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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Dessas mulheres que não dizem "sim"

Por xicosa
27/08/13 01:23

Outro dia toquei aqui na questão da mulher nostradâmica, aquela que vê uma teoria do fim do mundo em tudo que aparece pela frente. A mulher descrente.

Mal escrevi e lá chegaram e-mails, mensagens e comentários pedindo, carinhosamente, que o cronista discorresse melhor sobre o tema.

O que você, estimada leitora, me pede chorando que eu não faço sorrindo? Recupero aqui duas ou três coisas que sei sobre a fêmea que vive sob o eterno signo da desconfiança.

Contra ela, tudo conspira.

Sim, com vocês, por incrível que pareça, a mulher que parece ter nascido de uma costela de Nostradamus. Ela existe. Apocalíptica, sempre acha que nada vai dar certo em relação aos homens.

É o fim do mundo. É anti-Pollyana por excelência.

Tudo bem, sabemos que não está fácil para ninguém. Ainda mais nestes tempos do homem-de-Ossanha, aquele macho frouxo que diz que vai e não se move, como no samba de Vinícius e Baden Powell.

A criatura nostradâmica não acredita nunca. Jamé.

Ao contrário da mulher da música “Folhetim”, de Chico Buarque, ela jamais dirá um “sim”.

Mesmo quando todas as condições históricas estão dadas para o enlace. Ou pelo menos para um sexo decente.

“Sei não, está bom demais para ser verdade”, ela pensa.

Sim, posso ler daqui os seus pensamentos.

“Não, não vou cair mais nessa, sei o tamanho de tombos do gênero,” prossegue nas suas reflexões, nervosa, nervosíssima.

Daqui a uma hora se encontrará mais uma vez o pretendente. Pretendente não, porque ela já elimina de véspera.

Encontrará alguém, digamos assim.

Ele a convidou para jantar fora. Quanto tempo alguém não a tratava ela com tanta distinção e classe!

Ela se sente valorizada, mas está com medo, pode ser apenas mais um truque. “Que que eu faço, Diós mio?”, bate o desespero enquanto escolhe a roupa –outro drama.

“Ele só quer sexo. Vai ficar comigo e na manhã seguinte esse telefone emudecerá de vez”, segue o pensamento apocalíptico.

Projeta o futuro no pior cenário. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros canalhas.

Então liga para a amiga, a amiga mais cética, porque ela está querendo ouvir algo desencorajador mesmo.

A amiga recomenda muito pé atrás. A amiga já levou muitos tombos e, de alguma forma, é humaníssimo, sente uma certa ponta de inveja.

Falta meia hora para o novo encontro. A nostradâmica senhorita confere o cabelo e acha péssimo. Está desesperada como uma daquelas mulheres dos filmes de  Almodóvar.

“Por que esse cara vem logo para o meu lado”?”, bate de vez a paranoia delirante.

O carro dele para na frente da casa dela. Há tempos não ouvia aquela buzina que parece tocar a mais romântica do Stevie Wonder, algo como “You Are the Sunshine of My Life”.

A buzina chama para a vida lá fora.

“Não pode ser verdade”. Em vez de ir às nuvens, ela insiste na desconfiança enquanto aperta o T de térreo.

Entradas, drinques, o jantar está ótimo, a conversa incrível.

“Só pode ser truque”, aciona de novo todos os botões do painel da desconfiança feminina. “Não fico com ele hoje de jeito nenhum, nem me venha com esse papinho de don Juan de araque”.

Com licença, vai ao banheiro. Não resiste e resolve consultar de novo a amiga, pelo celular. Está em pânico. A amiga recomenda mais pé atrás ainda.

“Demorei muito?”, ela pergunta.  Sim, só de telefonema foram dez minutos. Mas ele, todo afável: “Imagina, demorou quase nada”.

Sobremesa, café, a conta.

No carro, ela nota -como aprendeu com o livro “O corpo fala”- que ele a deseja, como nunca.

Em vez de corresponder, se esquiva mais ainda: “Não caio nem morta nos braços desse truqueiro”.

