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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

O jornal dos sonhos

Por xicosa
20/11/13 13:04

Todo homem tem o jornal pessoal dos seus sonhos.

Sou um incurável gutenberguiano e curto jornal de papel. Passei a maior parte da minha existência gastando sola de sapato e cadernos de anotações, duas coisas fundamentais para um homem de imprensa.

Os jornais de papel que existem na praça possuem certezas demais e não me satisfazem no momento –e aqui incluo minhas humaníssimas gotas lacrimejantes de nostalgia na parada, óbvio, o que seria de uma criatura se não se pusesse nostálgica até pelo ocorrido da última hora?.

O jornal dos sonhos carece de um certo lirismo bêbado e irresponsável, aquela onda “vai ser gauche na vida”, o lirismo anárquico, jamais um se dobre à direita, donde já se viu sinal tão troncho, meu jovem.

O jornal dos sonhos larga tinta e suja a tapioca branquinha da rotina.

O jornal dos sonhos tem que ter mulher na manchete diariamente. Mulher fez isso, mulher fez aquilo, mulher acordou, mulher dormiu, mulher e um verbo. Um jornal de verdade só precisa de mulher e um verbo.Talvez sangrentas exclamações uma vez por mês!!!

Jornalismo é sangue e amor!!!

Jane Fonda subindo aos ares como  Barbarella, por exemplo, é manchete em seis colunas.

Uma boa rótula de uma galega que acabo de ver aqui na Miguel Lemos é manchete.

Meu novo amor que precisa de um hotel com varanda é manchete!!!

Mas eis que me sinto vingado!

Eis que meu amado Paulo Mendes Campos me sai com o seu “Diário da Tarde”. Alvíssaras, meus camaradas, desbocarro-me em risadas tantas e celebro a notícia. Da janela de Copacabana, ai de mim, estouro duas caixas de fogos Caramuru, comemoração sem barulho constrange minha alminha vira-lata nada zen.

O “DT” até havia saído em forma de livro. Era dos 80. Mas agora saiu como PMC, o cronista do “o amor acaba”, queria, gostaria mesmo, imagino. Um tablóide dos sonhos, meu caro Flavio Pinheiro, meus renovados parabéns e longa vida, amigo.

O “Diário da Tarde’ é o meu jornal e pode ser folheado, como recomendava seu diretor de redação, “num lindo dia de chuva, à falta de uma boa pilha de revistas”.

Em tempos de mais de 30 0x0 no campeonato nacional -vai, Corinthians!-, o meu jornal berra em crônica esportiva: “O gol é necessário”. O gol é o pão do povo. Morte a quem inventou o ferrolho, a retranca, como os suíços na Copa de 50.

“Você gosta de angu à baiana?”, perguntou Garrincha ao nosso amado PMC. Assim eles se encontraram, botafogamente ao crepúsculo de General Severiano.

Notícias quentinhas que você só lê no “Diário da Tarde”. Garrincha prometeu o angu, mas driblou o cronista, tinha mais o que fazer: foi matar passarinho no arvoredo de Pau Grande.

O “Diário da Tarde” é assim, como vou contando aqui.

O “DT” é de fácil de entendimento e assim estão distribuídas as editorias do mesmo: Artigo indefinido, Coriscos, O Gol é necessário, Poeta do dia, Bar do Ponto, Piripau, Grafite e Suplemento Infantil. Ilustrações: Veridiana Scarpelli.

Vamos todos ler o “Diário da Tarde”, minha gente, conclamo. Lá tem até o Jayme Ovalle dizendo coisas: o importante não é gostar ou não do uísque, “o importante é saber se o uísque gosta da pessoa”.

No capítulo bebedeira, o jornal se esmera, folgado, folgazão.

PMC revela, por exemplo, que o pior bêbado é o que tem razão para beber. O bêbado de tese, o bêbado em dor-de-cotovelo, o bêbado que sabe de cor os embargos infringentes.

Leia também no seu “Diário da Tarde”: o milagre da vida está em Walt Whitman. Quem há de discordar? Eu mesmo não sou doido. Eu vejo W.W. em tudo, até na bunda da mulata que sobe agora faceira a escadaria de Cantagalo. Há vida, há Whitman.

