Viva a mulher que come sem culpa
21/04/14 23:14Sem essa de culpa pela comilança, meninas. Páscoa é páscoa.
Como diz meu amigo Marco Ferreri, coma, moça, coma!
Ferreri fez um filmaço chamado, na versão brasileira, de “A Comilança”(foto). É um monstro. Vejam também dele, urgentemente, “Crônica de um amor louco”, baseado na obra do velho Bukowski.
Este mal-diagramado que vos fala, por exemplo, comeu duas páscoas inteiras: uma católica, a de sempre; outra de um novo amor judaico, a cosmopolita camponesa polonesa das Perdizes.
Haja bacalhau, vinho, guefilte fish (Que bolinho divino!), vinho, e nada que aquele restinho de caldo com bolinhas de matzá (ai meu Complexo de Portnoy), vinho de novo, não cure o sujeito no dia seguinte.
Sustança para um cristão novo do Cariri com Oliveira e Carneiro entre os tantos sobrenomes possíveis.
Seja ateu, agnóstico, evangélico, do candomblé ou de qualquer ramo religioso, amigo(a), largue dessa culpa pela comilança. Vale a celebração bonita. Nem carece de data.
Como é bonito uma mulher que come direito. Quem vive só de folha é camaleão, minha nega, e cameleão do mato mesmo, porque até o David Bowie manda ver nas panquecas.
Olha o pirão, esmorecida, como alertava meu poeta-mor Ascenso Ferreira, de Palmares, óbvio, Pernambuco.
Cadê o chambaril nessa mesa, moça, como o que comi dia desses feito especialmente pela chefe Ana Luiza Trajano.
Tudo bem, era para a gravação do programa “Fominha” (GNT), que faz o belo favor de juntar a comida típica das sedes da Copa e os costumes futebolísticos. Mas quem disse que não me fartei para valer –me chamou não tem essa de encenação, como até cenário de isopor, como fazia Didi Mocó.
Não foi o caso. O programa é para valer. E essa Ana Luiza, Nossa Senhora de Babette, que mulher com o sentimento do mundo: além de fazer, também come bonito e gostoso -danada!
Haja sustança naquele tutano do osso-buco. Lambuzamento bonito da existência. Em sonho, lambi aquelas duas jabuticabinhas dos zolhim dela como celestial sobremesa, essa Ana Luiza…
Comida de paudurescência, como bem definiu meu amigo Lírio Ferreira, El Lirio Boy, o mais kubrickiano dos cineastas fora Kubrick do nordwest desse mundo.
Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança.
Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.
Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.
Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!
A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!
Vixeeeeee! Que beleza a que a coisa toda se resume: comer, beber, viver.
E quando a Velha da Foice chegar, nunca seremos nós mesmos que a recebemos, já somos outros, como bem me avisou o grande Epicuro.
Xico,
Adorei o texto.
E…se posso ter a audácia de dissiminar um comentário “suculentamente gaboso”…
Tenho tido o privilégio de compartilhar momentos gastronômicos deliciosos com uma mulher igualmente deliciosa.
E viva as massas, os sandubinhas e os chocolates a dois!!!
Abraço forte! 🙂
😉
Xico, nunca comento seus textos, mas esse não posso perder a chance.
Me lembrou a primeira vez que fui jantar com meu amor.
Ele me entregou o cardápio e falou: “Escolhe”. Eu, que sou avessa a saladinhas e afins, escolhi um bom filé a parmegiana. E ainda meio tímida pelo primeiro encontro perguntei: “Podemos trocar o arroz por batata frita?”
E assim, o filé a parmegiana virou nosso prato “oficial”. E sem esquecermos da sobremesa!
Um beijo gastronômico.
Ah Xico!
Que texto delicioso é esse homem de Deus?
É de dar água na boca seu cardápio de iguarias sem culpa e sem medo de ser FELIZ!
Você como sempre, apetitoso nas sábias palavras.
Abraços meu querido.
Como feito uma perdida, e chocolate, ahhh, o chocolate, literalmente eu me lambuzo!
Xico, eu como sem culpa e não engordo, mas ozómi não assume. Sou tudo o que o imaginário masculino possa querer. Explica isso como? (desculpe o trocadalho do carilho)
perfeita, Magrela. ozómi andam fraquinhos,fraquinhos… bjo
Inclusive, o que engorda é a culpa.
beijos
culpa engorda e mata.beijo
Nada melhor que se esbaldar sem medo da balança, ainda mais quando o mestre cuca é o namorado! Na mosca Xico, adorei!
Eu e minha mulher trabalhamos com doces e salgados. Observamos mulheres todos os dias pedindo a deus pra tirarmos isso da frente delas, como se um ser estranho tivesse culpa disso, delas verem tanta tv.
Nos dois celebramos a cada dia o prato que fazemos, as invenções que criamos em prol de nosso bel prazer de comer o que nós mesmos construimos.
E viva a comilança!!!!
