Xuxa exorciza o tabu do "pornô"
08/06/14 20:14Como na canção de Odair José sobre luta de classes, Xuxa deixa essa vergonha de lado, sabe que a moral canalha não tem valor.
“Falam que o filme que eu fiz é vergonhoso. Compare aquele filme com alguém batendo numa criança e veja o que é mais vergonhoso. Eu tinha 18 anos. E interpretava uma garota de 15. O que é mais vergonhoso? Esse filme ou bater numa criança?”
E eis que 32 anos depois, Xuxa, 51, na madruga do “Altas Horas”, assume talvez o momento artístico máximo da sua carreira, o filmaço “Amor Estranho Amor”, de 1982, aquele fatídico ano da tragédia do Sarriá, quando o escrete de Falcão, Sócrates e Zico perdeu a Copa jogando o futebol mais inesquecível do planeta.
Não havia motivos, caríssima Xuxa, a não ser uma correção sem o menor sentido, para negar e proibir na Justiça a obra. Proibir como se fosse um Robertão paranoico e azulado.
Mesmo lidando com um público infantil na carreira, Xuxa não poderia confundir as bolas: o belíssimo filme de Walter Hugo Khouri é uma ficção. Se a atriz Xuxa, na pele da personagem Tâmara, troca carícias com Hugo (o ator Marcelo Ribeiro ainda criança), não passa de uma cena riquíssima do cinema.
Quem vê algo de errado nisso é capaz de levar Nabokov de novo à fogueira da inquisição por ter escrito “Lolita”, Lo-li-ta, luz da minha vida, um dos melhores livros de todas as eras.
O bom é que Xuxa, parece-me, exorcizou o fantasma. Ufa!
Por causa do filme havia sido humilhada em público recentemente pelo deputado Eurico Delgado (PSB-PE) durante discussões sobre o projeto da Lei da Palmada.
O deputado -ah, esses canalhas, esses moralistas de meia tigela- disse, na oportunidade, que Xuxa [ela fez lobby pela aprovação da lei] cometera “uma violência maior contra crianças por participar de um filme pornô”.
Finalmente a Xuxa assume o filme. Agora só falta liberar na Justiça a fita, deixar correr solto. Se bem que é facilmente encontrável até nos camelôs de SP que vendem DVD.
“Amor Estranho amor”, repito, é um filmaço que faz parte da grande obra de um dos melhores e mais importantes diretores de cinema do país: Walter Hugo Khouri.
Um cara tão bom que era chamado, na buena onda dos amigos, de o Antonioni da Mooca. Lembrar Antonioni, o italiano que figura entre os maiores do mundo, já diz tudo da competência do cineasta paulista.
Na minha lista, o diretor de “Noite Vazia” e “Amor Estranho Amor”é gênio. Fez com o inconsciente e os desvios do caráter da burguesia brasileira o que Glauber Rocha realizou com os sertões e a política de um Brasil em transe.
Ninguém melhor do que WHK soube filmar as mulheres. Nelville de Almeida (com o universo de Nelson Rodrigues )é o que mais se aproxima.
A cena polêmica de Tâmara, o personagem fictício de Xuxa –é arte, não é pedofilia, hello, minha gente- é uma das antológicas do cinema nacional. Xuxa atua com esmero. O menino Hugo idem.
Xuxa, talvez a sua atuação nesta fita seja a sua maior herança artística. O seu melhor momento. Ali você superou inclusive o preconceito que havia com modelos que atuavam na tevê e no cinema.
É motivo de orgulho, razão para liberar geral e ainda participar, com destemor de um eventual relançamento. Definitivamente não é esta obra que queima o seu filme.
De qualquer jeito,Xuxa foi responsável pela erotização das crianças brasileiras e responsável pela divulgação do funk no Brasil. Pelo segundo motivo já seria passível a pena de morte.
na verdade Xuxa voce sempre foi uma linda mulher e aquele filme so servio para nois confirmar isso
ESTRANHA contradição essa, da XUXA!
O filme é bacana sim. A discussão foi babaca sem dúvida e acabou servindo para confundir a análise dos fatos… a “lei da palmada”: a intervenção do estado na educação familiar, a criação de mais uma lei quando se já existem leis que punem a agressão física e maus tratos.
A Xuxa tem interesse, pois vive da imagem de sua ligação com as crianças (dona de franquia de casa de festas, parque de diversões, entre diversas outras marcas ligadas ao público infantil).
