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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Como destruir o amante da sua mulher

Por xicosa
27/09/13 03:15

 

Para você, leitor, que me pergunta sobre a continuidade dos dramas reais aqui narrados, dou conta resumidamente, com a ajuda do José Posadas (ilustração), o mexicano que sabia que amar é uma dança de esqueletos:

A D.R. do tipo anjo exterminador –a discussão de relacionamento que não acaba nunca- prossegue. A vizinha descobriu novas sujeiras do cara. Pelo menos deu cartão vermelho, ainda provisório, e o desalmado está em Teresópolis. Só escuto agora a fala dela, interminável, mas ao telefone.

Noêmia, a mulher que foi da descrença no amor aos braços do cafa, leu atentamente os comentários e conselhos do blog. Está mais calma. Tomou a água com sal marinho e açúcar à moda Paulinho da Viola –“não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”- e parou de susto. Te juega.

Brava Noêmia. Prometeu ir pela seta do proveito, está relaxada, jurou por Cosme & Damião, até tirou onda trocadilhesca de boteco:  infinito enquanto duuuro. Essas coisas, meu velho libriano, paudurescente e centenário Vinícius.

O problema é que apareceu outra alma penada. Agora um homem. Nada cafa. Um sofredor mesmo. Como o drama era igualzinho a do Amaro, lembra do Amaro? E como meu conselho ao Amaro foi, surpreendentemente, um dos mais bem-sucedidos da minha vida de cronista do amor e da sorte, só me resta repetir ao Demetrius, o moço que me procurou ontem no “Pavão Azul”, aqui em Copacabana, a mesma receita.

Caríssimo Demetrius, é só trocar o seu nome pelo do nosso sofrido Amaro. Amaro conseguiu, depois da lição abaixo, uma nova lua de mel, com a mesma pessoa amada. Repare:

O leitor aflito me escreve. Quer ajuda, conselhos, alguma consolação, ombro, ouvidos… Invoco a Miss Corações Solitários que costuma fazer morada nesta pobre caveira envelhecida em barris de bálsamo.

Não posso deixá-lo a mascar o jiló do abandono. Está desconsolado, como o Sizenando de Rubem Braga, que viu a amada cair nos braços de um playboy. Um idiota que não sabia sequer uma palavra de esperanto.

A vida é triste, Sizenando, como soprou-lhe o cronista.

Com Amaro não foi diferente.

Quis o destino parafusar objetos pontiagudos à testa da pobre criatura.

Sim, ela tem um amante. Pobre amaro. Daqueles amantes que se encontram à tarde, num intervalo qualquer, no recreio da vida chata.

Nem foi preciso contratar o detive particular, conta-me o nosso Amaro. Ele mesmo fez as vezes de cão farejador da própria desgraça.

Que fazer?, indaga, num email no qual até a arroba bóia em poças de lágrimas.

Mato o desgraçado?

Tiro a vida da desalmada?

Salto mortal da ponte Buarque de Macedo?, perguntou o recifense.

Um trágico, esse rapaz. Como os de antigamente. Amaro é do tempo em que os homens coravam. Ainda tenho vergonha na cara, diz, urrando vaidades e orgulhos.

Sossega, Amaro.

O melhor que fazes, respondi ao marido em fúria, é sumir por uns dias, inventar uma viagem, e dar todo tempo do mundo ao infeliz desse amante.

Banalizar o amante, meu caro e bom Amaro.

Entendeste?

Deixar que eles durmam e acordem juntos por vários dias seguidos. Que tenham seus problemas, que percam o luxo dos encontros fortuitos e vespertinos, que se esbaldem.

É necessário deixar a Bovary sentir o bafo de onça matinal da rotina.

A vida dos amantes dura porque eles só vivem as surpresas e valorizam cada minuto do relógio que põem sobre a cabeceira.

Nada mais cruel para o amante da tua mulher que presenteá-lo com o pão-com-manteiga do dia-a-dia. A rotina é o cavalo de tróia do amor.

Amaro, nada de violência ou besteiras desse naipe.

Ao amante, todas as chances do mundo. Ao amante aquela D.R., a famosa discussão de relação, em plena TPM.

Um amante nunca sabe o que venha ser uma mulher sob o domínio da TPM. Ela faz questão de reservar todos os direitos desse ciclo ao pobre marido.

Ao amante, Amaro, a tapioca fria e sem recheio da rotina do calendário.

Ao amante, Amaro, a falta de assunto.

Ao amante, os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.

Some, Amaro, depois me conta.

Repita a receita, caro Demetrius, a gente se encontra no balcões solitários de Copacabana.

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Comentários

  1. THESS comentou em 01/10/13 at 18:13

    Procure no google: LIVRO CIBERCÉLULAS. Você se supreenderá!
    Quando Julio Verne escreveu seus livros quem poderia imaginar que anos mais tarde a fantasia se tornaria realidade? Eduardo Thess está a frente de nosso tempo! Nos traz informações que por agora poucos assimilarão mas que num futuro bem mais próximo do que pensamos será lembrado (o autor e sua obra) como pioneiro no assunto..

  2. sergio barros comentou em 29/09/13 at 13:25

    Você sabe o que é ter
    um amor meu senhor
    ter loucura por uma mulher
    e depois encontrar este amor,meu senhor
    nos braços de um tipo qualquer….
    Há pessoas com nervos de aço
    sem sangue nas veias e sem coração
    mas não sei se passando o que eu passo
    talvez não lhe venha qualquer reação…
    (Lupicínio Rodrigues)

  3. Marconi Urquiza comentou em 28/09/13 at 19:35

    Xico,
    Ontem ouvi de um Amaro aconselhando não arrumar outra costela, pois o carvalho de Tróia do amor acaba o idílio do amor proibido.
    Abs.