O “Diário da Tarde” só tem um defeito: tem futebol, tem drama, tem a dor da gente, tem poesia, tem jazz, tem o coração das trevas… só não tem horóscopo. (Sim, senhor diretor de redação, também sou supersticioso, viver dá azar etc.)

E para terminar a nossa preleção, caros colegas, reparem que pérola atualíssima do nosso homem de imprensa Paulinho Mendes Campos, gênio-mor das Geraes e região:

“Hai-kai: Pobre/apanha/até da mãe”.

O “Diário da Tarde”(ed.IMS) está à venda nas boas casas do ramo, tem 96 páginas e custa 44,90 mangos.  Gastar é gosto.

Como você faria o jornal do sonho?

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Não há sinal amarelo no amor

Por xicosa
18/11/13 02:06

…e triste de quem obedecê-lo. Se amarela não é amor. Amor só existe em preto & branco.

Foi na estrada perdida que descobri: não há meio de caminho para o amor. O processo do desejo sempre vai empurrar alguém para chegar primeiro, como no sexo, a não ser que uma parte atrase de propósito.

Perversidade é bom e eu gosto.

Sigo no acostamento pela via Dutra. Quem ama vê vultos, assombrações e outras particularidades de Vênus. Passa boi, passa boiada…

Na cabeça sinuosos sss de curvas perigosas. O desejo não consegue lê sinais e sequer a margem da pista deste cosmonauta no escuro emite brilhos fosforescentes.

Chove porque no perigo do amor sempre cai uma tempestade. Como me ensinou, no making off do dvd do filme “Um homem e uma mulher”, o diretor francês Claude Lelouch.

Não há guarda-chuvas para o amor, Catherine. Os camelôs que surgem como gremlins nos temporais de verão não nos socorrem com uma mísera sombrinha made in China quando o granizo amoroso desaba sobre o asfalto.

Estamos fodidos de véspera? Nada disso. Estamos tentando de sempre. Na dúvida, ultrapasse. Não há amarelo no amor, minha Zazie, é como no metrô.

Queda de barreira, pista molhada…

Aproveito que mandaste aquela pérola-mor do romantismo de cama-mesa-e-banho, afinal de contas nem só de cinema francês vive um transeunte, e te relembro um mantra do Conde do Brega: “Porque, meu bem, ninguém é perfeito e a vida é assim”.

Viajar é perder lugares.

Pare.

Assim como amar em fuga é como aquele melhor filme de Spielberg, “Encurralado”, o herói perseguido por um feroz caminhoneiro.

Mas isso aqui é uma estrada, porra, chega de cinema, cacete.

***

Agora te espero num bar fuleiro, um cabarezinho incrível onde toca aquela do “Ritmo Quente”, pense em algo romântico, baby, esqueça Shakespeare, caguei pra Shakespeare, como diz o meu amigo calabrês Marcelo Coppola.

Cante comigo, babe, mesmo ainda ao longe: “Vou te agarrar/ vou te jogar na cama/ vou te deixar bem molhada/ eu vou… etc etc”

É maluco como se inventa um amor. Vem, chega logo, vem sentar aqui no meu colo, no  Boneca Emília Bar, agora já pertinho de Taubaté, o amor é isso mesmo, ninguém sabe o que vai ser, amar é só ter ganas de desconsiderar a estrada pelo tempo que der.

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Quando o desejo adianta o seu lado

Por xicosa
17/11/13 02:14

Falas da respiração que faz eco nas telhas –mesmo sem tê-las no teto da tua casa-, que me deixes inventar meu amor a partir das tuas pistas, é assim que penso nosso faroeste, uma floresta perdida à Laura Palmer, não podes dar sinal de vida, silêncio, um grito na noite guardado para depois, o teu desejo à prova de trancas e dobradiças caminha na margem esquerda da via Dutra, o meu daqui também parte, faz de conta que não somos nós, diz pra si mesma que volta logo, que foi comprar bebida na esquina,  o teu desejo parte e o meu já vai longe, o desejo, babe,é aquela parte do juízo que promete, sempre ao Lou Reed, fazer uma loucura, uma confusão bem grande, é aquela nossa versão não-dormida que vaga descalça fazendo a sonâmbula para tirar proveito das proibições do mundo.

