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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

Soneto do embargo infringente

Por xicosa
17/09/13 01:50

Você abusou, e eu aqui todo carente

E você não aceita, nem a pau,

meu pobre embargo infringente,

Lascou, que fazer, perdão, foi mal…

 

Sempre te tratei como Lewandowski

Você surtou, fez pirraça de mim,

Cheguei com o lirismo de Maiakovski

E só recebi de volta um Joaquim.

 

O que fazer, velho Lênin, que fazer

Diante desse meu profundo amorzim?

Talvez recorra, socorra, talvez beber…

 

Talvez eu morra, talvez, só para mim

Que o mundo escorra, que me saiba ler

Meu supremo de frango, assado, assim.

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Nada detém, amém, a vingança da mulher

Por xicosa
15/09/13 03:12

“Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar pela frente”,berrava a amiga G., a pedra do Leme por testemunha, nesta noite de sábado. Estava tomada pelo sentimento da ira.Ou talvez apenas encarnando seu personagem predileto: a cigana Carmén, precisamente a do filme do Carlos Saura.

Quem sou eu, rasteiro cronista flanador en la noche, para julgá-la.

Culpa do marido, ela confessou. Melhor, culpa do traste com quem vive (vivia?) há (havia?) quatro anos e pouco, uma filha, muitos carnês de prestações, dois Rock in Rio, e uma viagem à Europa.

“Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar pela frente”, repetiu, zero dúvida, sangre en los ojos.

Não seja por isso, ora, me coloquei no jogo, afinal de contas eu era mesmo o primeiro homem no seu caminho naquela noite. Sim, não seja por isso, repeti, na cara de pau, meio de onda, meio à vera.

Afinal de contas, não creio nessa história de que o sexo possa estragar uma grande amizade. Estraga uma amizadezinha qualquer, não uma bela amizade. E G., vos digo, é meio Scarlett Johansson meio Paula Toller. Com a vantagem de ser de Niterói. A travessia da barca faz uma mulher naturalmente mais linda, me diz o Arariboia.

Afinal de contas, ela me puxou para um drinque na velha La Fiorentina, soltou os cachorros, desabafou, e seguiu firme, daria inevitavelmente para um estranho naquela noite. Básico instinto, como define um trovador genial aqui da minha vizinhança.

Com ira de mulher não se brinca, a amiga G. daria até para o pobre Sizenando a essa altura, só para mostrar, caríssimo Sizenando, que a vida não é assim tão triste como você conjectura.

Ninguém detém uma mulher sacaneada. Seja traída por um homem fofo ou por um homem cafa. Tanto faz.

Quer dizer, pior ainda é quando a sacanagem parte de um homem supostamente bom e fiel, o que era o caso do marido ou ex da minha amiga G., a determinada que a essa altura deve estar nos braços de um vagabundo no Galeto Sat´s (Copacabana), na sexta caipirinha da coragem, espetando corações de galinha para não esquecer a “fdp da colega de pilates” que firmou um caso com o seu homem, ex, sabe-se lá o destino.

Depois conto o desfecho. O que interessa, amigo, é que toda noite sai de casa uma mulher irada prometendo dar ao primeiro homem que encontrar pela frente. Nesse caso, quanto mais estranho para ela, melhor e mais apropriado.

Toda noite, amigo, uma mulher sai de casa com a canção de Lupicínio entre os dentes: “Só vingança, vingança, vingança, aos deuses clamar”.

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A língua da cantada: do fiu-fiu ao ´i love you´

Por xicosa
12/09/13 04:28

A cantada, meu jovem, é como o Barry White, que toca aqui na vitrola, sussurrando “Love making music”, uma das melhores faixas para fazer amor de todos os tempos.

Faça amor, não faça mimimi virtual na madruga.

A cantada é um processo de desejo. A menos que você queira apenas se exibir para mostrar que é macho para outro machinho metido.

