Copa: Bombril na antena da memória
08/07/14 14:53Uma multidão na praça da cidade de Nova Olinda, diante de uma pequena TV em preto e branco de 14 polegadas –se muito. Raro aparelho naquele pedaço do Cariri cearense. Só chuvisco. Os radinhos de pilha ajudavam a tentar entender aquela miragem no meio do deserto semiárido. Era a Copa de 1970 que nos chegava com muito Bombril na antena no tempo de um Brasil a válvulas.
Com oito anos incompletos, só fui entender direito o que se passava meses depois, pelas figurinhas do chicletes Adams que reproduziam, em um desenho lógico e didático, todos os gols brasileiros. O que mais me impressionou foi a fisionomia assombrada do goleiro da Inglaterra, Gordon Banks, diante do tirambaço à queima-roupa de Jairzinho. Parecia a imagem do “Pânico” do pintor Edvard Munch.
Saía de caminhão, com a família e a turma do Sítio das Cobras, zona rural de Santana do Cariri (CE), para Nova Olinda, a 18 km do nosso rancho. Com aquela festa toda da meninada, quem precisava ver o jogo direito? Só fui conhecer, à vera, a cara de cada jogador brasileiro uns dois meses depois, quando o revendedor dos cigarros da Souza Cruz levou de brinde um pôster para meu pai colar na parede da sua bodega.
Onze homens e um destino. Ficava horas observando os jogadores. Para cada um, eu via um sósia ali na nossa vizinhança. Tostão era o Gerdau Barbosa, que encantava a todos com os perfumezinhos que fabricava em pleno sertão –havia feito um curso em São Paulo. Daudete, irmão de Gerdau, era o Félix –até jogar de goleiro, jogava.
Pelé era Corisco, um vendedor de laranjas da Bahia na vila de Aratamas, Assaré (CE). Gérson eram todos os carecas da região. Carlos Alberto Torres era o meu tio xará Alberto Novais. Everaldo era Expedito, meu grande amigo de infância, hoje funcionário da gráfica da editora Abril em São Paulo. Clodoaldo era o Roseno, vizinho de Corisco, santista e bom de bola, pelo que me recordo.
Rivellino era Chiquinho Inglês, bigode grosso do Açude da Telha. Jair eram quase todos da família Bruno…
Uma Copa em que o entorno, a brincadeira, a fantasia, o não-ver o jogo foi mais importante que tudo. Essa herança está no tipo de crônica esportiva que pratico. Mais vale a passionalidade, o exagero e a imaginação do que o esquema tático –tentei escapar de dizer que essa religião tem nome e se chama rodriguianismo doentio.
Naquela tevezinha caixa de fósforo no meio da praça, creio que obra do prefeito Jeremias Pereira (Arena I), não vi o melhor de Pelé: os não-gols que marcariam a presença real no México.
Os não-gols mais bonitos que 90% dos tentos marcados de lá até hoje. O goleiro tcheco adiantado…
Por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo, como diria o narrador esportivo Geraldo José de Almeida àquela época. O drible de beleza platônica, sem nem triscar na bola, no goleiro uruguaio Mazurkiewicz –minha nossa Senhora de Guadalupe, aquilo valeu por um Maracanazo.
E a defesa do Banks, na cabeçada do negão? Essa não decifrei no chuvisco da TV, mas as rádios repetiram tanto a locução que sonhei lá na minha rede colorida no quarto atrás da bodega do meu velho pai Francisco. Quando vi o videoteipe… Era igualzinho.
“A Copa do Mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa.” A canção ficou grudada até hoje.
Essa outra também: “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil…” Os milicos arrepiavam nos porões da tortura, e eu –inocente, puro e besta, matuto sertanejo– só achava engraçado e bonito o sotaque gaúcho do ditador Emílio Garrastazu Médici. O sotaque do ditador no rádio.
Minha avó Merandolina, de Águas Belas (PE), descendente dos índios fulniôs, dizia: “O homem vai falar, meu netinho”. Pura fábula dos tempos de chumbo.
