O romantismo agoniza, viva o romantismo
20/03/14 11:18A vida imita Hollywood e vice-versa.
Foram os romances franceses, na literatura, e o padrão fofo do cinema “love story” da América que ajudaram muita gente a construir a ideia de amor e romance.
Acontece que o romance azedou, como li dia desses nesta capa da Ilustrada, em reportagem de Rodrigo Salem. Filme de amor, seja drama ou comédia, não estoura mais bilheterias. Fracassa, flopa -para usar um verbo vintage que ficou perdido, graças a Deus, lá nos anos 1990.
Não se deve medir o mundo pela catraca da grana de Hollywood, certo? Não deixa, porém, para a crônica de costumes, de sinalizar uma grande mudança nas relações amorosas.
É só uma tese de botequim aqui na mesa da romantiquíssima calçada do Príncipe de Mônaco, ai de mim Copacabana. Uma tese sob o olhar desconfiado do grande peixe morto da vitrine –creio que um cherne, sim, ele mesmo, o garçom Ceará confirma.
Não se deve pensar o amor somente pelo cinema. Aqui fora da tela, no entanto, o romance nem passa mais pelo processo de azedamento. Estraga de véspera. O coalho da falta de desejo que azeda o queijo.
O cherne por testemunha, vamos a uma questão prática, já tratada diversas vezes neste blog: Você já reparou, amigo(a), como não se pede sequer mais em namoro?
Até os caranguejos em marcha ré, também aqui na nossa frente, caçoam da indagação ingênua e romântica do cronista.
Não se pede mais em nada. Muitas vezes você se pega sem saber se namoro ou amizade, rolo, rolinho primavera, cacho, ensaio de amor, romance ou pura sacanagem avulsa. Por isso que nem em Hollywood dá mais certo, caro Salem, faz sentido.
Estou em um relacionamento cafuso, diria o Didi Mocó a esta altura. Estou em um relacionamento “fala sério”. Eis o status do momento.
Há quem veja vantagem no colapso do amor romântico, que seria, na real, apenas um mito criado pelos filmes e romances antigos.
Amor em baixa, como diz o horóscopo.
No tempo do amor líquido e de homens escorregadios, quase nada fica, nem o velho e clássico amor de pica, que me perdõem as senhoras de Santana da marcha da família.
Fico pensando que é coisa simples, também. Amor romântico não dá dinheiro, desconcentra a pessoa, atrapalha de trabalhar. Hoje só é permitido fazer dinheiro e pagar conta. O resto é tudo proibido. Pra grande maioria. Tem tanta gente broxa que tomar rivotril nem faz diferença, mais. Tanta gente doente. Sem afeto consistente é ruim de viver. Não que tenha que ser como namoro ou como casamento. Mas tem que ser consistente. O afeto. O sexo feito amorosamente, descaradamente entregue e feliz.
Querido Xico, vivemos a época dos descartáveis. Dos amores solúveis, fugazes. Se bem que não sei se podemos chamar de amor. As pessoas trocam de amor ao passo da mudança das fases da lua. Precisamos de mais homens e mulheres que não sigam a música de Robertão – Falando Sério. Embora essa música seja liinda, um clássico!! Bjoo!
“¡Qué cosas que tiene la vida!
¡Qué cosas tener que llorar!
¡Qué cosas que tiene el destino!
Será mi camino sufrir y penar.
Pero deja que bese tus labios,
un solo momento, y después me voy;
y quítame este tormento,
porque tu silencio ya me dice adiós…”
(Fueron tres años
Tango (1956)
Música: Juan Pablo Marín
Letra: Juan Pablo Marín )
Ai gente, quem se importa com ser pedida em namoro. O fato é que esse romantismo pré fabricado não tem mais espaço nessa modernidade líquida mas às vezes bastante sólida. Se por um lado esse romantismo insosso hollywoodiano agoniza, por outro, os casais estão mais juntos do que nunca. Onde antes só os rapazes iam depois de resguardar, ou melhor, levar suas namoradas em casa, agora os dois vão juntos indiscriminadamente. Tem coisa mais romântica do que compartilhar a boemia? kkkkkk sqn.
Caro onipotente do amor, Xico. Fugindo da regra, aos 30, fui pedida em namoro. Quando o assunto casamento se tornou realidade, as coisas mudaram. Quando propus a ele que assim como o pedido de namoro, o pedido de casamento à minha família seria (na minha santa ignorância amorosa) também importante. O que ouvi. “Acha que nessa altura isso é preciso. Você tá brincando que acha que eu vou fazer isso”. Bom o amor sim continua. Mas no fundo eu só queria assim como você ver a bandeira do romantismo tremular.
