Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

Como usar 'eu te amo' até na hora errada

Por xicosa
05/11/13 21:51

Tem o tipo contido, frio(a) que só gelo baiano na madruga de São Paulo. O sujeito ou a desalmada que mesmo que ame, segura o diabo do “eu te amo” até o túmulo. Para esse tipo, como li em um conto de “A vida como ela é”, só chegando mesmo com uma navalha na jugular. Não tem jeito. Nem na hora da morte.

Quero me dirigir, porém, ao avesso dessa gente siberiosa.

Amigo(a), se você é do tipo que diz “eu te amo” de uma forma, digamos assim, precoce e irresponsável, na afoiteza  das primeiras e belas noites na alcova, como já tanto o fez este pusilânime cronista, prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar, digo, “se liga”, como verbalizam os avexados mancebos da hora.

Se a gazela for safa,sábia, mal algum há em tal pronúncia, até apreciará o empolgante anúncio como uma poesia de fundo, como se uma música de Sérge Gainsbourg –Je t’aime moi non plus- estivesse tocando no quarto de motel barato àquela altura.

Pensará a moça, bem baixinho, “que doce vagabundo”. Terá sido apenas um pequeno crime, como num bolero, um “besame mucho”, um cha-cha-cha num Caribe imaginário, cortinas ao vento, lua caliente lá fora, barulho de caminhões no asfalto.

Sim, a gazela pode entender como um “eu te amo mesmo, de verdade, verdadeira, assim como Deus sobre todas as coisas”.

Que mal há nisso?

Quantos amores à vera começaram com um “eu te amo” de brincadeira?

Nesses tempos de amores líquidos, de amores ficantes, de amores-vinhetas de 15 segundos, quem saberá o que venha a ser o amor patenteado pelos deuses incas ou gregos?!

O melhor mesmo é dizer, sem medo, eu te amo, e honrá-lo pelo menos enquanto o sublime eco resistir entre aquelas abençoadas quatro paredes.

E se ela acreditar, ora, ora, manda um “eu te amo, meeeesssmmmoooo”.

Com olhinhos revirados, vamos mais fundo ainda: “Eu te amo até o fim dos tempos”.

Se ela não tá nem aí, você se vira para o piano e ordena, como no filme Casablanca, mesmo que estejam atravessando a avenida Afonso Penna em Belo Horizonte, seis horas da tarde, buzinaço, hora do ângelus: “play, again, Sam!”

E manda mais “eu te amo”, como um estribilho do vento, nas oiças da desalmada, até ela acostumar com a natureza humana do macho que veio ao mundo com um cowboy solitário que tem apenas um mantra, uma bala no coldre dos sentimentos: “eu te amo, porra”.

Monocórdico sr. das sombras cujo cardiograma é um terremoto de “eu te amos”, como um sismógrafo nervoso a riscar o mostrador da maquininha que mede os tremores demasiadamente humanos de todos os cardiologistas particulares.

Antes um “serial lover” a dizer eu te amo como um cuco desembestado a um elíptico e silencioso cabra safado que guarda os “eu te amo” para a hora do chifre -uma vez largado o vagabundo dispara “eu te amo” como em um descontrolado soluço.

Donde baixa um Esopo fabulador para deixar a moral da crônica: mais vale um “eu te amo” que entre por um ouvido e saia pelo outro do que um silêncio mortal de um homem que nunca se empolga e deixa a gazela achando que “eu te amo” é coisa só de novela e de filme americano.

Não acha? Ou você é do tipo frio que narrei lá na cumeeira da crônica? Como diz uma amiga lindamente desbocada: tem cool de legal, ok etc, e tem cool de cu é rola, o cool no sentido dessa gente siberiosamente perigosa.

P.S. Se alguém souber a autoria dessa ilustração do post, grite, por favore. Não consegui descobrir para creditá-la. Gracias, amiga  Karina V ieira,  recifense que torna NY mais elegante, pela imagem.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Djenal comentou em 08/11/13 at 11:58

    O que são as palavras né Xico. Minha filha me diz, “Painho, eu não te amo, eu gosto muuuuitoooo de você”. Acho que nesse caso o “eu te amo” ganhou o glorioso status da insignificância! Valeu pelo texto! Eu gosto muuuuitooo de lê-lo!