Sinceramente, é melhor se amostrar para as moças, benditas sejam as moças –como queria o gênio-mor da noite Antônio Maria- , benditíssimas ou vadiíssimas mulheres.

Se o camarada vem sempre de fiu-fiu, ela jamais virá de “i love you”.

A cantada é como dançar música lenta, dois pra lá, dois pra cá, sarro gostosinho e de comum acordo, como diria meu amigo e doutor Halley (Maroja) Bó, homem sábio. 

A cantada à queima-roupa, cano fumegante, só queima seu filme. Dificilmente alguém obtém sucesso com as mulheres com uma abordagem mais violenta. Morre na mão feito colher de pedreiro, amigo.

Você viu, meu jovem, o que elas pensam sobre o fiu-fiu? Não é aquela parada de “mulher mal-comida”ou “coisa de feminista”. Esqueça os clichês na pelada da quarta-feira.

Segundo pesquisa do ThinqOlga.com, blog que discute a feminilidade, 83% das mulheres não curtem nadinha o assédio. Apenas 17% acham legal a abordagem.

Aí estamos falando do andaime ao mais burguês e futurista ambiente de trabalho, como vemos nas queixas das moças.

É constrangimento só. Ponto. É como o relógio da firma, nunca adianta, sempre atrasa o nosso lado. Mais-valia que é bom, necas, se é que você me entende.

Ah, tá, se você não quer ficar com ninguém mesmo a estratégia é perfeita, meu caro.

Aqui não pago de santo do pau oco ou padroeiro das correções, jovem Jonathan Franzen. O barato é outro.

Até o mais tímido homem de óculos de Carençolândia City já soltou, mesmo que por descuido, um “GOSTOSA!”diante de uma gazela desconhecida.

Dependendo do jeito que é dito e, e da distância física, é para lá de constrangedor mesmo. Normalmente a cantada mais bruta de rua é colada na mulher. Assombra. Sem se falar na cavernosa puxada de cabelo que persiste nas baladinhas mais descolexs das ditas cidades modernas.

E você sabia, amigo, que até um aparentemente católico “Nossa Senhora!”( 64% das mulheres revelaram ser vítimas desse xaveco) pode constranger a moça? Bem, foi o que elas contaram. É melhor acreditar, meu garoto.

Aí você, meu donzelo da Sé, há de dizer: balela, a mulherada fica toda orgulhosa diante da cantada grosseira. É que não quer revelar o que deveras sente.

Mas que nada!

Não confunda “pegada de homem”com a delicadeza perdida.

A cantada tipo faroeste à qual nos acostumamos é bonito, repito, para o orgulho de outro homem. Como o macho adora se exibir para outro macho. Freud explica. Porque o sexo é assunto popular, como canta Zé Ramalho.

Aliás, no Velho Oeste, as mocinhas eram infinitamente mais respeitadas. Perdão, John Wayne.

Sei lá, isso aqui é apenas uma crônica reflexiva pra gente botar na roda o assunto. Você acha, leitora, que a cantada à queima-roupa é constrangimento puro? Será exagero da pesquisa? Você aprecia o assédio?

Enfim, abra suas asas, solte suas feras, como diriam “As Frenéticas”.

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Educação sentimental: o homem frouxo (XIII)

Por xicosa
10/09/13 04:19

Graças aos amigos Fred Jordão e Beto Azoubel, farejo aqui, ainda de longe, o cardápio do Bar do Homens Fortes, ambiente familiar de macho-jurubeba (rua Mangabeira, 487, Bomba do Hemetério, Recife), uma das atrações do festival Delícias da Comunidade.

O nome do estabelecimento me remete ao moderníssimo sintoma da época, a nossa fruta da estação dos costumes: o homem frouxo e/ou deveras metrossexualizado, com medo da comida de sustança e das mulheres dispostas.

