraçalhava a precoce existência qual uma leoa do Discovery Channel.

Nunca deixe uma leonina faminta. Ou a gente resolve esse problema, nem que seja com um delivery, ou o mundo desaba. Falo em todos os sentidos.

Nunca deixe uma leonina faminta, por mais que ela seja independente, como costuma sê-la, mesmo assim a danada se manifesta qual início de filme da Metro, te cuida.

Como elas estão todas aniversariando nestes e nos próximos dias, imagina uma leonina faminta em pleno inferno astral?!. Desaconselho. Melhor enfrentar um tubarão de Boa Viagem mesmo.

Nada como a agressividade leonina. Não tem esse papinho Orestes Barbosa de pisavas nos astros distraída. Ela é a estrela e o chão que brilha.

Nada como uma leonina amuada logo quando acorda.

O mundo inteiro como jaula da zoologia fantástica. Domar, quem há de?

Nada também mais lindo quando ela desperta doida para ir à feira, comprar flores, botar disco novo, fazer festa em casa, reinventar os temperos do universo, acender velas sincretistas e fazer do homem dela o mais perfeito escravo do amor e do sexo.

Eu quero é que você me aqueça nesse inferno astral, leonina!

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Para fazer a cabeça do jovem e do velho jornalista

Por xicosa
06/08/13 21:11

Este sujeitinho ai é o Benevides Paixão, lembra? Bravo jornalista criado pelo Angeli. Sentia-se como um Paulo Francis, mas nunca passou de uma correspondência no Paraguay e da seção de turfe. Para ele, new-journalism e outras novidades eram frescuras. Esqueça Bené, meu jovem, não é um bom exemplo, e vamos a algo mais edificante:

Neste momento de cidadãos instigados com o incrível debate sobre crise da mídia tradicional, golpes ninjas e rumos do jornalismo etc, uma edição revista e ampliada de livros para guaribar as narrativas –sejam velhas ou novas, esta não é a questão.

Mate-me por favor – Legs McNeil e Gillian McCain (ed.L&PM)- Encabeça a lista por ter sido o perigoso volume apreendido pela polícia do governador Cabral nas recentes manifestações do Rio. Episódio lembrou as grandes trapalhadas da Ditadura. O livraço narra a revolução do movimento punk-rock.

Ilusões Perdidas -Balzac (várias editoras)- Lucien, rapaz sem dinheiro no bolso e vindo do interior da França, descobre, em Paris, os podres da redação e dos jornalistas. Estávamos em 1820 e a imprensa já mergulhada em crise moral e ética bem longe das nossas fuças.

“TAZ”– HaKim Bey (coleção Baderna, ed.Conrad)- Aqui você reflete com um autor-crânio sobre ativismo radical e o conceito da Zona Autônoma Temporária. Fala Bey: “A ideia de combater o Poder criando espaços (virtuais ou não) de liberdade que surjam e desapareçam o tempo todo”. De bônus, você viaja na filosofia sufi, situacionistas, Nietzsche, dadaísmo e nas táticas dos quilombos d´América.

A alma encantadora das ruas – de João do Rio (disponível por diversas editoras)– O dândi carioca sabia tudo sobre a arte de flanar pela cidade e tirar dela, ainda em 1908, belas histórias.

Um Bom Par De Sapatos E Um Caderno De Anotaçoes – Como Fazer Uma Reportagem -de  Anton Tchekhov (editora Martins Fontes).Toda a riqueza de observação e detalhes que usava nos seus contos e peças, a favor do jornalismo-literário em uma reportagem de viagem.

Balas de Estalo – reunião das crônicas políticas e de costumes de Machado de Assis –publicado por várias editoras.

Dez dias que abalaram o mundo – John Reed (várias editoras)–De uma forma eletrizante, punk-rock mesmo, o autor narra os acontecimentos da revolução russa de 1917.

Paris é uma festa – E. Hemingway (ed.Bertrand Brasil) –As pereguinaçoes boêmias de um dos maiores narradores americanos e a sua convivência com grandes artistas franceses. Para aprender a escrever e observar o mundinho artístico.

Na pior em Paris e Londres – George Orwell (Companhia das Letras, coleção Jornalismo Literário) –A experiência de miserável do autor de “1984”.Aula de escrita e humanismo pelos subterrâneos das cidades.

