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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O amor acaba, mas nem sempre termina

Por xicosa
29/10/13 03:13

Sim, o amor acaba, é do jogo, mas muita gente se avexa, numa azáfama dos diabos, querendo se jogar do abismo ainda a léguas do despenhadeiro.

O amor acaba, mas tem sempre um “chorinho”, como do generoso garçom no nosso uísque.

O mundo anda muito impaciente com as complicações amorosas, como se fosse fácil juntar duas criaturas sob as mesmas telhas da rotina.

É preciso estar preparado(a) para as goteiras, para a hora em que o amor vaza ou pinga no chão da casa e não há balde ou rodo que dê jeito.

No que vos conto, sob a desculpa do encorajamento coletivo, afinal de contas animar a vida besta também é papel de um cronista-fabulista:

E quando imaginávamos que estava tudo acabado, que amor não mais havia, que tinha ido tudo para as cucuias, que o fogo estava morto, que o amor era apenas uma assombração do Recife Antigo…

Quando já dizíamos, a uma só voz, a crônica de Paulo Mendes Campos que repito ao infinitum:

“Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba…”

Quando já separávamos, olhos marejados, os livros e os discos…

Quando mirávamos, no mesmo instante, a nossa foto feliz no porta-retratos…

Quando não tínhamos nem mais ânimo para as clássicas D.R´s –as mitológicas discussões de relação…

Ave, palavra, até o gato, nervoso, sem saber com quem ficaria, quebrava coisas dentro de casa àquela altura; o papagaio blasfemava, diabo verde!

Estava na cara, naquela fantástica zoologia amorosa: aqueles pombinhos já eram.

O cheiro do fim tomara todos os cômodos, a rua, o quarteirão, o bairro, a cidade, o mundo…

Quando só restava cantar uma música de fossa… “Aquela aliança você pode empenhar ou derreter…”

Quando só restava a impressão de que eu já vou tarde…

Quando só restava Leonardo Cohen (foto) no iphone da moça moderna…

Quando eu não era mais o cara, embora insistisse em cantar o “I´m your man” deste mesmo trovador canadense…

Sim, o quadro era triste, não se tratava de hipérbole ou demão de tintas gregas.

De tanta inércia, faltava até força para que houvesse a separação física, faltava força para arrumar as malas, pegar as escovas, contar aos chegados comuns, tomar um porre.

Ah, amigo, quer saber quem bateu o ponto final da história?

Ela, claro, você acha que homem tem coragem para acabar qualquer coisa? Mulher é ponto final; homem ponto e vírgula, reticências, atalhos, barrigas de palavras, verbos e orações.

O estranho é que ela não disse, em nenhum momento, que não gostava mais do pobre mancebo.

Aquilo encucava. Porque um homem,  disse o velho Antonio Maria, padrinho sentimental deste cronista, nunca se conforma em separar-se sem ouvir bem direitinho, no mínimo quinhentas vezes, que a mulher não gosta mais dele, por que e por causa de quem etc etc, a longuíssima milonga do adiós.

E nesse clima de fim sem fim as folhinhas outonais do calendário foram despencando sobre a relva fresca do desgosto.

Eu acabara de levantar do amigo sofá, que havia se transformado no meu leito, quando ela passou com uma cara de impaciência e desassossego.

Mais que isso: ela estava com vontade de matar gente!

Era a cara que fazia quando estava faminta. Sabe mulher que fica louca quando a fome aperta e a angústia da existência vocifera pelos barulhos do estômago?

Vi aquela cena e caí na gargalhada. A princípio ela estranhou… Mas sacou tudo e danou-se a morrer de rir igualmente. Nos abraçamos e rimos e rimos e rimos e rimos daquilo tudo, rimos da nossa fraqueza em não dar uns nós nos clichês, inclusive o da volta por cima, rimos do nosso silêncio sem sentido, rimos desses casais que se separam logo na primeira crise, rimos da falta de forças para enfrentar os maus bocados, rimos, rimos, rimos.

Rimos da preguiça sentimental da humanidade e nos esbagaçamos de amor no chão da sala mesmo.