Coragem, meu filho, coragem, a vida é luta renhida, viver é lutar, como nos dizia o Gonçalves Dias. Eternamente epistolar, ou seja, tomado pelo gosto estranho de escrever cartas aos semelhantes em apuros, remendo aqui a missiva que destinei aos homens mofinos.

***

Amigas, peço a devida licença para me dirigir exclusivamente aos meus semelhantes de sexo, esses moços, pobre moços, neste panfleto testosteronizado.

Sim, amigas, esses seres que andam tão assustados, fracos e medrosos, beirando a covardia amorosa de fato e de direito.

Destemidas fêmeas, caso observem que eles não leram, não estão nem ai para a nossa carta aberta, mostrem aos seus homens, namorados ou pretendentes,  esfreguem uma cópia impressa nos narizes insensíveis para os bons cheiros da vida.

Uma cópia colada na tv antes do clássico do futebol não funciona. Ele vai esquecer de ler depois.

Agora falando sério, e só para estes moços, pobres moços:

Amigos, chega dessa pasmaceira, chega dessa eterna covardia amorosa. Amigos, se vocês soubessem o que elas andam falando por ai. Horrores ao nosso respeito.

O pior é que elas estão cobertas de razão como umas Marias Antonietas cobertas de longos e impenetráveis vestidos.

Caros, estamos sendo tachados simplesmente de frouxos, medrosos, ensaios de macho, rascunhos de homens.

Rapazes, prestem atenção, faz sentido o que elas dizem. A maioria de nós anda correndo delas diante do menor sinal de vínculo, diante da menor intimidade, logo após a primeira ou segunda manhã de sexo. O que é isso companheiros? Fugir à melhor das lutas?

Nem vou falar na clássica falta de educação sentimental do dia seguinte. Aí já é nosso paleolítico, história datada. Como assim, cabra fulero, nem um lacônico SMS – “noite linda,gracias!”

Francamente, hombres.

Delicadeza, macho,  não custa nada, não terá nem mesmo que roubar ou quebrar teu infantil porquinho de economias.

Amigos, estamos errados quando pensamos que elas querem urgentemente nos levar ao altar ou juntar os trapos urgentemente. Ledo (ivo) engano. Erramos feio. Em muitas vezes, elas querem apenas o que nós também queremos: uma bela noitada.

Por que praticamente exigimos uma segunda chance apenas quando falhamos, quando brochamos, algo demasiadamente humano? Ah, eis o ego do macho, o macho ferido por não ter sido o garanhão que se imagina na cama.

Sim, muitas querem um bom relacionamento, uma história com firmes laços afetivos. Que mal também há nisso. Desejo legítimo, lindo, está longe de ser um crime, e além do mais pode ser ótimo para todos nós.

Enquanto permanecermos com esse medinho de homem, nesse eterno e repetido “estou confuso” –“eu tô CAFUSO”, como dizia Didi Mocó!-, a vida passa e perdemos mil oportunidades de viver, no mínimo, bons momentos do gozo e da felicidade de varejo possível. Afinal de contas para que estamos sobre a terra, apenas para morrer de trabalhar e enfartar com a final do campeonato?

Amigos, mulher não é pra medo, é para nos dar o melhor da existência. Nada melhor do que a lição franciscana do “é dando que se recebe”, como cai bem nessa hora.

Amigos, até sexo pra valer, aquele de arrepiar, só vem com a intimidade, os segredos da alcova, as pornodevoções.

Caros, esqueçamos até mesmo o temor de decepcioná-las, no caso dos exemplares mais generosos do nosso clube.

Não há decepção maior no mundo do que a nossa covardia imediata em fugir do que poderia representar os bons momentos da felicidade possível, repito, não a felicidade utópica, que é bem polêmica, mas a felicidade que escapa covardemente entre nossos dedos adolescentes a toda hora.

Rapazes, o amor acaba, o amor acaba em qualquer esquina, de qualquer estação, depois do teatro, a qualquer momento, como dizia Paulo Mendes Campos, mas ter medo de enfrentá-lo é ir desta para a outra mascando o jiló do desprazer e da falta de apetite na vida.