Assim age a nostradâmica criatura. Corta o drama logo nos primeiros ensaios. Vai que dá certo, não é mesmo? Imagina a confusão que estaria formada na vida. Imagina o rebuliço na existência.

Como um Bartleby, o escriturário, personagem enfezado do livro homônimo de Herman Melville, para tudo nessa vida a nostradâmica diz “prefiro não”ou “prefiro não fazer”.E nem vem com essa de que ela diz não querendo dizer sim. Necas de pitibiriba.

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O infalível Método Janjão para subir na vida

Por xicosa
25/08/13 23:11

No conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis (aí no traço do Spacca), o pai aconselha o filho, o abestalhado Janjão, 21 anos completos, a como triunfar na vida – seja no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes.

Entre os conselhos, como a manha da bajulação e da queda pelo foguetório da publicidade, alerta o donzelo sobre a esperteza de ter sempre na manga do paletó uma função de reserva, para o caso de não prosperar no ramo profissional desejado: “…assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição,” soprou o velho para o jovem almofadinha.

O sonho maior é ser um medalhão, mas se não der, por que não tornar-se apenas um bom advogado?… Se não der em um bom advogado, por que não ganhar a vida como um rábula de porta de cadeia, ainda mais no mundo de tantos corruptos á procura de habeas-corpus?

O mesmo vale nos dias de hoje nas raias da política, da cultura, do entretenimento e da fama. Não conseguiu emplacar como um bom ator? Ora, grave um disco. Não conseguiu brilhar como cantora? Não faz mal. Tente ser apresentadora de programa infantil… Faltou financiamento para o cinema? Bem-vindo ao jornalismo, como fez o Arnaldo Jabor, para o bem ou para o mal de um dos dois.

Baseado na teoria do conto machadiano, este escriba, que acabou nas redações por falhar seguidas vezes no concurso do Banco do Brasil – sonho de todo bom pai do interior – deixa seus conselhos, ou melhor, pitacos à bagatela, para aqueles que procuram fugir do atoleiro das obscuridades, independentemente dos ofícios que abracem:

Nome próprio – Não careces enfiar tantos ll dobrados, kk, ys e quetais, mas é bom que tenhas um batismo artístico curtinho. Em 1942, Mário de Andrade já alertava o então Fernando Tavares Sabino, que derramara no papel os primeiros contos, a cortar um dos sobrenomes. Dito e feito.

Ideias – “O melhor será não as ter absolutamente”, como diz o pai do Janjão, o mancebo citado logo ali, na cumeeira desta crônica.

Ironia – Eis o ímã para chamar inimigos e puxadores-de-tapete aos borbotões. Nem diante do espelho deves ensaiar este movimento de canto de boca, recurso inventado, segundo o pai de Janjão, por algum grego da decadência.

Citações – A depender do auditório. Como todo bom mineiro sabe, em terra de sapo… de cócora com ele. Em um ambiente sério e respeitoso, Shakespeare, sempre Shakespeare; entre mulheres e gays, Wilde, muito Oscar Wilde.

Importante: não te apresses a dizer o nome do feliz proprietário da frase, omita-o. Para quem sabe a autoria, não haverá nenhum pecado nisso; e aos ouvidos dos tolos, soará como uma boutade de sua mente privilegiada. Arrancarás suspiros!

Metáforas – Tão-somente as ululantes ou futebolísticas, como o ex-presidente Lula.

Polêmica – No Brasil, o reacionarismo não é uma maneira de reagir a algo ou alguém, é meio de vida. Polemize. Pricipalmente sobre o que ignora. Como a medicina cubana, por exemplo.

Bajulação – Não te limites a acariciar os chefes, críticos e demais pessoas que possam te ajudar neste alpinismo apenas com os adjetivos da submissão e da mesquinhez. Mimos retóricos não bastam – nem mesmo quando embutem um certo jabá do erotismo e do assédio. Estas criaturas-degraus devem ser tratadas a pão de ló e caros presentes, não te envergonhes e trate-os além muito além das tuas próprias posses.

