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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Rossi, romântico, odiava o rótulo brega

Por xicosa
20/12/13 17:08

reginaldo-rossi-1

Reginaldo Rossi, recifense do bairro dos Coelhos, não tinha pressa amorosa , amava, pronto, demoradamente, as mulheres.

Amava lentamente a vida, como quem enxerga um ovo colorido na vitrine –madaleine uma ova velho Proust.

Reginaldo está sendo celebrado pelo que mais odiava: ser chamado de brega.

Um dia perguntei como ele queria a lápide.

Ele disse:

“Amo o amor e canto essas coisas, sou uma espécie de Frank Sinatra, mais ou menos um Roberto e infinitamente Serge Gainsbourg. Tá bom pra você, xará?”

E continuou: “É ridículo que pensem a gente de forma reduzida ao chifre mínimo. Como se o chifre não fosse o principal assunto de Shakespeare e Kurt Cobain”. Yes , Reginaldo amava o Nirvana, que onda.

Ele sabia que eu gostava de tudo isso. E ainda mais ele sabia que me chamo Francisco Reginaldo por causa dele. Fiz questão de procurá-lo desde que cheguei ao Hellcife from Cariri, pense rua do Progresso com rua das Ninfas.

Minha mãe amava a Jovem Guarda e ele fazia parte dessa coisa toda. Era o quente, como me explicava ontem José Teles , pense num cabra que sabe de música!

Brega? Esse rótulo que a classe média pregou nos cantores românticos brasileiros como forma de diferenciá-los e separar os talheres da CasaGrande & Senzala. O necessário, importantíssimo e genial historiador baiano Paulo César de Araújo, autor de “Eu não sou cachorro não” (ed. Record), deixou isso patente. Eis o volume-mor da formação, tô falando.

Reginaldo amava esse livro. “Bicho, escreve sobre essa tese”, me cutucava. “Paulo matou a pau, xará”. Passei 24 horas com Reginaldo, gravando o maior depoimento do meu Flaubert, minha educação sentimental, com Paulo Caldas  , diretor do cinema pernambucano. Ele mostrou a importância de ser Reginaldo.

A importância da canção romântica brasileira. A narrativa da dor. A dor amorosa do chifre e da traição que, por medo ou preconceito, a classe média nacional trata como folclore.

Carnavaliza.

Nessa hora esquece que é a vida, é o mesmo tema de Dostoievski.

Esquece.

Chega de tese.

Reginaldo sabia, teve um sonho com Beethoven, numa das suas melhore s e desconhecidas canções: “Cante, e Junto com Haendel e o amigo Bach/Cante deixe quem quiser falar/Cante, que quem for jovem vai gostar”.

Regi é maior do que o folclore em torno da dor de corno. Reginaldo Rossi é uma forma de contar a vida que todos nós escondemos: é o que escondemos enquanto manifestação amorosa acovardada.

É o meu Walter Benjamim, minha escola do Crato .

Vejo aqui da minha janela da rua da Aurora: o Capibaribe e o Beberibe se juntam para -sem desmentir a secura cabralina- formar um oceano de lágrimas pelo meu ReiGinaldo.

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Comentários

  1. Nelson Cunha comentou em 29/12/13 at 17:31

    Continuamos com esse vício brasileiro, politicamente correto, de falar bem dos falecidos. O Reginaldo, bem…
    Sinceramente?
    O Reginaldo não era lá essas coisas!
    Pronto, fui honesto. Falei.

  2. Mate Gomide comentou em 29/12/13 at 17:09

    Bela e justa homenagem!

  3. Mate Gomide comentou em 29/12/13 at 17:08

    Bela homenagem!

  4. hiro okada comentou em 26/12/13 at 16:51

    hum….no teu texto achei um bom titulo para um documentario sobre o brega
    passe pra frente a ideia 😀

    “importância de ser Reginaldo”

  5. Tuca comentou em 26/12/13 at 12:23

    Grandes artistas da música se foram neste ano de 2013. Uma pena!

  6. Karina Melo comentou em 23/12/13 at 12:37

    Quando penso em Reginaldo Rossi, tenho ótimas lembranças da adolescência, em que eu namorava um cara bem mais velho, lá no interior de PE(Vicência), e a trilha sonora era sempre o Rei(Nesse corpo meigo e tão pequeno…Mon amour, meu bem, ma femme) bons tempos!!!

  7. gleidi comentou em 21/12/13 at 23:12

    Bela homenagem, simples e bonita como Reginaldo Rossi.

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