O Segredo de Joe Gould,de Joseph Mitchell (Companhia das Letras). Aula genial de como fazer um perfil de um puta personagem praticamente anônimo de NY, um desses vagabundos que vemos por e mal sabemos da sua genialidade.

Malagueta, perus e bacanaço (ed.Cosac & Nayfi-João Antônio- O universo marginal dos salões de sinuca, rodas de sambas e madrugadas nos bares. Narrativa coloquial e maldita. Repórter da revista “Realidade”, J.A. inventou o “conto-reportagem”.

Dicas úteis para uma vida fútil -um manual para a maldita raça humana – Mark Twain (ed.Relume Dumará). Um grande almanaque com dicas de etiqueta, moda, comportamento, costumes. Tudo da forma mais mordaz possível. Pra rir e aprender.

O perigo da hora – o século XX nas páginas do The Nation (ed.Scritta). Textos de gênios do jornalismo e da literatura como Kurt Vonnnegut, H.L. Mencken, Gore Vidal, John dos Passos entre outros bambas.

O livro dos insultos – H.L.Menken (Cia das Letras) –Influência importante para muita gente no Brasil, como Ruy Castro e Paulo Francis, por exemplo. Com Menken você aprende a ser crítico, ácido e ter uma pena maldita.

Medo e delírio em Las Vegas– Hunther Thompson (ed.Conrad) – A lista não poderia faltar pelo menos uma obra-prima do rei do jornalismo gonzo, a forma mais maluca e ousada de contar histórias. Foi adaptado para o cinema em 1998, pelo diretor Terry Gilliam.

Os cães ladram –Pessoas públicas e Lugares privados –Truman Capote (edição recente da L&PM)- Ok, você prefere a novela de não-ficção“A Sangue Frio”, também deste monstro da narrativa. Ótimo. Fico com este por causa da declaração do próprio Capotinho sobre esta coleção de textos: “Tudo o que consta aqui é factual, o que não significa que seja a verdade”.

 Outros já exaltados pelo blog: Palestina (Joe Seco), As mil e uma noites da avenida Paulista (Joel Silveira), Ébano e Guerra do Futebol (ambos de Ryszard Kapuscinski), A Mulher do Próximo (Gay Talese), O teste do ácido do refresco elétrico (Tom Wolf)…

Desculpem pela baciada, mas me compadeço da crise de narrativas (rs). Como toda lista, haja injustiça. Ih, o cara esqueceu até o Nelson Rodrigues! Cadê os dossiês do Geneton Moraes Neto? Ajude o pobre blogueiro a chegar aos 100 livros fundamentais para um jovem jornalista. É só deixar a colaboração nos comentários.

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Cantar bem sem olhar a quem

Por xicosa
05/08/13 00:24

Educação sentimental do homem.

Episódio de hoje: a cantada.

Sim, amigos, a cantada é como a revolução de Mao Tse-Tung, tem que ser permanente.

Existem mulheres que a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos treze, quatorze.

Mas é necessário que a cante sempre, não aquela cantada localizada, neoliberal e objetiva, falo do flerte, do mimo, do regador que faz florescer, como numa canção brega, todos os adjetivos desse mundo.

A cantada de resultado, aquela imediata, é uma chatice, insuportável, se eu fosse mulher reagiria com um tapa de novela mexicana, daqueles que fazem plaft!

A boa cantada é a cantada permanente.

E mais importante ainda depois que rolam as coisas, depois que acontece, aí a cantada vira devoção, oração dos pobres moços a todas elas.

Porque cantar só para uma noitada de sexo é uma pobreza dos diabos, qualquer um animal o faz.

Porque cantar, à vera, é cantar todas e não cantar nenhuma ao mesmo tempo.

Explico: é espalhar pacientemente a devoção a todas as mulheres como quem espalha sementes nos campos de lírios.

Mesmo que elas digam, com aquele riso litografado na covinha do sorriso, que você diz isso para todas.

E claro que para cada uma dizemos uma loa, fazemos uma graça, não repetimos o texto, o lirismo, o floreado.

Porque amamos mesmo as mulheres.

Cantemos indiscriminadamente, e que me perdoe o velho e bom Vinícius de Moraes, mas cantemos sobretudo as ditas feias, esse conceito cruel e abstrato de beleza. Elas merecem, até porque as feias não existem, nunca conheci nenhuma até hoje.