Metafísica de mulherzinha – Excelente, indispensável. Trata-se daquele discurso sub-Clarice Lispector, com um pouco de sub-Fernando Pessoa, com o qual, sendo tu fêmea ou não, escriba ou não, narras as tuas dúvidas e inseguranças mais comezinhas, teus lunduns telefônicos, teus queixumes de banheiro, tuas incomunicabilidades de TPM, teus eus perdidos que enchem o saco de todos os nossos outros eus.

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Nietzsche e o fim da filosofia de parachoque

Por xicosa
23/08/13 00:50

“Aquilo que não me mata, só me fortalece”. Assina que é teu, amado mestre Friedrich Nietzsche, aquele do vassourístico bigode.

“O que não mata, engorda”. Essa é frase de qualquer vagabundo anônimo de olho gordo mesmo, aquele sujeito que se expressa apenas em ditados populares.

Aí é que você vê, nos exemplos, como a filosofia de pára-choque de caminhão sempre foi nietzscheana ou tradutora do alemão para a estrada.

Reflito aqui à beira do caminho, na cidade de Iconha (ES), a encruzilhada que mais junta caminhoneiros no Brasil. Venho de Cachoeiro, terra do Roberto, terra de Sérgio Sampaio, terra de Rubem Braga.

É filosofia alemã pura, havia me alertado, muitos anos antes dessa viagem, o amigo Paulo Mota, cearense de Sucesso. Agora faço um eterno retorno do tema.

O pior, porém, é que não é mais possível filosofar em parachoquês. Já era.

Havia tomado um susto, dez anos atrás, sobre a escassez das frases nos caminhões. Foi em uma jornada entre Juazeiro do Norte/SP, na boleia de uma possante carreta, em reportagem sobre caminhoneiros para a revista “V”, na companhia do fotógrafo Tiago Santana.

Agora é para valer: a filosofia de parachoque morreu na buraqueira da estrada. Nietzsche deve estar molhando seu bigodón em lágrimas de Viena.

Sai a filosofia popular-nietzchiana e entra a louvação religiosa.

Jesus, aqui resguardado todo respeito e devoção cristã, acabou com as clássicas frases, sempre sábias e  decifradoras da vida. Jesus invadiu todos os parachoques, lameiras e painéis de caminhões.

Quando não tem Jesus, vai o escudo de time, mas o amor clubístico também não é mais o mesmo. Um Flamengo aqui, um  Corinthians acolá, um São Paulo mais adiante, um Vasco, um Atlético Mineiro…

Os mais românticos ainda pintam lá um coração com o nome dela, a amada, como na canção do Roberto. O mais lindo que avistamos foi um “Eu te amo, Joaninha, luz da minha vida”.

No que Caetano, o motorista cearense que nos conduzia, sábio de rodagem, não se contém: “Ser caminhoneiro tudo bem, ninguém escolhe o destino; mas ser caminhoneiro e corno também já é demais da conta!”

Manda a pérola e aperta a trilha sonora, DJ de boleia, na marcha lenta: Benito de Paula. “Ah, como eu amei…”

É, amigo, a filosofia de parachoque já era, mas você há de ter na memória a sua preferida. Vamos recuperar essa memória da estrada? Deixe nos comentários, por favor, a sua pérola.

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Dor de amor: tempo, pileque e música triste

Por xicosa
20/08/13 22:49

 

 

Essa turma da psicologia gringa torra os tubos e décadas de vida para comprovar o que a gente aprende logo no primeiro pé-na-bunda ao som de um Waldick, de um Roberto, de um Odair, de um Antônio Marcos, de um Chico, de um Tim Maia… Me dê motivo!…

Pode ser também de um Elvis –Costello ou Presley-, de uma Elis, de uma Ella, de uma Billie de uma Nina, de um Tom Waits, Lou Reed, Rolling Stones (“Angie”) ou de um Elton John –um dia conto aqui, me cobre, a história de um cara sensível que morreu ouvindo “Nikita” por uns três dias seguidos em um bar de Fortaleza.

Pode ser…

Essa turma dos estudiosos gringos descobriu só agora, como saiu hoje na Folha, que uma dor amorosa, como a da rejeição, ativa no cérebro as mesmas regiões acionadas quando temos uma baita dor física.