  2. Jéssica comentou em 07/11/13 at 20:30

    Xico, te ♥

  3. Caio K comentou em 07/11/13 at 13:04

    Xico, a imagem é de d. yee, pintor e fotógrafo Novaiorquino. Site do cabra: http://art-withoutwords.com/about.html Não bastou a busca no google imagens, mas uma rápida troca de emails deu conta de revelar a autoria.
    Abraço,

    • xicosa comentou em 07/11/13 at 17:47

      Valeu demais,grande Caio.abs

  4. Avelã comentou em 07/11/13 at 12:10

    Já canta Julio Iglesias :”And I’m crazy for lovin’ you.

    Salve,salve Xico Sá e mais um de sues seus textos afoitos e aflorados.

  5. Michele Flores comentou em 07/11/13 at 8:20

    eu te daria uma goiaba, não sei mais que isso, nada de siberioso, só sertanejo, paulista.

    https://www.facebook.com/michele.costa.5201/posts/531462376927801

    • Michele Flores comentou em 07/11/13 at 8:57

      sim, sim, pra mim é paulista, porque conheci por um outro paulista-mineiro-hellcifense Flávio de Castro.

  6. Júlia Chain comentou em 06/11/13 at 21:37

    Sergio Barros…tua verdade me comove!

    • sergio barros comentou em 07/11/13 at 8:51

      Uma vez li num livro do Bhagwan Shree Rajneesh,que qundo duas pessoas estão num debate acalorado,ninguem esta procurando a verdade ,mas sim derrotar o adversário,nem que se use argumentos mais absurdos possíveis.Quando o ser humano ,descobrir que a verdade é mais im portante do que a vitória,ela achará muitas respostas
      PS:Julia é o nome de uma linda canção dos Beatles ,feita por John Lennon para sua mãe.Adoro seu nome Abraços,Sérgio.

  7. Gabriela comentou em 06/11/13 at 18:51

    Dei uma pesquisada, o quadro chama “Peligroso Pop”, acho que o autor é D.Yee.

    http://art-withoutwords.com/store/index_artprints.html

    • xicosa comentou em 07/11/13 at 4:03

      gracias,amor.bjo

  8. Maria Teresa comentou em 06/11/13 at 17:05

    Adorei, “AMORES DE VINHETA ” vou adotar.

  9. Patty comentou em 06/11/13 at 16:00

    Xico, é tão fácil te amar.
    Te amo…

  10. joyce pretah comentou em 06/11/13 at 15:24

    Palavras de amor de Pablo Neruda :

    Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
    Ou flecha de cravos que propagam fogo:
    Te amo como se amam certas coisas obscuras,
    Secretamente, entre a sombra e a alma.

    Te amo como a planta que não floresce e
    Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
    E graças a teu amor, vive oculto em meu
    Corpo o apertado aroma que ascende da terra.

    Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
    Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
    Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

    Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
    Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
    Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

    Bjo, Xico querido.

  11. sergio barros comentou em 06/11/13 at 13:36

    Como,se nos amamos feito dois pagãos
    teus seios ,inda estão nas minhas mãos
    me explica com que cara eu vou sair

    Não,acho que estas te fazendo de tonta
    te dei meus olhos pra tomares conta
    me conta com hei de partir.

    Eu te amo-Chico e Tom.

    • Patty comentou em 06/11/13 at 15:59

      Aí, querido Sergio cita Chico & Tom e me mata de amores…

      • sergio barros comentou em 06/11/13 at 20:11

        Dizer que não quero
        teus beijos nunca mais
        teus beijos nunca mais…..Anos dourados da dupla ,que considero ,a mais genial de todos os tempos ,da música brasileira.Abs.

  12. Lucionediniz comentou em 06/11/13 at 10:18

    Há Xico, como enches de alegria e beleza meu coração, seus textos são lindos!

  13. Alberto comentou em 06/11/13 at 9:49

    Xico também te amo.

  14. Nat comentou em 06/11/13 at 9:33

    Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

    Já dizia o grande Guimarães!

    Love you, Xico!