Não por sermos generosos, piedade, ou algo do gênero… É que a dita feia, quando bem cantada, vira a superfêmea, para lembrar a bela pornochanchada com a Vera Fischer.

A cantada permanente e indiscriminada é irresistível, quando você menos espera, acontece o que você tanto sonhava.

Sim, tem que ter o cuidado para não ser simplesmente um chato que baba diante do melhor dos espetáculos, a existência das mulheres.

Ter que cantar sempre a mesma mulher e parecer que está apenas de passagem, que o estribilho é sempre novo, nada de larararás que mais parecem refrões do Sullivan e do Massadas, lembram dessa dupla de músicas chicletosas?

Ah, digamos que você cantou a Sônia Braga ainda naqueles tempos em que Gabriela subiu com aquele vestidinho no telhado –a cena mais quente da teledramaturgia brasileira até hoje- e e continuou cantando, sempre, sutil e sempre, e agora ela, passados tantos calendários, se comove e resolve recompensá-lo!

Vai ser lindo do mesmo jeito, não acha? Na tela do nosso cocoruto vai passar o videotape de todos os desejos antigos e despejados no ralo pela morena cravo & canela.

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O Jornal Intergaláctico do Amor está no ar

Por xicosa
01/08/13 19:47

Por republicanos deveres, republico, com a devida nova mixagem de sempre, uma velha aula do catecismo deste cronista do amor louco:

Ali nas primeiras horas da noite, bate aquela necessidade física inadiável de contar como foi o dia. Contar e ao mesmo tempo receber notícias tuas.

Seja um épico, um feito memorável, seja uma coisa à toa, um carro na poça que quase te molha todinha, um chato que te pegou para Cristo, um chefe maluco, os comentários sobre o tempo, ainda bem que choveu, meu bem, a noite está ótima para tomar um vinho, para dizer aquelas coisas que não se dizem para qualquer uma.

Sobe a vinheta, sonoplasta, é o nada global Jornal Nacional do Amor que começa agora, uma dos momentos nobres de ter alguém na vida, conta lá que eu conto cá, e haja narrativas.

Sorry, sonoplasta, sobe a vinheta nova sintonizada com a poeira das ruas: a mídia Ninja do Amor está no ar…

Enfim, o Jornal Intergaláctico do Amor está no ar…

O repórter Esso do Amor, testemunha ocular da nossa história, está no ar…

Não importa, o meio é a mensagem amorosa, o que importa é ter  alguém para contar seu dia.

Narrar seu dia é melhor que sexo, melhor que costelinha de porco, melhor que lamber os beiços com o galetinho-gloss da tevê de cachorro, melhor que doce de leite, melhor que sarapatel, é tão bom que empata com feijoada completa, mas só vale com os pés e as orelhas, nada dessa enganaçãozinha light que se come nas melhores famílias.

Contar para um amigo é diferente, contar para um irmão é outra história, contar para a vizinha é roubada, contar só serve, amigo, se for à boquinha da noite, e se for para a mulher que habita, sem pagar prestações, sem aluguel ou fiança, a Cohab, o BNH, o conjunto do Mirandão no Crato, o Alfredo Bandeira no Recife ou a quitinete metropolitana dos nossos pobres corazones.

O Jornal Nacional do Amor não tem mentiras de graça, somente mentiras sinceras, aquelas que melhoram as coisas, que levantam a bola, que restauram a lua de mel no auge de Canoa Quebrada, com aquele céu de Bilac, ora direis, aquela cachaça, sustança, e os lençóis de cambraia bordados, letras barrocas, “até que a morte vos separem”.

Na alegria ou na tristeza, contar o dia é a melhor das artes de estar juntos.

Do amor e suas leseiras incríveis, suas breguices, porque todo amor é brega assim como todas as cartas amorosas são ridículas; só os cults e metidos não amam, não aprenderam nem mesmo com os brutos de Shane e de outros belos faroestes.

Do amor, seu Sthendal, nós nunca enchemos a barriga.

Eita fome de viver , eita Jequitinhonha da existência.

“Ai, amor, estou tão cansada, meio enjoada, acho que vou menstruar”, ela diz, bem linda, ainda na rua, “você me agüenta mesmo assim?”, ela completa.

No que o mancebo responde com um lindo plágio da Legião Urbana: “Você me conta como foi seu dia/ E a gente diz um p’ro outro:/ – Estou com sono, vamos dormir!”

