Quem aí não tem uma paixão mal-resolvida?
24/03/14 01:15Quem aí do outro lado nunca teve vontade de voltar o calendário e dizer o que não foi dito?
Ou de tentar de outro jeito?
Agora é fácil. Quero ver no tempo em que você, macho -sensível ou jurubeba- não sabia sequer dizer bom dia a uma mulher. Ou quando você, mulherão de hoje, se deixava ludibriar por aquele canalha.
Calma.
É que fui ali na livraria Folha Seca, na Ouvidor, sábado, pegar o autógrafo do amigo José Trajano –mais um que herdei da convivência com o doutor Sócrates- e sai com uma interrogação dependurada no trapézio do cocuruto, só para lembrar um bruxo que circulava naquela rua do centrão carioca.
Ah, sim, que interrogação miserável e traiçoeira, coisa de quem ficou à toa na vida e não procurou a bendita psicanálise:
-Qual paixão da minha vida me faria correr mundo para localizá-la e tentar um reencontro maluco?
Nem que fosse para um vinho, soltar aquele vago “pois é”, falar sobre o destino dos amigos, divagar sobre o tempo, comentar o noticiário do avião da Malásia, deixar que ela repare como as rugas fizeram residência no meu rosto…
É isso o que o “lapa de doido” do Trajano (o elogio é do doutor, que dividiu casa com ele na Itália) fez e narra no seu livro “Procurando Mônica – o maior caso de amor de Rio das Flores” (ed. Paralela).
Mônica é uma paixão mal-resolvida de adolescência no interior fluminense, quando Zezinho, como era chamado à época, nem sonhava com o jornalismo esportivo.
Falo em paixão mal-resolvida e dom Álvaro Marechal, guia lírico e sentimental da minha vidinha carioca, admoesta:
“Por favor, sem pleonasmos esta tarde! Se é paixão é naturalmente mal-resolvida”.
O certo é que Trajano foi em busca de Mônica guiado por duas perguntas simples do diretor Domingos de Oliveira no filme “Todas as mulheres do mundo”:
“O que uns olhos têm que outros não têm?”
“O que um sorriso tem que outros não têm?”
A viagem de Trajano poderia ou pode ser feita por qualquer um de nós. Na dele, damos sorte de ter, além do suspense amoroso –amor é Hitchcock!-, um belo panorama do cinema, da música, da política dos anos 1960 até agora.
E dá-lhe Miles Davis, Chet Baker e Pernoud com gelo na madruga.
Ele pensa, inclusive, em uma viagem a Paris, numa bela vingança: namorar a Anna Karina (foto), a musa do cinema francês, a miseravona da Nouvelle Vague. Queria ver Mônica, o amor do Clube Recreativo 17 de Março, segurar a onda!
Até futebol rola ao fundo, como aqueles radinhos fanhosos de porteiro nos domingos melancólicos de Copacabana. E se no amor foi difícil para o autor, imagina na pele de torcedor do América.
Como dizia Bandeira, lero-lero, vida noves fora zero.
Óbvio que não vou contar o final da busca do Trajano. Sacanagem entregar o desfecho.
Fiquei só pensando: quem eu iria à procura? De pelo menos uma em cada lugar que habitei: Sítio das Cobras, Nova Olinda (a menina da roda gigante), Juazeiro do Norte (a jogadora de basquete do Seminário Batista), Recife, Olinda, Brasília, São Paulo, Rio… Crato não vale, saí de lá ainda em cueiros.
E você, amigo(a), cometeria essa aventura?
carissimo
hoje, mais do que nunca, estou nomeio deste furacão de emoções, procurando depois de 30 anos juntos, a mesma mulher que, Segundo meus calculus, eu mesmo me perdi dela. Não está fácil, mas “só por hoje”, estou tentando.
Lembrei de romance de Machado de Assis, Dom Casmurro. O quê diriam Bentinho, Capitú e Escobar?
A coluna com mais cheiro de buteco e gosto de cerveja (e amendoim) que eu conheço rsrs
Grande Xico!
esse é o maior elogio q ja recebi aqui. gracias, Rafael.abs