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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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A arte da cantada permanente

Por Xico Sá
02/10/14 01:02

HomemQAmava

Chegamos a outubro e reparei que ainda não havia repetido este ano uma das minhas campanhas obrigatórias, renováveis e sustentáveis. Eis o panfleto lírico:

A cantada, amigos, é como a revolução de Mao Tse-Tung, tem que ser permanente.

Querem ver uma história que representa muito isso? Vejam o francesinho do cartaz arriba -“O Homem que amava as mulheres”, do Truffaut, o cara que nasceu para filmar o amor.

Existem mulheres que a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos quatorze, quinze, e olhe lá.

Mas é necessário que a cante sempre, não aquela cantada localizada, neoliberal e objetiva, falo do flerte, do mimo, do regador que faz florescer, como numa canção brega, todos os adjetivos desse mundo.

A cantada de resultado, aquela imediata, é uma chatice, insuportável, se eu fosse mulher reagiria com um tapa de novela mexicana, daqueles que fazem plaft!

A boa cantada é a cantada permanente.

E mais importante ainda depois que rolam as coisas, depois que acontece, aí a cantada vira devoção, oração dos pobres moços a todas elas.

Porque cantar só para uma noitada de sexo é uma pobreza dos diabos, qualquer um animal o faz.

Porque cantar, à vera, é cantar todas e não cantar nenhuma ao mesmo tempo.

Explico: é espalhar pacientemente a devoção a todas as mulheres como quem espalha sementes nos campos de lírios.

Mesmo que elas digam, com aquele riso litografado na covinha do sorriso, que você diz isso para todas.

E claro que para cada uma dizemos uma loa, fazemos uma graça, não repetimos o texto, o lirismo, o floreado.

Porque amamos mesmo as mulheres.

Cantemos indiscriminadamente, e que me perdoe o velho e bom Vinícius de Moraes, mas cantemos sobretudo as ditas feias, esse conceito cruel e abstrato de beleza. Elas merecem, até porque as feias não existem, nunca conheci nenhuma até hoje.

Não por sermos generosos, piedade, ou algo do gênero… É que a dita feia, quando bem cantada, vira a superfêmea, para lembrar a bela pornochanchada com a Vera Fischer.

A cantada permanente e indiscriminada é irresistível, quando você menos espera, acontece o que você tanto sonhava.

Sim, tem que ter o cuidado para não ser simplesmente um chato que baba diante do melhor dos espetáculos, a existência das mulheres.

Ter que cantar sempre a mesma mulher e parecer que está apenas de passagem, que o estribilho é sempre novo, nada de larararás que mais parecem refrões do Sullivan e do Massadas.

Ah, digamos que você cantou a Sônia Braga ainda naqueles tempos em que Gabriela subiu com aquele vestidinho no telhado –a cena mais quente da teledramaturgia brasileira até hoje- e e continuou cantando, sempre, sutil e sempre, e agora ela, passados tantos calendários, se comove e resolve recompensá-lo! Vai ser lindo do mesmo jeito, não acha? Na tela do nosso cocoruto vai passar o videotape de todos os desejos antigos e despejados no ralo pela morena cravo & canela.

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Comentários

  1. Ma comentou em 08/10/14 at 22:51

    Xico, me fez chorar. Belo texto. Beijo.

  2. Vani comentou em 08/10/14 at 16:08

    Sr. Moderador, mostra para o Chico fofucho por favor rsrsr, uma poesia minha em agradecimento ao texto dele tão bem escrito

    https://www.facebook.com/1556599784569629/photos/a.1557265711169703.1073741828.1556599784569629/1565916263637981/?type=1&theater

  3. Vani comentou em 08/10/14 at 16:03

    Pura poesia! Na sutileza, na safadeza delicada…como um sussurro ao pé do ouvido. Por que quem ama…ama permanentemente, ainda que tudo se transforme! Por um mundo com mais Xicos cheios de Sá…bedoria feminina e amor que é o que todos precisamos e merecemos. Adoro-te! beijos

  4. sergio barros comentou em 03/10/14 at 8:48

    Essa moça tá diferente
    já não me conhece mais
    esta pra lá de pra frente
    tá me passando pra trás
    Essa moça é a tal da janela
    que eu não cansei de cantar
    e agora esta só na dela
    botando só pra quebrar….
    Chico Buarque.