Acordemos, hombres! E paz na terra aos homens de boa vontade!

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Carta ao meu amigo Charlie Brown

Por xicosa
09/09/13 01:28

Sacanagem, meu amigo Charlie, meu amigo Charlie Brown!

É com um drama real de um gênio da música brasileira, meu caro Charlie, que abrimos a semana nesta tribuna lítero-boêmia.

Pianinho, pianinho, pianinho…

Como escreveu o repórter Ricardo Gallo, desta Folha, o amigo de Charlie Brown está desolado. Depois de 34 anos, o cantor Benito Di Paula terá que deixar o casarão onde vive no Morumbi, SP. O imóvel será desapropriado pelo Metrô.

A casa é consequência, o amigo Charlie sabe muito bem disso, dos seus grandes sucessos, como “Mulher Brasileira”, por exemplo. Quem não se lembra também de “Retalho de Cetim”, clássico dessa figuraça que nasceu em Friburgo há 71 anos atrás.

Desapropriações acontecem, meu amigo Charlie, não tem outro jeito. O problema com o nosso brother Benito é que o governo de SP quer pagar apenas R$ 549 mil por um imóvel que vale pelo menos R$ 1,2 milhão. Leia reportagem aqui.

“Você cortou o barato, do meu amor/ Você mentiu, me iludiu/Me deixou por fora”.

Só cantando mesmo as belas canções do cara para espantar os mal-assombros governamentais, né, velho Charlie?

Mais respeito com o patrimônio sentimental da música brasileira, seu Geraldo. Vossa excelência mesmo, lá em Pindamonhangaba, deve ter frequentado muitos bailinhos ao som do Benito.

O Benito, Charlie, que no samba-exaltação, te apresentou a terra da garoa; o Benito, um fluminense que adotou São Paulo com todo o seu carinho.

Mais respeito com nosso ídolo, seu Geraldo.

Você pode ser culpado por meu samba entristecer. Ah! Eu vou-me embora…

“Meu corpo cansado e eu mais velho. Meu sorriso sem graça chorou. AAAHHH!! Como eu amei!”

Boa sorte, caro Benito de Paula, o que é do homem o tucano não come. Tomara meu Deus tomara. Aquele abraço. Nos vemos no próximo show do Club Municipal Tijuca.

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Dia do sexo, amor verdadeiro

Por xicosa
06/09/13 05:58

No dia do sexo, prefiro a pornografia e o amor complexo.

A pornografia, para bom entendedor, é apenas o erotismo dos outros.

Quero ver é amor que cheira, amor que fede.

Amar de verdade que é bom, necas, tempos de homens frouxos, mulheres vacilantes.

Vivemos a era do macho perdido e da fêmea que se acha.

Sim,  não curto essas coisas de Dia do Sexo, bem sabemos que é só pra vender alguma idiotice objetiva no mundo mais subjetivo do planeta: onde colocar o desejo?

Mas…, tudo bem, sexo por sexo eu prefiro um amor complexo, repito.

Sexo é coisa para os estivadores, me sopra aqui o amigo Marcelo Coppola – que saudade! Em Londres ninguém faz mais sexo, me diz a minha menina de cabelos coloridos.

Agora deixo vocês com a minha parceria com Pierre Louys, poeta francês amado e soprado ao escriba por lindas ninfomaníacas em flor, século XIX, obviamente.

Para ler em voz voz alta, a cartilha das moças de todas as formações. Peguei as  lições do cara e acrescentei, traduzi, sampleei, reinterpretei, reparemos na lindeza:

Não diga: “Chupe-me todinha”. Diga: “use a pedagogia da manga”.

Não diga: “Minha buceta.” Diga: “Meu coração.”

Não diga: “Quero te dar”.  Diga: “voltei da depilação”.

