O tal do amor aberto dá certo?
28/09/14 04:43O leitor indaga este destemido consultor sentimental à queima-roupa, em um encontro na estação Consolação:
“O relacionamento aberto pode dar certo?”, tasca, com cara de quem está sendo passado para o último vagão dos homens no descarrilado e derradeiro metrô do amor e da sorte. “Ela propôs. Disse que é assim ou nada”.
Tive dó daquela criatura. Pensei em jogar uma teoria, lembrar do poliamor, aqueles livraços sacanas do Roberto Freire, aconselhar a leitura de “A cama na varanda” da brava Regina Navarro Lins… A delícia que pode ser tentar sair por ai, à franciscana, sempre na base do é dando que se recebe.
Fiquei tentado também a presenteá-lo com o bilhete único da obviedade rodriguiana:
Meio amor não é amor, cai fora, se liga. Se fechado não funciona, imagina na base do “oh! rebuceteio”, como na ilustração acima do gênio italiano Milo Manara!
O sujeito de meia idade, vestes invernosas puídas em plena primavera, exalava a naftalina de outras dores acumuladas no guarda-roupa:
“Me ajuda”, disse, em um abraço de cortar coração, passarinha, fígado, moela e todos os miúdos da humanidade.
Era uma dessas criaturas infelizes no amor. Ponto.
Tentei reanimá-lo com aqueles clichês da esperança a qualquer custo que aprendi nos filmes de Frank Capra. Levei o desalmado para uma bisteca crepuscular no “Sujinho”, estabelecimento que sempre funcionou como a minha clínica sangrenta de psicanálise selvagem.
Na primeira cerveja ele chorou por ela. Para tentar desconstruir minimamente o mito do amor romântico, perguntei: “Gostosa?”
“A única que me levou ao nirvana!”, diz Roberto, na casa dos cinquenta, babando na bisteca, inconformado. “Amor aberto, amor aberto, amor aberto”, balbucia, obsessivo. “Amor aberto, amor aberto, amor aberto…”
Realmente o amor aberto é uma beleza. Para o(a) dono(a) da iniciativa, da chave e do cadeado. Para quem decide abrir a cancela dos sentimentos, para quem grita primeiro pelo menino da porteira.
O pior da proposta de amor aberto, fui obrigado a alertar o Roberto, é que pode ser um baita truque. Coisa de quem está apenas te largando para viver um aferrolhado e fidelíssimo amor com outro(a).
Muitas vezes a tese do amor aberto não passa de uma desculpa menos dolorosa (menos?) para dizer que está indo embora. “Preciso ter o meu espaço etc”. Aquela coisa meio doutor Smith perdido nas galáxias dos sentimentos.
Toda vez que escuto a expressão amor aberto, me fecho para balanço.
Com a ajuda dos generosos garçons, coloquei Roberto num táxi rumo à praça da Árvore.
Ele babava: “Amor aberto, amor aberto, amor aberto…”
E você, amigo(a), já teve sim alguma experiência do gênero? Isso existe ou é penas coisa de livro e tese? Funciona? Digaí.
Olha, eu vivi nove anos esta experiência. É preciso muita força e muita sinceridade para com a companheira. Não é somente flores, pode se tornar vazio e ser nada além que uma fuga. Chega uma hora que acaba. Amor acaba de qualquer maneira. Quando não há amor, não adianta abrir o fechar: ele foge.
Oi Xico.
Bem, amor aberto, quando vc tem uma copia da chave do cadeado tudo é a melhor maravilha de sexo todos os dias da semana. A um ano estou nessa mas nos ultimos meses, desde que eu perdi minha chave, to tendo que admitir pra mim que me apaixonei pra ver se finalmente tenho aquela conversa de tudo ou nada. O mais dificil é que todos os dias da semana mesmo sem sexo, convivemos juntos. O que sempre é dificil dizer “não hoje eu não vou pra lá”. Enquanto eu estou de quatro na melhor condição que tenho de prazer, que se foda se a dois dias tinham três minas o dividindo ao mesmo tempo, mas quando eu escuto isso da sua boca, a unica coisa que tenho é fugir, bêbada e com raiva.
Mas olha, quem puder nunca receba a copia da chave ou aceite mesmo vocÊ sendo o dono dela, uma hora ou outra você leva uma rasteira dos próprios sentimentos e não consegue pensar em outra pessoa pra ver num domingo se não for ele(a).
Excelente texto, espero que eu consiga uma nova chave de alguém que me deixe entrar pela porta da frente e que a copia seja especialmente minha. E só. um beijo Xico.
No meu caso, eu prefiro um amor aberto na mão do que nada…. Acho que alguns amores a gente tem que aceitar que não rola de serem fechados, sei lá, a química entre as duas pessoas é forte, mas nem todo amor resulta em dia a dia, rotina, etc. Tem uns amores que te deixam meio fora de orbita, é uma voltagem muito grande para suportar mais de alguns dias juntos.
E aí, o ideal seria que ambos aceitassem que pode-se ter esse amor, aberto, por alguns dias espaçados no tempo e no espaço. Eu vivo um amor assim, mas ele reluta a aceitar isso…..
Olha, no meu caso, eu prefiro esse amor aberto com um moço irresistível por quem estou apaixonada há 24 anos (desde os 16, tenho 40…) do que NADA na mão!
Se ele topasse, eu o veria, só quando ele quisesse, aqui, ou lá onde ele mora. No caso, eu tenho um outro amor, que é fechado. Mas eu sempre abriria uma exceção para estar com esse amor que me faz perder o chão toda vez que o vejo.