Apesar de ser vegetariana, como horrores, pratos maravilhosos e criativos que faço e que agradam não só a mim, mas aos outros também. Tá valendo?
vale demais, Noeli. beijos
🙂
Viva \o/
Vai desculpado ai, mas para fatos não existe argumentos…
Comer bem, não é se empanturra de comidas gordurosas, que possam prejudicar o corpo,
Um chambari, uma carne de porco moderadamente e por ai vai, é justificável, o que não é justificável é o sedentarismo junto de uma “comilança” sem fim…
Tudo que é de mais prejudica.
O que li são holofotes que cegam mais do que iluminam…
amigo, nao preguei comilança com sedentarismo em nenhuma linha da crônica. o seu alerta é válido,mas comete esse errinho.abs
Como mesmo sem culpa comi muuuito nesta Pascoa, ainda bem que sou magra mesmo comendo como um monstro..mas eu me cuido, mas sem essa de comer so folhinhas etc..o negocio e comer e gastra essa energia..
esqueceu da buxada e panelada…adoroooooooooooo
q injustiça! rs. beijo
Xico do céu…
Você sempre dando alívio e sustância à esse mundo frívolo! Obrigada amigo!
Homem que é homem, é isso!
texto genial em dia que foi muito comentada uma medíocre pensata relacionando sexo com “ideologia”. pois sexo mesmo é esse seu texto, meu caro. mulher boa de cama é muié glutona, que se lambuza na moqueca e no molho branco da lasanha. que pega a costelinha de porco com as mãos e chupa o ossinho. qui diliça
ah, caro João, a rapaziada gosta é da tal polêmica. e nos de sexo mesmo. abs
Tinha umas amigas, que se amarravam num mocotó com feijão branco, batatas ,paio coberto de farinha de mandioca branquinha e regado a cachaça. E com direito a lamber os ossos para evitar desperdício. Êta, meninas arretadas. E eu junto, me lambuzando todo!
Filha de pai baiano e mãe goiana, faço parte de uma família em que até velório tem comida envolvida. Nos reunimos pra comer por qualquer motivo. Somos, quase todas, gordas, saudáveis e felizes. Felizes como só as mulheres bem resolvidas – ‘comidamente’ falando – podem ser.
Como é bom poder ler um texto como esse num momento em que todas se tornam escravas de padrões que quase nunca estão felizes em seguir.
‘Viva eu, viva tudo, viva o Chico barrigudo’!
viva o pequi de Goias e o tabuleiro da baiana tb. bjo
Xico Sá transforma qualquer tema em poesia… sou mais do que fã!!!
Esse com certeza não e o meu problema! O problema são os kilos adquiridos … mulher: sempre vivendo entre a cruz e a espada!
Xico, abre um workshop e ensina para o sexo mais fragil (os homens) o prazer de ver uma mulher comer, e que seus futuros discipulos queiram entao ser devorados, lambidos e degustados com a mesma volupia daquelas mulheres que se entregam sem culpa as delicias da vida!!!
Xico, eu adorei muita coisa o teu texto. E dei uma “comida” bem boa no bacalhau e nos chocolates nesta Páscoa sem culpa. Maaaas, que pena que não são todos que pensam como você. Tem homem por ai que regula o que a mulherada come e isso inibe as mais “esganadas”, assim como eu. Eu equilibro bem as guloseimas com as saladas, porque não sou mulher de dispensar o que é bom. 😉 Bjooo Xico!! Danaaado!
Estava até me sentindo culpada por não ter culpa de gostar de comer bem! Obrigada 😉 ♥
Caro Xico, antes de tudo amo seu texto. Vou te contar uma coisa. Amo comer, como com gosto e prazer. Gasto o que for pra apreciar um bom prato. Culpada me sinto quando visto um biquíni. Não sou gorda, mas gostaria de comer o que fosse e andar por ai me sentindo uma feijoada completa, ou um cuscuz marroquino, uma galinha à cabileda…. Beijos de chocolate!
Delicia! O texto, a intenção e você.
Caipirinha *-*
E comer sem culpa *-*
Confesso, sinto-me culpada. Principalmente, depois de ter matado meio pão caseiro de milho com manteiga, almoço leve com maionese, carne de porco, creme de milho, arroz e salada para ornar, chocolate de sobremesa e para o arremate, um jantar com “Xs” e algumas geladas… Sim, a culpa bateu, mas valeu a pena.
isso ne nada,amor. bora melhorar essa culpa, mas o cardápio ta foda. amei. beijo
Amado Xico , é comendo onde sou mais feliz. Obrigada mais uma vez e sempre ! Rsrs
Como sempre, a mais pura verdade. Neste mundo onde todas querem ser esqueléticas, comer bem e com vontade alegra a alma. E viva os bacons na cinturinha, que servem pra apertos divinos.
Pretinha, disseste tudo, viva! beijo
Como sempre grandioso Xico. Vou me jogar nos restos dos ovos de páscoa sem culpa .
beijos
gracias pela leitura,amor. te juega, aqui to me acabando tb. com vinho,sempre.beijos
Grande Xico, eu simplesmente te amo!!
love Camila. bjo e volte sempre