Contar sempre, porque até nossos silêncios dentro de casa deixam ecos que viram legendas para sonhos de amanteigadas manhãs com ressaca e  croiassant.

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O dia do Orgasmo e o direito de broxar

Por xicosa
31/07/13 15:38

Curto datas e efemérides, mesmo as mais malucas. Devo isso, naturalmente, à minha cultura de almanaque, coisa de homens vindo do interior.

Datas como a de hoje, porém, nasceram para ser sacaneadas, gozadas, vilipendiadas. Senhoras e senhores, Lolas e afilhadas de Balzac, hoje é o Dia Internacional do Orgasmo.

No que repetimos um velho mantra deste anacronista vira-lata: pelo direito sagrado à brochada ou broxada –vale os dois modos para os dicionaristas.

Uma emenda em caráter urgente, urgentíssimo, à declaração universal universal do homem que é homem: pelo direito à falha fatal na hora H.

Solto este panfleto lírico diante de uma preocupação que atormenta nossa cabeça mais romântica: estamos ao ponto de perder a nossa mais sensível e delicada condição, uma das raras, a nossa mais linda falência.

A cada dia é uma química nova na praça, um novíssimo milagre na farmácia.

Pelo direito das moças realizarem exame antidoping nos marmanjos, para saber o que é vigor artificial e o que vem a ser o fogo que deveras queima o desejo por elas.

Contra a fraude amorosa!

Depois do Viagra, do Levitra, tem ainda o Cialis e outros congêneres que prometem 36 horas no ataque, sururu na área, na boca do gol, a tática do abafa. Um dia e meio em riste. Um final de semana de confusão. Quem agüenta? Ainda mais com aquela nossa força mecânica sem delicadeza alguma, achando que sexo é esporte apenas de lenhadores.

Pelo medo do artilheiro diante do pênalti, pelo sagrado direito à broxada, pela carne trêmula diante da moça. Pelo suspense erótico, e até mesmo por aquela coisa hippie definida simplesmente como “questão de pele”, “química” etc.

Clamamos, uma vez mais: queremos de volta a nossa falência demasiadamente humana.

De ovo de codorna, de catuaba para cima, exame antidoping neles. Sim, ostra também vale, afinal de contas é o melhor dos afrodisíacos do embornal natural do velho Casanova.

O uso das pílulas milagrosas é uma espécie de dumping, para usar a terminologia de mercado –quando um concorrente cria uma vantagem desleal na praça e vende o seu peixe de forma enganosa.

Como a gazela ou a afilhada de Balzac vão saber se aquela devoção toda é motivada por elas mesmas ou pela química?

Eis um novo item na lista de inseguranças femininas. E você vê até marmanjos ainda em fraldas, na casa dos 30, recorrendo a estes arrebites do sexo. Até o poder ultrajovem, meu caro CDA, busca forças na pílulas azuladas.

Ora, a possibilidade da broxada nos torna mais humanos, mais sensíveis, atentos… Sem isso, imaginem a arrogância fálica, o poder macho, a falocracia, a plenitude da velha expressão “bater o pau na mesa”.

Homem que é homem defende e preza pela humildade franciscana da broxada.

Claro que se o tio já dobrou o Cabo da Boa Esperança e enfrenta a disfunção erétil, nada mais justo. Trata-se de questão médica, vai fundo, toda força,  amigo.

O triste é ver jovens, garotos que nem aprenderam ainda dar bom dia a uma mulher, fugindo à luta, descrentes dos seus próprios poderes.

Pobres moços, mal sabem da bela compaixão e ternura que desperta uma broxada. Infalíveis, mimados pela mãe e pela química, irão passar a vida inteira sem essa bela experiência.

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Amar é nunca saber do dia seguinte

Por xicosa
29/07/13 03:09

O homem só tem duas obrigações na vida, quer dizer, três:

1)Amar e zelar pela mãe;

2) ir para a guerra se for preciso e,

3) principalmente, tornar um momento único o amor pelas mulheres que o encante, porque esta hora é mais religiosa, a mais bonita.

Donde dou, qual um Tim Maia do amor, motivo, para justificar, solamente, o terceiro tópico desta crônica, a devoção pela nega, não nego, sigo, obsessivo sujeito, prático, por supuesto, sincero até o amarelado-brega-final do crepúsculo.

Bora nessa.

Episódio de hoje:

No que concerne ao olho masculino nas visões matutinas.