Não diga: “Estou com vontade de fazer amor. ” Diga: “Estou nervosa.”

Não diga: “Acabo de gozar como uma louca.” Diga: “Sinto-me um pouco fatigada.”

Não diga: “Ninguém me chupa como você”. Diga: “Eis a língua universal”.

Não diga: “Vou masturbar-me.” Diga: “Vou voltar.”

Não diga: “Eu prefiro a língua ao pênis.”  Diga: “Só gosto de prazeres delicados.”

“Não diga: “Não é nada disso que você está pensado”. Diga: “Se junte a nós na menàge e sejamos felizes”.

Não diga: “Entre as refeições só bebo porra.” Diga: “Sigo uma dieta especial.”

Não diga: “Vem com jeitinho”. Diga: “Não foi assim que te ensinei”.

Não diga: “Tenho doze consolos em minha gaveta.” Diga: “Nunca me entedio quando estou só.”

Não diga: “Beije os meus pés”. Diga: “Você hoje ainda não rezou por mim”.

Não diga: “Os romances honestos me chateiam.”
Diga: “Eu gostaria de ter algo interessante para ler.”

Não diga: “Quando se lhe mostra um pênis, ela se zanga.” Diga: “É uma original.”

Não diga: “É uma menina que se masturba até quase morrer.” Diga: “É uma sentimental.”

Não diga: “É a maior vadia da terra.” Diga: “É a melhor menina do mundo.”

Não diga: “Ela deixa-se enrabar por todos aqueles que a masturbam.” Diga: “Ela flerta um pouco.”

Não diga: “Ele é cafa.” Diga: “Ele tem o caráter muito firme.”

Não diga: “Ele gozou em minha garganta e eu na dele.” Diga: “Trocamos algumas impressões.”

Não diga: “Ele faz sexo selvagem.” Diga:” É um simplório.”

Não diga: “Você é o homem da minha vida”. Diga: “Você me conforta bem lá dentro”.

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Em defesa da masturbação com enredo próprio

Por xicosa
05/09/13 02:15

Leio aqui no “especial sexo” da revista “sãopaulo”sobre o tratamento da masturbação e da pornografia como dependência masculina, um serviço do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas. Mais um belo serviço do HC.

Tudo a favor da masturbação. Sem aparte crítico também no que diz respeito à pornografia. Não mesmo. “Sejamos pornográficos, docemente pornográficos”, como dizia, no lirismo insuspeito de come-quieto, o poeta Drummond.

Leia a matéria completa sobre a dependência aqui. Antes, porém, venha comigo, meu jovem, nesta crônica de costumes. Da minha parte não é nada científico, digo logo, mas uma profunda investigação de botequim e muita devoção ao deus Onan me levaram a algumas conclusões:

Toda fartura leva à seca da imaginação.

A superoferta de vídeos e fotos pornôs tem empobrecido o sagrado ato de se masturbar –historicamente sempre foi considerado pecado pela Igreja Católica, lembro-me muito bem das minhas primeiras confissões ao padre Murilo, em Juazeiro do Norte.

Sim, creio que a fartura esvazie o poder imaginoso, imaginação + gozo.

O clímax é cada vez mais precoce e automático, como já previa o profeta Georges Bataille -um escritor francês taradíssimo do qual falarei ainda esta semana.

Em vez de criar um enredo próprio, uma historinha com o seu obscuro objeto de desejo, o rapaz de hoje em dia se contenta com um avexado videozinho –em muitos casos o sujeito ainda adianta as cenas, ligeirinho, de tão objetivo que se tornou na sua vida-miojo.

Sempre é bom dizer de novo: nada contra. É que poderia ser melhor. Recorrer à fartura de imagens é do jogo pós-moderno. O ruim é não alternar este uso com o enredo caseiro da imaginação.

