A morte, Lou Reed, é uma ressaca fatal à prova de mentiras
28/10/13 02:00A morte é apenas uma ressaca fatal, caro Lou Reed, uma ressaca de domingo para evitar a falta de jeito com a vida de segunda.
A derradeira ressaca sob o sorriso cretino da Velha da Foice mexicana.
Como lembrou o colega Ivan Finotti, a primeira canção do seu álbum inaugural, 1967, se chama justamente “Sunday Morning” (manhã de domingo).
Só acredito no supersticioso deus das coincidências. Não à toa morrerias neste dia.
A ressaca perfeita de um dia melancólico para partir deste lado selvagem como em um teletransporte. A doce paz mortal da ressaca domingueira.
O sol nunca mais te perseguirá, viejo Lou, pelas frestas do domingo. O mesmo sol que fez o carinha assassinar o árabe na praia da existência de messiê Camus, este outro monstro da canção silenciosa.
Tempo de assassinos.
A morte não passa de uma ressaca sem ereção –por que ficamos tão excitados de ressaca, mr. Velvet? Eis um dos mistérios da humanidade e a Laurie (aí contigo na foto) sabe do que estou falando.
A Lena chorou ao lembrar de um dia perfeito que te fez uma pergunta em uma coletiva. A Lena me disse: Francisco escreve algo sobre morrer mais um pouco aos domingos ou algo semelhante, foi o que entendi nos seus lábios sem o gloss das fracas bocas que fogem dos encontros.
A ressaca depois dos 40, viejo Lou Reed, é uma dengue existencialista. A ressaca fatal é como a beleza que senta no joelho de Rimbaud e passa.
A morte rebobina o VHS com a ferrugem e a fita enrolada das nossas trajetórias.
As manhãs mal-dormidas e infinitamente vividas com Ligia nas bordas do Parque da Aclimação pediam Lou Reed e a manteiga dos últimos tangos.
Voltemos ao teu concerto em SP, 1996. Havia passado o dia correndo atrás de um corrupto –retrato deste cronista como ainda jovem repórter investigativo- e com um ácido passei rapidamente para o lado selvagem do entendimento.
Walk On The Wild Side.
Em livre tradução: amava uma arisca índia que se alimentava de jungle music e desconfiança com os passos de urso do seu homem.
Bem antes, viejo, havia colhido flores vagabundas pelas ruas do Hellcife e comprado um vestido vermelho para uma dama. Com as flores em um saco de plástico a levei ao hotel mais barato do Centro. Enchi a banheira com as banalíssimas fulorzinhas e botei uma fita cassete com “Stephanie says”, a minha predileta do Velvet Underground.
Como esquecer uma tarde, dom Lou Reed, em que a invenção amorosa lembra a morfina e o torpor?
A morte é apenas uma letal ressaca, amigo, uma ressaca na qual a vida vai sumindo lentamente como em uma fusão do lado claro com o lado escuro.
Uma ressaca cuja intensidade nos livra daquela falsa promessa de ser um outro homem, de se regenerar e tantas outras juras.
A morte é uma bela e fatal ressaca à prova de mentiras. Vicious.
Sim, Stephanie, às vezes a gente entrega parte da vida a pessoas que só odiamos bem lá na frente.
É, caro Lou Reed, o amor é o sol que sapeca, quando menos se espera, a retina e os cílios postiços da descrença.
Oi Xico!
Sou apaixonada por você, pelo seu blog, pelos seus livros… hahaha
Tenho um blog e brinco com ele, dai fiz um post para você: http://desenrola-vai.blogspot.com.br/2013/10/macho-jurubeba.html
Espero que goste.
Beijos s2
amei.gracias gracias.beijos
Outra perda: Paulinho Tapajós.
Creio que ele tb mereça uma crônica, no mínimo, uma citação.
Pois é, Ana, e eu lesado so soube hj.merece sim.bjo
xico, meu guru do crato
mais um texto reto e sem curva…de apertar o coração…e lavar a alma…
obrigado lou reed por tudo que nos deixa!!!
abraços.
Demais o texto!
Stephanie Says também é minha favorita, e a trilha sonora da minha vida, estou sempre me fazendo a mesma pergunta que a Stephanie.
Registro:Há 80 anos nascia no Brasil outro gênio louco:Garrincha.
esse é o maior!!! viva mané! abs
Tive o privilégio de ver o Lou Reed em 1996, em São Paulo. Foi um show para fanáticos, por ele e por Rock, no mais amplo sentido da palavra. Ele olhava a platéia nos olhos, e sorria. Inesquecível. Linger on, his pale sad eyes.