Leia matéria completa aqui, mas antes venha comigo, encosta tua cabecinha no meu ombro e chora, como diria o Altemar Dutra, outro clássico da seresta e da fossa.

Diante de tal revelação da ciência, o amigo Zeca Lembaum, saltou logo cedo, com pedras na mão para o uísque:

“Óbvio! Quem já sentiu dor de corno ou de cotovelo sabe bem o que é isso”, reverberou da Pompeia,SP, para o mundo.

Diria este calejado cronista que é mais doloroso do que qualquer dor física, mesmo pedra nos rins. É dor que cega.

Ao mesmo tempo, caríssimos pesquisadores, bem sabemos que só um chifre humaniza um macho que teima contra o sentimento do mundo.

Não há analgésico, não há composto de ervas mágicas, não há milagre químico, não há  remédio na farmácia para tamanho pontada aguda no peito do sujeito ou da sujeita.

Nem mesmo o Emplastro Brás Cubas, recomendado para subtrair a melancolia da humanidade, resolve tal drama.

Existe apenas um bom atenuante nos bares e cabarés: quando a vida dói, drinque caubói.

A lupicínica vingança –somente a lupicínica- também acalma o monstro, a monstra dor-de-cotovelo.

Sempre com uma boa trilha ao estilo “meu mundo caiu”, evidentemente. Tempos atrás, publique neste blog uma lista das melhores canções para pé-na-bunda. Uma nacional, confira aqui. Outra estrangeira, disponível acá.

Coisa de quem tem milhagem na parada, coisas da vida.

Pena que muita gente fica cabreiro, na defensiva, e evita, a todo custo, um novo romance.

Vira tudo homem-Nostradamus e mulher-Nostradâmica. Criaturas que diante de qualquer possibilidade amorosa despertam para teorias do fim do mundo.

Como se houvesse a sorte de um amor tranquilo. Se for amor sempre rola um desassossego. Alguns beiram a loucura no deserto, como no filme do caubói que ilustra este post -repare na cena, recomendo, em que ele laça a jukebox que toca uma música triste. Um gênio chamado Sam Shepard.

E você, amigo(a), que trilha de fossa recomenda para curar uma dor amorosa?

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Sheik: futebol é um armarinho de surpresas

Por xicosa
19/08/13 23:30

Tem aquela velha definição: futebol é uma caixinha de surpresa. A gente nunca sabe o que pode acontecer em campo.

Fora do jogo, porém, o futebol é um armário de surpresas, um armarinho de surpresas.

Está repleto de enrustidos ou mal-resolvidos que se revoltam diante de uma simples troca de afetos.

Nem os russos aliados do Putin -o ditadorzinho da lei antigay- conseguem ser tão retrógrados. Pelo menos no critério de homem beijar um amigo em público.

Trato, evidentemente, do selinho do Sheik.

O selinho do Sheik foi fofo, diria a Hebe, a madrinha do gesto na tv brasileira lembrada pelo próprio atacante do Corinthians.

Sheik sabe que a alegria é a prova dos nove.

Sheik, um gozador nato.

Apenas um selinho do boleiro no amigo Isaac Azar, dono do restaurante Paris 6, nos Jardins, e lá estava formado o sururu na área.

Ao postar o instantâneo fotográfico nas redes sociais, Sheik até previu o barulho. Mandou recado para quem, por ventura, duvidasse da sua sexualidade.

É aquela velha lenda: futebol é coisa pra macho. Como se um selinho ou o quer que seja subtraisse a macheza do sujeito. Falar nisso, recomendo uma crônica do John Symon, no “Vira Latas E.C.”, que vale a leitura. O doutor Freud curtiria na certa.

Futebol é coisa pra homem, homem hétero ou homem homo, futebol é coisa para bi, bicha, viado, travesti, pansexual, transgênero, operado(a)…

Futebol é para quem saiu e para quem não saiu ainda do armário, como muitos corintianos raivosos com o selinho dessa figuraça que é o Emerson Sheik.