Meu desejo de viejo hombre conversa com Neil Young no redemoinho do primeiro pedágio, ali na Viúva Graça, Seropédica, o homem do rock diz algo como “Live alone in a paradise/ That makes me think of two”, só sei que é algo bonito, intraduzível à maneira que sigo viagem, só não sei neste exato momento onde o teu desejo vem, chegou a Aparecida, Canas, Cachoeira, Lavrinhas, Queluz?

Há um desejo que anda mais depressa que o outro, botas sete léguas do amor que pede água, essas coisas? Sem essa de perguntas, seu velho babaca, o desejo simplesmente anda e a saudade, mesmo do que ainda não vivido, é o genérico do Viagra. O desejo pede carona a outros desejos clandestinos que vagam pelo mundo. Vai de boleia ou de teletransporte. O desejo reencarna em tesões avulsos que morreram de véspera por falta de estrada ou coragem no tanque.

Meu desejo me diz aqui entre nós: se trabalhasse no cinema seria aquela cena do Sam Sheppard laçando a jukebox por causa da Kim Basinger, meu desejo é um tolo, já percebeste?, às vezes, nessa de vontade que caminha com as próprias pernas,  é atropelado por redundantes caminhões-cegonhas.

Inimputável, o desejo, seja o meu ou o teu, às vezes se joga, todo e qualquer desejo tem passagem livre, com telhas ou ao relento, é como cachorro que entra na igreja para conversar com uma destelhada ideia perdida de Deus.

Posso estar enganado, mas teu desejo se aproxima, sinto pelo cheiro dos teus dedos. Estou, digo, meu desejo se encontra no meio do caminho da via Dutra, o meu havia chegado bem antes, estava só dando um tempo, disfarçando a arte zen de consertar motocicletas no posto de gasolina, o meu desejo, que já é um atrapalho, achava que não pegaria bem atropelar o seu próprio dono. (Continua). Continua?

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Quando o amor anda sozinho...

Por xicosa
13/11/13 02:47

…E quando o amor precisa de nós

Por um tempo o amor funciona por si só, naquela fase em que os passionais pombinhos MC´s tocam de ouvido o chacoalhante rhythm and blues das coincidências –a gente curte os mesmos livros, os mesmos discos, os mesmos filmes do Kubrick, todo mundo ama Nina Simone bêbado na madruga e somos felizes, naquela manhã, para sempre.

É um tempo assim Galileo Galilei, pura gala, e pur si muove, como a terra.

É simples: por um tempo o amor funciona por si só, dita o ritmo, a prova dos 9, o gabarito, e o free style do jazz é todo certo mesmo quando todo errado e seguimos. Mesmo quando apenas repete o batuque zumbi das nossas neuroses ainda em compasso pianinho das sístoles & diástoles.

Por um tempo o amor funciona por si só e pisamos no pé um do outro, no dois pra lá dois pra cá, por puro charme, somente para revelar um certo desatino –afinal de contas quem vai acreditar em um amor assim todo ensaio de orquestra, meu velho?

O amor por si só, assim como o “quizas quizas quizas” do bolero ou a paradinha certeira do cha-cha-cha, se gasta, gracias, ainda bem, foi bonito, agora vem a cumbia da devoção ou o brega do merecimento.

Mas todo cuidado é pouco: ridículo fazer desse tempo do amor “por si se move” um apocalipse precoce, como alguém que conheço, que sempre se martiriza e põe tudo a perder de novo: “Isso não pode estar acontecendo comigo, isso é uma farsa, será um desastre”.

E, descrente, sai em desabalada carreira de cada homem.

Por não viver o por si só do amor, neguinha(o), descrente, sarta fora. Aí não vive nem isso nem aquilo. Mal sabe o que vai perder logo adiante: a transição para um amor possivelmente conduzido por nós, um amor que precisará de algumas coisas leves e de alguns dos 12 mitológicos trabalhos de Hércules, um amor que não anda mais com seus próprios pés.