Vixe. Acordar diante de uma mulher, até mesmo quando você não a ama ainda, é a acontecência. Talvez não exista nada mais bonito. Talvez nem o ato do encorajado homem entrar para dentro do dia com sua calça pega-marreco tão curta para o tamanho da passada existencial e inevitável.

Quando ela acorda, ela, só ela, aquelas marquinhas no corpo feitas pela noite, atrito de peixes que passeiam nos subterrâneos dos lençóis de modo a marcá-lá  como se ela vivesse as 20 mil léguas submarinas do viejo Verne.

Nada como uma mulher quando acorda.

Ela acorda, eu morro, petite mort, como no gozo dos franceses. Vá entender gozar como morte. Pior é que eu entendo.

Nada mais bonito do que uma mulher quando dorme e nada mais extraordinário quando uma mulher quando acorda.

Os primeiros sinais… Uma mãozinha que arrisca o anestesiado esticamento… Uns incompreensíveis dizeres ainda do sonho, como se blasfemasse contra tudo e contra todos uns restos de filmes de Buñuel, o cara do obscuro objeto do desejo.

Donde repito: os sonhos das belas mulheres são restos de filmes não usados pelos melhores cineastas mortos.

Ela acorda, cabelos feitos algas doidas, o seu incômodo mais bonito; algum tédio diante da reabertura do mundo chato, ela se espreguiça, ossinhos que estalam sob a réstia do sol do mundo sério que atravessa a cortina, os barulhos do mundo, os mascates, o tiro no coco de Getúlio que ouvimos a cada manhã no Catete.

Agora ouço o barulho do mijinho dela, música ao longe aqui do quarto. Paudurescência da aurora; ensaio um gozo-memória, nostalgia precoce, como se a danada tivesse ido embora num teletransporte de fio terra; ela volta ainda mais manhosa, quase um gato a reinventar botes câmera lenta num sashimi da véspera.

Ella Fitzerald, uma das peixas do seu aquário, está mais viva do que nunca.

O pau toca a sua bundinha sem a pressa da foda, quase como fossem feitos um para o outro e tivessem todo o tempo do mundo. As almas já se entendem, os corpos quase, ela pensa “qualé a desse cara?”.

Tudo uma coisa assim Manuel Bandeira, de quem roubo esse dizer todo da madruga.

Arriamos, o cansaço matando lindamente os interesses imediatos. O estranhamento da manhã talvez não vos interesse.  Amar é nunca saber do dia seguinte.

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Ai de ti, Copacabana, princesinha carola

Por xicosa
26/07/13 01:52

Ai de ti, Copacabana, de pecadora te fizeram santa e casta, episcopal, carola, sem as ondulantes moças que repetem na cintura o desenho das tuas cangas e calçadas.

Ai de ti, Copacabana, entregue ao papa, o inimigo do bom blasfemo León Ferrari, o artista da obra que ilustra este post, genial argentino -da estirpe Maradona- morto anteontem.

Ai de ti, Copacabana, fechaste até o Barbarella, nunca foste tão respeitosa e puritana, ai de mim novo morador do pedaço, ai dos homens que vêm de longe com fome transatlântica, os homens que não comungam da mesma cartilha de Roma, os ateus, os agnósticos, os judeus, os relaxadíssimos católicos não-praticantes, os vikings, os selvagens de todas as naturezas.

Ai de ti, Copacabana, paciente a ouvir a missa do papa e a testemunhar a passagem da gente jovem que nega os prazeres da própria idade, avarentos negadores do desejo à flor da pele. Deus castiga, meninos, tudo tem o seu tempo, não joguem apenas pelo ralo a força testosterônica.

Ai de ti, Copacabana, até o sol se recusou a sair esta semana, cerimonioso da tua inexplicável vergonha de seres tu mesma, disfarçada pecadora de vaidades tantas.

Ai de mim, Copacabana, que agora troco Rubem Braga por Torquato Neto, para seguir nos meus queixumes de velho cronista de ondas e ressacas.

Ai de mim, peregrino ao contrário, como me diz aqui a  falsa-magra do Catete, ai de mim, pobre devoto que tenta atravessar da estação Cantagalo ao teu colo, aos teus pés, aos teus caprichos, ao teu chão de colagens.

Ai de mim, Copacabana Dreams, como no belo livro da Natércia Pontes.