E um casal que ainda ri junto tem muita lenha verde para gastar na vida e fazer cuscuz com carneiro e outros banquetes nada platônicos movidos a bagaceiras, alentejanos sagrados e salineiras aguardentes.

Agora ela está deitada, linda, cheirosa, gostosa, psiu!, silêncio, ela dorme enquanto escrevo essa crônica!

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A morte, Lou Reed, é uma ressaca fatal à prova de mentiras

Por xicosa
28/10/13 02:00

A morte é apenas uma ressaca fatal, caro Lou Reed, uma ressaca de domingo para evitar a falta de jeito com a vida de segunda.

A derradeira ressaca sob o sorriso cretino da Velha da Foice mexicana.

Como lembrou o colega Ivan Finotti, a primeira canção do seu álbum inaugural, 1967,  se chama justamente “Sunday Morning” (manhã de domingo).

Só acredito no supersticioso deus das coincidências. Não à toa morrerias neste dia.

A ressaca perfeita de um dia melancólico para partir deste lado selvagem como em um teletransporte.  A doce paz mortal da ressaca domingueira.

O sol nunca mais te perseguirá, viejo Lou, pelas frestas do domingo. O mesmo sol que fez o carinha assassinar o árabe na praia da existência de messiê Camus, este outro monstro da canção silenciosa.

Tempo de assassinos.

A morte não passa de uma ressaca sem ereção –por que ficamos tão excitados de ressaca, mr. Velvet? Eis um dos mistérios da humanidade e a Laurie (aí contigo na foto) sabe do que estou falando.

A Lena chorou ao lembrar de um dia perfeito que te fez uma pergunta em uma coletiva. A Lena me disse: Francisco escreve algo sobre morrer mais um pouco aos domingos ou algo semelhante, foi o que entendi nos seus lábios sem o gloss das fracas bocas que fogem dos encontros.

A ressaca depois dos 40, viejo Lou Reed, é uma dengue existencialista. A ressaca fatal é como a beleza que senta no joelho de Rimbaud e passa.

A morte rebobina o VHS com a ferrugem e a fita enrolada das nossas trajetórias.

As manhãs mal-dormidas e infinitamente vividas com Ligia nas bordas do Parque da Aclimação pediam Lou Reed e a manteiga dos últimos tangos.

Voltemos ao teu concerto em SP, 1996. Havia passado o dia correndo atrás de um corrupto –retrato deste cronista como ainda jovem repórter investigativo- e com um ácido passei rapidamente para o lado selvagem do entendimento.

Walk On The Wild Side.

Em livre tradução: amava uma arisca índia que se alimentava de jungle music e desconfiança com os passos de urso do seu homem.

Bem antes, viejo, havia colhido flores vagabundas pelas ruas do Hellcife e comprado  um vestido vermelho para uma dama. Com as flores em um saco de plástico a levei ao hotel mais barato do Centro. Enchi a banheira com as banalíssimas fulorzinhas e botei uma fita cassete com “Stephanie says”, a minha predileta do Velvet Underground.

Como esquecer uma tarde, dom Lou Reed, em que a invenção amorosa lembra a morfina e o torpor?

A morte é apenas uma letal ressaca, amigo, uma ressaca na qual a vida vai sumindo lentamente como em uma fusão do lado claro com o lado escuro.

Uma ressaca cuja intensidade nos livra daquela falsa promessa de ser um outro homem, de se regenerar e tantas outras juras.

A morte é uma bela e fatal ressaca à prova de mentiras. Vicious.

Sim, Stephanie, às vezes a gente entrega parte da vida a pessoas que só odiamos bem lá na frente.

É, caro Lou Reed, o amor é o sol que sapeca, quando menos se espera, a retina e os cílios postiços da descrença.

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Os 10 mandamentos do homem feio

Por xicosa
25/10/13 01:39

Como ser feio, digo, como ser mal-diagramado pela própria natureza, e vencer na vida. Vencer não é bem o termo, um empate com gosto de vitória, aos 48 do segundo tempo, está valendo. A única vitória da existência é a da Velha da Foice, impiedosa e fatal, bem sabemos.