Prefiro. Bom mesmo é quando falta a gasolina azul do amor por si só  e temos que inventar novos combustíveis e fazer das duas rodas dos óculos os pneus das nossas imaginárias bicicletas.

Como ainda estou em uma fase do luto Lou Reed, é obrigatório, por exemplo, nessa fase de transição, beber sangria no parque, como ele canta na faixa “Perfec day”. Escute e me diga.

Pode ser no quintal de casa, na varanda, na pia da kitinete, pode ser vinho jurubeba com maçã da Mônica que sobrou da sua filha, o importante é fazer uma graça com a moça.

Pode ser também num restaurante espanhol de San Pablo, tarde de domingo, sua alma como touro imbatível que avança sobre todas as coisas vermelhas do universo. Você se acha e isso é teu breve triunfo sobre a velha da foice.Vale.

O importante é não deixar o amor a pé, entre o que ele achava que seria e o que ele acha que já é.

É preciso sacar de mobilidade amorosa, fazer dos dois aros dos seus óculos as rodas de uma imaginária bicicleta, é preciso botar o amor nas costas, pobrezinho agora carece de você, como um sleep-bag precisa do sonho de um hippie para se sentir inaugurado pelo universo.

Pegue um ônibus, compre um pacote barato, faça alguma coisa, viaje com o bofe ou com a mina, o amor gosta de sair do canto, nem que seja para espantar borrachudos na pele um do outro em uma praia chuvosa.

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O medinho do 'macho´ diante da torcida gay

Por xicosa
12/11/13 00:54

Campanha do futebol da Inglaterra

É, meu safo leitor, se o mundo em geral anda muito chato, raivoso, intolerante e sem humor,o mundinho do futebol anda muiiito pior, digo, segue como sempre.

Repare nesse episódio da Gaivotas Fiéis, a torcida assumidamente gay do Corinthians. O líder e fundador do grupo, Felipeh Campos, relata que tem sofrido agressões de rua por parte de corintianos –leia notícia aqui –e violenta represália virtual.

Que falta de um roçado para capinar, né não? Como se a existência de uma ala gay de torcedores fosse comprometer a masculinidade do time e de todos os seus fãs.

Muito pelo contrário: só enriquece e torna o clube que fundou a Democracia Corinthiana mais aberto e civilizado. O doutor Sócrates ficaria orgulhoso e aplaudiria a iniciativa.

Como se no universo do futiba fosse proibido e não existisse gays -o que faria deste esporte o único segmento do planeta apenas com heterossexuais. Conta outra. Felizmente essa aberração não é real desde que o Charles Miller nos trouxe a primeira bola.

O que não tivemos ainda, por causa dessa mesma intolerância, foi jogador ou técnico saindo publicamente do armário. Isso não. O terrorismo, principalmente por parte das torcidas organizadas, ainda assombra.

Bastou aquele selinho do atacante Emerson Sheik em um amigo, lembra?, para que houvesse protesto de corintianos no Parque São Jorge. É brabo.

Com o Biro-Biro, macho nordestino, velho ídolo da torcida, não tem disso não.Dia desses ganhou um selinho do próprio líder da Gaivotas. Levou na buena onda.

Que gaviões e gaivotas convivam em paz. Que o futebol, esse armarinho de surpresas, escancare as suas portas.

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Proibiu a cabidela e chupou o sangue de SP

Por xicosa
11/11/13 00:54

 

Kassab, o Jânio sem álcool, em foto de Luiz Carlos Murauskas, Luizão que sabe relê a história em um clique

Fosse este anêmico cronista editor do velho e sanguinolento NP, “Notícias Populares” -o jornal do trabalhador-, daria a manchete ai de cima nesta segunda-feira. Como fui apenas colunista de futebol do finado diário, me limito a outra viagem no texto.

Todo grande moralista nos costumes, seja governante ou não, está apenas desviando o olhar da ralé, da rafameia e da classe média para os seus crimes mais graves. Isso vale tanto para um vizinho como para uma equipe de um político, uma papa, um bispo evangélico etc etc.