Corintiano de verdade tem mais o que fazer e não vai perseguir boleiro por selinho ou o qualquer outro gesto particular de carinho público ou privado.

Corintiano para valer se pronuncia assim, como o amigo Flávio de Castro, no facebook:

“O cara venceu o barraco de tábua e as ratazanas de Nova Iguaçu, estremeceu la Bomboneira e emudeceu os xeneizes, venceu três brasileiros seguidos e foi campeão do mundo. E com esse selinho, coisa de macho, muito macho mesmo, se consagra de vez como meu grande herói no futebol moderno e no meu timão. EMERSON SHEIK – tamo junto truta, aqui é Corinthians.”

O mais louco é o medo dos corintianos indignados com o selinho. O medo de ser comparado aos são-paulinos chamados de “bambis”. Meu São Sebastião cravado de flechas!

Santa revolta. Audácia da pilombeta.

Bola pra frente e salve o Sheik Simpatia, salve!

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A beleza da mulher que vai embora

Por xicosa
19/08/13 01:38

Quando não há mais nada a dizer e só o “passa a farofa”quebra o silêncio na mesa.

Nada mais a comentar naquele restaurante barulhento de domingo. Tudo em câmera lenta, uma demora de séculos até a sobremesa. Nem a calda quente de chocolate do petit gateau aquece aquela mulher triste.

“Passa o azeite”.

O homem disfarça o tédio com uma ponta de olho no jogo Portuguesa x Botafogo.

Até o garçom, velho conhecido do casal, sente o drama.

“Passa a pimenta”.

Eles não conseguem dizer um para outro nem que a comida do de “O Caranguejo”está ótima. Não há moqueca que alivie o domingo frio daquelas pobres almas.

Aquele sábado em Copacabana já era… Depois num bar à meia-luz, never more, esqueça.

Os corpos também já não se entendem, velho Bandeira, nem para esquentar os pés nesse friozinho de agosto.

Não há mais o que ser dito. Só o silêncio ainda os une. Não há sequer D.R., a mitológica discussão de relação. Eram viciados nessa prática que os conduzia, inevitavelmente, ao sexo selvagem.

Só o iphone salva antes de chegar a conta. Só o aparelho disfarça o delito de levar o amor àquela condição irreparável.

Não há o que postar no facebook. Estão em um relacionamento “fala sério”. Estão em um relacionamento águas passadas.

Só a inércia segura sob o mesmo teto. Só a preguiça.

O fim do amor dá mais trabalho do que fazer  o mundo em sete dias.

Se conheço minimamente uma mulher, de hoje não passa. Ela não suporta mais. Vai desabafar e fazer subir os créditos do filme e o “the end”.

Sim, porque homem só empurra com a barriga de chope e picanha completa. Homem é vírgula e vacilantes reticências, só uma fêmea crava o ponto final no enredo.

De hoje não passa. Reparo que ela não aguenta. Não há calda quente de chocolate que aqueça o sorvete do desprezo.

Garçom, por favor, a conta.

Ele vai chegar em casa e ligar a tevê para o segundo tempo do jogo. Ela vai começar a arrumar a mala.

Ele vai quebrar o silêncio, aos berros, ao terceiro gol do Botafogo. Vestido no mesmo moletom preto com listas brancas que ela detesta. O uniforme oficial do tédio e da rotina.

Ela vai dizer basta silenciosamente. Não é possível que ele não repare como andam as coisas, ela pensa. Ela se contorce de raiva. De hoje não passa.

Ela despeja a gaveta de calcinhas numa sacola. Ele liga para amigos que torcem pelo mesmo time. Ele vai comemorar. Ela diz baixinho “vai ver se estou na esquina”.

Agora a mesma moça arrasta a mala  entre triciclos e famílias supostamente felizes na Avenida Atlântica. Sente o vento frio nos olhos pintados com requinte de vingança e a impressão de que já vai tarde.

Nada supera a beleza do momento em que uma mulher resolve ir embora.