Ai de mim, Copacabana. O certo é que estou ouvindo aqui o “Cidadão Instigado”, uma das melhores bandas, há séculos seculorum, do país. Donde me deparo de novo com um verso magnífico do Catatau, o gênio cearense à frente do referido conjunto: “Um defeito de Deus é sempre perfeito”.

Isso explica porque lembrei dessa arte de ser feio etc. Daí aproveito para responder a muitas consultas de leitores que se sentem passados para o fim da fila por causa da suposta fealdade ou ausência de beleza.

Rapazes de todos os recantos do Brasil, como Plácido, 28, de Pato Branco (PR), que culpa, impiedosamente, a sua feiura, por toda uma antologia de infortúnios e insucessos  com as mulheres.

À guisa de encorajamento, reescrevo, mando um remix de uma velha tábua filosófica deste blog e faço saber:

1) Que a beleza  passageira e a feiura é para sempre, como repetia o mal-diagramado Sérge Gainsbourg –o francês que só pegava mulher fraca, como a Brigitte Bardot e a Jane Birkin, entre outros colossos. Sim, aquele mesmo francês cabra-safado autor do maior hino de motel de todos os tempos, “Je t´aime moi non plus”, claro.

II) Que as mulheres, ao contrário da maioria dos homens, são demasiadamente generosas. E não me venha com aquela conversinha miolo-de-pote de que as crias das nossas costelas são interesseiras. Corta essa, meu rapaz. Se assim procedessem, os feios, sujos e lascados de pontes e viadutos não teriam as suas bondosas fêmeas nas ruas. Elas estão lá, bravas criaturas, perdendo em fidelidade apenas para os destemidos vira-latas.

III) Que o feio, o mal-assombro propriamente dito, saiba também e repita, no troco da generosidade,  um velho mantra deste cronista de costumes: homem que é homem não sabe sequer a diferença entre estria e celulite.

IV) Que mulher linda até gay deseja e encara, quero ver é pegar indiscriminadamente toda e qualquer assombração e visagem que aparecer pela frente.

V) Que homem que é homem não trabalha com senso estético. Ponto. Que não sabe e nunca procurou saber sequer que existe tal aparato “avaliatório’’do glorioso sexo oposto.

VI) Que as ditas “feias” decoram o Kama Sutra logo no jardim da infância.

VII)  Que para cada mulher mal-diagramada que pegamos, Deus nos manda duas divas logo depois do enlace.

VIII)  Que mulher é metonímia, parte pelo todo, até na mais assombrosa das criaturas existe uma covinha, uma saboneteira, uma omoplata, um cotovelo, um detalhe que encanta deveras.

IX) Que me desculpem as muito lindas, mas um quê de feiura é fundamental, empresta à fêmea uma humildade franciscana quase sempre traduzida em benfeitorias de primeira qualidade na alcova, como o melhor sexo oral do planeta, para não esticarmos demais a prosa.

X) Saiba, por derradeiro, irmão de feiura, que a vida é boxe: um bonitão tenta ganhar uma mulher sempre por nocaute, a nossa luta é sempre por pontos, minando lentamente a resistência das donzelas.

Porque, meu bem, como diz o meu amigo Conde do Brega, ninguém é perfeito e a vida é assim.

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É ofensivo mulher pagar menos em festa?

Por xicosa
23/10/13 00:45

E como fica essa história de mulher pagar menos ou entrar de graça até uma determinada hora da festa ou do baile?

É uma velha tradição. Não somente brasileira, como bem sabemos.  Do tempo em que os bichos falavam e as moças estavam longe de ganhar uma grana, comandar trens, metrôs, aviões, plataformas de petróleo e a presidência da República.

Agora muitas fêmeas reclamam do desconto ou da entrada livre. Não sei se é a mesma turma que blasfema aos céus contra os gestos de cavalheirismo em extinção: como ter a conta do jantar quitada pelo homem, por exemplo, além de outros mimos & delicadezas.

