O partido dos corações partidos
08/10/14 13:32A velha política, livre de qualquer novidade, pega fogo, com toda sorte de mistificação e preconceito. A velha política pede abrigo no coração das trevas.
Mas o que interessa, nesse momento, é o coração partido de Carolina, ainda menina para um amor tão punk-rock.
Ela me escreve e diz que achava que a dor, nestas ocasiões, era apenas simbólica. Ela diz que dói no osso, nas articulações, na sola dos pés, do-in às avessas etc.
Sim, moça, dói como quem tem uma bala alojada no corpo. Dói como uma bala alojada em noite de inverno.
Como faz?
Eu digo: passa, não se avexe, mas tem o tempo disso, o luto, o processo.
Ela pergunta: quanto tempo?
Só o vento sabe a resposta, digo, num mix de J.M. Simmel e Bob Dylan.
O partido de Carolina é o do mais óbvio e destroçado coração partido.
Tem remédio?
Se a vida dói, drinque caubói, receito, diante da gravidade da hora.
Carolina sequer levou um pé-na-bunda, não rolou sequer o velho kichute do desprezo em desleais pontapés.
Carolina conta: simplesmente tomou conhecimento que o miserável das costas ocas já havia mudado de mala e cuia para a casa da outra sem sequer avisá-la do triste ocorrido. Soube por uma amiga da amante.
Se a vida dói, drinque caubói, repito meu velho mantra.
Tente também a psicanálise, a terapia tradicional, a macumba, os florais, a tarja preta, a reza forte, os deuses que dançam em todas as tabas, florestas e terreiros.
Nada disso vai dar jeito imediato, mas tente, menina, tente. A gente precisa ter uma ilusão de cura nesse momento. Viver também é placebo.
Os amigos de esquerda, os colegas de direita, os queridíssimos anarquistas tentam falar de eleições com Carolina.
Não tem jeito. Seu coração partido está imune a discursos. O partido do coração partido não consegue fazer alianças oportunistas.
Não há segundo turno para os partidários do vexame amoroso.
Carolina escuta Françoise Hardy (na foto), Cat Power, Patty Smith, Tom Waits, Wander Wildner, Tatá Aeroplano e Robertão das antigas -“Olha, dentro dos meus olhos, vê quanta tristeza/ de chorar por ti, por ti…”
Carolina escuta também um pouco do Chico, afinal de contas seu batismo é baseado na música homônima do cara:
“Inútil dormir, a dor não passa”.
Daqui a pouco o sentimento vira o disco. Quanto tempo? Não faço ideia. É processo, inseto que vira borboleta.
Xico, se puder, leia meu post que tem o mesmo título do seu. Espero que goste tanto quanto eu gosto dos seus textos. Beijo!
http://okayish.wordpress.com/2013/08/15/partido-do-coracao-partido/
muito bom, Fernanda. belas coincidências.bjo
Xico, xico.
Acho que você tem me assistido de perto. Tô sentindo a carapuça me servir ultimamente nesse seu baú de textos infinitamente belos – alguns outros tão tristes que também chegam a ser.
Abrazo
Todos nós já fomos ‘Carolinas’ um dia, sorte tem quem nunca foi. Neste momento estou Carolina, mas vai passar… Não serei Carolina pra sempre. Hoje dói menos que ontem e tenho certeza que amanhã menos que hoje e a vida segue. Um novo amor? Cura? Sei não… como diz minha mainha: ‘ gato escaldado tem medo de água fria’. Tô com medo, mas vou vivendo essa coisa mágica, linda e louca que é a vida. Bjo Xico, love u!
Como numa postagem de uma amiga no facebook: Saudade é uma dor tão grande para o coração que transborda pelos olhos.
Quando um grande amor acaba,vai ver que não era tão grande ou que nem era amor mesmo.
Saudações de BH!!
Françoise Hardy é aquela que canta “La Question”? Essa música é boa de se ouvir nas altas da vida. Nas baixas, puxa, é até perigoso.
Sabe, Xico, pra mim não é O Tempo que cura Dor de Amor… O antídoto do veneno de cobra não seria o próprio veneno? Pois então: um amor só se cura com outro.
Enquanto um novo moçoilo não atiçar a curiosidade e o desejo de Carolina, ela vai ter que se virar entre saudade, soluços e “La Question”…
BEM, ao contrário da moça que lhe escreveu, cá estou muito envolvida com as eleições. Talvez nem o “kichute do desprezo” do Alain Delon me feriria de morte como essa dor (e falo sério) da possibilidade de a tucanada do PSDB retornar ao Executivo federal.
Sou eu quem pergunto a você, Xico: o que faço pra sair da angústia desta ansiedade, desta expectativa assustadora? O que devo ouvir? Como me confortar?…
Beijos, beijos e beijos de um coração Vermelho e colado (PERO aflito) em Você, que eu admiro TANTO e quero TÃO bem!
Fique com Deus!!
~~~
comentário infinitamente melhor q a minha crônica. La Question”? phodeu. so cura com outro(a).bjo
Não conheço a jovem Carolina, mas saiba ela que um dia essa dor passa , porque quando escrevi esse poeminha ela era forte e hoje forte e feliz sou eu :
Amor e Dor – Eduardo Green
Amor e Dor, que triste rima…
Podem até ser um duo exato
na música, em versos na poesia
Mas jamais permitam que
Amor e dor se encontrem na vida….
O Amor é a presença da alegria
A Dor é a ausência definitiva…
O Amor une dois corações em um
A Dor parte um coração em dois…
Enfim o amor é expressão maior
de sentimento da boa euforia…
e a dor essa só traz melancolia.
Amor e Dor, que triste rima…
Que meu Amor esteja comigo
em corpo, mente e prece
Ele que tanto me fortalece…
Para a dor não me encontrar.
Abraço Amigo Xico Sá, sabemos que ela ficará bem.
ficará bem sim, meu velho. a gente sabe como dói. e não é de hj.abrazo
Eu amei..
eu amei,ai de mim,muito mais,que devia amar
E chorei,ao pensar que iria sofrer e me deseperar,
Foi então…
que da minha infinita tristeza aconteceu você.
Encontrei em você a razão de viver
e de amar em paz
e não sofrer mais,nunca mais
Por que o amor é coisa mais triste
quando se desfaz
Amor em paz-Tom e Vinicius..
Nada melhor para curar a dor de amor ,do que um amor maior ainda.
a dor não passa e tu nunca chega.
ventimbora dá o ar da graça pelo Recife tão saudoso desse menino amado.
arrombado aqui d afazeres, só pra chegar fagueiro no meu recife.beijo
É o tempo de despertar!
Querido Xico, meu grande guru amoroso, com seus textos implacáveis, inteligentes, doídos e divertidos…
Estando de coração partido, rolando notícias chatas e repetitivas pelo espaço cyber, meus olhos se separam com esse maravilhoso texto, e dou-me conta… Sou mais uma “Carolina…”
Pelo menos os corações partidos, podem ter um alento… Num breve segundo onde essesmeus olhos puderam distrair meus pensamentos dessa dor, que esse “músculo insano” insiste por dissipar por todo corpo, dia e noite…
Esperamos eu e todas Carolinas por esse mundão afora que o tempo possa ser nosso amigo…
Sempre com belos textos! Beijos Xico.