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Vivemos a era do "tô cafuso"

Por xicosa
15/08/13 22:11

Protestos, escândalo do metrô de SP, fim-de-feira do Mensalão, Fora do Eixo, Mídia Ninja, Amarildo, a chacina da família de policiais, a união dos anarcopunks & Black Block…

O cardápio diário é sortido neste grande bufê a kilo das redes sociais.

E tome angústia da informação diante da fartura.

Só tocando Raul: você manda ver aquela velha opinião formada sobre tudo.

Ou, como preferia o próprio roqueiro baiano, você encarna a metamorfose ambulante.

O mais honesto, porém, seria adotar um velho mantra do líder de “Os Trapalhões”. Foi o que fez recentemente a jornalista e produtora cultural paraense Karina Jucá no Facebook:

“Como diria Didi Mocó sobre a sua ~confusão tropicalista ~: – tô cafuso.”

Estamos todos, de certa maneira, “cafusos”.

Seja um ninja, uma gueixa alternativa ou um velho gutenberguiano da imprensa.

Menos os paranoicos, seguros como nunca nas suas conspirações.

No mais, chacrinizou geral. Tudo veio para confundir, não para explicar.

Perdemos o eixo –sem nenhum trocadilho com a turma da horizontalidade.

Assumir estar “cafuso”é um belo recomeço.

É tempo de homens “cafusos”.

Sejam chiques ou cafuçus.

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Mistério do planeta: o riso de uma passante

Por xicosa
14/08/13 16:47

É um segundo da mais absoluta comoção. Chega a ser uma epifania? Sim, óbvio, é isso ai, pode escrever.

Não é todo dia. É raríssimo. Hoje cedo dei sorte de novo. Aquele raro minuto em que a beleza senta nos teus joelhos, como assobiava o menino Arthur Rimbaud. Senta, em uma fração de segundo, e vai embora.

Foi ali na frente da Adega Cesare, ai de mim, seu Rubem, ai de mim Copacabana.

Lá vinha a morena. Minhas retinas fatigadas fecham em close. Que maravilha. Aquele sorriso, como é que se diz?, indecifrável. Porque não se trata de um sorriso besta de alguma felicidadezinha passageira, de um ganho financeiro, de lance da sorte no amor ou no jogo. É mais.

Dá-me vinho e enigma que a vida é nada.

Muito mais do que o sorriso da Monalisa, que, reza a lenda, era o sorriso de uma grávida. Não é o sorriso dos paraísos artificiais dos remédios tarjas pretas ou de alguma pastilha psicodélica.

Nada.

Não é apenas o sorriso de quem recebeu uma notícia alvissareira, passou no concurso ou viu o regime fazer o efeito pretendido, uns quilos a menos, nova silhueta, que beleza! Nem chega perto.

Também não é o sorriso de quem ouviu uma cantada de amor com requintes de vida eterna.

A moça que ri sozinha na calçada é um mistério e a ele se resguarda. A vida, seu jornalista, não cabe em um lead-sublead.

Não é o riso de quem ouviu uma piada, um “gostosa”, “tesouro”, como dizia o Didi Mocó antigamente etc etc.

É lindamente complexo, sofisticado, fora do eixo das explicações e obviedades.

O poeta Manuel Bandeira, em correspondência com o cronista Rubem Braga, dizia que se tratava de momento raro, raríssimo, era mercadoria que não tinha preço, êxtase, coisa mais linda… Mas não arriscou um diagnóstico. Nem entrou no mérito, observou, e pronto, basta.

Será que a moça que vem na calçada ri de alguma coisa que despencou, naquele exato instante, do trapézio da memória? Alguma coisa muito engraçada dos tempos em que ela era uma pequena, uma piveta de joelhos ralados…, quem sabe uma queda de uma árvore ao subir pela primeira vez no pé de jambo da frente da casa com varanda?

Não é o sorriso de quem recebeu carta do estrangeiro, carta do amor que um dia escafedeu-se, saiu para comprar o king size do desamor e do desprezo.

Às vezes parece um pouco com um certo sorriso de maldade. Uma pontinha de vingança, quem sabe. Mas que nada. Só parece. Nada disso. À medida, mesmo naquele rápido segundo, que os lábios voltam ao normal, desfazendo o sorriso e a covinha, vê-se que não tem nada de maldoso naquele retrato.