A minha Copa é a Copa que mal vi, a Copa dos não-gols do Pelé, mas minha primeira ideia de futebol como festa e congraçamento. Lá em Nova Olinda estava o mundo todo dos nossos arredores. Era tanta gente para uma tevezinha tão minúscula e chuviscada. Bastava dizer Pelé para ganhar um sorriso –como acontece com um brasileiro perdido no deserto das Arábias ou em uma savana africana. Como esquecer?
Inocentemente, eu era um dos 90 milhões em ação, como na música da trilha sonora, e nem sabia.
Caro Chico, de certa forma nossas histórias são parecidas em relação ao despertar para o mundo mágico do ludopédio. Eu, com 10 anos em 70, também assisti os jogos em uma TELEFUNKEN (alemã) preto e branco, na casa da vizinha. A exemplo do que aconteceu com você, também de forma inocente cantarolava todos aqueles gingles ufanistas, inclusive na entrada do colégio. Minha Campina Grande era mais desenvolvida do que o seu cariri cearense, mas, creio que a emoção e o deslumbramento daquela época, torna a copa de 70 para nós, a verdadeira copa das copas.
Belíssima cronica, Xico-velho!!!
Quando vier a Natal venha uisquemeditar no botecodo(In)Finito. Brau!
Na final de 70 vi o jogo em uma TV preto e branco de 24 polegada ba praça da Igreja. Dia em que conheci a primeira namorada. Nessa época eu já sabia que a Ditadura iria usar o sucesso da copa pra continuar enrolando os brsilerios até deixar milhares de pessoas torturadas e centenas desaparecidas, além de uma divida de mai de 1,3 trilhões
Esqueçam o passado. O jogo-motivo-de-piada de terça e a beleza de 70 já eram. Foi. Virou imagem na memória. Cuidem dos pequenos craques que ainda insistem nascer pelos quintais brasileiros. E mais belas imagens virão.
Gostei porque viví este tempo.Éramos inocentes usados para manter o circo ativo.
Enquanto isto, iniciava a dinastia corrupta de Havelange e quadrilha que existe até hoje.
Foi neste período que se juntou o malfadado
C.A.Parreira, erva daninha,bom de papo,errolador,puxa saco de plantão dos chefes corruptos,arrogante e prepotente, pensando que está lidando com os milicos
que comandava no quartel em sua época.
Xico, deve estar difícil para você esconder a felicidade. Sonhou tanto com este fracasso e pelo menos teve meio sucesso. O Brasil ficou bem divulgado pelos serviços e o turismo de ve crescer. Porém teve esse gato no Futebol que desanimou a todos. Apesar da inversão dos meio sucessos ficou bom Para o Xico e Otimo para o Dr. Francisco.
Caro, esse ano torci muito, nao sequei, tirei até o corvo Edgar do poleiro (meu personagem secador). o Brasil fez uma excelente Copa, coisa q a imprensa e a oposição duvidavam. dentro de campo, q era dado como certo, foi o contrário. abs
E tem uns ignorantes que falam que as outras seleçôes eram fracas assista Italia e Alemanha nesta mesma copa.
tenho ouvido cada absurdo, Renato. o penta foi ganho enfrentando gigantes,sempre.abs
Melhor ver a seleção de 1970,numa televisão com bombril na antena ,do que a atual numa moderníssima tv de plasma.
Sergio Barros meu chapa.
Me desculpa o plagio mas faço minhas as suas palavras…Não vamos esquecer do time de 82 sob o comando do Telê…Quem tempo bom, que não volta nunca mais…
Abraço velhinho.
como 82, jamé. timaçoooooo.abs
Quem já viu atacantes do nível de Garrincha,Pelé ,Tostão,Romario,Ronaldo e meias como Didi,Gerson ,Rivelino,não pode se conformar com os meias e atacantes atuais.Ele não tem status, pra vestir este manto sagrado.
Chico, você é o cara. Tudo isso que você viu eu também vi e vivi aqui no sul do Brasil. Cara você é estupendo, seus comentários no programa do EXTRAORD…, DEZ, DEZ!!!!! Parabéns, sou seu fã.
Chico, você é o cara. Tudo isso que você viu eu também vi e vivi aqui no sul do Brasil. Cara você é estupendo, seus comentários no programa do EXTRAORD…, DEZ, DEZ!!!!! Parabéns, sou seu fã.