Cotidiano de segunda-feira.
Leio.
Meu coração dói.
Lou, em sua homenagem dedico “preciso me encontrar”, do gênio da Mangueira, Angenor. Não sei o motivo, mas tenho a impressão que se tu compuzesses um sambinha, seria algo nessa linha. Porra Xico. Mandou bem além da conta na homenagem. Parabéns!
E eu precisava tanto entender o domingo de ontem.foi isso entao..aquela tristeza,brigada xico sa valeu demais lou reed.
Nus ,os homens irão confundir-se
como o homem no vento e na lua do poente
quando descarnados e limpos,desaparecerem os ossos
hão de nos seus braços e pés brilhar as estrelas
Mesmo que se tornem loucos,permanecerá o espirito lúcido
Mesmo que sejam submersos pelo mar ,eles hão de ressurgir
Mesmo que os amantes se percam,continuará o amor
e a morte perderá o seu domínio.
Dylan Thomas.
adorei como sempre suas viagens literárias, poeta
xico.
Belo texto,Xico.Beijos.
A morte é o grande momento da vida, já dizia uma HQ de Neil Gaiman. Perfect Day é, simplesmente, uma das canções mais cínicas q eu conheço.
de acordo.cinismo filosófico.abs
A morte tem noventa e nove por cento de ruim, mas em um por cento de probabilidade cobrirá todas as mentiras que se pregam neste mundo de dor e inveja.
Xico Sá, parabéns pelo emocionante texto. Pessoas como Lou Reed fazem falta a este mundo cada vez mais geométrico que vivemos.
“But she’s not afraid to die, the people all call her ‘Alaska’
Between worlds so the people ask her ‘cause it’s all in her mind
It’s all in her mind”
meu querido Xico, que maravilha!!!
Maravilha!!!
Texto maravilhoso e muito inteligente, é mto bom ler textos inteligentes.
Lou ficará para sempre em nossas mentes , suas músicas sempre nos transportará p/mundos inatingíveis.
Salve Lou Reed!
FODA!!!!Lou Reed teve um requiem à altura!!!
Stephanie Says é maravilhosa. E por falar em sol…
“Looking for another chance
for someone else to be
Looking for another place
to ride into the sun”
Um grande abraço na tua alma, Xico!
“Sortudos serão aqueles que morrerem.”
Long John Silver, A Ilha do Tesouro
Stephanie Says é linda. Mas por falar em sol…
“Looking for another place
Somewhere else to be
Looking for another chance
To ride into the sun”
Um grande abraço na tua alma, Xico!
Que maravilhoso texto muito lindo!!!
Foda.
Moro aqui perto do Parque da Aclimação,onde nos anos 70 assisti a um show dos Mutantes,debaixo de chuva sentado na lama a beira do lago.Bons tempos,onde a música era muito criativa ,com pequenas pitadas de deboche,de Sérgio,Arnaldo e Rita Lee.Quem abriu o show foi Tim Maia e a banda Vitoria Régia.
Sempre tive admiração por figuras anárquicas do rock´.como Chuck Berry,Jim Morrison,Jerry Garcia,Frank Zappa,Janis Joplin,Keith Richards….O Lou Reed,teve muita importância,para o movimento do punk rock,que veio botar a casa em ordem depois do excesso de preciosismo do rock progressivo.Malucos forever.
também tenho uma bonita história antiga de amor e desejo, colada na memória e na pele, enrolada com uma canção de Lou Reed… quem não tem? vou escrever.
Invasion. If four other people on the island can drive over troops, the enemy sent packing, he also used for compensation do? Lose ass! Unless the enemy can get on the ground to fight on the island gave the remaining four. But this is impossible, four feet six or seven ten Barbarian Warrior,momoncler outlet uk, more than a dozen wars raft. Hackberry want to drag so many resources are not able to compensate about finished, he at most symbolic compensa
chico, meu mestre, ainda caio na besteira de me impressionar com o que você escreve…
Breathless,that’s it!
que texto maravilhoso! (stephanie says também é minha preferida <3 )
q linda coincidência. essa ja me embalou demais.beijo
De “Stephanie Says” eu gosto muito, mas gosto mais de “Caroline Says II”, do disco “Berlin”, que não deixa de ser uma paródia da primeira música. Observem que a melodia é praticamente a mesma, com letras e arranjo diferentes.