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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O que se diz e o que se ouve no amor

Por xicosa
20/01/14 02:13

CONTOS_DE_TCHECOV_1365357183P

Fiquei pensando sobre uma destas mil e uma noites de amor. Fiquei pensando principalmente nas belas inutilidades do varejo do amor. Como aquela sua pergunta ou fala que não é ouvida nunca. Zzzz.

Viver é eclipse, amar é elipse; o dito pela metade, questão de cera do ouvido amoroso, quanta coisa é dita quando o outro nem aí para a coisa toda. Né?

Você pergunta ou afirma e ela(e) acabou de dormir, poxa, aquela interrogação ou sentença já eram. O sonoro lixo amoroso que vai ficar na posta restante do fonético cemitério.

Um gol. Já era. Uma declaração de amor morreu aos pés do jogador. Assim é o mundo. Quantas coisas ditas; quantas coisas ouvidas?

E aquele(a) criatura que disse “eu te amo” só naquela hora, sem saber que o outro dormia deveras? Ou no mínimo cochilava?!

Tá bom, agora ficou parecendo aquele conto de Tchécov: os pombinhos descendo num trenó, gelo, vento medonho, e cada um, quem sabe, diz “eu te amo”para o outro –vai saber se disseram mesmo ou terá sido a vontade deles de ouvir tal verdade?

A quem interessar possa, o conto se chama “Uma Estória Alegre”. Recomendo.

Tchécov, baby, o gênio das pequenas coisas ditas e mais ainda das não-ditas, as vontadezinhas escondidas, assim na Russia como em Vertentes, Pernambuco, o mundo é o mesmo, desculpa pela obviedade babaca.

O dito e o não-ouvido. Tem cara covarde que diz tão baixinho que nem a calada da noite escuta. Um dia ele vai dizer mais alto, talvez seja tarde, talvez nem seja, duvido, a palavra guardada é o contrário do vinho ou da aguardente envelhecida, talvez não valha mais nada.

Quantos amores não viram amores de fato por essa covardia das cordas vocais? Ou terá sido outro barulho, como o vento do inverno russo ou o barulho do homem que vende a milagrosa banha do peixe-boi da Amazônia?

Os barulhos da cidade que encobrem os “eu te amo” de verdade.

Deixa quieto. Estava a tratar de coisa mais besta. Sem drama.

Tratava, ora, de quando você já está com ela e a ama. E ensaia um discurso amoroso. E vai dizendo. E se acha. Pois ela já estava dormindo. É lindo. Você ri. E pronto. E não é que ela ri de você mesmo dormindo, como quem mira uma constelação, como quem diz, seu besta, quem diz que, mesmo dormindo, não estou te ouvindo.

Tratava de quando você diz uma coisa supostamente inteligente e ele(a) está vendo o jogo do Santos ou no Google para entender outras desimportâncias. O não-ouvido do amor, portanto o não-dito do amor, não faz diferença alguma. Talvez só nos lembre que não adiante tentar impressionar em alguns momentos.

Minto. Tratava sobretudo de um detalhe: seu esforço discursivo foi para o vazio da vida, mas ela, de alguma forma, se mexeu na cama. Aquilo que você começa a dizer quando ela ainda está acordada, mas, pelo cansaço de um dia de amor, ela dorme no meio da frase. No meio de uma declaração ou de um bobo comentário sobre…

Dizia do nunca ouvido pelo outro. Seja acordado ou dormindo. Viver é eclipse, amar é elipse –não importa o que você diga, o que importa é o que o outro compreenda no sonambulismo chamado amar de verdade.

Amar é… tomar como verdade o inverossímil e brincar de caubói juntos enquanto dançamos “Romance in Durango” de Bob Dylan sobre o mesmo taco de Copacabana.

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Comentários

  1. Marisa comentou em 22/01/14 at 20:48

    Xico, adoro o que escreve. Que tal montar um curso pra namorados?rsrs.
    Beijo grande

  2. Arlequin comentou em 22/01/14 at 13:30

    Falar eu te amo e facil, quando se descobre que o dificil e viver junto, e engraçado como o ser, sempre se deixa envenenar pela palavra não dita.

    Uma das melhores definições de amores não amados, e Ligia do Francisco aquele de Holanda.