Caro Xico,
Permita-me te devolver uma bola meio quadrada. Entendo que o romantismo é próprio do arrebatamento. Dedicação exclusiva. Todo o resto some. Os amigos reclamam, a família reclama, até o cachorro rói o seu chinelo pra te chamar a atenção e não adianta, seus olhos não enxergam mais nada. Cadê todo mundo? Sumiu! Só há a amada diante de ti. Tudo é por ela e para ela. A perda da sua amada é o fim da linha, afinal a sua vida é a sua amada. Acho que até aqui nossa tabelinha lembra as de Pelé e Coutinho. Passemos a uma tabelinha entre Gilmar Fubá e Amaral.
A relação embevecida pela paixão, própria do arrebatamento, começa a se transformar à medida que o cotidiano ganha terreno e o mundo começa a reaparecer no seu horizonte. É sobre essa transformação que repousam as minhas questões sobre a manutenção do romantismo num relacionamento longo. A dedicação passa a ser compartilhada com outras pessoas e afazeres. O que se passava por mágica, passa a ter um custo. A concorrência se impõe. A atenção é compartilhada. O romantismo perde terreno e se transforma. O acordo se renova. A relação se transforma e as bases agora são outras. O outro aparece como ele é. Ele passa a ter defeitos. Enquanto surgem motivos para admirá-lo, que você não conhecia no início do relacionamento, alguns dos primeiros motivos que te levaram a admirá-lo vão desbotando aos poucos.
O romantismo que ocupava até ontem um latifúndio, se esconde no fundo do quintal. Trazê-lo a força para a sala de estar é pior! A exigência da manutenção do romantismo nos nossos dias, evoca uma prática caracterizada por uma certa obrigatoriedade que falsifica as emoções e artificializa a espontaneidade. É perniciosa pois obscurece a lembrança romântica que uma ida ao cinema pode presentificar. Entendo que a presentificação de uma memória romântica se aproxima daquela experiência de estar sob o domínio de outrem. O romantismo, enquanto saudosismo, torna-se ressentimento. A única forma de mantê-lo vivo é pelo arrebatamento, pela invasão de uma emoção inesperada, por uma combustão espontânea. O que sustenta a relação longa não é e nem pode ser o arrebatamento inicial. As bases que vão sendo constituídas são caracterizadas pelo cuidado, pelo deixar que o outro seja ele mesmo, pelo afeto, pelo amparo e por uma espécie de indeterminação onde o arrebatamento ainda é possível.
Devolve a pedrada Xico!
Abs, FabianoNH.
Ainda rindo muito aqui da tabelinha Gilmar Fubá/Amaral… Mandaste uma bola redondíssima para a mesa de discussões, amigo, de preferencia no nosso botequim predileto. sobre o tempo e rotina, é lasca, de amargar, quase não há o q fazer, a não ser tentar reparar o estrago no dia-a-dia e ter a consci~encia q amor é disciplina -e nada será aquele mar de rosa pra sempre. A sua reflexão é uma bela assist}encia, embora eu ainda prefira o velho e bom passe mesmo. Caro Fabiano, mas me ative mesmo à preguiça inicial, a inapetência, logo na partida, para os atos românticos, como engatar um namoro, por exemplo. Grande abraço
Caro Xico,
Segue mais uma botinada do botinudo.
A conquista é promessa de felicidade. Argumentos nessa hora não ajudam. São os argumentos que nos mobilizam no cotidiano, enquanto a paixão é o que nos catapulta para fora dele. Portanto, tudo na conquista deve ser feito de modo a promover uma fissura no cotidiano e torcer para que o arrebatamento também tome conta de quem lhe interessa. O romantismo é caracterizado por ações fundadas no êxtase, que descerram o mundo que nos mobiliza no cotidiano e que tem por consequência colocarmos a nossa existência na existência do outro.
Portanto, romantismo é inerente ao início do relacionamento, mas um romantismo que não sabe que é romantismo, que não é premeditado, arranjado, planejado, mas é aquele que de tão genuíno e surpreendente te leva ao ridículo tantas vezes. O romantismo se funda no domínio do inesperado. Quando ele é planejado a vergonha dá as caras e o ridículo aparece como ridículo e não como uma manifestação de um ser apaixonado.
Bola pro mato que é jogo de campeonato!