Ai de mim, Copacabana, diante de tantas lolitas episcopais sem maldade n´alma.

Ai de mim, Fausto Fawcett, meu guia espiritual, meu guru no bairro de Kátia Flávia, a legítima nossa senhora de Copacabana.

Ai de ti, ai de mim, Copacabana, que este papa vá logo embora e nos devolva a paz da rotineira sacanagem.

Ai de ti, Copacabana, justiça seja feita às madrugas no Galeto Sat´s, seguem ecumênicas e impagáveis.

Ai de mim, ruiva do Pavão Azul, sete pecados numa mulher só, Copacabana tenha dó.

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Só a preguiça melhora o mundo (III)

Por xicosa
24/07/13 20:58

Depois da gula e da luxúria, o sagrado direito à preguiça, meu caro boa-praça Francisco.

Não a preguiça amorosa e sexual do homem-Ossanha, aquele que diz vai e não vai, pula fora, vacila e deixa a dama a chupar o frio chicabom da solidão.

Não a preguiça de outro tipo bem moderno, o MacunaEmo, o cara que tem a leseira do Macunaíma e a choradeira de um jovem roqueiro Emo.

Trato da preguiça bíblica e proveitosa.

A preguiça de uma sesta a dois, la vieja siesta espanhola, na rede ou na cama, com uns gatos ronronando na área.

A preguiça de um dengo debaixo das cobertas.

Uns cafunés também caem bem na avarandada tardinha.

Um preguiçoso e inconclusivo slow sexo de ladinho antes do desmaio no sono.

Palavra alguma, apenas sussurros, gemidos, onomatopeias da pura manha, periquitosos barulhinhos da existência.

Tim Maia como guia espiritual permanente: eu quero é sossego.

Dorival Caymmi como mestre de cerimônia.

O pantagruélico Ascenso Ferreira como Deus pai todo poderoso dos pecadores nos fornece o seu poema “Filosofia” como mandamento único:

“Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!”

A preguiça, jovens da rueira rebeldia da hora, ainda é a melhor forma de combater o capital.

A preguiça, amigos da causa verde, ainda é a melhor forma de não poluir o planeta.

Sem se falar no ócio criativo, que só poderia ter sido inventado por alguém com o descansado nome de Domenico De Masi.

Ai que preguiça macunaímica. É o tipo de pecado que não dá trabalho, meu caro papa Francisco.

A preguiça melhora o trânsito e o ar que eu respiro.

A preguiça nos livra dos novos pecados capitais, santo bispo de Roma.

Só a preguiça melhora o homem, porque só um homem preguiçoso é um homem que não faz merda.

Todo preguiçoso é, por essência, um grande sujeito.

O canalha, por exemplo, é um propositivo nato, um homem atento, produtivo, inquieto, ligadaço, sempre a serviço de alguma corporação ou de interesses escusos.

Só a preguiça, meu caro Francisco, é capaz de melhorar o mundo.

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Meu destino é pecar, caro Francisco (II)

Por xicosa
23/07/13 17:52

“Luxúria – desejo desordenado do prazer sexual,quando buscado por si mesmo, isolado das finalidades da procriação e da união.”(Tópico nº 2351 do Catecismo da Igreja Católica).

Meu destino é pecar, tio Nelson, afinal de contas, até o papa, franciscanamente, confessou tal fraqueza antes de chegar aqui no “Rio Babilônia”, como no filme do genial, e bote fé nessa genialidade, juventude, Neville D´Almeida.

O mantra de Santo Agostinho, meu filósofo cristão predileto não me sai da cabeça um só segundo: “Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje”.

Esvoaçantes lolitas sob sol e chuva em Copacabana. Peregrinas de todo o mundo, dispersai-vos antes que eu pense mais besteiras. “Deus é colágeno”, emenda o agnóstico amigo meu aqui no bar “O Caranguejo”.

E antes que me esqueça, vos digo:

O pecado recomendável para o segundo dia da visita do bispo de Roma é a luxúria.

Aquele desejo, aquela obsessão, aquela fissura pelos prazeres sensuais e materiais, o gosto por se deixar levar paixões mais desavergonhadas.

Quase uma canção do Wando ou do Sérge Gainsbourg, eu diria, meus pecadores, minhas pecadoras.

Em matéria de luxúria, vos confesso um dos momentos mais nobres de estar na vida e não apenas passar por ela como um turista:

Nada como aquela olhadinha que ela dá quando lá embaixo.