Olha, Xico. Tive uma experiência terceirizada de amor aberto.
Terminei uma relação de quatro anos morando juntos sem (muito) choro, nem ranger de dentes. Ele tinha outra. Normal, nem foi o estopim. Ou foi. Não lembro.
Sei que continuamos amigos, confidentes… correndo todos os dias à noite na mesma avenida, porque, apesar de morarmos em casas diferentes, continuamos no mesmo bairro, a dois quarteirões de distância. Ele me contava dela. Falava de poliamor. De amor aberto. Aquilo sim era amor.
Eu só dizia que eram alterações hormonais, paixão, afetava o cérebro e o raciocínio. Mas tudo bem.
E refletia sozinha que, comigo, aquele amor estável de três anos, amor aberto nunca foi pauta. Pelo contrário. Fechado. Trancado.
Três anos se passaram. Estou de volta à minha terra e continuamos amigos. Sem flashbacks, tipo decreto de friendzone. Já sofri e dessofri por outros incautos.
Outro dia, quis uma cafeteira Nespresso, ele comprou. Me mandou por sedex. De presente. Brodágem. Ela? Sumiu. Aquele amor mesmo todo acabou.
E eu continuo aqui. Ele lá. Ela acolá.
E uma xícara de café árabe longo na mão com espuminha de leite igual da padaria.
Não, o amor exige mais, o amor cobra, o amor precisa de mais. Pode até começar aberto, mas depois que o amor chega, aquilo só não basta. Já tive um amor assim, era segura no início, ele também. Mas com o tempo as exigências foram surgindo junto com os aborrecimentos e chateações. Não há motivo pra não ser fechado quando é amor.
Foi uma das mais esclarecedoras visões que já li a respeito da questão. Concordo em gênero, numero e grau! Se ele não entendeu então que se f…… rsrsr
Homem que come muitas mulheres é garanhão.
Mulher que dá pra muitos homens é galinha.
A regra vigente neste pais machista é esta…o resto é romantismo babaca.
Para mim, não acho que existe AMOR aberto, não! Pode ser outra relação. Amizade colorida ou outro nome que se dê. Mas acho que quando temos um amor e somos felizes, não queremos outras relações, não.
Saudações de BH, Xico!!
Não funcionou bem nem para os “inventores” da iniciativa que hoje alguns tentam copiar: Sartre e Simone.
Vi num documentário dia desses, que toda vez que a insigne francesa caía de amores por outro cara, Sartre ia pra escrivaninha rascunhar uma carta daquelas, que comove os corações mais duros (ou moles, porém apaixonados por outra pessoa).
Lá ia Simone se desvencilhar de seu(s) novo(s) amor(es) e consolar Sartre – que por sua vez tinha inúmeras namoradas, sobretudo bem mais jovens que ele.
Não acredito em amor aberto.
É como cabeça de bacalhau, japonês loiro ou a Atlântida perdida: podem até existir, PERO ninguém viu nem vê.
Um Beijo daqueles em Você,
por quem suspiro cá detrás das montanhas de Minas…
Fique com Deus!!
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Sim, meu caro, ainda bem que Simone tb não deixava barato, afinal de contas era uma grande mulher: li recentemente o livro dela de correspondência com o poeta americano Nelson Algren. Caliente . grande abraço e valeu pela colaboração
Ana Paula, desculpa, te chamei de caro. é q havia respondido um macho aqui e confudi. beijos e volte sempre
Tenho um relacionamento aberto há sete anos e somos muito felizes, curtimos muito estar um com o outro mas entendemos que mente quem diz não sentir atração por outras pessoas que não o próprio parceiro. Nós apenas somos mais realistas quanto a isto. Ficamos com outros parceiros juntos e também separados. Não consigo lembra a última vez que brigamos e sempre que isso acontece é por estresse do dia a dia. Cada um é livre para viver o amor da forma que lhe cabe melhor.
Caballero Xico. Claro que não funciona. Posso te afirmar: é unilateral como bem sabes. A simples proposta já leva ao desespero o parceiro. Funciona sim como belo castigo à uma escorregada dos trilhos. Abraço Cabron
E quem pode assegurar o “jeito certo de amar”? Ou mesmo q amando de um jeito (“fechado”) ou outro (“aberto”) se terá a certeza da perpetuidade do amor? Por ser uma epopéia incerta, o amor é tão excepcionalmente intenso.
Caro Xico, cada um acha seu jeito de ser feliz, ou quase feliz, ou apenas mediano. Quem sabe?
Eu acredito na intimidade, na cumplicidade e no prazer de estar junto. Aquela coisa de olhar e já saber que quer. O bom da vida é que não somos todos iguais, então quem curte vai em frente e tchau!
No final.o amor que a gente recebe
é igual ao amor que a gente dá….
The end BEATLES.
Pode chamar de relacionamento aberto, sexo aberto, paixão aberta, mas amor aberto não é não. Amor é outro bicho, outra coisa, outro grau de entrega, envolvimento, ruído, resiliência e grude. É ponte queimada. Amor só é amor porque é fechado. Acabou, volta a nado.
Concordo totaaaal!!!
Caramba… A melhor definição que já ouvi.
Olha, acredito que se o tal do amor aberto for combinado e decidido em comum acordo no início do relacionamento, pode até dar certo. Mas começar um relacionamento fechado e depois escancarar, só dá certo mesmo para o lado que propôs a abertura. Consentir em abrir o relacionamento é consentir com o chifre.
Como eu sei? Esses moços, pobres moços, oh, se soubessem o que eu sei…