Muito menos é tingido pelo gloss sabor uva da ironia ou o batom vermelho das vingativas. Não, não é nada irônico, nada ressentido.

Quanto mistério num sorriso de tão pouco tempo. Daria uns cinco anos de vida em troca do esclarecimento desse enigma de um segundo. Chego até a refletir, cofiando a barba rala e dando pequenos nós na costeleta: será que é consciente, será que elas sabem que o misterioso sorriso toma conta do rosto naquela hora?

Não, também não é só sexo. Por mais que o gozo, a pequena morte, como dizem os franceses, faça bem à pele e seja motivo do carnaval particular no peito, não é esse ainda o motivo isolado daquele sorriso, um sorriso mais invocado do que o sorriso do gato de Alice.

Gastaríamos telas e mais telas, árvores e mais árvores de papel, em especulações ainda sem rumo. Coisa de agoniar o juízo. Melhor mesmo apreciar, estoicamente, esse lindo mistério de uma passante.

No mais, amigo Antônio Maria, é lembrar daquele teu velho chiste: “Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire.”

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Como bate o coração de uma mulher

Por xicosa
13/08/13 02:16

Para entender como bate o coração de uma mulher é preciso ter sentido algum dia na vida um pássaro preso na mão.

Não há blues, não há jazz, não há bossa, não há rock.

Não há educação de ritmo que nos faça entender, a princípio, essa coisa toda.

Não há escola, livro bom ou picaretagem de auto-ajuda. Ou se convive loucamente ou nunca vai saber o que seja uma mulher na vida. Mesmo convivendo loucamente, sabe-se pouco ainda. Eis o mistério do planeta, baby.

O coração de uma mulher sequer é bebop, é um sopro autoral no coração dos iluminados vagabundos, sopro que nos mantém vivos entre uma sístole e uma diástole.

Elas vão notar, de cara, quando se trata apenas de um donzelo a decifrá-las, um cabaço, mas tá valendo, bom é que seja homem e tente.

“Vem, meu menino vadio…”

É mais fácil enganar a Deus e a Darwin juntos do que enganar uma fêmea.

Cada mulher sopra de um jeito. Pobre de quem tenta entender como gênero ou discurso amoroso uma rapariga. Há mulher Billie Holiday, há mulher Nina Simone, há mulher crente, há mulher desgostosa, há mulher e isso é o que interessa.

Uma cachorra de hoje, uma Anitta, por exemplo, pode ser tão significante quanto uma Simone de Beauvoir na laje. Tão revolucionária quanto. Com a vantagem de não ter aguentado o ser, a náusea, o Jean-Paul Sartre.

Não há coração vira-lata no peito de uma fêmea.

Só sei que nada sei, como me disseram os dois Sócrates da minha vida, o grecorintiano e o grego de fato, mas tudo que aprendi no mundo aprendi com os pobres corações dos pássaros.

Embora em pequena cadeia comercial de família, capturei, prendi, vendi, trafiquei, no varejo de uma cidade do interior do Nordeste brasileiro –o centro do universo-, aves, bichos, passarinhos. Infinitas contradições da trajetória: amava, estimava e com tais criaturas ganhava um troco para o xerém da existência.

É preciso ter prendido algum pássaro ou soltado algum dia no aquário um peixe vermelho, mesmo sem ser aqueles caras cinematograficamente charmosos e metidos do “Rumble Fish”(by Francis Ford Coppola), para saber como desliza para dentro da sua vida uma mulher.

É preciso ter cuidado com pássaros, peixes e mulheres, é preciso respirar os mesmos ares e oxigênios, mesmo morando em São Paulo, mesmo dentro de um aquário ou de uma gaiola sob o Minhocão aos domingos.

A primeira vez que eu vi seu rosto, agora peço ajuda ao bardo Johnny Cash, digo, a primeira vez que eu beijei sua boca, eu senti a Terra girar em minha mão como o coração trêmulo de um pássaro de cativeiro, aquilo estava ao meu comando, minha pequena, como no meu primeiro tráfico de pássaros.