É um desperdício de uma herança divina da humanidade. O ato de se masturbar é uma dádiva mesmo. O direito de gozar com a deusa do bairro, a prima saliente que dá corda e nada mais, a bela afilhada de Balzac, a coleguinha da escola, a proibida, a proibidona do pedaço…

É tirar do homem a sua capacidade de roteirizar o seu próprio desejo. Que a superoferta de imagens tenha o lindo uso em uma linha auxiliar, nunca como recurso principal.

Só a imaginação nos leva às mulheres reais, às nossas vizinhas gostosas, àquela moça de BH que se definiu lindamente outra noite como “barroca e brejeira”, só a imaginação nos suprime os limites, só a imaginação é crível, sincera, só a imaginação dá um trato, sem frescura ou photoshop, no nosso desejo.

E para saber mais sobre o deus Onan, leia o Antigo Testamento, mais precisamente o Gênesis. O livro homônimo do Robert Crumb (ilustração lá na cumeeira do post) também vale.

Tratei apenas da masturbação masculina. Perdão, moças, o mote da crônica era a dependência dos meninos. Creio, porém, que a mulher, sempre mais sofisticada e/ou barroca, seja autorreferente e se volte infinitamente mais para si no gozo de tal natureza.

O que acha?

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O inadiável choro público das mulheres

Por xicosa
03/09/13 12:43

Ou a inconsolável criatura de Confins.  Aeroporto, Belo Horizonte.

A moça, elegante no seu vestido que lembra um grafismo à Valentino, larga o celular e chora. Não chora, digo, desaba, é mais que um choro.

Não parece um choro normal de saudade, lágrimas aeroportuárias, lágrimas para viagem.

Tampouco lembram as fáceis e dramáticas lágrimas de gares que testemunhei em Lisboa e arredores. Não são lágrimas de “adeusinho” diante dos comboios que chegam ou que partem.

São lágrimas com o irrefreável e irreprimível soluço do fim dos amores.

A esteira, à espera da mala, gira como um vinil de bolero.

As rodas do carrinho da bagagem rangem as dores do mundo todo. Não há lubrificante para as dores daquela chegada.

O britadeira da obra amplifica a agonia da moça.

O operário, com camisa número 9 do Galo, desliga a máquina.

O soluço da moça constrange o homem de terno.

Os desiludidos do amor fogem, apressados no congestionamento de carrinhos, com medo de rebobinar antigas dores no juízo -aquelas lágrimas são danações que precisam ser evitadas a todo custo.

O ceuzão que nos protege em Belo Horizonte parece nos dizer um “bom dia, tristeza”, como no cartaz do belíssimo filme que ilustra este post.

A inconsolável criatura de Confins não consegue esconder suas lágrimas por detrás da elegância e dos gigantes óculos escuros da viuvez amorosa.

Refaço a frase e o fluxo: a inconsolável criatura de Confins, em nenhum momento, pensa  em suas lágrimas esconder. Pronto.

O choro público das mulheres é um atestado da mais absoluta decência de suportar as dores e as agonias do estar vivo.

Repito o que havia alinhavado em crônicas antigas deste blog. Uma das grandes vantagens das mulheres sobre nós é a coragem, o destemor, de chorar em público. Se o choro vem, as mulheres não congelam as lágrimas, como os moços,pobres moços…

Elas não guardam as lágrimas para depois, como sempre adiamos, não levam as lágrimas para chorar escondidos em casa.

Pior ainda é o homem que não adia. Simplesmente não chora nunca. Além de fazer mal ao coração, esse tipo não merece muita confiança. As mulheres não, falo da maioria das moças, desabam em qualquer canto e hora. Se estão mal deveras, choram na firma, no escritório mesmo, na fábrica, choram no trânsito, choram no metrô, no aeroporto, na rodoviária.

Como invejo as lágrimas sinceras das fêmeas.

Quantas vezes a gente não se preserva, por fraqueza, enquanto as lágrimas, em cachoeira, batem forte no peito machista e viram apenas pedras do gelo do uísque.