    E quando eu lhe telefonei
    Desliguei, foi engano.
    Seu nome eu não sei,
    Esquecí no piano as bobagens de amor
    Que eu iria dizer

    • sergio barros comentou em 23/01/14 at 8:59

      O Chico fez diversas letras para músicas do Tom Jobim, mas esta é só do Tom, letra e música, O Chico canta ela no cd Sinal fechado.Abs.

  3. sergio barros comentou em 22/01/14 at 8:57

    Não chores, minha querida
    Deus nos vigia,
    logom o cavalo nos levará para Durango.
    Me agarre, minha vida
    logo, o deserto vai desaparecer,
    logo, você vai estar dançando o fandango.
    “Romance in Durango”-Bob Dylan.

  4. sergio barros comentou em 21/01/14 at 11:59

    …mas, o dia que eu puder te encontrar
    eu quero contar, o quanto eu sofri
    por todo este tempo, que eu quis lhe falar:
    EU TE AMO.EU TE AMO,EU TE AMO…
    Roberto Carlos.

  5. louboutin comentou em 21/01/14 at 9:10

    Word of Morgan’s previously thought-to-be-untitled script on ESPN.com of all places,sac louis vuitton occasion, after three-time Formula One champion Niki Lauda confirmed that the Oscar-nominated screenwriter Morgan was working on a screenplay about the driver’s near-fatal 1976 racing season. We’re told by knowledgeable insiders that Morgan’s screenplay deals closely with Lauda’s famed rivalry with the English race driver James Hunt, both on and off the track. For t

  6. GP09 comentou em 21/01/14 at 8:24

    “Eu te amo” é um divisor de águas e tem maior valor para quem diz do que para quem ouve. Quem diz reconhece intimamente que está entregue, ainda que seja “eterno enquanto dure” e que a eternidade dure pouco.
    Não sei o que é melhor, dizer ou ouvir.
    O problema, na verdade, é a dor do rompimento após o “eu te amo”… dói demais.

  7. chaussures christian louboutin comentou em 21/01/14 at 1:45

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  8. stylo mont blanc en solde comentou em 20/01/14 at 21:48

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  9. Marisa Teixeira comentou em 20/01/14 at 15:30

    Lendo a sua crônica, me dei conta de que homem escrevendo sobre amor não é leitura fácil. É truncada. Áspera. Tem q voltar pra ler de novo. Será que o homem está mais próximo de descrever o amor como ele acontece do que a mulher? Será esta mais uma das fronteiras entre os reinos masculino e feminino?

    • xicosa comentou em 21/01/14 at 10:36

      ótima observação, Marisa, sobre linguagem. o proprio labirinto da escrita ja define o amor.bjo

  10. sergio barros comentou em 20/01/14 at 14:16

    Cada voz que canta o amor,não diz
    tudo que quer dizer
    o que se cala, fala mais
    alto ao coração.
    Silenciosamente,eu te falo com paixão.
    Certas coisas- Lulu Santos.

  11. louboutin pas cher femme comentou em 20/01/14 at 13:48

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  12. Tatiane comentou em 20/01/14 at 12:58

    “Não importa o que você diga, o que importa é o que o outro compreenda…”

  13. sergio barros comentou em 20/01/14 at 8:49

    …esqueci no piano
    as bobagens de amor
    que eu iria dizer…Ligia
    Tom Jobim…

    • Patty comentou em 23/01/14 at 11:11

      Todo apaixonado, Sergio Barros!

  14. Camilla comentou em 20/01/14 at 2:45

    Então me diga Xico, como dar coragem às cordas vocais? As minhas teimam em se acovardar há seis anos!

    • xicosa comentou em 20/01/14 at 11:35

      é fazer um exercicio simples: vou morrer sem ter dito certas coisas fundamentais? arrisque.bjo

      • Lola comentou em 21/01/14 at 9:32

        Xico gênio.
        Nutro sonho de te encontrar nos bares da vila e de copa para trocar umas idéias… Difícil é ter acesso a você, sempre tão disputado.

        • xicosa comentou em 21/01/14 at 10:35

          disputado nada,babe,aqui no país de copacabana,sempre. bora mesmo.bjo

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