Toco no tema, para debate aqui no nosso boteco filosófico, por causa de uma consulta de um leitor de Maceió. Ele é produtor de festas. Decidiu por não cobrar do mulherio até um certo horário da tertúlia dançante.

A regalia lhe custou caro. Haja protesto das moças. Seu machista, porco chauvinista, direitos iguais, rapaz, queremos pagar decentemente, sem essa de cortesia da casa.

O amigo produtor ficou assustado e me escreveu em consulta. Eu disse que era um clássico esse tipo de distinção de festas e casas noturnas.  Das boates modernas de SP ao cabaré Ladylaura lá no Crato.

Disse-lhe que não via ofensa machista na proposta. Também deixei claro, o moço também sabia, que as mulheres estão certas em um tratamento igualitário mesmo para pagar mais e evitarem certos privilégios.

Enfim, tempos complexos.

Disse e desdisse um monte de argumentos. Tanto de homem sensível quanto de macho-jurubeba.

O meu querido leitor estava assustado com a reação das meninas modernas.

Bom assunto pra gente botar aqui na roda da fogueira. O que vocês acham? É ofensivo a catraca livre para as moças? Mesmo sendo de graça a mulher deve ir lá e exigir o direito de pagar igual aos cabras?

Lembro também que os restaurantes em sistema rodízio também fazem a deferência: muitos cobram só a metade. Aí e fácil. A maioria das mulheres comem menos mesmo do que seus selvagens maridos, amantes ou namorados.

Agora me ocorre o velho bordão do feirante: mulher bonita não paga. No que o outro vendedor de frutas emenda: mas também não leva.

É com vocês que eu aprendo. Sintam-se em casa, mais uma vez, e comentem!

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Cumprimento entre mulheres. Verdadeiro ou falso?

Por xicosa
22/10/13 00:15

 

De cara, vos digo: essa indagação do título é muito pobre. Não é bem isso que importa. Vale pelo bafo da crônica de costumes.

“Amigaaaaaaaaaaaaaa!!!”

Engraçado a forma como as mulheres se cumprimentam hoje em dia. Sendo amiga, colega ou simplesmente conhecida, é aquele confete:

“Ma-ra-vi-lho-sa!”, diz uma.

“ Magra!”, responde a outra.

“Nãoooo! Para tudo!”, prossegue.

“Gêniaaaaa”, emenda.

É como se a vida se passasse nos salões do Grande Gatsby (foto), o livraço, o filme, o espírito da coisa.

E por ai, verdadeiro ou falso, segue o samba-exaltação cheio de detalhes, com elogios anatômicos, elogios à roupa, aos acessórios, ao trabalho da outra etc etc.

É um tal de “arrasa” pra cá, “arrasa” pra lá, “tá meu bem” etc etc.

Noite dessas, na companhia da amiga Manuela Dias, que me chamou atenção para o frufru dos cumprimentos, me diverti deveras. Era uma festa moderna, de cinema, uma festa imodesta, por supuesto. Então já viu, né, bas-fond sem fim, além da conta, rasgação javanesa com certeza.

É fácil entender que o novo código do cumprimento feminino tem muito do repertório gay. Muita influência mesmo.

E não é uma coisa apenas dos artistas da tv e do cinema, embora eles carreguem nas tintas. É geral. Nas ruas observo os mesmos encontros esbaforidamente malucos.

Dá pra saber quando é falso e quando é verdadeiro? Não consigo nem chegar perto de tal julgamento, sou mui lesado para tal fiscalização da natureza humana.

Você, amiga leitora, saca?

Ou a graça seria mesmo embutir um tanto de ironia e falsidade mesmo?

No cumprimento dos homens é fácil demais decifrar a parada: ora, quanto mais estúpido, mais carinhoso. O pior é que é isso. Quanto mais amigo, mais adotamos um jeito tosco de lidar com as palavras.

Muito engraçado como os homens se cumprimentam. Um dos costumes imutáveis da natureza do macho. Seja em inglês, paulistês, carioquês, nordestinês, mineirês ou na língua dos esquimós. É de uma delicadeza de fazer corar o Charles Bronson.