Como este blog sempre esteve de olho nas proibições, normalmente morais, da gestão Kassab, volto agora ao assunto. No que emendo as ridículas proibições listadas em uma crônica de 2012 com o “liberou geral” da máfia da ostentação descoberta agora na prefeitura de SP:

Enquanto proibia violentamente as carrocinhas de comida de rua, como as de cachorro quente, por exemplo, a equipe de Kassab torrava o nosso couvert tributário com raparigas em flor à sombra d´ A Figueira Rubaiyat, um dos mais caros restaurantes de São Paulo.

Enquanto proibia folcloricamente até a galinha à cabidela (molho pardo) nos botecos, a equipe de Kassab chupava o sangue do contribuinte que honrava seus alaranjados carnês. “Sangue, sangue, sangue”, como no samba clássico de Roberto Silva.

Enquanto proibia a bebedeira da garotada na calçada e fechava humildes e franciscanos puteiros da cidade, a equipe VIP de Kassab esticava a noite na luxúria do Bamboa, boate de lindas profissas ali na Capote Valente. Nada contra a festa com as dignas moças. Também sou chegado, meu chapa. O problema é que a conta era paga por todos nós. Aí não é amor, SP, aí é sacanagem.

Enquanto proibia até feirante gritar em feira livre (vetou o clássico“moça bonita não paga, mas também não leva”), a equipe cara-de-pau do Kassab alardeava em alto e bom som as extravagâncias babilônicas do “sarado do Porsche” , como era conhecido um dos reis de tal máfia.

Enquanto vetava até o rabo-de-galo e a jurupinga nas festas públicas como a Virada Cultural, a equipe dos reis dos camarotes de Kassab enchia a cara com o vinho magnum Vega Sicilia Único, a quase R$ 5 mil a garrafa, como revelam as investigações.

Enquanto proibia artistas de rua, inclusive os comedores de fogo, a tentarem um troco, a equipe inclassificável de Kassab acumulava patrimônios individuais de até R$ 18 milhões.

Enquanto proibia que os feios, sujos e malvados dormissem em bancos de praças –em colaboração com o design patenteado pelo tucanato-, a equipe vida-ganha de Kassab deitava e rolava no luxo.

Enquanto proibia que os mesmos sujos e malvados se banhassem em chafarizes públicos, a equipe limpinha de Kassab molhava as mãos na torneira de ouro dos inimputáveis corruptores.

Até existe um naco, um taco, um teco de amor em SP, caríssimo e digníssimo Criolo, mas a sacanagem dos mandatários, bora nessa Grajauex, bora nessa Parque São Rafael -berço ZL dos Sás e dos quizas, quizas, quizas -é o que tá lascando.

Ponto, parágrafo, agora é com vocês.

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O pezinho que flutua na hora do gozo

Por xicosa
10/11/13 02:36

Ou Amor é cinema.

Reparo no pezinho dela suspenso no ar e projetado na parede do quarto. Mesmo com os sussurros, a imagem do pezinho na parede é cena de filme mudo. Em preto & branco. Aquele pezinho esquerdo suspenso mexe como quem flutua embriagadamente para o gozo.

Comoção, epifania, arrebatamento, poesia barata, esteticismo de quinta, podolatria platônica do pé que deveras possui na cama… Chame como quiser o que senti e aqui trago do instante.

O certo é que o pezinho flutua e me diz mais dela naquele momento do que as próprias palavras, onomatopeias dodecafônicas e gemidos bêbados.

É quase sempre bonita a dança dos pés na hora do acasalamento. Parece que os pés ganham vida própria e particularizam por lá um outro gozo ou um gozo a mais.

Quando as almas não se entendem, acrescento enxeridamente aos versos do Bandeira, são os pés que comunicam tal desfecho.

Aquele pezinho único refletido na parede, porém, valeu por dez anos de cinemateca.

Não trato de fetiche ou desejo daqueles que vivem a nadar no mosaico dos bares e recintos em busca de belos pés, categoria na qual fui, outrora, um militante contumaz.

