Quando o amor anda sozinho...
13/11/13 02:47…E quando o amor precisa de nós
Por um tempo o amor funciona por si só, naquela fase em que os passionais pombinhos MC´s tocam de ouvido o chacoalhante rhythm and blues das coincidências –a gente curte os mesmos livros, os mesmos discos, os mesmos filmes do Kubrick, todo mundo ama Nina Simone bêbado na madruga e somos felizes, naquela manhã, para sempre.
É um tempo assim Galileo Galilei, pura gala, e pur si muove, como a terra.
É simples: por um tempo o amor funciona por si só, dita o ritmo, a prova dos 9, o gabarito, e o free style do jazz é todo certo mesmo quando todo errado e seguimos. Mesmo quando apenas repete o batuque zumbi das nossas neuroses ainda em compasso pianinho das sístoles & diástoles.
Por um tempo o amor funciona por si só e pisamos no pé um do outro, no dois pra lá dois pra cá, por puro charme, somente para revelar um certo desatino –afinal de contas quem vai acreditar em um amor assim todo ensaio de orquestra, meu velho?
O amor por si só, assim como o “quizas quizas quizas” do bolero ou a paradinha certeira do cha-cha-cha, se gasta, gracias, ainda bem, foi bonito, agora vem a cumbia da devoção ou o brega do merecimento.
Mas todo cuidado é pouco: ridículo fazer desse tempo do amor “por si se move” um apocalipse precoce, como alguém que conheço, que sempre se martiriza e põe tudo a perder de novo: “Isso não pode estar acontecendo comigo, isso é uma farsa, será um desastre”.
E, descrente, sai em desabalada carreira de cada homem.
Por não viver o por si só do amor, neguinha(o), descrente, sarta fora. Aí não vive nem isso nem aquilo. Mal sabe o que vai perder logo adiante: a transição para um amor possivelmente conduzido por nós, um amor que precisará de algumas coisas leves e de alguns dos 12 mitológicos trabalhos de Hércules, um amor que não anda mais com seus próprios pés.
Prefiro. Bom mesmo é quando falta a gasolina azul do amor por si só e temos que inventar novos combustíveis e fazer das duas rodas dos óculos os pneus das nossas imaginárias bicicletas.
Como ainda estou em uma fase do luto Lou Reed, é obrigatório, por exemplo, nessa fase de transição, beber sangria no parque, como ele canta na faixa “Perfec day”. Escute e me diga.
Pode ser no quintal de casa, na varanda, na pia da kitinete, pode ser vinho jurubeba com maçã da Mônica que sobrou da sua filha, o importante é fazer uma graça com a moça.
Pode ser também num restaurante espanhol de San Pablo, tarde de domingo, sua alma como touro imbatível que avança sobre todas as coisas vermelhas do universo. Você se acha e isso é teu breve triunfo sobre a velha da foice.Vale.
O importante é não deixar o amor a pé, entre o que ele achava que seria e o que ele acha que já é.
É preciso sacar de mobilidade amorosa, fazer dos dois aros dos seus óculos as rodas de uma imaginária bicicleta, é preciso botar o amor nas costas, pobrezinho agora carece de você, como um sleep-bag precisa do sonho de um hippie para se sentir inaugurado pelo universo.
Pegue um ônibus, compre um pacote barato, faça alguma coisa, viaje com o bofe ou com a mina, o amor gosta de sair do canto, nem que seja para espantar borrachudos na pele um do outro em uma praia chuvosa.
Xico, não consigo partir pra outra!!… o que eu faço?
Not in at the moment
borrachudo tá valendo. triste é quando o amor acha que ‘o havaí é aqui’.
borrachudo tá valendo. triste, xico sá, é quando o amor acha que ‘o havaí é aqui.’
O problema é encontrar o amor…. Em SP posso afirmar que não existe mais.
Xico, tu só melhora. Ô cabra sensível e sabido, viu?
Xico Sá só estou lendo agora o teu texto, e agora, agorinha mesmo, neste momento ele me serve de consolo… diante de todas as tristezas que tenho passado e não digo só as de afeto. Os impossíveis enlaces sentimentais, eu sempre me lembro exatamente do que você se refere: coisas simples… felicidade é frame! É ver uma árvores que nasceu em um lugar impossível, ou o mergulhar no mar azul de um dia quase cinza que se torna de repente azul e se bifurca no mar com o oceano… paralelos, distantes e unidos… nasci para amar o que ninguém talvez enxergue ou dê atenção nos dias corridos… Sísifo nunca, sílfide sempre… beijos!