Mal sabia que não há domínio sobre os mistérios sagrados. As aves se domesticam; os peixes se aquietam diante de luzes, algas e farelos; as mulheres criam escamas, asas, mesmo as que não desejam sair nunca do mesmo canto –ou reino- cometem seus belos deslizes.

As mulheres não se contentam nunca. Aí mora a lindeza danada delas.

Tal como os tremores do coração de uma ave em cativeiro, viejo Johnny Cash.

Tal, mas nunca qual!

Para segurar minimamente uma mulher não há segredo. É só tentar rezar todas as manhãs para Nossa Senhora das ~Belas Bucetas~ Impossíveis, amém.

Para entender como bate o coração de uma mulher é preciso ter sentido algum dia na vida um pássaro preso na mão. Liso como um peixe vermelho.

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Em defesa do belo bosque de Nanda Costa

Por xicosa
10/08/13 22:16

A patrulha asséptica ataca novamente. A patrulha da cera negra espanhola não perdoa a atriz Nanda Costa, capa da Playboy que acaba de chegar às bancas.

Nanda, quantos mistérios no seu belo bosque!

A talentosíssima atriz veio às páginas como aparece no “Febre do Rato”, filme dirigido por Claudio Assis. Falo em matéria de zona da mata.

A moça já bate, na cabeluda polêmica, Claudia Ohana -posou ainda em tempos pré-internéticos, 1985- e Vera Fischer, em 2.000, quando o tricô na rede ainda não tinha a força e a palavra pêlo ainda tinha acento.

Ah, esses moços, pobres moços, caro e chegado Lupicinio!, com nojinho de pelos pubianos. Como pode, amigo?

Sempre no combate à patrulha, relanço agora um velho libelo:

Pela Amazônia Legal das Moças.

Contra o desmatamento total das glebas. A não ser na primavera, para renovar a flora e fazer uma surpresa para um moço novo, ou uma nova moça, na sua vida.

Por uma política pubiana sustentável, apenas aparável, jamais beirando o semi-árido e as miragens do deserto.

Contra os desenhozinhos cabulosos. Este campo sagrado não é grama de arena futebolística para tais experimentações estéticas.

Lembre-se, Lola, do quadro “L’Origine du monde” (1866), sim, a origem do mundo, obra do realista Gustave Coubert.

Contra a devastação da cera negra espanhola e todas as outras técnicas colonizadoras que molestem as lolitas ou as lindas afilhadas de Balzac.

Por uma relva fresca todas as manhãs. Uma relva molhada pelos desejos noturnos e inconscientes. Uhn, aquele cheiro da aragem divina.

Contra o mundo limpinho que decreta o fim dos pelos púbicos. Sou da turma do contra. Por uma razão simples: sexo sem pelo (de tudo) não é sexo.

Tudo bem, o estilo consagrado na “Playboy”  da Claudia Ohana pode ter datado,  mas a falta total de pelo infantiliza muito o enlace amoroso.

Só há maldade e erotismo nos pelos.

A depilação 100% sempre funcionou muito bem como um fetiche provisório, um presentinho ocasional ao amado. Não deve ser permanente como a revolução de Mao Tse Tung.

Onde estão o Greenpeace, o S.O.S. Mata Atlântica e todas as ONGs que não berram contra essa chacina ecológica.

Pela Amazônia Legal das Moças e os seus lindos estuários do desejo latente.

Pela exploração táctil e oral do relevo, das reentrâncias, dos riachinhos que deságuam nos mares nunca dantes.  Todos os mistérios guardados além muito além dos pelos.

Contra os trocadilhos para dar nomes às casas de molestamentos depilatórios. “Pelo menos”, “Muito pelo ao contrário”, “Pelos melhor não tê-los” etc.

Contra o sexo limpinho. Contra a corrida para o banho depois do gozo.

A favor de guardar o cheiro dela na barba, o dia inteiro, o que aliviará as dores do mundo no passeio do cavaleiro pelas calçadas.

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