Como invejo as mulheres que misturam sim o trabalho com o drama heavy metal da existência. Desconfio da frieza profissional, das icebergs de tailleur, que imitam os piores homens e guardam tudo para molhar o travesseiro solitário numa noite de inverno.

Ora, as mulheres podem ser infinitamente poderosas, administrarem plataformas de petróleo nos mares… e chorarem um atlântico diante de uma alma vagabunda e sem cuidados.

Lindas e comoventes as mulheres que choram em público, nas ruas, nos bares, nos restaurantes, nas malocas, em Confins, como a criatura inconsolável que agora some da vista em um táxi rumo à cidade de Belo Horizonte.

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Mulher mística é pé-na-bunda na certa

Por xicosa
30/08/13 12:28

“Minha pedra é ametista/Minha cor, o amarelo/Mas sou sincero…”

Escuto essa genialidade maluca do João Bosco no táxi para casa. Chupa, seu cronista. Chupo o frio chicabom da solidão a caminho de Copacabana.

Quando você sofre, toda música, principalmente na madrugada, é sua biografia inteira.

“Minha pedra é ametista…”

Repetitivo qual um peru diante de um assobio, o silvo breve do destino, penso, de novo e de novo, a mesma coisa. E banco a vítima, com moral de quem deveras padece o infortúnio.

“Calma, amigo”, diz o taxista. “Tem muita mulher do mundo”.

Você que pensa. Resposto ao vento. Só existe uma fêmea no planeta, a que você acaba de perder. O resto é Édipo ou homem.

Quando ela se põe mística, meu caro taxista, adeus.

Quando ela pisa nos astros distraída, meu caro Orestes Barbosa, demorô, perdeu, pleiba.

A mulher é superstição pura. Toda mulher é pisciana de cabeça e leonina de vontade própria. Viagem. Toda mulher não passa de uma Clarice Lispector assassina, fé cega faca amolada, peixeira de baiano.

Quando a tua fêmea, amigo, começar a falar em retorno de Saturno, na simbologia do tarô, nos recados do feng shui etc, te ligas, campeão: é pé-na-bunda à vista.

Confesso que levei.

Por trás de todo mapa astral ou de uma nova visita à cartomante há sempre um abandono ou, no pior dos cenários, uma dolorosa e rodriguiana traição à nossa espera.

Ai só resta chupar o frio chicabom da solidão, como ensinou o próprio tio Nelson.

Só nos resta mascar o jiló do desprezo e quebrar entre os dentes os palitinhos Gina da descrença e da sorte.

Só nos cabe sentar à margem do rio Piedra e chorar, segundo a recomendação suspeita do mago Paulo Coelho, este sim um incansável místico globalizado.

Sim, amigo, a mulher é esotérica desde a véspera da tragédia. Nós batemos na porta da cigana mais vagabunda apenas depois que Inês é morta.

Aqui me pego, agora mesmo, reparem no ridículo, lendo o destino e a sorte na borra de café, o velho método das Arábias.

No mato sem cachorro ou GPS, o macho moderno, este cara carente de banco de praça, faz sinal de SOS até para náufragos piores do que ele. Ô vidinha-Titanic e miserável.

Opa, calma, calma, que vejo algo nos desenhos involuntários do fundo da xícara.

Tento enxergar na borra do café o meu destino, a minha sorte e as escaramuças da pessoa amada, aquela maldita que nos parafusa na testa uma fantasia de viking.

Sério, amigo, a mulher é mística de véspera. Nós, homens sensíveis ou machos jurubebas, somos esotéricos apenas depois que a casa cai.

Perai, epa, calma de novo que vejo algo bem definido no diabo da xícara.

Parece uma fruta. Pera, uva, maçã? Limpo as lentes de quase dez graus de miopia e astigmatismo e finalmente decifro: uma cebola!

Retrato do meu choro e do abandono? Seria simbologia óbvia demais.