  15. Andressa comentou em 06/11/13 at 9:31

    Ah Xico, ‘eu te amo’ hoje em dia está pior do que ‘me passa o açúcar’.

  16. Vânia Cristina comentou em 06/11/13 at 9:14

    Xico, Xico! Deixe-me ser irresponsável: te amo!

    • xicosa comentou em 06/11/13 at 15:17

      q sejas sempre.beijo

  17. Sibéria comentou em 06/11/13 at 9:08

    Meu nome é Sibéria. Sou nada siberiosa rs, mas amei esse termo, Xico. Você cada vez melhor!

    • xicosa comentou em 06/11/13 at 15:18

      enfim uma Sibéria caliente.q bonito.bjo

  18. sergio barros comentou em 06/11/13 at 8:06

    Toda vez que eu disse “eu te amo” a uma mulher,fui cinicamente mentiroso….
    Toda vez que eu demonstrei , o quanto a amava,fui extremamente verdadeiro….

    • Avelã comentou em 07/11/13 at 12:13

      É bem por aí,Sérgio,bem.

  19. Adherbal comentou em 06/11/13 at 7:47

    Texto muito rococó. Rococô. Não precisa ser genial a cada linha. Seja de três em três.

    • xicosa comentou em 06/11/13 at 15:18

      rapaz, sou meio barroco demais.eu sei q é um grande defeito.abs

  20. Helio Souza comentou em 06/11/13 at 7:00

    Eu percebi que eu falei isso a uma mulher duas vezes na vida, a primeira riu ( gargalhou! ) e foi talvez o maior amor da minha vida, e a segunda disse primeiro e estou casado com ela.

  21. A C Censi comentou em 06/11/13 at 4:00

    Complemento

    Pelligroso Pop é uma música do conjunto mexicano Plastilina Mosh do CD Holla Chicuelos e usado no jogo FIFA 2007.
    http://en.wikipedia.org/wiki/Plastilina_Mosh

  22. A C Censi comentou em 06/11/13 at 3:53

    iIlustração

    Fotógrafo, ilustrador, pintor http://www.d-yee.com/

    Você pode comprar uma cópia assinada em
    http://art-withoutwords.com/store/preview_peligrosopop.html

  23. Thiago Stein comentou em 06/11/13 at 3:05

    Genial Xico! O ‘eu te amo’ deve ser um desabafar da alma, da vontade. Não priorizando a necessidade de ser correspondido, e sim do desabafo.

  24. Elvio Filho comentou em 06/11/13 at 1:04

    “Serial Lover” ! Valeu, Xico !

  25. Maria Alvarenga comentou em 06/11/13 at 0:34

    Quero que todos os dias do ano
    todos os dias da vida
    de meia em meia hora
    de 5 em 5 minutos
    me digas: Eu te amo.

    Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
    creio, no momento, que sou amado,
    No momento anterior
    e no seguinte,
    como sabê-lo?

    Quero que me repitas até à exaustão
    que me amas que me amas que me amas.
    Do contrário evapora-se a amação
    pois ao dizer: Eu te amo,
    desmentes
    apagas
    teu amor por mim.

    Exijo de ti o perene comunicado.
    Não exijo senão isto,
    isto sempre, isto cada vez mais.

    Quero ser amado por e em tua palavra
    nem sei de outra maneira a não ser esta
    de reconhecer o dom amoroso. (CDA)

  26. jgmoreira comentou em 06/11/13 at 0:30

    Xicosa, que primor de texto. Meus aplausos invejosos e salutares de tão bom que acheia a sua escrita.

  27. sonia comentou em 05/11/13 at 22:12

    xico, eu te amo.

    • xicosa comentou em 06/11/13 at 5:27

      love,amor

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailxicosa@uol.com.br
  • FacebookFacebook
  • Twitter@xicosa

Buscar

Busca

Blogs da Folha

  • Recent posts Xico Sá
  1. 1

    O partido dos corações partidos

  2. 2

    A arte da cantada permanente

  3. 3

    O tal do amor aberto dá certo?

  4. 4

    E Abelardo da Hora recriou a mulher

  5. 5

    Como eleição mexe com amor e sexo

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 20/03/2011 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).