O amor acaba, mas nem sempre termina
29/10/13 03:13Sim, o amor acaba, é do jogo, mas muita gente se avexa, numa azáfama dos diabos, querendo se jogar do abismo ainda a léguas do despenhadeiro.
O amor acaba, mas tem sempre um “chorinho”, como do generoso garçom no nosso uísque.
O mundo anda muito impaciente com as complicações amorosas, como se fosse fácil juntar duas criaturas sob as mesmas telhas da rotina.
É preciso estar preparado(a) para as goteiras, para a hora em que o amor vaza ou pinga no chão da casa e não há balde ou rodo que dê jeito.
No que vos conto, sob a desculpa do encorajamento coletivo, afinal de contas animar a vida besta também é papel de um cronista-fabulista:
E quando imaginávamos que estava tudo acabado, que amor não mais havia, que tinha ido tudo para as cucuias, que o fogo estava morto, que o amor era apenas uma assombração do Recife Antigo…
Quando já dizíamos, a uma só voz, a crônica de Paulo Mendes Campos que repito ao infinitum:
“Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba…”
Quando já separávamos, olhos marejados, os livros e os discos…
Quando mirávamos, no mesmo instante, a nossa foto feliz no porta-retratos…
Quando não tínhamos nem mais ânimo para as clássicas D.R´s –as mitológicas discussões de relação…
Ave, palavra, até o gato, nervoso, sem saber com quem ficaria, quebrava coisas dentro de casa àquela altura; o papagaio blasfemava, diabo verde!
Estava na cara, naquela fantástica zoologia amorosa: aqueles pombinhos já eram.
O cheiro do fim tomara todos os cômodos, a rua, o quarteirão, o bairro, a cidade, o mundo…
Quando só restava cantar uma música de fossa… “Aquela aliança você pode empenhar ou derreter…”
Quando só restava a impressão de que eu já vou tarde…
Quando só restava Leonardo Cohen (foto) no iphone da moça moderna…
Quando eu não era mais o cara, embora insistisse em cantar o “I´m your man” deste mesmo trovador canadense…
Sim, o quadro era triste, não se tratava de hipérbole ou demão de tintas gregas.
De tanta inércia, faltava até força para que houvesse a separação física, faltava força para arrumar as malas, pegar as escovas, contar aos chegados comuns, tomar um porre.
Ah, amigo, quer saber quem bateu o ponto final da história?
Ela, claro, você acha que homem tem coragem para acabar qualquer coisa? Mulher é ponto final; homem ponto e vírgula, reticências, atalhos, barrigas de palavras, verbos e orações.
O estranho é que ela não disse, em nenhum momento, que não gostava mais do pobre mancebo.
Aquilo encucava. Porque um homem, disse o velho Antonio Maria, padrinho sentimental deste cronista, nunca se conforma em separar-se sem ouvir bem direitinho, no mínimo quinhentas vezes, que a mulher não gosta mais dele, por que e por causa de quem etc etc, a longuíssima milonga do adiós.
E nesse clima de fim sem fim as folhinhas outonais do calendário foram despencando sobre a relva fresca do desgosto.
Eu acabara de levantar do amigo sofá, que havia se transformado no meu leito, quando ela passou com uma cara de impaciência e desassossego.
Mais que isso: ela estava com vontade de matar gente!
Era a cara que fazia quando estava faminta. Sabe mulher que fica louca quando a fome aperta e a angústia da existência vocifera pelos barulhos do estômago?
Vi aquela cena e caí na gargalhada. A princípio ela estranhou… Mas sacou tudo e danou-se a morrer de rir igualmente. Nos abraçamos e rimos e rimos e rimos e rimos daquilo tudo, rimos da nossa fraqueza em não dar uns nós nos clichês, inclusive o da volta por cima, rimos do nosso silêncio sem sentido, rimos desses casais que se separam logo na primeira crise, rimos da falta de forças para enfrentar os maus bocados, rimos, rimos, rimos.
Rimos da preguiça sentimental da humanidade e nos esbagaçamos de amor no chão da sala mesmo.
