Rolezinho na feira e autoestima feminina
16/01/14 14:25A feira livre, uma das maravilhas da cidade de SP, completa cem anos neste 2014. E este blogueiro banana marcando touca. Aí sim está o verdadeiro physique du rôle ou do rolezinho, de sandália de dedo e sem Mizuno de mil reais, sem ostentação, só no sapatinho da humildade.
Neste belo centenário, uma crônica das antigas sobre os feirantes, esses galos que tecem as manhãs da Babilônia, de grito a grito, de baciada a baciada, de xepa a xepa, afinal de contas mulher bonita não paga, mas também não leva.
Nada melhor que uma mulher que acabou de chegar da feira.
Sacola na mão, fome de viver, sorriso de princesa.
Os vendedores de frutas, peixes e verduras são mestres na arte de reconhecer talentos e animar as moças com os seus adjetivos. Adjetivos às pencas, elogios às dúzias, mimos, dizeres, samba exaltação, graças.
Meia hora de uma mulher na feira vale mais do que uma caixa de Rivotril, um mês de análise, uma prateleira de autoajuda, vale mais do que a onda de orientalismos do mercado, do que uma banheira de sais, do que mil dias no xóping.
Nem mesmo quando as mulheres estão acompanhadas, os feirantes dão sossego. Esperam você, jovem mancebo, se distanciar um pouco, dois, três passos, e tome gracejos e flertes à baciada.
”Olha a manga, gostosa!”, bradam, administrando com malícia a vírgula e o duplo sentido na ponta da língua.
“Ovo e uva boa!”, arriscam para as elegantes damas de preto.
“Essa é modelo!”, capricham para as gazelas saltitantes. “Gisele!”
”Se eu fosse um peixe, eu seria um namorado!”.
É a boa guerra dos mascates. Eles vão no ponto, exatos como neurocirurgiões do desejo. Sabem de longe, por exemplo, quando uma mulher tem alguma encrenca com a idade. Em um segundo, sapecam um tratamento carinhoso: ”Pra mulher nova, bonita e carinhosa, eu não vendo… eu me dou todinho!” E mais: “Só vendo pra menores de 18 acompanhada pelos pais”.
Em dias de chuva, mandam ver de acordo com o meteorologista: ”Essa é enxuta até debaixo d’água”, alardeiam.
Um bom feirante reduz até os efeitos de uma TPM, de uma dívida nunca paga, de uma culpa que corrói o juízo, de um regime ainda sem resultados _elas ainda não sabem que uma polegada a mais, uma a menos, pouco importa para quem tem gosto de fato por mulher.
Nada como incentivar o caminho da feira mais próxima da sua casa para as mulheres.
No Ceasa, então, os adjetivos saem a grosso e a varejo, na bacia ou nos caixotes.
Os feirantes não mentem jamais. Eles sabem, mais do que ninguém, que em toda mulher, seja quem for, existe um traço ou um aspecto de beleza.
Afinal de contas, mulher é metonímia, parte pelo todo, você passa a apreciá-la por uma boca, um pé, uma orelha, uma mão, uma omoplata, um belo ilíaco ressaltado, uma saboneteira, uma marca sulcada de vacina, um corte no joelhinho esquerdo, uma cicatriz de artes de infância, uma bela bunda faceira, uma falsa magra, um umbiguinho do mundo, aquele tom cinza dos cotovelos da espera…
Na passarela dos feirantes, a insegurança feminina, mesmo naqueles dias em que o cabelo acorda brigando com as leis do cosmo, dissolve-se em segundos, num suspiro, na velocidade de um pastel, na ligeireza de um caldo-de-cana.
Parabéns, feirantes!
Ah, eu sempre me pego rebolando mais ao andar depois de uma cantada que me faça sentir linda e gostosa!!!!
Carla, estou contigo! Parabéns Xico! Sensibilidade e lirismo!
Xico, sempre maravilhoso, vc vale mais que um lote de rivotril!!!!!!
Além das pérolas acima acariciando o Ego feminino.. nós Homens sofremos Bullying na feira, acompanhado não posso me afastar da mulher pois vem cantada e sozinho ouço, Quer ALHO fregues? Vai tomate cru? rsrsrsrsrssss sensacional esta cultura chula da feira … faz parte deste viver, leve, livre e solto!