Já tratamos aqui deste mesmíssimo tema. Hora oportuna para relembrar.

No “Gran Torino”, filmaço, Clint Eastwood -diretor e ator principal- dá uma aula ao seu pequeno pupilo sobre as saudações iniciais nos encontros dos cavalheiros. De morrer de rir.

Falo da cena da barbearia, que não é capital no enredo mas injeta uma cápsula de testosterona no filme digna dos grandes faroestes. O durão Walt Kowalski (Clint), veterano da guerra da Coréia, mostra para o adolescente como adentrar o recinto e cumprimentar o barbeiro.

“Seu italiano ladrão de merda” é o mais agradável dos tratamentos que se ouve na pedagogia do velho. O sr. Walt treina o guri, que entra e sai no estabelecimento, repetindo a lição. O barbeiro responde à altura. “Seu china miserável eu acabou com a sua raça”. Uma onda.

Assim é no dia-a-dia, encontramos um chapa, amigão mesmo, e detonamos.

Temos várias formas de esculhambá-lo carinhosamente: pelo seu lugar de origem, pelo seu time do peito, pela sexualidade, pelo chifre, tamanho da pança, pela donzelice propriamente dita -caso dos queijudos, criaturas que têm dificuldades imensas no acesso às mulheres.

Tudo é motivo para a gozação, o chiste, a pilhéria, a gréia, a fuleiragem social clube propriamente dita. É, macho, a gente não cresce nunca nesse aspecto.

Entre as mulheres é essa cascata de elogios, como vemos. Quantas cataratas de superlativos. Magérrimas, poderosérrimas…

Verdadeiras Niágaras ou falsas Sete Quedas?  Só vocês serão capazes de decifrar esse enigma para este pobre cronista.

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As muito certinhas que me desculpem...

Por xicosa
19/10/13 16:52

As muito certinhas que me desculpem, mas uma hipótese de barriguinha é fundamental.O umbiguinho é mais embaixo e lá eu explico.

O que importa é que chegamos ao grande dia do centenário do poetinha, este carinhoso diminutivo capaz de abarcar todas as hipérboles do mundo das mulheres.

Como é lindo uma fêmea hiperbólica criada na mamadeira do exagero ou no mimado danoninho do quero mais.

O poetinha, diz o jornal, sempre rejeitado pelos acadêmicos. Azar dos acadêmicos. O poetinha recitado em qualquer esquina de Ipanema, Copacabana, Conceição do Mato Dentro ou no cabaré de Glorinha, lá no Crato.

E nesta data querida, uma crônica sobre o verso mais genial do único Vinicius do planeta que não tem acento no “i” -tenho a mania de grafar com. Perdão leitores que andaram desfilando seus queixumes e zelos com o sagrado batismo.

Ao mais genial dos versos deste bravíssimo libriano:

“Que haja uma hipótese de barriguinha.”

Um verso que ninguém dá muito por ele, um verso que fica escondido, como quem murcha o abdome para foto.

Fui alertado para tanta e humaníssima beleza por Camilla Demario, uma amiga de São Paulo, jornalista filha de cirurgião plástico, se a memória não me lasca.

Que haja uma hipótese de barriguinha. Nesse verso acertou em cheio. Depois de nove casamentos, o cara era um safo.

É preciso que haja, pelo menos, uma hipótese de barriguinha. Palmas, poeta.

Aquela secura de tudo, além de fora da realidade anatômica, não é apreciável. Chega de barriga negativa. Negativo aqui em casa tão-somente o saldo bancário.

Chega de tábua. Isso é coisa boa apenas na passarela, como mulher-cabide para os estilistas.

Que haja aquela dobrinha quando a mulher se senta. Uma dobrinha não. Várias. A realíssima dobrinha da fêmea. Espetáculo.

E que não fique apenas na hipótese. Que haja uma barriguinha mesmo. Um ensaio de. Pelo menos.

Pelas mulheres reais. Sem lipo, mas com muito desejo e outras aspirações.

