Não há microondas para o amor, baby
13/10/13 23:46
Não há microondas para o amor, baby. Ou, melhor ainda, Era uma vez um Homenzarrão carente e a comida de caixinha.
Nada como um homem carente para despertar tanto o desejo, para despertar o espírito materno, para despertar o tesão propriamente dito e todo o sentimento difuso de uma mulher em uma esquina.
Mesmo que uma mulher razoavelmente satisfeita e bem-resolvida _até onde se pode estar resolvido nesse planeta, caso da minha vizinha W., por exemplo.
Ai de mim Copacabana com minhas vizinhas lindas e falantes que me presenteiam com suas crônicas de vida vivida, a vida sem antisséptico para tirar o gosto da existência da boca.
A vida narrada na esquina do Papillon, por supuesto.
Um homenzarrão carente, ela aponta. O cara passa. Deixa os dois beijinhos de face mais tímidos do universo e segue. De cara parece um desses estranhos no paraíso de Copa, um estrangeiro de filme de Jim Jarmusch (como vemos aí na ilustração do post).
Os dois beijinhos quase sem contato com a pele. E W. toda toda. Acabara de voltar da praia e bem sabemos como o mar atiça a libido de Netunos e de Yemanjás.
O cara, um homem correto na faixa dos seus 40, passa com a sua sacola descartável rumo ao supermercado. Mal mira nos olhos da moça.
No que ela, em brasa, decide:
– Vou atrás desse infeliz agora mesmo!
Beth, a outra amiga da roda domingueira de Copa, explica:
– É tesão antigo, ela enlouquece, e nunca tiveram nada, never.
W. não se conforma de vê-lo tão carente e sozinho. O desejo pelos misantropos e esquisitões.
Ficamos entretidos com o agito da Parada Gay nas redondezas. Cinco minutos depois, de dentro do supermercado, W. narra para a amiga:
– Não me conformo com esse homem na prateleira das comidas de caixinha para solitários.
Realmente é dolorosa a seção de comidas semi-prontas em porções individuais.
Ela prossegue:
– Vou arrancar esse bofe dali e preparar um banquete na minha casa, não me conformo!
– Te juega, quenga – Beth dá corda.
Ai de ti, Copacabana.
Uma meia hora depois voltam os dois juntos. Ficam para uma cerveja. Ela diz que não suporta vê ninguém comprando comida quase pronta. Principalmente aos domingos. A mais completa imagem da solidão domingueira.
– No passa nada – diz ele.
W., o cúmulo da intimidade, pega a sacola descartável do cara e expõe os rótulos da mais explícita solteirice ao boteco. Ah, essas desavergonhadas amigas de Copa.
O melhor é que era de doer mesmo. Melhor ainda que o misantropo da rua Leopoldo Miguez não estava nem ai para a coisa. Apenas ria sem graça.
O melhor do melhor de tudo é que W. arrastou o homenzarrão carente para a casa dela, ali na frente, donde passou novo torpedo para a amiga, algum tempo depois:
– O esquisitão é slow, devagar mesmo, mas quando funciona, valha-me Deus!
E assim acaba mais uma história de solidão em Copacabana. Não há microondas para o amor, baby.
Te amo, Xico.
amor correspondido, Rita.bjo
Hahahahaha
Tive duas quedas por tal tipo. Foram tantas as escoriações que passo longe de agora em diante. kkkkkkkkkkkk
Milhares de velas podem ser acesas por uma única vela,a qual não terá por causa disso,diminuida a sua luz.A felicidade nunca decresce por ser compartilhada.(um ensinamento budista}Tenham uma boa semana, com paz em seus corações.
xicosa, mera curiosidade, me responda: o seu x, como no blog, é de sexo?
não, assino assim desde os 19 anos. foi invenção de um editor do Jornal do Commercio do Recife.abrazo
Xico,
Essa história é bem parecida com a minha..Só que se passe em São Carlos, interior de SP. O W. aí é professor da USP, assim como eu…Ele é daqueles que vai pra USP, todos os dias, de manhã, tarde e noite, inclusive sábados e domingos. Com exceção de domingo a tarde, quando eu vejo ele passar com as sacolinhas retornáveis para o SM. Ah, meu Deus, aquilo me mata. Mas, não há jeito dele mudar…
sim, a historia poderia se passar em qualquer canto. bjo
“(…) a vida sem antisséptico para tirar o gosto da existência da boca.” Xico muso existencialista
hahaha Xico… homens costumam dizer que mulheres se vestem para outras mulheres. Após ler o post acima de Felipe, chego a conclusão que a concorrência é assexuada.
Um dia vou atrás do Morrissey…
Morrissey ex Smiths?
O Morissey é o sonho de consumo da minha vida inteira …
Sutil. Escrever simples é muito difícil. Congrats.
Ontem a tarde ,chapei o coco, com rum e suco de abacaxi e fiquei escutando Mamas and Papas até adormecer no sofá.A paz invadiu o meu coração,sózinho no silencio….
Sergio, OI?
Abdicar da ilusão do microondas do amor é, como dizia uma namorada, antes de eu completar meus 48: “que bom que você não renuncia ao outono que te aproxima”. Pena que ela renunciou a mim, pena!
Lindo texto.
Desistiu??? Que pena, logo encontra outra no verão. 😛
Marco, tem uma lareira lá em casa. Se quiser 😉
Legal, agora eu vou narrar uma historia toda elaborada para falar a respeito de uma viajem de onibus, com um titulo auto-explicavel no final da história, para descrever algo tão corriqueiro e banal que não vai adicionar nada para ninguem. E claro, me achar um gênio. Plac! plac! plac! para mim
boa sorte, Felipe. o nome disso é crônica. abs
Faça apenas um favor pra nós: antes de escrever, estude um pouco de português. Ah, e dê uma refinada nesse sarcasmo baratinho aí também. De nada.
Felipe, só que antes de começar a escrever, pegue um dicionário e estude melhor a grafia da palavra VIAGEM… #ficaadica.
Felipe: adicionou boas risadas à minha manhã…
Obrigada, Xico! Suas crônicas são ótimas!
Beijo!
Felipe, o típico do cara que USA e MUITO o microondas para o amor. Que dó!
Com a graça divina, não há.