Pera lá. Na dúvida, recorro ao “Guia da leitura no sedimento do café –arte milenar árabe de interpretar sua vida”, um livro da Batia Shorek e Sara Zehavi, que acabo de adquirir em um sebo carioca, que fortuna, que riqueza, viva o sebo Baratos da Ribeiro.

Opa, reparem só no significado da tal cebola: “Indica que a pessoa amada esconde algo do seu cônjugue e o assunto escondido é importante e pode machucá-lo”.

Neste caso nem escondia mais, já havia ido embora, estava da caixa-prego para a frente, mas reparem como funciona a leitura da borra!

Como homem, apenas li atrasado o fundo da xícara. Uma fêmea mística teria sabido tudo de véspera.

Seu taxista, pena de mim não precisava. Foi só a porra da borra.

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Quando o amor tem plano e sequência

Por xicosa
28/08/13 02:36

Como ela vem. Como está sendo o seu banho exatamente agora. Como ela está cheirosa. Mas que sue um pouco no caminho. Não carece chegar apenas às quatro da tarde, a melhor hora de uma mulher, segundo o poeta Manuel Bandeira –seria a hora fatal em que a fêmea já havia adquirido um certo cheiro do mundo, da vida, e estaria na plenitude.

Como ela se olha agora no espelho no momento de se vestir. Como. Como ela fez com louvor o barulhinho do elástico da calcinha, pleft, a mais lindas das onomatopeias das intimidades das moças.

E nas vitrines da rua, como será aquela rápida mirada, extrato para simples conferência demasiadamente feminina. Como ela brigou com o cabelo hoje, porque em alguns dias os cabelos teimam em desobedecer às mulheres e as leis do cosmo, sejam elas ou os cabelos como forem.

Como ela encarou o armário. Como enfiou a colher no papaia logo cedo antes de todas as acontecências que narro ao longe. Como ela blasfemou contra o universo. Como ela afinou os seus “uis” e os seus “ais” para enfrentar a humanidade.

Como ela disse ao telefone, moça de longe,  “mãe, não se preocupa, eu já estou grandinha”.

Como ela perdeu a paciência com a amiga com quem divide o apartamento. A amiga é folgada e ainda deixa mil e um recadinhos chatos na geladeira.

[Tomara que ela esgote logo a paciência e venha morar comigo!]

Como ela vem.

Porque o amor no auge é o maior plano-sequência da existência. Maior do que o de Hitchcock no filme “Festim Diabólico”

Sem cortes ou interrupções, assim vemos o amor nos seus melhores momentos.

O realismo possível.

Na verdade o meu filme começaria assim: Interior/Quarto de mulher. Vemos as marquinhas dos lençóis no corpo dela. Aquela música matinal do mijinho no banheiro é um allegro para os desencorajados do planeta.

Quer saber, amor é montagem, não é, querida Karen Harley, cada um cola seu filme como deseja.

Cada um faz o seu “Um homem e uma mulher”, como no clássico recortado na ilustração deste post.

Cada dois, cada um.

O que importa agora é como ela vem.

Os homens a secam no percurso, sem agressividade, só no voyeurismo, eu não ligo, até gosto que conte, mais tesão ainda na alcova.

Como ela anda bonito.

Que os homens do andaime não assobiem um “gostosa” hiperbólico, sob pena de ela se achar cheinha deveras, mas que assobiem alguma coisa, que não pequem por omissões – ah, não, são homens de verdade, não trabalham com elipses.

Como ela deu aquela ajeitadinha nos peitos, agora já recuando para o começo das ações, o espelho. Como ela roçou um lábio no outro para corrigir o batom e dosar na maldade. Como ela decidiu por sandálias e não por sapatos ou botas. Como ela pôs o rosto na janela para ouvir o zumbido do homem do tempo. Como ela deu aquele saltinho na rua de moça feliz por hoje.

Como ela achou que o celular tocava dentro da bolsa só porque eu pensava nela e não era nada pouco.

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