  5. Nara comentou em 02/10/14 at 22:07

    Viva! Que delícia!!
    “Eu gosto de ser mulhe..r”

  6. Zefa comentou em 02/10/14 at 21:39

    Xico do meu coração! Aleluia existir homens como vc. Aqui, vc lê a mente das mulheres? Que loucura, sô!? Me sinto despida ao ler seus textos.

    • Xico Sá comentou em 03/10/14 at 13:25

      q loucura digo eu, Zefa querida,com esse “despida”. bjo

  7. Maria Alice da Silva Pinto comentou em 02/10/14 at 12:04

    Melhor ainda é vc sentir várias cantadas diferentes, inusitadas, divertidas, humoradas e sinceras da mesna pessoa, durante 30 anos de relacionamento, e quem sabe, mais alguns outros tantos anos… É muito bom…

  8. Alessandra Alves comentou em 02/10/14 at 11:57

    Adorei esse texto.
    Acho a cantada por cantada, muito chato. Muitas vezes penso, que existe uma escola ou curso para os homens, que ensinam a eles, a cantar as mulheres na rua, festas, faculdade..pois as cantadas, são quase sempre iguais. Tédio.
    Nunca me envolvi com alguém, por causa de uma cantada.
    Sou o tipo de mulher que o texto se refere como “a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos quatorze, quinze, e olhe lá.” Se isso é bom ou ruim..não sei, mas sempre deu certo pra mim.

  9. Pedro Ivo comentou em 02/10/14 at 11:43

    Salve Xico!! Finalmente alguém com notoriedade confirmou a inexistência das mulheres feias! Muito obrigado, a solidão incomodava.

  10. Ana Paula~acatolica comentou em 02/10/14 at 10:13

    Ei, Xico!!
    Saudações de BH!!

    Você está sugerindo a devoção da personagem principal de “Amor nos Tempos do Cólera”? Sim, demorou, mas o rapaz foi recompensado com o amor maduro de uma musa já envelhecida, pra lá da meia-idade.

    Talvez aquilo não tenha sido propriamente uma cantada persistente, mas Amor genuíno, né?

    Pena que os moçoilos ou não tão moçoilos de hoje em dia, dada a quantidade de moçoilas na praça ou a desinibição e voracidade com que agora elas se dirigem a eles, bem, tudo isso junto e misturado talvez iniba os homens de desenvolverem a Arte da Cantada Permanente.

    A própria sociedade da velocidade, onde a satisfação AQUI e AGORA é o que a maioria de nós busca, é uma “força estranha” contra a habilidade que você bravamente defende nesta Crônica LINDA.

    Hoje, infelizmente, a gente não tem paciência de plantar a semente e vê-la florescer…
    … Poucos fazem planos a longo prazo, Xico. CONTUDO, espero que este seu texto de que tanto gostei toque o coração de alguns homens pra que (re)descubram esta Arte: a de conquistar devagarinho, com inteligência, sem desistir ante um “Não” descabido ou a indiferença passageira.

    Agora deixo o Meu Beijo em Você: alvo das minhas cantadas e objeto da minha afeição!… (Me gusta mucho ustedes.)

    Fique com Deus!!

    ~~~

  11. sergio barros comentou em 02/10/14 at 8:21

    Pra mim a melhor cantada é aquela cantada ,com acompanhamento da viola inseparável.Quantos grandes compositores fizeram lindas melodias para atingir o coração de suas amadas.famosas ou anonimas.Eu mesmo já me arrisquei em algumas composições para umas moçoilas e fui recompensado de varias maneiras.Até o nosso Chico Buarque para cantar uma linda dama da sociedade ,tascou estes versos:
    Morena dos olhos d´agua
    tire os teus olhos do mar
    Vem ver que a vida ainda vale
    o sorriso que eu tenho pra lhe dar…..
    e por aí vai……

  12. Flá comentou em 02/10/14 at 7:23

    Eita, que cantada mais gostosa, esse seu texto!!!!

  13. Felipe Basso comentou em 02/10/14 at 7:20

    Demais! Podemos dizer que “a boa cantada é uma forma de oração”, parodiando o Vininha, que certamente lhe perdoou..rsrsrs.
    Não posso dizer

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