O que incomoda as pessoas, é a aberração que a Xuxa se transformou… quer apagar o seu passado, vende uma imagem de ser de moral irretocável, com a proibição do filme e compra dos direitos de suas fotos da playboy… virou uma espécie de Michael Jackson com Roberto Carlos… uma louca neurótica. Quanto ao filme, foi bacana sim! Sem problema! Da época onde a praga politicamente correta (da qual a Xuxa é contaminada e defensora) não estava tão impregnada na nossa sociedade e entre os intelectuais brasileiros.
Saudações de BH!!
Ouvi dizer que foi a participação em “Amor Estranho Amor” que azedou a pretensão de Xuxa de fazer carreira como apresentadora infantil nos EUA.
Ela chegou a gravar pilotos, com gente travestida de urso e cachorro, falando em inglês – que ela não dominava quase nada.
Aí, a história da fita emergiu e… Mandou-se de volta pro Brasil. (Lá, eles toleram tiro e sangue. Sexo, ah, isso aí é tabu pra América puritana, sobretudo envolvendo crianças.)
Pode ter sido o momento genial da carreira da gaúcha, como você afirma. Mas, afora os seus suspiros compreensíveis, Xico Querido, da cena antológica com Walter Hugo Khouri, Xuxa só colhe constrangimento…
E Viva o Cinema Nacional!!
Beijos.
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A Xuxa para mim significa a maior “aberração pedagógica” de todos os tempos… Quanto ao resto, dispensa comentários…
Concordo.
Oi Xico, concordo contigo em algumas partes do texto. Mas não foi dessa vez que Xuxa assumiu esse filme. Na década de 90 (no auge do sucesso com as crianças) ela falou abertamente sobre o filme como pode conferir nos links a seguir:
Com Amaury Junior: https://www.youtube.com/watch?v=Cwc0J-193U0
Na Argentina: https://www.youtube.com/watch?v=q8Lbk5u2ESs
“De maneira nenhuma eu me envergonho, aquilo foi um trabalho”
Enfim, o problema maior foi que Xuxa é uma mera figurante no filme, e assim que ela estourou no Brasil como apresentadora infantil a fita passou a ter a sua imagem na capa com o título: “Venha ver o que Xuxa faz com seus baixinhos”. O buraco é muito mais embaixo. E é impressionante a burrice das pessoas. Como você mesmo disse, Xuxa era uma atriz no filme, era tudo ficção!!
Xuxa nunca fez mal a ninguém. Em toda sua carreira infantil transmitiu mensagens sobre ecologia, abecedário. As crianças excepcionais eram fanáticas por ela. Seus dvds hoje educativos estão entre os mais vendidos. Alguém já parou para ver algum clipe atual desses dvds? Ensinam de tudo. É é muito louvável em uma era em que tudo é descartável. É inegável o carisma que Xuxa tinha e tem. O que me impressiona é como as pessoas gostam de atirar pedras e massacrar alguns artistas desse país. Principalmente em comentários em sites de notícias, facebook e etc. Como explicar esse tipo de comportamento?
Enfim, gostei da maneira que tratou o assunto sem ser mais um atirador de pedras, pois parece que com a internet estamos voltando a era em que se queimavam possíveis “bruxas” em praças públicas.
Caro Rodrigo, logo no lançamento ela vestiu camiseta e tudo do filme, ainda nos anos 80. Nao sabia que ela havia tratado do assunto depois, como vc me faz tomar conhecimento agora. Te agradeço pelas informações. abraço, Xico
Aquilo foi quase uma apologia a pedofilia pare de falar besteira.. Mídia sem responsabilidade e sem critério contamina e não vê consequência…
Aprofundando o assunto, o filme em si, é o mal menor em toda essa questão. Já existem leis que tratam do assunto, e não é mais essa que vai mudar comportamentos. Carecemos de Educação, Saúde, Saneamento, Segurança, e tantas outras coisas que são dever do Estado, sendo eles, detentores de nossos impostos. Essa Srª. Maria, deveria discursar essa hipocrisias, nas casas, que se é que ela sabe que existem, onde a Mãe se prostitui, o Pai é drogado, e o infeliz do “BAIXINHO”, é educado na rua, por quem quer que queira lhe dar atenção. Usa-se ela esse tempo que dispendeu para fazer essa demagogia, e trata-se de algo mais produtivo aos afins. Interceder com atitudes que vão nos angariar Fama, não é caridade, é outra coisa. Embora pouco lhe importe caro XICO, lhe admiro o caráter.