Abs, FabianoNH
Caro Xico,
Permita-me te devolver uma bola meio quadrada. Entendo que o romantismo é próprio do arrebatamento. Dedicação exclusiva. Todo o resto some. Os amigos reclamam, a família reclama, até o cachorro rói o seu chinelo pra te chamar a atenção e não adianta, seus olhos não enxergam mais nada. Cadê todo mundo? Sumiu! Só há a amada diante de ti. Tudo é por ela e para ela. A perda da sua amada é o fim da linha, afinal a sua vida é a sua amada. Acho que até aqui nossa tabelinha lembra as de Pelé e Coutinho. Passemos a uma tabelinha entre Gilmar Fubá e Amaral.
A relação embevecida pela paixão, própria do arrebatamento, começa a se transformar à medida que o cotidiano ganha terreno e o mundo começa a reaparecer no seu horizonte. É sobre essa transformação que repousam as minhas questões sobre a manutenção do romantismo num relacionamento longo. A dedicação passa a ser compartilhada com outras pessoas e afazeres. O que se passava por mágica, passa a ter um custo. A concorrência se impõe. A atenção é compartilhada. O romantismo perde terreno e se transforma. O acordo se renova. A relação se transforma e as bases agora são outras. O outro aparece como ele é. Ele passa a ter defeitos. Enquanto surgem motivos para admirá-lo, que você não conhecia no início do relacionamento, alguns dos primeiros motivos que te levaram a admirá-lo vão desbotando aos poucos.
O romantismo que ocupava até ontem um latifúndio, se esconde no fundo do quintal. Trazê-lo a força para a sala de estar é pior! A exigência da manutenção do romantismo nos nossos dias, evoca uma prática caracterizada por uma certa obrigatoriedade que falsifica as emoções e artificializa a espontaneidade. É perniciosa pois obscurece a lembrança romântica que uma ida ao cinema pode presentificar. Entendo que a presentificação de uma memória romântica se aproxima daquela experiência de estar sob o domínio de outrem. O romantismo, enquanto saudosismo, torna-se ressentimento. A única forma de mantê-lo vivo é pelo arrebatamento, pela invasão de uma emoção inesperada, por uma combustão espontânea. O que sustenta a relação longa não é e nem pode ser o arrebatamento inicial. As bases que vão sendo constituídas são caracterizadas pelo cuidado, pelo deixar que o outro seja ele mesmo, pelo afeto, pelo amparo e por uma espécie de indeterminação onde o arrebatamento ainda é possível.
Devolve a pedrada Xico!
Abs, FabianoH.
Namora comigo, Xico Sá!?
olhe q não será um bom negocio pra vc,Dora! to avisando… beijos
Sim, meu nobre Xico, hj em dia o que vale mesmo é a máxima do “Pegue, mas não se apegue…”
a garota nihilista e nietzschiana responderia que o amor romantico é uma invenção burguesa do sec. XIX. o alibi para tantos crimes a humanidade.
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/180-artigos-de-genero/23928-o-machismo-sutil-de-quem-nos-cultua-por-marilia-moschkovich
É, Xico, o amor está fora de moda. Mas eu nunca usei calça saruel ou scarpin de bico fino. Talvez por isso eu tenha sido pedida em namoro. Um beijo.
ótima crônica, como sempre, Xico! Penso que o Amor não rola todo dia, é quimica, é alquimia. Então enquanto o amor não chega e graças a Deus ou ao Metafísico, amor padrão Holywood não existe, afinal seria sem graça demais, se tudo fosse perfeito…Viva ao conflito!
Aos 49 anos, quando achei que já tinha visto de tudo, sendo uma existencialista de carteirinha, que fazia apologia à individualidade suprema, me encontro vivendo um romance arrebatador e real.
“Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval…”
vivia com mó banca de existencialista tb, Sandra, em outros tempos, e sempre era atropelado por estes acontecimentos. ainda bem. bjo
Prezado Xico…
Tenho minhas dúvidas, mas achei sua provocação nesse texto muito interessante. A meu ver, o grande problema não é q o amor romântico degringolou, mas, ao contrário, se tornou uma referência tão forte que as pessoas não conseguem conceber outra forma de amor – que, em nossa cultura, é pautada em grande medida pelo conteúdo dos filmes hollywoodianos (não pela bilheteria em si). As vezes tenho a impressão de que as pessoas já sacaram algo do tipo: “oh! o amor na vida real não é como nos filmes”, mas as impressões que tenho é que internalizaram modelos de amor tais que pensam o seguinte: “se o amor não é como nos filmes, então não é ‘real'”. O “verdadeiro” amor romântico é necessariamente pautado pelo absurdo e impossível, pelo fantasioso. E as pessoas buscam mais do q nunca viver a fantasia, experimentar a fantasia… Aí o trem azeda justamente porque o critério avaliativo não é a experiência, mas o imaginário (hollywood, literatura, etc.). Quanto ao amor líquido do Bauman… ah, não o considero a melhor referência sobre o assunto; acho a crítica dele parcial e nostálgica demais… Com todo respeito.