Tampouco me refiro a uma perversão sexual ou o gesto de um devoto que se ajoelha para beijar os pés de uma dama.

Poderia até citar o grande livro do poeta idem Glauco Mattoso: “Manual do Podólatra Amador”. Também não é o caso. Poderia falar como o pé é protagonista no cinema de Tarantino (foto). Não convém no assunto.

É apenas um pezinho -somente o esquerdo consegue aparecer na parede no momento- que flutua e busca no espaço inventar um chão para nosso gozo.

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Como usar 'eu te amo' até na hora errada

Por xicosa
05/11/13 21:51

Tem o tipo contido, frio(a) que só gelo baiano na madruga de São Paulo. O sujeito ou a desalmada que mesmo que ame, segura o diabo do “eu te amo” até o túmulo. Para esse tipo, como li em um conto de “A vida como ela é”, só chegando mesmo com uma navalha na jugular. Não tem jeito. Nem na hora da morte.

Quero me dirigir, porém, ao avesso dessa gente siberiosa.

Amigo(a), se você é do tipo que diz “eu te amo” de uma forma, digamos assim, precoce e irresponsável, na afoiteza  das primeiras e belas noites na alcova, como já tanto o fez este pusilânime cronista, prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar, digo, “se liga”, como verbalizam os avexados mancebos da hora.

Se a gazela for safa,sábia, mal algum há em tal pronúncia, até apreciará o empolgante anúncio como uma poesia de fundo, como se uma música de Sérge Gainsbourg –Je t’aime moi non plus- estivesse tocando no quarto de motel barato àquela altura.

Pensará a moça, bem baixinho, “que doce vagabundo”. Terá sido apenas um pequeno crime, como num bolero, um “besame mucho”, um cha-cha-cha num Caribe imaginário, cortinas ao vento, lua caliente lá fora, barulho de caminhões no asfalto.

Sim, a gazela pode entender como um “eu te amo mesmo, de verdade, verdadeira, assim como Deus sobre todas as coisas”.

Que mal há nisso?

Quantos amores à vera começaram com um “eu te amo” de brincadeira?

Nesses tempos de amores líquidos, de amores ficantes, de amores-vinhetas de 15 segundos, quem saberá o que venha a ser o amor patenteado pelos deuses incas ou gregos?!

O melhor mesmo é dizer, sem medo, eu te amo, e honrá-lo pelo menos enquanto o sublime eco resistir entre aquelas abençoadas quatro paredes.

E se ela acreditar, ora, ora, manda um “eu te amo, meeeesssmmmoooo”.

Com olhinhos revirados, vamos mais fundo ainda: “Eu te amo até o fim dos tempos”.

Se ela não tá nem aí, você se vira para o piano e ordena, como no filme Casablanca, mesmo que estejam atravessando a avenida Afonso Penna em Belo Horizonte, seis horas da tarde, buzinaço, hora do ângelus: “play, again, Sam!”

E manda mais “eu te amo”, como um estribilho do vento, nas oiças da desalmada, até ela acostumar com a natureza humana do macho que veio ao mundo com um cowboy solitário que tem apenas um mantra, uma bala no coldre dos sentimentos: “eu te amo, porra”.

Monocórdico sr. das sombras cujo cardiograma é um terremoto de “eu te amos”, como um sismógrafo nervoso a riscar o mostrador da maquininha que mede os tremores demasiadamente humanos de todos os cardiologistas particulares.

Antes um “serial lover” a dizer eu te amo como um cuco desembestado a um elíptico e silencioso cabra safado que guarda os “eu te amo” para a hora do chifre -uma vez largado o vagabundo dispara “eu te amo” como em um descontrolado soluço.

Donde baixa um Esopo fabulador para deixar a moral da crônica: mais vale um “eu te amo” que entre por um ouvido e saia pelo outro do que um silêncio mortal de um homem que nunca se empolga e deixa a gazela achando que “eu te amo” é coisa só de novela e de filme americano.