Nada como aquela olhadela, sobrancelhas assanhadas, mirando lá de nossos países baixos cá para cima do nosso cocuruto alumbrado.

Tão lindamente sacana, ah, minha nega, contigo me derreto qual manteiga.

Ela quer saber se estou gostando, claro que estou mortinho ali no pré-gozo prolongado ao infinito indiano.

Ela tem um orgulho, como se pensasse, vejo o balãozinho pontilhado sobre a cabeça dela:“Vê como faço bem feito e com gosto, seu fdp”.

…Naquela olhadinha plongé, contra-plongé, depende de quem vê… voyeur…

…resvalo numa fração de segundo para um carinho no rosto dela, lado esquerdo, com o lado contrário da mão e dedos, quiromancia e mistérios.

Ela desce  lá naquele cantinho fronteiriço, desenha a história do olho, caro Bataille, com riscos da língua em círculos, lambe a última costura da nossa pobre existência, a última costura de Deus para alinhavar seus ingratos Adões e os seguidores no pecado.

Luxuriosa, ela me nirvaniza, petite mort, a pequena morte do gozo da qual falam os franceses.

Nada como aquela olhadinha lá de baixo, estou longe e perto, meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo, como na canção do 2 e 2 são cinco.

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Um pecado para cada dia do papa (I)

Por xicosa
23/07/13 00:13

Durante a visita do papa ao Brasil, o blog resgata uma crônica pecaminosa por dia.

Uma das missões da cúpula da Igreja Católica no momento é reafirmar os sete pecados capitais aos meninos e meninas da Jornada Mundial da Juventude. Roma faz a sua parte e a gente tenta fazer a nossa.

Comecemos com o melhor dos desvios da existência: a gula, a comilança, como na cena do filme italiano homônimo que enfeita este humilde post. Duvido que o papa, safo como é, não curta esta fita italiana do gênio Ferreri.

Fome de tudo, como sopra aqui o amigo Jorge du Peixe.

Fome de viver, agora é o Bowie no cochicho, camaleônico da gota serena.

Lembro da última minha grande musa da gula.

A moça devorava uma costela, especialidade da casa, no Gato Preto, em um cenário que reúne profissionais da noite e amadoras. Ambiente incrível com direito a uma dupla –tecladinho e voz- de músicas românticas e gauchescas.

Como comia gostoso aquela dama. Lambia os beiços às duas da madrugada. K., minha musa existencialista. Voltávamos do Wonka, onde apresentei com o Fausto Fawcett mais uma edição do projeto “Trovadores do Miocárdio”.

Imagina agora, nesse momento. Neva em Curitiba. Ela deve estar na vodka e no goulash, nos braços de um outro qualquer -mas ai já avançamos para a inveja, deixa quieto, santo papa, trataremos desse pecado logo mais.

Aquela comilança da curitibana me faz retornar ao tema do medo das mulheres diante da balança.

Você, amigo, sai com a pequena, e ela só belisca, qual um passarinho, uns saudáveis farelos ou engole umas folhinhas sem graça.

Que desgosto.

Você caprichou na escolha do restaurante, acordou com água na boca por um prato que só você sabe onde encontrá-lo, quer fazer uma presença, fazer bonito com a cria da sua costela.

Que desgosto, a gazela mira o ambiente com “nojinho”, de tão fresca. Uma estraga-prazeres, eclipse de um belo sabadão ensolarado.

Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança.

Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.

Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.

Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!

Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ”Os Desajustados”, quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato de operário. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida.

Além do prazer de vê-las comendo, pesquisas recentes mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser mais nervosas, dão mais trabalho em casa ou na rua, barraco à vista, intermináveis discussões de relação…

Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las nesse crime perfeito sob as vistas do papa Francisco.

Moças de todas as geografias afetivas e gastronômicas, aos acarajés, às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos assados e cozidos, ao  sanduíche de mortadela, à dobradinha à moda do Porto, ao lombo -de lamber os lábios!-, ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado que capricha na carne e sabe a arte de gelar uma cerva. E aquela fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último tango do agreste.

O importante é reabrir o apetite das moças, pois, repito, senhoras e senhores, o velhíssimo mantra: homem que é homem não sabe sequer -nem procura saber- a diferença entre estria e celulite.

Meu amor, te espero em Copabacana, Adega Pérola!

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