Todo o segredo está na capacidade de safadezas. Nunca no tamanho ou no peso. E a safadeza está sobretudo no olho.

Sem imperfeição não há tesão, que me perdoem as muito certinhas da praça.

E fica o mantra, pela milésima vez, à guisa de educação sentimental aos moços, pobres moços: homem que é homem não sabe, nem procura saber, a diferença entre estria e celulite.

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Dez lições de Vinícius para aprender a amar

Por xicosa
18/10/13 00:18

Sim, mulherio, dez lições que aprendemos com Vinícius de Moraes, professor de existenciais disciplinas, poeta centenário, branco mais preto do afro-samba, menino erudito trabalhado na lírica da simplicidade, uma dádiva de criatura, fortuna do Rio, do Brasil e do mundo:

1) Aprendemos que homem que é homem não foge do vínculo afetivo –casou nove vezes-, não importa quanto tempo dure a ideia de infinito, o que vale é  gastar a febre amorosa como um bom selvagem. Na foto, Vinicius mostra como se faz romantismo: com Marta Ibánez.

2) Que só na intimidade é possível alcançar o mais elevado dos erotismos.

3) Que enquanto houver  língua e dedo nenhuma mulher nos mete medo, como no mantra preferido do poetinha.

4) Que beleza pode até ser fundamental, mas, como diz em “Receita de mulher”, tem que aplaudir as  saboneteiras e amar uma uma hipótese de uma lindíssima barriguinha.

5) Que não podemos ser genéricos nem repetitivos nas cantadas e muitos menos nos dizeres e devoções dos enamoramentos. Para cada mulher, um poema ou um gesto novo que seja.

6) Que para ser poeta não carecemos dominar obrigatoriamente a arte de fazer versos, o arco e a lira; é poeta todo aquele que vive a intensidade sem medo da mulher-abismo.

7) Que é preciso ser generoso, generosíssimo, com os amigos de verdade. Que também é preciso, em raras vezes, como fez Vinícius, blasfemar contra os bicões desconhecidos que abusavam de aparecer na casa dele para filar o bom uísque. Sim, o uísque, o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado, como definiu lindamente.

8) Que há poesia, mesmo com um filtro melancólico em preto e branco, em torcer pelo Botafogo.

9) Que para viver um grande amor é bom compreender  que “conta ponto saber fazer coisinhas, ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, filés com fritas, comidinhas para depois do amor”.

10) Que não amar com medo de sofrer é a maior das bobagens, é querer se vacinar contra a angústia da finitude, como se fosse possível sair vivo do amor ou da vida.

Amigo(a), dez lições é conta de mesquinho diante da sabedoria amorosa de Vinicius.  Sinta-se à vontade para ampliar essa tábua de conhecimento.

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Caro Vinícius, é tempo de homens confusos

Por xicosa
15/10/13 01:54

A ideia é homenagear, com velhas e novas crônicas, o poeta Vinícius de Moraes, até o dia 19, o DIA em que o librianísssimo camarada completaria 100 anos.

Viejo Vinícius, desculpa ai por aproveitar a tua canção com o Baden Powell,para tirar essa buena onda provocativa.

Vede se estou tão errado assim, a gente se fala em breve:

É tempo de homens frouxos e perdidos, baby. Homens que não pegam no tranco. Homens que estão sempre confusos. Melhor: “cafusos”, como na blagle do gênio Didi Mocó -”eu tô cafuso, eu tô cafuso”.

E não me venham mais, caros colegas de perdição, com essa história de que estamos zuretas por causa do avanço da fêmea e outros chabadabadás etc etc. Isso é coisa para simpósio, café filosófico, Casa do Saber etc.

Caí nesse conto do varejo sociológico, mas agora me rebelo. Estamos perdidos por preguiça sentimental mesmo. Pura acomodação. Não tiramos a bunda do sofá. Seja para ver um Madureira x Brasiliense ou para ver o jogo do Flamengo ou do Corinthians.