Não acha? Ou você é do tipo frio que narrei lá na cumeeira da crônica? Como diz uma amiga lindamente desbocada: tem cool de legal, ok etc, e tem cool de cu é rola, o cool no sentido dessa gente siberiosamente perigosa.

P.S. Se alguém souber a autoria dessa ilustração do post, grite, por favore. Não consegui descobrir para creditá-la. Gracias, amiga  Karina V ieira,  recifense que torna NY mais elegante, pela imagem.

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A escolha de Lídia Brondi

Por xicosa
01/11/13 02:10

Eu amo Lídia Brondi. Sempre foi musa de tantos enovelados jantares no Crato e no Recife. Educação sentimental televisiva na hora em que estamos comendo, na mais familiar das mesas, é sentimento para sempre.

Eu amo Lídia Brondi e comigo uma legião sem fim pelos Brasis rurais e universais. Amo a nacionalíssima beleza de Lídia Brondi, suburbanos corações ainda sem a indecente correção da ortodontia dominante.

Assim como o poeta Vinícius de Moraes, na sua receita de mulher, admirava uma hipótese de barriguinha, eu amo uma hipótese de dentucismo. Infelizmente acabaram com as dentucinhas.

Maldita ortodontia!

Sem falar que deve ter sido a mais linda falsa-magra da história da tv brasileira de todos os tempos. Até hoje. Não é só quando esteve no ar não. Não mesmo, meu jovem.

Lídia Brondi é uma das atrizes que mais admiro, digo, amo. Agora vem no rolo sem fim do projetor do inconsciente o filme “O Beijo no Asfalto” (1981), de Bruno Barreto. Lídia fazia a Dália. Difícil uma atriz brasileira ter sido tão rodriguiana como ela. Menina-mulher, sagrada-profana, tesão-devoção, nada chegou mais próximo, em carne e osso, da escrita de Nelson Rodrigues.

Eu amo Lídia Brondi e acho genial que ela, depois de tantos filmes e tantas novelas exemplares, tenha optado, ainda nos anos 1990, por outro caminho. Foi estudar psicologia e hoje atende em uma clínica na zona norte de São Paulo.

Sábia decisão questionada há séculos pela mídia fofoqueira da Candinha, como aconteceu de novo esta semana.

Dizem que La Brondi fez opção pelo anonimato (rs). Fez opção por continuar sendo gente de outra maneira, ora pois. Alias que belo exercício de liberdade. Que saco manter o mesmo enredo de vida para sempre!

Eu passei a amar ainda mais Lídia Brondi inclusive por essa decisão acertadíssima. Deve ter vivido algum conflito, como é natural do jogo dramático da existência, de se retirar da cena óbvia do mundinho artístico.

Conseguiu, porém, com muita decência, mudar de rumo profissional e se inscrever em uma certa normalidade, uma atuação longe dos holofotes e, quem sabe, bem mais perto dela mesma.

Sim, agora me lambuzei todinho na maçã caramelada do piegas, confesso. Como curto esse momento lindo. Só no piegas está o mínimo das sinceridades. Perdão, mas isso é coisa de quem conta com o álibi de Fernando Pessoa para desafinar no fado e nas cartas de amor -afinal de contas todas as amorosas missivas são ridículas, cá ouvimos o lema do gajo, Tejo ao longe.

Eu e a torcida do Flamengo amamos a Lídia Brondi. Eu e a torcida do Corinthians. Eu e a torcida do Icasa de Juazeiro amamos a Lídia Brondi.

Optou pelo anonimato uma pitomba.

Simplesmente escolheu outro canto, outro jeito, são tantas maneiras de viver a vida, minhas crianças.

La Brondi, inesquecível Verinha de “Dancin’ Days“, sabe, mais do que ninguém, que isto aqui, aiá, isto aqui, ioiô, é apenas um baile no qual todo mundo dança no começo, meio e fim -e a minha cuca ruim, como me sopra agora o amigo Otto.

Mais uma, Orquestra Imperial, play again DJ Dolores, mais uma Jr. Black, digo, meu querido Barry White, manda aquela, a clássica, em louvor da Lídia Brondi, a faixa “Love Making Music”, uma das melhores canções para fazer amor de todos os tempos. Acendo o king size sem filtro e até a próxima.