A caridade sem anonimato é vaidade sim, ou mídia nos dias de hj, lamentável, pois pessoas bem relacionadas nas mídias,poderiam sim combater problemas muito mais generalizados que apodrecem a sociedade…de maior grandeza, não que a violência domesticas não seja, mas para que ela não aconteça existem medidas preventivas de educação social e projetos mais concretos que são mais prioritários …são apenas inversão de valores …
Desculpe, acabei complementando seu ponto de vista..rs, qto ao filme é uma ato artístico, nada denigri a imagem de quem vive de cinema e outras artes, o que indigna é a hipocrisia da Xuxona..rs
Nisso, vc tem razão. so me apeguei ao filme, pois o q amo é esse filme. bjo
Querido Xico,
Sempre é um prazer ler teus textos. Obrigado por mais um deles.
Ontem, fui ao teatro. A peça sobre Rita Lee, interpretada magnificamente pela Mel Lisboa, mas nem é essa a questão. A questão é: as pessoas estavam tirando fotos sentadas nas poltronas, os ‘selfies’, pra registrar o momento. Fotos delas nas poltronas, tem coisa mais feia, e inútil? Mas é que é tão raro irem ao teatro, que chegam a tirar foto disso. O povo brasileiro não tá culturalmente preparado pra entender uma cena como a do filme da Xuxa. Nem pra entender teus textos. Que azar, o deles.
Nada contra o filme.Agora ,ela cantando me leva ao desespero profundo.
ela cantando, Deus pai me livre. abs
Xico. Gosto das suas colunas.O senhor é elegante até na hora de lidar com comentaristas.Aprecio isto. Anda em falta no país este tipo de elegância.
Só discordo, no seu texto, quando o senhor atribui a outrem uma característica que pertence à quem o senhor parece defender ou elogiar.
Esta cidadã, cujo personagem se chama XUXA, é uma pessoa que renega todo um passado para posar de farol moral no presente, alavancando-se em uma mídia que teima em esquecê-la (lugar mais apropriado para ela é o esquecimento).
Fora isto, o senhor está de parabéns pelo texto.Inclusive sua elegância ao se referir ao personagem XUXA.
Esta tentativa do estado tentar controlar a vida privada do cidadão (uma estultice chamada de lei da palmada) é um selfie do que ela sempre foi (a XUXA) e do que nos tornamos.Um país infantilizado e tolo.
De boa intenção o inferno está cheio, já dizia Dante….
Chico,
Não existe pecado do lado de cá do Equador. Não se empenhe em responder esses recalcados. Não merecem o júbilo dos holofotes.
Parabéns pelo texto.
Abs. Rodrigo.
Essa Xuxa é ridícula…
A voz dela é irritante…
O personagem Xuxa é lamentável…
E você vem dizer que o filme dela é arte???
Me poupe.
é arte sim, com ou sem ela. vc ja viu a moça como atriz? ou está apenas chutando? bjo
A inveja é triste.
Xico, querido, ainda guardo a simpatia do abraço que recebi de ti aqui no Rio, por ocasião do lançamento do magnífico Big Jato. Pedi uma dedicatória para meu tio, que tem sua idade. Essa espécie de homens do interior (meu tio é mineiro), que viram a vida de frente, são incríveis! Lindo texto e viva a diversidade. Sobretudo, viva a vida.
Boa, caro Alessandro, q bom q curtiu as aventuras do big jato. abração
Xico, não gostar do seu texto, não me faz gostar menos de você!
nem tem q gostar do texto, querida. beijo e boa semana
Xico, você acertou no alvo. Colocou uma polêmica sem sentido ( gente, foi só um filme feito por uma adolescente ! ) na perspectiva correta, e esclareceu fatos – ela não transou com o garoto, no filme. Entretanto, a galera da patrulha moral parece não saber ler, ou interpretar um texto. Haja paciência ! Os moralistas de camarote estão dando à Xuxa mais cartaz do que ela merece, como artista.
Anna Maria, querida, infelizmente a discussão é muito pobre. As pessoas tomam uma ficção como um fato consumado, como se fosse uma transa da moça com o guri, e não uma cena teatralizada de um filme. é triste qdo nao se tem sequer essa percepção. bjo