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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Receita para destruir o(a) amante

Por Xico Sá
06/06/14 02:13

borges_psicanalista(clr)

Sempre que um macho ferido me escreve, depois de levar um pé na bunda, ainda com a marca do kichute do amor no fundo das calças, recorro a um dos meus conselhos sentimentais mais bem-sucedidos. Era um conselho específico que virou genérico.

O que dá certo é para ser repetido e copiado.

Repare portanto, caro R., tu que me escreveste nesta quinta dos infernos, com o pseudônimo “Desesperado da Vila Tolstói”, zona leste, SP. Repare, no exemplo de Amaro, igualmente vítima de uma traição, uma bola nas costas como se diz na metáfora futebolística, com ou sem Copa.

Caríssimo desesperado, mire-se no exemplo de Amaro, repito:

Finalmente encontro Amaro. Ele queria agradecer por um bom conselho. Havia agradecido apenas por email. O seu desejo, aproveitando minha passagem no Recife, era oferecer um banquete, o que o fez de forma pantagruélica, babélica, dionisíaca etc, na sua residência em Piedade.

Ao seu drama, felizmente já resolvido:

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou-lhe o cronista.

Com Amaro não foi diferente.

Quis o destino parafusar objetos pontiagudos à testa da pobre criatura.

Sim, ela tem um amante. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador da própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Vou-me embora pra Tegucigalpa?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, diz, urrando vaidades e orgulhos.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos por vários dias seguidos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros fortuitos e vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira daquele motel barato.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

P.S. – Amaro cumpriu à risca. Um mês e sete dias depois ela voltou desesperada e os dois celebraram a nova vida em mais uma lua de mel em Buenos Aires.

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Comentários

  1. Cristiana Cerqueira comentou em 09/06/14 at 11:08

    Casa comigo?!

    • Xico Sá comentou em 09/06/14 at 13:14

      olhe q caso,hein.beijo

  2. adilson jose comentou em 07/06/14 at 19:25

    Tem um “senão”; O cara continua corno. Até porque não existe “ex-corno”.
    Também “chifre” não se remove como barba;
    Nasceu, fica pra sempre.
    Acho que a próxima cronica nos dará uma palheta da coisa, né não?

  3. sergio barros comentou em 07/06/14 at 14:34

    Tem uma historia;
    Uma adultera estava sendo perseguida pela multidão ,que queria apedreja-la.
    Aí apareceu Jesus, que disse:
    Quem nunca errou, que atire a primeira pedra.
    Daí um bebum, picou uma pedra na cabeça da dona.
    E Jesus perguntou:
    Filho, você nunca errou na vida?
    No que o cachaça retrucou:
    Senhor ,desta distancia, nunca.

    • Xico Sá comentou em 07/06/14 at 15:28

      bela fábula bêbada. abs

    • Djalma Toledo comentou em 07/06/14 at 18:38

      Muito da boa Sérgio Barros

      vou compartilhar – kkk

  4. ligia comentou em 06/06/14 at 23:18

    achei ótimo, arroz e feijão todo dia enjoa. detesto rotina. xico volte para o saia justa, era muito divertido.

    • Xico Sá comentou em 07/06/14 at 1:11

      o programa é das moças, Ligia. a gente fez so a temporada verão. bjo

  5. ligia comentou em 06/06/14 at 23:17

    achei ótimo, arroz e feijão todo enjoa. detesto rotina. xico volte para o saia justa, era muito divertido.

  6. Djalma Toledo comentou em 06/06/14 at 16:20

    Prohibido

    Yo sé que aunque tu boca me enloquece
    besarla está prohibido sin perdón.
    Y sé que aunque también tú me deseas,
    hay alguien interpuesto entre los dos.
    Quién pudo presentir que el verdadero amor
    nos golpearía de este modo el corazón;
    ya tarde, cuando estamos sin remedio,
    prisionero de la equivocación!

    El deseo nos junta
    y el honor nos separa…
    y aunque amar no es disculpa,
    que salve de culpa, el amor…
    tu destino es quererme,
    mi destino es quererte.
    Y el destino es más fuerte
    que el prejuicio, el deber y el honor…

    De otro brazo andarás por la vida,
    pero tu alma estará donde estoy…
    Por prohibido que sea
    que en mis brazos te tenga!
    En el mundo no hay fuerza que pueda prohibir
    que te quiera…
    y me mate este amor.

    No es culpa si la vida en su designio
    cruzó nuestros caminos al andar.
    Ni es culpa si este amor que está prohibido
    ha entrado en nuestras almas sin llamar.
    Debemos doblegarnos y sufrir los dos
    por esta amarga y más que cruel separación…
    Mas nunca el corazón podrá, aunque queriendo,
    renunciar al derecho de este amor.

    (Prohibido
    Tango
    Música: Manuel Sucher
    Letra: Carlos Bahr)

    Uma letra extraordinária.
    DJ

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 20:37

      valeu,compay.abs

  7. laura comentou em 06/06/14 at 14:35

    E qdo é o contrario??? Fazemos o mesmo??