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Homem padece meio século para ser macho

Por xicosa
31/10/13 02:56

Tudo bem, tio Nelson Rodrigues já dizia: um homem aos 20 e poucos anos não sabe sequer pronunciar um bom dia para uma mulher.

Certo, certíssimo. Como no mantra dos sertões: certo como boca de padre, justo como boca de bode.

A gente demora pra cacete a amadurecer. É sério. Não existe carbureto ou qualquer outra química que avexe tal processo bananoso -o carbureto, como qualquer homem de verdade há de saber, é uma pedra milagrosa amadurecedora de frutas em tempo recorde.

Há até quem diga, a tirar pela nossa zoação permanente, que os homens não amadurecem nunca.

Pode ser. É realmente um eterna pelada com direito a churrasco e cerveja depois. Nada tão ruim assim. Há uma leveza boa também nisso, como me alertava uma ex, coisa marlinda das minas sem mares das Gerais do mundo inteiro.

“Ora, homem vai até pra guerra, não é fácil a vida de vocês”, dizia a mesma graça de moça tentando entender as nossas bobagens nos quintais da vila Pompeia & arredores paulistanos.

Tudo bem que a gente demora, volto algumas casas. Mas daí achar que a vida do macho começa apenas aos 54 é exagero. Demais da conta.

É o que diz uma pesquisa inglesa publicada esta semana pelo “The Telegraph”, um jornal dito sério. Se é que existe jornal sério no mundo fora “O Pharol” de Petrolina.

A vida principia aos 54 anos para os marmanjos. Ah, é? A manchete me faz deitar na rede branca e reler tudinho do Tolstói de novo. É a única maneira honesta e proveitosa para esperar a minha hora na varanda do Capibaribe.

A tese da pesquisa é até simples: somente a esta altura os miseravões começam a aproveitar a vida como adultos de verdade –haja aspas para adultos de verdade. Somente nesta fase outonal, digamos assim, os homens estariam “resolvidos e seguros”.

Ao contrário das gerações anteriores, a madureza de hoje é/seria mais demorada. O cara demora mais pra sair da casa dos pais, o cara demora mais pra ter filho, o cara é um ser demorado, folgado, que foge do vínculo e dos compromissos à moda antiga.

O temor de não acertar na vida –como se a vida fosse uma planilha do Excel- faz também o homem adiar esse momento ideal.

É medo de tudo, rapaz:

De ficar sem grana, um looser perdido e estranho no paraíso como um personagem de filme de Jim Jarmusch. Pior:  um velho lesado e mais liso que muçum (Synbranchus marmoratus) do açude do Orós.

O medo da solidão também pega. Principalmente aos domingos. Ai de mim, Copacabana.

O medo do corpo caído (ah, seus metrossexuais mal-agradecidos dos seiscentos diabos!) e outras inseguranças anatômicas. Ah, vão se danar, homem que é homem não se preocupa com um galinheiro inteiro, quanto mais com um ou outro pezinho de galinha no poleiro da existência.

Deixai as rugas residirem, sem pagar o aluguel da vaidade, em vossos rostos.

Quanta frescura, meu Deus, quanta perobice, quanto baitolismo, quanta qualiragem, quanto frufru e nove-horas, se é que você me entende.

Haja medo. A pesquisa também detectou o medinho de lidar com a careca, com o queixo duplo e com as mamas (rs). Só rindo, amiga. Las tetas. Tetinhas mais lindas, como diria meu grande amigo Marcelo Coppola.

Um autêntico macho-jurubeba não teme essas frescuras. Em um mundo onde os fracos não têm vez isso não existe. Suponho, supunhetamos.

No Ceará não tem disso não, como alertava Gonzaga. Pelo menos no Cariri eu garanto (rs).  Lá em nós até a velha da foice, mexicana e fatal, chega educada, cheia de com-licenças e cerimônias.

Fiquei invocado com esta pesquisa. Cá entre nós, você acha que somente aos 54 alcançamos essa segurança? Ou nunca?

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