No amor, como na vida, mesmo que tudo acabe no fim ou no meio, é preciso “dar la pelea y caer como un valiente”. Tá lembrando Paulo Mendes Campos, que nos ensinou tudo. Abrazo.
Olha, estava tudo dando certo até a hora de pegar o ônibus e esse pacote barato em um lugar cheio de muriçocas…….
é pior do q muriçoca, Lourdinha. borrachudo é uma praga. haha. mas por amor vale tudo. bjo
Ai, o amor.
Amor,bobagem que a gente ,não explica.
Prova um bocadinho,
fica envenenado,
e pro resto da vida
é um tal de sofrer
(Ari Barroso0
E quando acontece o contrário? Cada dia um susto? Afff… sei não.
“o importante é fazer uma graça com a moça”…ah Xico, tenho como teoria que esse é um dos grandes segredos de relacionamentos duradouros. Ler esse texto deixou meu dia mais gostoso, valeu! Beijo.
E ainda tem coragem de te taxar machista…se todos os machistas fossem iguais a você, nossos problemas seriam beeeem menores. Lindo texto! Parece que foi escrito para mim!
Xico, posso dizer que este foi seu post favorito de todos! Gostei de todos, o jeito nordestino e desapegado com que você escreve muito me agrada. Sem Machado de Assis, idiossincrasias e pormenores. Só um nordestinês, bem informado e fácil de ler
Enfim, você acertou no ponto, por coincidência, estou passando pela curva descendente do amor neste momento, com dificuldades de encantar minha “mina”! Precisava ler alguma coisa assim!
Obrigado
agradeço teu comentário, Lauro. E boa sorte ai. abraço
Concordo com o que você disse, mas não sei escrever bonito assim…É isso aí…”um nordestinês, bem informado e fácil de ler”…
E viva Xico Sá!!!!!!!!!!
Lauro, às vezes encantar é bem mais fácil do que vocês homens pensam. Quando amamos, qualquer gesto vira um castelo. Boa sorte.
Abraço.
Marisa
Vai entender de amor assim lá no Crato, sô!!! Abração, Xico!
ê, conterrânea, q coisa boa ser lido no Cratim de açúcar,tijolo de buriti. bjo
Precisava muito ouvir EXATAMENTE isso HOJE!!! HOJE, não amanhã, após tomar alguma decisão que, mudaria minha vida toda…mas, sem nenhuma certeza que seria melhor do “que viver o amor, renovar a gasolina azul”. Lindo e verdadeiro! Simples e emocionante! Obrigada!
Tudo legal e “espiritual”. Mas dá uma mão de obra… e é cobrado como serviço médico.
Atenção 24 horas,7 dias por semana. Pode?
ahhhh….o amor!!!
Amar de verdade, é dar a ela, carinho e compreensão, nos dias de TPM.
Bravo. Tocante…comovente. Me apontou caminhos.
Que maneira mais inteligente de ensinar a continuar amando. pokou geral! kkk
Lindo!!!! Que o amor se reinventa!! E sempre necessario!!!
E eu, chorei!
Você é um presente Xico, dos Deuses! Lindo! Se você não existisse teríamos que ti inventar.
“É preciso colocar o amor nas costas”, simbora então!
Xico, que maravilha de texto! Linda essa imagem que você cria: “(…) sua alma como touro imbatível que avança sobre todas as coisas vermelhas do universo.” AMEI!!!
Ah Xico Sá, lindo, lindo. Ainda mais hoje, aniversário da rebenta… Quantas maçãs da turma da mônica me mataram a fome!!!
Adorei o último parágrafo. Mas o “tempo Galileu Galilei, pura gala” foi DE-MAIS! Eita Xico treloso viu… Bj
Muito lindo e divertido sua crônica sobre o amor…é como se pudéssemos também, sob a égide da ‘tendência da sustentabilidade’ dizer que até e inclusive no amor ‘tem hora para se reciclar ao invés de simplesmente trocar o refil’
Show de comentário…
Abraço Roberta
..e por isso é que se há de entender
que o amor não é um ócio
e compreender,
que o amor não é um vício
Amor é sacrifício
Amor é sacerdócio
Amar é iluminar a dor
como um missionário
(Viver do amor -Chico Buarque)