E um casal que ainda ri junto tem muita lenha verde para gastar na vida e fazer cuscuz com carneiro e outros banquetes nada platônicos movidos a bagaceiras, alentejanos sagrados e salineiras aguardentes.
Agora ela está deitada, linda, cheirosa, gostosa, psiu!, silêncio, ela dorme enquanto escrevo essa crônica!
Isso consegue ser triste, trágico, reconciliador e ainda terminar Zen. Formidável!
XS,
Como é fantástico ler um escritor inspirado.
A “crônica mix ” ficou show! Acho que nada mais a acrescentar…
Abs
Xico! Você é sensacional, sem tirar e nem por. Sou sua fã hoje e sempre. Super beijoka ah, este textinho, pow, me fez refletir sobre tudo, ah, o amor =)
Eu sempre acreditei que amor de verdade nunca acaba, vai se transformando ao longo do tempo. Se o sexo ainda for bom, nada melhor que terminar tudo com uma boa transa… ;). E depois que tudo tiver entrado nos eixos, um “recordar é viver” não faz mal a ninguém….
Se minha vida é uma comédia
e a sua um grande drama
vamos fazer uma média,
na hora de ir pra cama……
Muito bommmmmmm! :*
Maravilho..so, . Parabens Tudo Verdade!!!!!!!!Ziza
OLÁ TD BOM??
CLARO QUE JÁ TINHA OUVIDO COMENTÁRIOS SOBRE VOCÊ, MAS NÃO TINHA LIDO SUAS PUBLICAÇÕES.
ME CHAMOU A ATENÇÃO SOBRE VOCÊ SUAS FALAS DELICIOSAS NO PROGRAMA AMOR E SEXO ÀS 5ª.
PENSEI: NOSSA!!!! GOSTEI DELE.
E ESSA CRÔNICA O AMOR ACABA, MAS NEM SEMPRE TERMINA – A D O R E I. SIMPLESMENTE PORQUE APÓS O TERMINA, FIQUEI SABENDO AGORA QUE AINDA RESTA UMA LUZINHA BEM LÁ NO FIM DESSE TUNEL. (alívio) NÃO É SÓ POR QUESTÃO DE AMOR FÍSICO, CARNAL POR UM HOMEM NÃO, MAS POR ACABAR COM MEU MAIOR MEDO DE QUANDO DIZEM COISAS COMO: ” UM ASTERÓIDE GIGANTESCO AMEAÇA A VIDA NA TERRA …” OU “A HUMANIDADE ESTÁ CHEGANDO MO SEU FIM …” E OUTROS TERRORES MAIS.
OBRIGADA POR ME TIRAR ESSE GRANDE MEDO DO PEITO.
BJS
lurdsmari
Puta que pariu! Que leitura gostosa da porra!
P.S. Perdon pelas palavras esdrúxulas, mas só assim para expressar um pouco do que sentia após a leitura.
Abraço
Porra,Edu, é bom é assim, com tais palavras mesmo.gracias,abs
Esse também seria o meu comentário, disse tudo!!
Grande Xico!!! Nenhum relacionamento deve terminar antes de um ano após uma trepada no chão.
Então abandone os teclados e vá se deitar ao lado dela, sem mais perder tempo nem oportunidades…
Linda crônica, Xico… linda… até chorei, de verdade…
beijo
Muito bom!
É preciso coragem às vezes até para começar a rir, depois que engrena, vai… é que nem ladeira abaixo… mas a gente segue rindo, porque não há remédio mesmo… E o que não tem remédio, remediado está. Seguimos rindo… Pois rir ainda é o melhor remédio
Como você consegue ficar cada vez melhor?
É cada vez mais gostoso ler o que você escreve. Perdidamente apaixonada por Vossa Excelência. Bjs!
As vezes é tudo um medo incoerente de perda da amada, as vezes escrevemos tudo o que não queremos ou estamos preparados para perder e as vezes nos damos conta de que a genialidade esta na categoria de uma reviravolta em uma crônica, as diversas situações de medo são um ingrediente famoso no cardápio especial para leitores!