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 20:39

      sim, comum de dois, deixar o outro se empanturrar com a rotina é fatal. ate pq com o/a amante nao ha muita intimidade de convivência. so d sexo.bjo

  8. sergio barros comentou em 06/06/14 at 14:03

    MANDA A VAGABUNDA PRO QUINTO DOS INFERNOS ,QUE O DIABO CUIDA DELA.

  9. Ana Paula~a Católica comentou em 06/06/14 at 13:56

    Saudações de BH!!

    Por Deus (que sou católica e não posso usar Seu nome em vão), há semanas não sai do meu aparelho o DVD “Anna Karenina”.

    Caí de joelhos pelo Tolstói, que nunca li (ai, que vergonha!), por colocar em Alexei – O Amante, que o marido tem o mesmíssimo nome -, bem, por colocar naquele diabo de cachos loiros fardado e literalmente montado num cavalo branco (de nome Frou-Frou) tudo o que uma mulher espera de um macho-jurubeba.

    Mas aí, depois de tardes de amor ao ar livre e de frases como: “Ai, Alexei, você roubou minha alegria!”; “Ai, Karenina, você me abençoou…”, chegou A Rotina.

    Essa mesma que você descreveu Tão Bem – pra variar, meu diabo sem cachos do Crato… -, bem, a dita cuja chegou. O maior dos elixires contra todo amor que se preste, aquele que a gente jura de pé junto antes, durante e depois do Gozo que nunca vai acabar…

    Tudo passa. Como cantava Nelson Ned (que Deus o tenha).

    Ai, que pena!

    Que pena que essa sua crônica endiabrada – cada vez que você escreve, fico mais e mais fisgada -, bem, que pena que Tudo Passa!…

    Beijos.

    ~~~

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 20:39

      q livro incrivel esse da karenina, paciente K., q nem considero traidora, considero uma santa. beijo

  10. Ana Maria comentou em 06/06/14 at 10:26

    Não sofro de traição, acho eu, mas a frase “A rotina é o cavalo de tróia do amor” bateu forte aqui.

    • Djalma Toledo comentou em 06/06/14 at 16:10

      E é verdade Ana Maria.

      Citando o próprio:

      “Não existe amor sem testemunhas.
      O amor está condicionado à vista alheia.
      Por que os amantes crandestinos sofrem tanto?
      Ora, porque não podem tornar público o amor que deveras sentem. ”
      (Xico Sa)

      Esse é o ‘preço do amor’ pois, é dessa forma que ele se propaga.

      Abraços
      DJ

  11. Flávio comentou em 06/06/14 at 10:19

    Sensacional como sempre.Mas e se ela não voltar Xico? rs

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 13:19

      se nao voltar, amigo, a gente toma um porre ouvindo uma música triste e logo cura.Nao pode é fazer besteira. abs

  12. Carolina Gomes Fereira comentou em 06/06/14 at 10:15

    Muito bom Chico,vc é sensacional.
    Bom dia 😉

  13. sergio barros comentou em 06/06/14 at 8:56

    Todo dia ela faz tudo sempre igual
    me sacode 6 horas da manhã
    e sorri um sorriso pontual
    e me beija com a boca de hortelã.
    Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
    e estas coisas me diz tida mulher
    diz que esta me esperando pro jantar
    e me beija com a boca de café.
    Meio dia eu só penso em poder parar
    meio dia eu só penso em dizer não
    depois penso na vida pra levar
    e me calo com boca de feijão.
    Seis da tarde como era de se esperar
    ela pega e ne espera no portão
    diz que esta muito louca pra beijar
    e me beija com a boca de paixão
    Toda noite ela diz pra eu não me afastar
    meia noite ela jura eterno amor
    e me aperta até eu quase sufocar
    e me morde com a boca de pavor.
    Todo dia ela faz tudo sempre igual……..
    Cptidiano-Chico

  14. Gustavo PPP comentou em 06/06/14 at 8:12

    Salve, salve Xico! Beleza Mestre?

    Excelente o seu livro do “Oficina de bolso”. Devorei!

    Se puder acompanhar a epopeia do Velho Buk pelo blog, agradecerei imensamente.

    Abrazo
    http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2014/06/epifania-244-parte-6.html

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 13:20

      Rapaz, nem vi ainda o livrinho da oficina. q bom q gostaste. fiquei muito em dúvida, pois ate q escrevo umas crônicas, mas tenho zero habilidade pra passar, ensinar algo. Opa, ja na epopeia. abrazo

  15. Maíra comentou em 06/06/14 at 7:48

    Muito bom, Xico!
    É isso que fiz com meu ex…
    Ele deve estar arrependido até hoje de ter me rifado!

  16. Edy Farias comentou em 06/06/14 at 3:38

    Hilário kkkk testo muito inspirado……

  17. Juno Rocha comentou em 06/06/14 at 2:37

    Xico Sá!!!

    Não se se é conhecidencia mas o Nome o meu avó é Sizenando Freire !!!

    #verdadeoumentira

    • Xico Sá comentou em 06/06/14 at 13:21

      O Rubem Braga usava este personagem, do Rio. acho esse nome genial. abs

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