Fingimos que estamos reagindo aos sinais dos tempos. Necas. Não confundam metrossexualismo com sensibilidade. Usar um creminho e depilar o peito, nos casos mais extremados, não é ser um hétero com alguma delicadeza. Muito pelo contrário.

Estamos onde sempre estivemos: acomodados à repetição da rotina. Homem ama quando o garçom pergunta: “o de sempre, doutor?”É deveras confortável. Daí levamos o conforto do botequim para todos os lugares.

Daí esquecemos o pedido mais óbvio e silencioso das mulheres: “Me surpreenda, miserável!”

E, amigo, se ela tiver que verbalizar esse pedido implícito nos seus olhos e gestos, adeus, estamos lascados. É que já estamos no atoleiro moral do namoro ou casamento.

Nossa boa forma de usufruir o melhor dos mundos é fácil. É só aplicar o lema dos escoteiros: “Sempre alerta”.

Sempre ligado para ler os sinais no rosto delas. Ler principalmente os olhos, as entrelinhas, os silêncios ao dobrar a esquina etc. Não deixar que ela se entregue a divagações com os farelos dos pães do café para nós dois.

Se você dá chance à metafísica dos farelos, já era. Logo mais a danada vai alegar um tal de retorno de Saturno, vai ficar toda mística, e adeus. Todo cuidado é pouco com todas as fêmeas, mas, por favor, atenção redobrada às mulheres que chegam ali por volta dos 28., 29

Idade fatalíssima. Mais esforço, hombres. Também estou tentando.

O que nos mata é esse eterno “Canto de Ossanha”, como no samba de Vinícius de Moraes e Baden Powell, repito ad eternun: “O homem que diz vou/ Não vai!”

Escute a música aqui e repare se não faz sentido.

Nunca estivemos tão vacilões. Canalhas primários. Só prometemos. Dizemos que vamos e… “puerra ninguna”, como diz meu papagaio paraguayo no seu portunhol selvagem.

Matamos até aquela clássica exclamação rosada das bochechas femininas: “Você só quer me comer!!!”

“Quem dera”, elas riem da nossa cara. Nem isso. Muitas vezes nem isso, como me contam aqui, na apuração da tese de boteco, as minhas lindas Gi,Dri,Mi,Bi,Fá,Só, Lá,Si…Dó! SP ama encurtar os batismos, eu acho ótimo e afetivo.

Passo a régua com um haikai que fiz um madruga dessas, no mercado do Peixe, Salvador, Rio Vermelho: Você vem, mexe, assanha /depois fica no vai não vai/ parece “Canto de Ossanha”.

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Não há microondas para o amor, baby

Por xicosa
13/10/13 23:46

 

Não há microondas para o amor, baby. Ou, melhor ainda, Era uma vez um Homenzarrão carente e a comida de caixinha.

Nada como um homem carente para despertar tanto o desejo, para despertar o espírito materno, para despertar o tesão propriamente dito e todo o sentimento difuso de uma mulher em uma esquina.

Mesmo que uma mulher razoavelmente satisfeita e bem-resolvida  _até onde se pode estar resolvido nesse planeta, caso da minha vizinha W., por exemplo.

Ai de mim Copacabana com minhas  vizinhas lindas e falantes que me presenteiam com suas crônicas de vida vivida, a vida sem antisséptico para tirar o gosto da existência da boca.

A vida narrada na esquina do Papillon, por supuesto.

Um homenzarrão carente, ela aponta. O cara passa. Deixa os dois beijinhos de face mais tímidos do universo e segue. De cara parece um desses estranhos no paraíso de Copa, um estrangeiro de filme de Jim Jarmusch (como vemos aí na ilustração do post).

Os dois beijinhos quase sem contato com a pele. E W. toda toda. Acabara de voltar da praia e bem sabemos como o mar atiça a libido de Netunos e de Yemanjás.

O cara, um homem correto na faixa dos seus 40,  passa com a sua sacola descartável rumo ao supermercado.  Mal mira nos olhos da moça.

No que ela, em brasa, decide:

– Vou atrás desse infeliz agora mesmo!

