A vida como ela é: um abraço no pangaré
19/02/14 00:24Que nos apiedemos dos homens como Raskôlnikov que abraçou o cavalo maltratado por jovens escrotos e zoados da Russia antiga no “Crime & Castigo” -ai acima uma cena do romance na ilustração de Mihail Chemiakin.
A parada do cavalo é coisa fundamental, embora sonho, no romance do sr. Dostoievski. Na minha idiota opinião de russo do Crato, como lembra Kika Yeltsin, menina de Vertentes (PE), viciada em subir e descer a Serra das Russas, ali na divisa de Pombos, Gravatá e Chã Grande.
Pense no cavalo, esqueça o homem.
É tempo de relembrar o gesto. Não por ser “do bem”, condição que já virou até nome de suco no Brasil, mas por saber que esta é a imagem fundamental se precisarmos mudar a falta de respeito que impera.
Lembrei disso depois que escrevi o post sobre o “Raskôlnikov brasileiro”, mas principalmente depois que recebi o email de Vadim Nikitin, amigo russo tradutor de Dostoievski –não amigo urso como cantava Morengueira! Ele gostou d´eu ter posto o russo na parada e pronto.
Vadim ator, Vadim escritor, Vadim vizinho lá em SP, na quase esquina impossível do beco dona Tereza com a rua Augusta. Vadim gostou d´eu ter metido Raskôlnikov no meio dessa confusão toda.
Dai fui reler pela milésima vez o tal do “Crime & Castigo”. Se você tiver que ler apenas um livro na vida, leia este. Se tiver que ler um segundo, leia qualquer um do John Fante. Um terceiro? “Fup”, novelinha da pata marlinda e do meninão fazedor de cerca. O resto é literatura.
Raskôlnikov abraça o cavalo como nenhum de nós abraçamos um homem. Piedade, senhor, piedade.
Nós reinventamos o pelourinho, nada mais, como na inesquecível cena do negro rapaz no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, ano da graça de 2014, agorinha.
Todos nós precisamos abraçar um pangaré maltratado para reaprender o básico da existência.
Todos nós, dos direitos humanos ou desumanos, precisamos aplicar na sociedade em geral a Lei de Proteção aos Animais que o velho Sobral Pinto invocou para defender Luís Carlos Prestes, preso em condições precárias durante o regime ditatorial de Getúlio Vargas.
Falar nisso, veja o filme “O Homem que não tinha preço” (2013). Tome gosto, veja o trailer. É bonito. Precisamos abraçar um pangaré que seja.
Só abraçando um simbólico pangaré largado da guerra do Paraguai recuperaremos minimamente a historia e adotaremos o portunhol selvagem, caro poeta Douglas Diegues, guru da tríplice fronteira, como o sublingual do nuestro inconsciente.
Que Raskôlnikov, para o bem e para o mal, continue sendo nosso guia nessa estrada perdida.
Você já se apiedou do seu pangaré hoje, amigo(a)
Xico, excelente texto!!
Apenas uma observação, a Lei de Proteção aos Animais foi invocada por Sobral não para defender Olga do nazismo, mas em favor de Harry Berger (Arthur Ewert) e Luís Carlos Prestes, em razão das condições precárias em que foram mantidos presos durante o regime ditatorial de Vargas.
Abraços
Thales Coelho, meu caro, você tem razão. Confundi geral os personagens. abraço, Xico
Xico, John Fante é o cara. Li Sonhos de Bunker Hill e agora estou lendo 1933 Foi um ano ruim, bão demais! Na sequência lerei Pergunte ao pó que dizem ser o melhor.
E pensar que Velho Buk resgatou o Fante do anonimato. Legal é o conto que o Bukowski escreve sobre o fim trágico do Fante no livro “Pedaços de um caderno manchado de vinho” pressuponho que vc já tenha lido, caso contrário fica a dica.
Abrazo!
Xico, nossa desumanidade já está se tornando desumana. Devemos abraçar sem esperarmos o abraço do outro. Acho que é a única solução. Concordo plenamente que se mais pessoas se dispusessem a ler “Crime & Castigo” quem sabe……. Saudade Amore
Quem ama animais e música tem uma alma boa.
Nossa, você está sentido mesmo, hein? Olha, Xico, a gente é as duas coisas, amoroso e cruel, não tem jeito, essa é uma equação sem solução. Mas acho que entendo o que você sente: na hora mesma do pegapacapá da brutalidade, um gesto de solidariedade é como um resgate da humanidade. Te falo isso porque vivi na pele, em confronto com maus policiais: um dos trogloditas teve a chance de fazer merda, mas na hora agá recuou. O cara foi uma flor no meio da lama, espero que hoje ele esteja bem.
É, meu amigo, os ânimos estão acirrados, talvez seja bom mesmo você continuar falando nesse assunto.
puta madre, não entendi nada.
pra confundir mais http://www.youtube.com/watch?v=czZG7Ui6c9A
miles davis elétrico – ninguém entendeu também
Seguir o exemplo d Nietzche e abraçar o cavalo, e chorar, e se possível não enlouquecer como o bigode…
…se é q isto é possível, e se é q já não enlouquecemos todos.
Nietszche fez pq havia lido o livro. mais eh lindo ele imitando o personagem de Dostoievski. abs