  4. Sandro comentou em 28/09/13 at 10:29

    Amaro, você está livre da opressão, não vê? Casamentos têm prazo de validade, e 90 % no mundo todo estão vencidos, mas as pessoas estupidamente ficam insistindo, insistindo…

  5. Neysi comentou em 27/09/13 at 18:27

    Já repeti essa frase fazendo charme. kkkkk
    “Hoje os meus cabelos brigaram com as leis dos cosmos”.

  6. Ana lúcia comentou em 27/09/13 at 14:31

    “os cabelos revoltos da mulher, naqueles dias em que nem mesmo ela se agüenta ou encara o espelho. Naqueles dias em que os cabelos brigam com as leis do cosmo e não há pente ou diabo que dê jeito.” hehehe muito bom Xico !!!

  7. sergio barros comentou em 27/09/13 at 13:42

    Podemos também partir para o método Sidney Magal:Se agarro com outro ,te mato.te mando algumas flores e depois escapo……

  8. marcela comentou em 27/09/13 at 12:35

    Dar casa, comida, roupa lavada, trocar ideias sobre um pouco de cultura, ter senso de humor e se fazer muuuuito presente na cama: supernecessario pra não virar um Charles Bovary. Senão qq Emma fica entediada, ne.

  9. Djalma Toledo comentou em 27/09/13 at 12:15

    Faça o seguinte:
    Vá a Recife e te jogas de uma Ponte qualquer
    mas, nunca da Ponte Buarque de Macedo, que essa foi imortalizada da pelo Poeta Augusto dos Anjos.

    “Recife. Ponte Buarque de Macedo.
    Eu, indo em direção à casa do Agra,
    Assombrado com a minha sombra magra,
    Pensava no Destino, e tinha medo!

    Na austera abóbada alta o fósforo alvo
    Das estrelas luzia… O calçamento
    Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
    Copiava a polidez de um crânio calvo.

    Lembro-me bem. A ponte era comprida,
    E a minha sombra enorme enchia a ponte,
    Como uma pele de rinoceronte
    Estendida por toda a minha vida!

    A noite fecundava o ovo dos vícios
    Animais. Do carvão da treva imensa
    Caía um ar danado de doença
    Sobre a cara geral dos edifícios!

    Tal uma horda feroz de cães famintos,
    Atravessando uma estação deserta,
    Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
    A matilha espantada dos instintos!

    Era como se, na alma da cidade,
    Profundamente lúbrica e revolta,
    Mostrando as carnes, uma besta solta
    Soltasse o berro da animalidade.

    E aprofundando o raciocínio obscuro,
    Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
    O trabalho genésico dos sexos,
    Fazendo à noite os homens do Futuro.”

    (Augusto dos Anjos)

    • xicosa comentou em 27/09/13 at 20:35

      Citei Buarque de Macedo por causa do poema. gracias pela leitura.

  10. Josi Pinheiro comentou em 27/09/13 at 11:38

    Mas esperar até quando? É um método inteligente só que um tanto sofrido…

  11. André Luiz comentou em 27/09/13 at 11:15

    Sumir por uns tempos funciona mesmo, ainda mais se você for para a França ou Itália sem avisá-la e levar outra contigo. Publique as fotos no facebook ou instagram com largos sorrisos. Vish Maria acho que não há vingança maior. Ela vai odiá-lo por toda eternidade.

  12. Patrícia Balchuna comentou em 27/09/13 at 10:26

    Sensacional…
    “A rotina é o cavalo de tróia do amor”…
    Te amo, meu Xico.

  13. sergio barros comentou em 27/09/13 at 9:15

    Pior ,que em um relacionamento novo até a rotina é gostosa.É minha bizunguinha pra lá,meu môzinho pra cá e isso pode levar tempo.Melhor despachar logo a safada e partir para outra. É como diz o samba antigo:Pra você não falta homem ,pra mim não falta mulher.
    Obs:quando digo despachar, é mandar ela pegar o rumo,não mandar a diaba pro inferno,onde é o lugar dela.

    • Patrícia Balchuna comentou em 27/09/13 at 16:29

      Sergio, quanto ódio no coração! Homi, o jeito é consertar, ao invés de, simplesmente, botar no lixo… 😉

      • sergio barros comentou em 28/09/13 at 10:28

        Patrícia,eu sou um cara do bem.Apenas quis botar um pouco de humor no comentário.Abs.

        • Patrícia Balchuna comentou em 01/10/13 at 10:12

          🙂

    • Neysi comentou em 27/09/13 at 18:28

      No começo ainda não há rotina.

  14. Helio Souza comentou em 27/09/13 at 8:54

    Concordo que Amaro deve sumir por enquanto. Mas quanto tempo? Um ano? Até o caso virar rotina acho que o Amaro já desistiu dela.

  15. sergio barros comentou em 27/09/13 at 8:37

    Todo dia ela faz tudo sempre igual
    me sacode as 6 horas da manhã
    e sorri um sorriso pontual
    e me beija com a boca de hortelã…….

  16. Fábio comentou em 27/09/13 at 8:18

    “É necessário deixar a Bovary sentir o bafo de onça matinal da rotina”… Sensacional!

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