Um abraço!
bela reflexão,caro Túlio. A crítica do Bauman é so um ponto de partida mais acessível. o famoso “pra começo de conversa”. abraço e volte sempre
Eu dou amor e me sinto no direito de receber o mesmo. Sou romântica incorrigível e me guardei ao direito de ter ao meu lado um romântico também.
A procura foi difícil, foi árdua, mas valeu a pena.
Todo mulher merece um Raul, ou um Xico Sá na vida!
Um beijo ao meu amor, e outro pra você Xico.
beijo,querida
Eu sou aquele amante a moda antiga
um tipo que ainda manda flores
e apesar do velho tênis
e da calça desbotada
ainda chamo de querida
a minha namorada…..
ROBERTO E EARSMO.
O romance não mudou, o q mudou é essa postura “tonta”, de q tem q ser da forma q nosso ego insiste. Pq qd a gente cruza com o olhar certo, o romance chega chegando… e vc sai fora da estatística de q o seu amor é líquido! No momento q isso não acontece, seguimos dando braçadas e abraços…
Até mesmo eu Caro Sá, romântica incorrigível, vivo tentando me agarrar no que posso para viver um amor romântico, mas o meu amado sempre diz que enquanto sou muito emotiva, ele é racional. Então é isso? A pessoa que é racional é.limitada assim ao ponto de não poder demonstrar afeto?
Chegamos a isso, Eridice. é quase proibida a demonstração. se for demonstração pública, vixe, mais proibidão ainda. beijo
Xico Sá, sempre levantando problemas cotidianos que parecerem não dizer nada, mas que dizem muito sobre a sociedade atual.
Não só aqui, mas no saia justa tb. Adorei a discussão de “o que um homem tem que ter pra ser homem no Brasil” ou “pq homem tem medo de médico”.
tento, Isis, é a missão do cronista de costumes. beijo e volte sempre
Hoje, falar namoro é tudo, menos o que, realmente, significa.
Tal termo “meu/minha namorado (a)”, inclusive, se torna ridículo e medonho na voz dos sexagenários.
Digo, sem a conotação de preconceito com relação à idade.
Namoro para os sexagenários, hoje, pode representar o lado do descompromisso, da irresponsabilidade, da “adolescência saudosa” e não, verdadeiramente, vivida.
O denominado “tempo namoro”, de estar encantado, para poder prosseguir numa caminhada ao lado de alguém é motivo de riso e sarcasmo.
Namoro é tudo, menos encantamento, para a maioria.
Busca-se o satisfazer físico.
Quem não se enquadra a tal realidade está sem alternativa, pois, a fila dos que desejam os momentos do instantâneo é longa e anda veloz.
Essa busca, unicamente, pelo satisfazer físico, deixará, daqui a pouco, muitos, muito mais desiludidos, com toda a certeza, do que aqueles que se desiludem ao buscar momentos do encantamento, para, realmente, verem a beleza do sentimento do amor.
O que você disse sobre “status” em redes sociais é uma grande ironia. Maria Helena
Grande, Xico. A rapaziada de Hollywood espremeu, bateu, reutilizou tanto o modelo “ideal” de amor/relacionamentos que, até para quem cria, ele se tornou inverossímil. Eu quero crer naquele, cantado por Cazuza, “amor tranquilo” ou neste último, vindo dos EUA para a nossa telona, que tem a voz da Scarlett Johansson. Abraços.
nem me fale da voz da Scarlett Johansson. apaixonado até agora. beijo
‘ Diga ao primeiro que passa, que eu sou da cachaça, mais do que do amor …’
Mas fica ,meu amor
quem sabe um dias
por descuido ou poesia
você goste de ficar…
Gtande Chico….
E u sei e você sabe.
já que a vida quis assim, que nada neste mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
que a distancia não existe
que todo grande amor
só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos
me encaminham pra você.
Estes versos de Vinicius hoje em dia não tem mais importância,já que ninguém mais quer sofrer por amor.Na primeira dificuldade, neguinho(a) já tá pulando fora.Realmente o amor romântico morreu,a não ser para poucos loucos,que acham que :se é loucura então,melhor não ter razão como diz a canção” O ultimo romântico” de Lulu Santos.
“No tempo do amor líquido e de homens escorregadios, quase nada fica, nem o velho e clássico amor de pica, que me perdõem as senhoras de Santana da marcha da família.”
#triste