Ah meu lindo Xico-Sá-Muso e Guru Sentimental das horas mais incertas. Te bendigo e te amo com todo meu amor carente de moça moderna que ouve Leonard Cohen no Ipod… 🙂
Excelente!!!!
Xico só vc pra colocar um gato quebrando tudo pelo meio da casa sem saber com quem vai ficar!
Obrigada pela crônica ta mesmo faltando paciência e tem mt vexamento pelai, o que salva ainda são as gargalhadas que dei sozinha ao ler e que espero dar acompanhada(dar acompanhada é ótimo né não, Xico?) bjs
Xico querido, e quando a história já acabou, já separaram os discos, as vidas, mas ficam no vai e vem? No clássico romance iôiô? Pergunta de um coração aflito à Miss Coração Solitários!
Xico, não quero ser chato, mas uma crônica semelhante a esta já foi postada anteriormente.
não apenas uma, várias, gracias pela leitura atenta. qdo vivo situações parecidas recorro a velhas crônicas parecidas. ai renovo, reciclo, ponho novos sentimentos, mudo o cenário do crime, numa remixagem como as sucessoes dos eventos da vida. abs
Cara, eu não te sigo te persigo. Adoro seus comentários desde o saia justa… agora no Amor e Sexo.
Esta crônica, Xico… linda…linda…linda.
Você é sempre lindo nos seus escritos e comentários. Bjo grande.
Chico Sá,você de Juazeiro,eu de Russas,portanto cearenses cabras da peste,
simplesmente você é sensacional,honra o nosso linguajar caracteristico reconhecido em
todo mundo, mesmo longe da terrinha,lhe acom
panho sempre, saboreando essas delicias lin-
guisticas juntamente com as nossas comidas
típicas dos verdadeiros nordestinos desbrava-
dores desse Brasil que não é mais varonil,um
forte abraço,robert,29/10/13.
valeu, cabra de Russas! ja passei umas tres vezes por ai.abs
Belo texto de conselho amoroso, Xico!
Muita gente hoje, acostumada à busca de resultado imediato e mimada pelo comodismo dos controles remotos, já foge ao primeiro sinal de desagrado, já quer trocar de pessoa amada se algo nela não lhe agrada.
Na minha humilde opinião, uma paixão passageira pode ser muito boa, mas não tem alguns ingredientes que só se encontram num amor duradouro.
E já que cita um de meus cantores/poetas favoritos, sugiro de Leonard Cohen uma canção bem popular em meu toca-discos ou iPad: “Dance me to the end of love (live)”; porque mesmo um amor de várias estações pode ter a intensidade de uma nova paixão.
Abraços!
Sou cabeça feita
não jogo conversa fora
se o papo é legal ,eu fico
se não serve ,vou me embora.
Fica, Sergio. Sempre! Adoro-te.
Tava falando de papo de separação,conforme a crônica do Xico.Deste espaço,eu não vou embora,pois é frequentado por gente da melhor qualidade,feito você.Abs.
Tão bom começar o dia com essa carícia na alma…
maravilhoso, xico…
Detesto dramas.Neste ponto sou pratico:vale a pena,vamos em frente,mas se não vale ,tchau e benção.Sofrimentos fazem parte do pacote,mas a vida ensina,que são suportáveis e com o tempo desaparecem.Ser feliz é o que importa.
Xico, meu velho, segue uma crônica que tem muito a ver com o tema.
Inspirada na crônica do PMC e na música do Criolo.
Gracias, Mestre!! Sábado estarei molhando as palavras em Copacabana.
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2013/05/nao-existe-amor-em-sp.html
Que texto massa, Xico! Essa penúltima parte do texto me deu até saudade do meu nêgo [que ficou numa estação antes da minha rumo à labuta].
Parabéns.
bjo
Homem não sabe dizer adeus mesmo, ele sempre pede o chorinho! E a gente naquela de não querer perder, aceita, muitas vezes o chorinho…Mas tem hora que cansa. Que crônica linda com um final mais lindo ainda!
:/
Deliciosa e sórdida. Belo Chico Sá!