Beth, a outra amiga da roda domingueira de Copa, explica:

– É tesão antigo, ela enlouquece, e nunca tiveram nada, never.

W. não se conforma de vê-lo tão carente e sozinho. O desejo pelos misantropos e esquisitões.

Ficamos entretidos com o agito da Parada Gay nas redondezas. Cinco minutos depois, de dentro do supermercado,  W. narra para a amiga:

– Não me conformo com esse homem na prateleira das comidas de caixinha para solitários.

Realmente é dolorosa a seção de comidas semi-prontas em porções individuais.

Ela prossegue:

– Vou arrancar esse bofe dali e preparar um banquete na minha casa, não me conformo!

– Te juega, quenga – Beth dá corda.

Ai de ti, Copacabana.

Uma meia hora depois voltam os dois juntos.  Ficam para uma cerveja. Ela diz que não suporta vê ninguém comprando comida quase pronta. Principalmente aos domingos. A mais completa imagem da solidão domingueira.

– No passa nada – diz ele.

W., o cúmulo da intimidade, pega a sacola descartável do cara e expõe os rótulos da mais explícita solteirice ao boteco. Ah, essas desavergonhadas amigas de Copa.

O melhor é que era de doer mesmo. Melhor ainda que o misantropo da rua Leopoldo Miguez não estava nem ai para a coisa. Apenas ria sem graça.

O melhor do melhor de tudo é que W. arrastou o homenzarrão carente para a casa dela, ali na frente, donde passou novo torpedo para a amiga, algum tempo depois:

– O esquisitão é slow, devagar mesmo, mas quando funciona, valha-me Deus!

E assim acaba mais uma história de solidão em Copacabana. Não há microondas para o amor, baby.

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Cláudia Ohana confessa: agora depila

Por xicosa
11/10/13 03:39

Edição histórica disputada nos sebos do Brasil

Além de ser uma ótima atriz, Claudia Ohana ficou também conhecida, a partir da Playboy clássica de 1985, como a musa da mais bela e virgem mata tropical da humanidade.

Mesmo em uma época em que era comum a preservação dos nossos bosques, La Ohana virou símbolo e fetiche da ecologia pubiana.

Eis que, nesta madruga, ela revela ao país, ao ser indagada por Fernanda Lima no programa “Amor & Sexo”: agora depila direitinho. Sem exageros de desenhozinhos artíticos, mas depila. Os tempos mudaram; as modinhas de fêmea são outras.

Que me perdoem os homens sérios deste país idem, esta é a grande notícia, o grande furo da semana. Pelo menos para os meus companheiros geracionais.

É um furacão na crônica de costumes tão relevante como a pororoca política da aliança do governador Eduardo Campos com a ecologia pentecostal de Marina da Silva.

Quem se importa com o aumento da taxa de juros, a maior do mundo, diante de uma revelação tão cabeluda?

Esqueça a polêmica das biografias autorizadas e todos os zuns de besouro íma.

Ignore o protesto de Paulo Coelho sobre a participação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt.

E por falar em Frankfurt, releia o providencial discurso do escritor Luiz Ruffato, o cabra de Cataquases que tirou o capinzim metafísico do canto da boca e ruminou as dores do mundo.

Releia e volte a pensar na política pubiana sustentável.

Releia e repense a clareira na Amazônia Legal de La Ohana.

Volto a indagar, no meu panfleto lírico: cadê o Greenpeace que não vê uma coisa dessas.

Como a musa falou que a depilação é sem exageros, até que entendo. Tudo em volta não está deserto, tudo certo, tudo é sustentável, Roberto.

Deve ter ficado assim meio Nanda Costa, torço, espero.

Nanda da novela, Nanda total do filme “Febre do Rato”, Nanda que tanto chocou a patrulha limpinha dos mancebos frouxos de hoje.

Deve ter chocado aquela gente que faz sexo e corre para tomar banho, que não sabe guardar o melhor dos cheiros na barba malfeita.

O amor é o de sempre, La Ohana, meu amor é à prova de cera negra espanhola.

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